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poder político e econômico que, historicamente, marcaram o Brasil (PANG, 1979, p 19).

3.5 A CHAMA QUE NÃO SE APAGOU

A briga do prefeito e depois governador Antonio Carlos Magalhães com o Jornal da

Bahia já foi objeto de pesquisa de vários estudiosos e é o tema central dos livros Memória das trevas, do jornalista João Carlos Teixeira Gomes, redator-chefe do jornal no período, e Não deixe esta chama se apagar – história do Jornal da Bahia, do empresário e proprietário do

periódico à época, João Falcão. Entretanto, alguns aspectos são bastante pertinentes e relevantes para este trabalho, pois eles ilustram significativamente as formas de controle da informação de massa exercidas pelo grupo político em questão. Vale destacar que, em 1969, o Brasil encontrava-se sob os auspícios do Ato Institucional no 5, os veículos de comunicação do país sofriam forte censura dos órgãos de repressão do regime militar e Magalhães era um dos mais expressivos representantes civis da ditadura na Bahia.

A origem do conflito, segundo relata Gomes, foi uma nota intitulada Ambição de ACM

gerou cisão, publicada na coluna Política Dia-a-Dia, editada pelo jornalista Newton Sobral e

publicada na página 3 da edição do dia 4 de outubro de 1969, que reescrevemos abaixo na íntegra:

O prefeito Antonio Carlos Magalhães é tido pelos observadores políticos como o único culpado pela grave crise que atravessa a Arena baiana. Sua ambição pessoal de poder, o desejo irrefreado de, a qualquer modo e por todos os métodos, ser governador do estado, levaram a política baiana ao impasse em que ela se encontra, com reflexos prejudiciais ao governo e à própria

administração pública. O fato é que, segundo ainda os observadores, a preocupação do sr. Antonio Carlos Magalhães de controlar os instrumentos políticos do Estado de modo a não permitir a qualquer provável concorrente a mínima chance de luta e, em decorrência disto, o seu assessoramento no setor político ao governador Luís Viana Filho, vez que pessoalmente este se encontra preocupado com os problemas administrativos, motivaram o pior: a cisão e uma lavagem de roupa suja de resultados imprevisíveis. É público e notório para os que observam os fatos da política baiana que, quase por uma obsessão, o sr. Antonio Carlos almeja o governo. Em vista disso, procurou se apossar, ou pelo menos tirar dos seus possíveis concorrentes ao Aclamação, os cargos-chaves (sic) da Executiva Regional da Arena, de modo a lhe garantir um tranqüilo respaldo da agremiação dentro do processo sucessório. Na realidade, consideram os observadores que o prefeito por ser demasiadamente político e insuficientemente “polido”, está cavando a sua própria destruição política. Em vez de somar como seria o caminho de todos os aspirantes ao mais alto cargo do Estado, está conseguindo apenas diminuir, e certamente acabará como “um homem só, pois nem sua sombra permanecerá ao seu lado”, como dizia ontem um experiente observador. O pior de tudo é que o governador Luís Viana Filho, que possui sobejas condições de unir a Bahia, paga o ônus de uma ambição desmedida.

A resposta do prefeito veio no mesmo dia, através de carta endereçada ao diretor do jornal, João Falcão. Na edição de 5-6 de outubro, o Jornal da Bahia publicou não só a íntegra da carta do prefeito como a resposta, escrita pelo redator-chefe, e qualificada por ele mesmo, como: “um artigo – duro, direto e corrosivo – contra um político demolidor de reputações, sabidamente virulento; pela primeira vez um jornal assumia pública e aberta atitude contra ele, denunciando-lhe os métodos de coação, o objetivo de usar ameaças para intimidar e silenciar oponentes”. Aqui transcrevemos a carta do prefeito, publicada na edição 5-6 de outubro de 1969:

Sr. Dr. João Falcão Diretor do Jornal da Bahia

Acredito que não seja pedir demais, pois a lei me faculta, a retificação de uma nota publicada na edição de hoje desse Jornal, na coluna “Política Dia-a-Dia”, onde se diz que minha ambição gerou cisão na Arena e me responsabiliza pelas recentes ocorrências da política baiana.

Confesso a V.Sa. que não seria possível, e só o fato é suficiente para desmentir a nota, realizar-se, juntamente com uma equipe de trabalho, obra tão importante e evidente na cidade, se eu estivesse envolvido, como salienta o Jornal, nas tricas da política.

Acentua a nota que provoquei “a cisão e uma lavagem de roupa suja de resultados imprevisíveis”. Ninguém deve temer a lavagem se não tem roupa suja para lavar.

Em outro ponto se salienta que tudo isso foi criado pela minha ambição de ser o futuro governador do Estado. A ambição, Sr. Jornalista, seria justa, natural e legítima, mas não a tenho. Se a tivesse não teria demitido o redator-chefe do seu Jornal, João Carlos Teixeira Gomes, não apenas pela acusação de subversão mas por ineficiência, por falta de cumprimento dos seus deveres funcionais, na Sutursa, onde se recusou a dar expediente de 2 horas diárias, embora recebendo, invariavelmente os vencimentos como diretor. Se eu

tivesse ambição, pelos meios tão comuns na política, não teria negado licença ao Jornal da Bahia para construir novas instalações, ferindo o Código de Obras em vigor.

Quanto me tem custado, depois que não permiti a ilegalidade pleiteada, as injustiças do seu jornal, o jogo baixo que ninguém melhor do que os comunistas sabem fazer, procurando atingir alguém que se está preocupando em transformar, e a vem transformando, a Cidade do Salvador.

Se eu tivesse a ambição acreditaria na afirmação de V.Sa, feita em presença de terceiros, de que eu era o seu candidato, pelo trabalho que vinha realizando em nossa capital, trabalho jamais visto, e sobretudo pelas deficiências de um possível antagonista, cujas falhas morais V.Sa com tanta ênfase enumerou. Sr. Dr. João Falcão, acredite que não me sinto ferido com as injustiças, tendo em vista o carinho que em todas as partes e em todas as camadas da sociedade a minha administração recebe. Pesquise e verificará que até no seio da sua família, a sua posição atual é de minoria. Agradecerei a publicação dessa carta, que não só representa um dever do Jornal, como uma prova de que a democracia de que tanto fala seja realidade neste ensejo. Atenciosas saudações, Antonio Carlos Magalhães.

O jornal dedicou uma página inteira mais o editorial para responder ao prefeito. Além de esclarecer os fatos mencionados por ACM sobre a saída do redator-chefe da Sutursa e a licença para a ampliação da sua oficina gráfica, o jornal atacou duramente o prefeito e apontou suas intenções de “delatar” pessoas citadas na carta aos órgãos de repressão, ao taxá-los “comunistas” e “subversivos”.

O entrevero prolongou-se ainda por algumas semanas, culminando na demissão do colunista Newton Sobral e do secretário de redação do Jornal da Bahia, Rafael Pastore Neto, da Secretaria Municipal de Finanças, onde ambos também prestavam serviços jornalísticos na área de assessoria de imprensa. Mas, apesar de ruidoso, o episódio não selou o rompimento definitivo, fato que só veio acontecer, posteriormente, quando ACM já era o governador da Bahia.

3.6 1º GOVERNO (1971-1975)

Em abril de 1970, ACM reassumiu seu mandato de deputado federal, desincompatibilizando-se da prefeitura para disputar o governo do Estado. Apoiado por Luís Viana Filho, foi indicado pelo presidente Médici e eleito pela Assembléia Legislativa em outubro do mesmo ano. Tomou posse no governo da Bahia em 15 de março de 1971, tendo como vice-governador o deputado Menandro Minahim. Mas, 15 dias antes da posse, fez uma

visita de cortesia ao Jornal da Bahia e, sem muitas delongas, perguntou a João Falcão como seria tratado pelo jornal. A resposta de Falcão foi diplomática: “Da mesma maneira como têm sido tratados todos os governadores do estado – louvando as realizações positivas e exercendo o direito de crítica, quando julgar oportuno” (GOMES, 2001, p. 107).

Segundo Gomes (2001), antes mesmo de assumir o governo, ACM já vinha fazendo ameaças ao jornal. No Carnaval de 1971, ameaçou publicamente o diretor Comercial do jornal, Enádio Morais, inclusive na presença do ministro da Indústria do governo Médici, Pratini de Moraes. Em outra ocasião, da mesma forma, advertiu o jornalista Newton Calmon (Santelmo), responsável pela coluna Bola na Rede, afirmando que poderia mandar prendê-lo e fechar o jornal. Entretanto, as ameaças concretizaram-se, publicamente, através de uma nota publicada em 9 de maio de 1971, na coluna Painel, do Diário de Notícias, sob a responsabilidade do jornalista Orlando Garcia, cuja ligação com Magalhães, desde a Prefeitura, era pública e notória. Pela sua importância no contexto deste estudo a transcreveremos abaixo:

A primeira preocupação do governador Antonio Carlos Magalhães, quando passa em revista o noticiário dos jornais baianos, é observar a publicidade carreada para outro matutino que tem manifestado arroubos emocionais de oposição ao seu governo. Ele quer saber se entre os seus amigos existe alguém que prefira fazer suas mensagens comerciais em um órgão que lhe faz oposição episódica e circunstancial, marcada sempre por uma hostilidade pessoal e gratuita, porque impulsionada por interesses que não são os do bem comum. Essas hostilidades podem confundir os desinformados, mas não amedrontam o governo. O que o governador não entende é que pessoas de suas relações de amizade fiquem a auxiliar, direta ou indiretamente, àqueles que lhe fazem oposição por caprichos pessoais. Pelo seu próprio temperamento, ele é homem que gosta de definições e quem ficar com o inimigo que não procure o governo (GOMES, 2001, p. 109).

A nota teve ampla repercussão, inclusive nos jornais de grande circulação do país, o que provocou muitas manifestações de solidariedade ao Jornal da Bahia. Gomes (2001) relata que o jornal ainda esperou um desmentido do governador, mas como não aconteceu, no dia 16 de maio de 1971, publicou um editorial intitulado O governador e a liberdade de

imprensa, respondendo às ameaças feita por Magalhães, através da coluna de Garcia.

Para enfrentar o governador que já havia suprimido do jornal a publicidade oficial e agora passava a intimidar os anunciantes da iniciativa privada, o Jornal da Bahia lançou uma campanha publicitária, cujo slogan era: Não deixe essa chama de apagar, criado pelo jornalista e publicitário, Ponce de Leon, convocando o leitor a se solidarizar com o veículo, que passou a sobreviver apenas de suas vendas avulso. De certo. O número de vendas

aumentou e os anunciantes de pequeno porte não se intimidaram com as ameaças, àquela altura não mais veladas.

A resistência do jornal e a solidariedade da população, porém, provocaram uma nova reação do governador: para obter a submissão dos anunciantes, ele empregou a fiscalização tributária sobre o caixa das empresas. Para se ter idéia da dimensão do prejuízo comercial, entre 9 de maio e 21 de setembro de 1971, o Jornal da Bahia experimentou uma queda de 30 por cento na publicidade. Os números assumem maiores proporções se relacionados com mesmo período do ano anterior, quando o jornal apresentou um crescimento da ordem de 54 por cento de publicidade. Entretanto, as receitas provenientes da vendagem avulsa e das novas assinaturas aumentaram em 100 por cento, somente no ano de 1971, conforme comprovação do IVC e do Ibope (GOMES, 2001, p. 122). Obviamente, os recursos arrecadados através da venda de exemplares e das assinaturas não eram suficientes para arcar com os custos do jornal. As medidas tomadas para reduzir o déficit abrangiam a demissão de empregados e a redução de numero de páginas, que passaram, gradativamente, de 24 para 16 e, posteriormente, 12 já nos últimos anos. Transcrevemos abaixo (Quadro 1) os dados comerciais do jornal, publicada por Gomes (2001, p.257):

ANO PUBLICIDADE VENDAGEM

1970 $ 2.255.722,00 $ 807.008,00

1971 $ 2.411.834,00 $ 1.795.770,00

1972 $ 1.098.419,00 $ 2.595.059,00

1973 $ 1.946.474,00 $ 3.299.796,72

Fonte: GOMES, 2001, p. 257

Quadro 1 – Publicidade Jornal da Bahia

As pressões contra os anunciantes continuaram até 1975. Em 1972, 90 por cento dos anunciantes locais deixaram de fazer publicidade no jornal. Entre as técnicas empregadas pelo governador contra o Jornal da Bahia encontravam-se algumas peculiares, como a ameaça de não comparecer a nenhum evento de empresa que fosse anunciante, a sonegação de informações aos repórteres do jornal, tanto por parte do governo quanto pelo prefeito, Clériston de Andrade, nomeado ao cargo por indicação de Magalhães, e o processo contra o jornal e seu redator-chefe com base na Lei de Segurança Nacional. Vários atentados ocorreram, posteriormente, como o sofrido por João Falcão, na noite de 13 de janeiro de 1973, quando ocupantes de um “fusquinha creme” atiraram uma bomba no veículo que ele dirigia. O carro de João Carlos Teixeira Gomes também foi totalmente destruído em outra ocasião.

Em 1972, o jornal lançou uma nova campanha: Mantenha essa chama acesa. O comparecimento da população foi maciço e as vendas do Jornal da Bahia ultrapassaram a do seu principal concorrente, o jornal A Tarde (GOMES, 2001, p. 145). Ainda assim, o jornal teve que fazer diversas demissões, chegando a dispensar dos seus quadros nada menos que 80 funcionários.

A fase mais crítica da briga aconteceu em setembro de 1972, quando o Jornal da

Bahia publicou uma matéria denunciando o favorecimento fiscal do governador a empresa

Magnesita S.A, da qual era um dos acionistas. A resposta de Magalhães foi dura: processou o jornal e o seu redator-chefe com base na Lei de Segurança Nacional. Mas, apesar da estreita ligação que o governador mantinha com o Alto-Comando das Forças Armadas, a Justiça absolveu o jornal das acusações.

No final de 1972, a perseguição do governador ao Jornal da Bahia já recebia ampla cobertura da imprensa nacional. No início, Magalhães defendia-se argumentando que o jornal o caluniava. Depois passou também a denegrir os acionistas do jornal e, principalmente, a família Falcão, do dono do jornal, chamando-os de bando de sonegadores.

O espaço conquistado pela contenda com o Jornal da Bahia no noticiário dos principais jornais do país levou ACM a aumentar os esforços que já vinha fazendo desde a Prefeitura, para aparecer no cenário político nacional. Nesse sentido, buscou aproximação com os dois mais importantes empresários de comunicação: Roberto Marinho, das Organizações Globo, e Victor Civitta, da Editora Abril. O primeiro fruto desse investimento veio através de uma matéria da revista Veja, da Editora Abril, de 4 de outubro de 1972, na qual a denúncia de favorecimento a empresa Magnesita é relegada a segundo plano e enaltecida a grande administração que estava sendo realizada na Bahia pelo governador baiano.

Até fevereiro de 1975, quando o seu controle acionário foi vendido para um grupo de empresários, o Jornal da Bahia manteve-se em oposição ao governador que, por diversas vezes, tentou comprá-lo, através de “testas-de-ferro”.

As estratégias de perseguição ao Jornal da Bahia foram reconhecidas pelo próprio ACM no livro Política é paixão. Ao ser indagado pelos jornalistas que o entrevistam, ele não só confirmou a história como também relatou as negociações que se sucederam para adquirir o jornal. A pergunta foi feita pela jornalista Miriam Leitão, e complementada pelos jornalistas Rui Xavier e Ancelmo Góis, conforme reproduzimos na íntegra:

Miriam – O senhor acha correto usar o fato de ser governador para só dar

anúncio a um determinado jornal e não dar para outros, para esmagá-los economicamente, como naquela época o senhor fez secar qualquer publicidade oficial para o Jornal da Bahia?

Rui – Não era o jornal mais lido da Bahia?

ACM – Não. Primeiro, o Jornal da Bahia não era o mais lido do estado. O

jornal mais lido sempre foi A Tarde, quatro, cinco vezes mais do que o segundo.

Ancelmo – Mas o Jornal da Bahia era um jornal de prestígio.

ACM – Entre ter prestígio e ser o maior veículo, ter maior circulação, há

alguma diferença. No jornal A tarde jamais deixou de sair publicação oficial, mesmo quando ele fazia oposição. Agora, porque é que eu, governador, devo pagar publicação num jornal que mente sobre o governo, sobre mim, a ponto de eu ter que recorrer à Justiça, de processá-lo? Como vou mandar publicação oficial para esse jornal? Seria uma incoerência.

Ancelmo – Mas quem estava processando, era o senhor ou o governo?

ACM – Era o procurador-geral do estado, representando o governador. Logo,

não teria sentido eu pagar a publicidade e, ao mesmo tempo, processar o jornal. Se eu processo por calúnia e difamação é porque não fala a verdade. Então, vou dar publicidade a um jornal que não publica a verdade: seria em incoerência.

Ancelmo – Com o sentido que o senhor dá às coisas, parece que é a sua

pessoa e não o governo que está brigando. O senhor diz “eu vou dar.

ACM – Sim, o governo vai dar. Pode ser uma colocação errada. Quando digo

“vou dar” é porque a ordem é do governador. Não quero ser hipócrita e dizer que o secretário de imprensa vai dar, se todo mundo sabe que na realidade sou eu, enquanto governador. Não quero é mentir. Talvez você prefira que eu diga que o “secretário de imprensa ia dar”; se é assim, eu digo (MAGALHÃES, 1995, p. 69).

Em outro ponto da entrevista, Magalhães confirma as negociações para a compra do jornal:

Rui – [...] o senhor depois comprou, era de um inimigo seu, o João Falcão,

não é isso?

ACM – Não cheguei a comprar, o negócio não se efetivou. Estava tudo certo

mais depois ele desistiu.

Rui – Ele desistiu depois que o senhor disse que ia comprar?

ACM – Não. Mas não seria um bom negócio. Um jornal que vive só de

publicidade oficial não é jornal. Qualquer jornal que se o governo deixa de dar dinheiro, morre, não é bom (MAGALHÂES, 1995, p. 69).

O primeiro governo de ACM foi marcado pela construção de grandes obras de engenharia civil, como as que o havia tornado popular na Prefeitura de Salvador. Nos quatro anos de gestão, construiu a avenida Luís Viana Filho (Paralela), o Centro Administrativo da Bahia (CAB) para onde transferiu a sede e as secretarias de governo e encomendou obras de artistas plásticos baianos para decorar interna e externamente o novo espaço. Construiu

também uma nova Estação Rodoviária de Salvador e ampliou a infra-estrutura do Centro Industrial de Aratu (CIA), inaugurado pelo seu antecessor.

Mas também enfrentou várias denúncias de corrupção. Todas elas, depois de repousarem por vários anos no Judiciário, foram sendo sistematicamente arquivadas, sem justificativa. Uma delas chegou a ficar três anos na mão de um juiz que nunca chegou a julgá- la, como veremos mais adiante. As irregularidades foram denunciadas, não só pelo Jornal da Bahia, mas também pela Tribuna da Bahia, pelos jornais O Estado de São Paulo e Jornal do

Brasil e pelas revistas Afinal e Senhor nas décadas de 70 e 80.

Em abril de 2001, essas irregularidades foram objeto de representação de políticos da oposição, argüindo o presidente do Tribunal de Justiça da Bahia, Robério Braga, sobre a situação dos processos. Braga decidiu remeter a argüição ao procurador-geral da República Geraldo Brindeiro. O documento foi protocolado sob o número 1.598/01, pelo deputado petista Luiz Bassuma, que até hoje não obteve resposta (SOUZA, 2001, p. 3).

Outro fato marcante do seu primeiro governo foi a sua disposição de romper com os antigos aliados políticos. Foi assim com Juracy Magalhães e também com Luís Viana Filho. As relações de ACM com Juracy já vinham se deteriorando desde a posse de Jango, mas se recrudesceram na década de 1970. Segundo ele, o rompimento deu-se em função da pretensão da Bahia em instalar no município de Camaçari, o Pólo Petroquímico. Juracy, conforme relata, teria se posicionado contrário, porque na época trabalhava para a Petroquímica União, empresa paulista que queria que o Pólo fosse implantado em estados no sul do país. Numa reunião de políticos baianos sobre o assunto, Antonio Carlos, de acordo com o relato feito no livro Política é paixão, teria dito a Juracy que os interesses pessoais dele não poderiam se sobrepor aos da Bahia (MAGALHÃES, 1995, p. 230). Até esta parte da história, as versões dos que participaram do episódio são coincidentes. A divergência é quanto à repercussão do fato na imprensa.

Segundo ACM, os jornais publicaram a discussão entre os dois políticos. Juracy ficou muito aborrecido com o vazamento da informação. E é aqui que se dá a diferença de versões. Os políticos ligados a Juracy garantem que foi ACM que teria passado a informação à imprensa. Ele nega, mas o fato é que Juracy respondeu ao então governador também através dos jornais. A partir daí, as versões voltam a coincidir, conforme a versão do próprio ACM:

Voltei à carga, disse que ele não poderá falar sobre o assunto, porque ele estava atendendo a 18 empresas (sabia que eram 21, mas disse 18 porque tinha