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poder político e econômico que, historicamente, marcaram o Brasil (PANG, 1979, p 19).

3.3 ADESÃO AOS MILITARES

O regime de exceção estabelecido a partir do golpe militar de 1964 cassou, entre outros políticos, o prefeito de Salvador, Virgildásio Sena, eleito diretamente no pleito de 1962. Depois de alguns ajustes e de negociações com o cardeal Primaz, dom Augusto, o governador da Bahia Lomanto Júnior conseguiu se manter no cargo. O escritor e político Luís Viana Filho foi convidado e aceitou ser o chefe do Gabinete Civil do marechal Castelo Branco, o primeiro dos cinco presidentes militares.

O vácuo na prefeitura foi ocupado temporariamente pelo presidente da Câmara Municipal, vereador Antonino Casais, conhecido como Chuteirinha em função de uma deficiência física em uma das pernas. Depois, foi nomeado para o cargo o integralista Nelson Oliveira, genro do empresário Joventino Silva.

Nessa época, Magalhães, reeleito para a Câmara dos Deputados pela Aliança Renovadora Nacional (Arena), era apenas um deputado federal, que havia construído sua carreira sob a proteção de Juracy Magalhães, Antonio Balbino e Edgard Santos. Mas o golpe de 1964 e os governos militares constituíram-se, sem dúvida, numa grande oportunidade de levar o deputado, ainda sob a liderança de Juracy Magalhães, a um cargo majoritário que lhe deu mais projeção política e maior visibilidade.

Com o foco direcionado para a Prefeitura de Salvador, ACM, que já dominava a habilidade de usar a mídia impressa como instrumento político, começou a perceber que a televisão poderia ser um veículo ainda melhor para se promover. A utilização da TV como

palanque político não era uma novidade. No Rio de Janeiro, seu adversário político, o jornalista e deputado Carlos Lacerda já vinha fazendo isso com relativo sucesso.

Os anos de trabalho no jornal Estado da Bahia credenciaram-no para obter do jornalista Odorico Tavares, diretor local dos Diários Associados, autorização para usar a recém-inaugurada TV Itapoan, uma das emissoras do grupo. Na sua freqüente participação no Programa Debates, desta emissora, ACM tornou-se crítico sistemático da administração municipal, tanto do período de Casais quanto de Nelson Oliveira.

O clima de desavença com Casais, estimulado pelos debates da TV Itapoan, estendeu- se por um longo tempo, até mesmo depois de ter conseguido a nomeação para a prefeitura. A performance de ACM no programa televisivo, aliás, rendeu diversos episódios polêmicos. Um deles foi a exibição de um documento em branco, supostamente assinado por Juscelino Kubitschek, como demonstração de prestígio nacional.

Paralelamente às ações na mídia, Antonio Carlos desenvolvia ações políticas para ganhar visibilidade, principalmente junto ao agora chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, Luís Viana Filho, de quem se aproximou e a quem passou a usar como trampolim para chegar ao presidente Castelo Branco. Político importante no Estado, Luís Viana Filho já integrava a segunda geração de políticos da família. Seu pai, o conselheiro Luís Viana, governou a Bahia no final do século XIX. Viana Filho entrou na política em 1934, já como deputado federal. Com a dissolução da Câmara, em 1937, voltou-se para o jornalismo e somente retornou à política em 1945, com o fim do Estado Novo. Foi reeleito deputado federal até 1966, mas deixou a Câmara e a Chefia do Gabinete Civil da Presidência, quando foi nomeado governador da Bahia para o mandato de 1967-1971 (FRANCO, 1990, p. 36).

A importância de Luís Viana, no contexto político baiano, não passou despercebida por ACM que, invariavelmente, era portador das famosas “cocadas baianas” com que ACM presenteava o presidente Castelo Branco. Mas o gol de placa de ACM, na busca pela sua nomeação para a Prefeitura de Salvador, veio mesmo através da utilização de informação: ao tomar conhecimento de que o amigo Juscelino seria cassado e sabedor de que o telefone dele estava grampeado pelos órgãos de segurança, ACM telefonou a Juscelino para informá-lo do que aconteceria. Na ligação, porém, não só justifica a atitude de Castelo Branco como fez uma ardorosa defesa da inevitabilidade do ato (MAGALHÂES, 1995, p.35).

Não demorou muito tempo para que o presidente fosse informado pelos órgãos de segurança de que a informação sobre a cassação de Juscelino tinha vazado. Mas, antes de se constituir em um ato de leviandade, a ligação de ACM para Juscelino pareceu a Castelo

Branco um ato de lealdade e fidelidade. Esse era, na verdade, mais um episódio em que ACM tentava demonstrar sua lealdade ao presidente.

Em 1965, ofereceu-se para rebater um discurso em que Lacerda, agora na oposição, fizera, chamando Castelo Branco de “Lili da rua Conde Lage” (onde ficava localizada naquela ocasião a zona do meretrício carioca). ACM telefonou ao presidente e ofereceu-se para fazer um discurso contra Lacerda na Câmara. No dia seguinte, recebeu a informação, pelo general Golbery do Couto e Silva, que o presidente havia requisitado uma hora de rede de televisão para que no dia seguinte, um domingo, ACM respondesse a Lacerda. ACM procurou, então, Roberto Marinho e reuniu-se com ele para montar o seu pronunciamento, fundamentado em pesquisa feita pelo empresário nos arquivos do jornal O Globo. No dia seguinte, de pé, segurando o papel com resumo das denúncias, ACM atacou Lacerda durante uma hora, ao vivo, no horário nobre (CONTI, 2000, p. A12).

Com a popularidade em ascensão, graças às suas performances na imprensa e nos debates da TV Itapoan, o terreno político devidamente pavimentado com o futuro governador da Bahia, Luís Viana Filho, e o seu vice-governador Jutahy Magalhães, filho do ainda líder Juracy Magalhães, e a gratidão do presidente da República, Antonio Carlos Magalhães foi, enfim, nomeado prefeito de Salvador, assumindo o cargo em 13 de fevereiro de 1967.

A gratidão de Castelo a Magalhães, no episódio da cassação de Juscelino, foi tão profunda que ele assinou um ato institucional, o de número 32, para antecipar a sua posse na Prefeitura de Salvador antes de sair da presidência, temendo que Costa e Silva, então já definido como o segundo presidente do ciclo militar, não o fizesse. Além disso, destinou uma grande soma de recursos, Cr$ 2 milhões (dois milhões de cruzeiros) a fundo perdido, e um empréstimo de Cr$ 3 milhões (três milhões de cruzeiros) a serem pagos em seis meses, para o novo prefeito aplicar na cidade (MAGALHÂES, 1995, p. 63-64). Antonio Carlos tomou posse na Prefeitura de Salvador um mês e dois dias antes de Luís Viana Filho ocupar a sede do governo do estado.

Além de lhe possibilitar maior visibilidade, a Prefeitura de Salvador foi também o combustível que faltava para a formação de um grupo político que seguisse a sua orientação. A própria ascensão à esfera executiva já indicava o seu fortalecimento político, mas, sem dúvida, o elemento catalisador foi a caneta com a qual passou a assinar as nomeações dos cargos públicos.

Vale lembrar que, no âmbito partidário, ACM já desfrutava de posição privilegiada. Primeiro, presidiu a UDN, embora estivesse ali representando o grupo juracisista. Mas, a partir de 1965, com a dissolução dos partidos e a instituição do bipartidarismo, foi eleito o

primeiro presidente regional da Arena, partido criado para dar sustentação ao governo. Como presidente da agremiação, ele podia interferir não só nas decisões da Comissão Executiva, como na escolha dos nomes dos candidatos da legenda a vereador, deputado estadual e federal. Ou seja, função que também contribuiria decisivamente para a formação do seu próprio grupo político.