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2 MARCO TEÓRICO

2.4 GOVERNANÇA, GOVERNABILIDADE E POLÍTICA DE INFORMAÇÃO

Assim, outro conceito que este estudo evoca é o de governança, e, por extensão, o de governabilidade e capacidade governativa. Segundo Diniz (1997 apud JARDIM, 2000), governabilidade diz respeito “[...] as condições sistêmicas mais gerais sob as quais se dá o exercício do poder em uma sociedade, tais como a forma de governo, as relações entre os poderes e os sistemas partidários”. Já a governança, segundo o mesmo autor, refere-se “à capacidade da ação estatal na implantação das políticas públicas e na consecução das metas coletivas”, incluindo o conjunto de mecanismos e procedimentos para lidar com a dimensão participativa e plural da sociedade” (JARDIM, 2000). A capacidade política de governar ou governabilidade derivaria da relação de legitimidade do Estado e do seu governo com a sociedade, enquanto que governança seria a capacidade financeira e administrativa em sentido mais amplo de um governo implementar políticas (JARDIM, 2000).

Na formulação do Banco Mundial, governança é definida originalmente como a maneira pela qual o poder é exercido na administração dos recursos econômicos e sociais, tendo em vista o desenvolvimento. Dentro da linha adotada por González de Gómez (2000), governança deslocou-se aos poucos da descrição de procedimentos e da avaliação de desempenho dos governos, até então considerados o sujeito principal da ação política, para uma nova definição da cadeia decisória, horizontalizada pela inclusão de atores sociais públicos e privados e passariam de objeto do controle e intervenção do Estado a sujeitos participantes. Tratar-se-ia, segundo esta autora, de incrementar a margem de controle social sobre as agências públicas, assim como a responsabilidade do Estado pela prestação de contas e pela transparência administrativa.

Uma grande diversidade de conceitos e princípios norteiam os projetos políticos que se estruturam hoje, em vários países, em torno da chamada sociedade pós-industrial. De maneira geral, um aspecto inerente à complexidade desse processo histórico tende a não ser suficientemente contemplado: a dimensão informacional do Estado e suas implicações na capacidade governativa. Ou seja, a capacidade política de governar num sentido amplo de implementação de políticas públicas.

Nesse sentido, a questão informacional mostra-se aí presente, ainda que nem sempre claramente explicitada pelos seus formuladores e responsáveis pelas políticas públicas associadas a esta perspectiva. Por outro lado, o debate parece ainda incipiente no campo da ciência da informação. As reflexões sobre capacidade governativa vêm à tona, quando se

analisa o desenho do setor público diante dos cenários, em constante mutação, de globalização e desenvolvimento tecnológico; os padrões de demanda mais exigentes e complexos por parte dos cidadãos e os efeitos perversos da ação do Estado, causados pelo patrimonialismo, clientelismo e corrupção. Em cada um destes aspectos, a questão informacional, em diferentes graus, aparece como um fator otimizante ou, quando não devidamente contemplada, como obstáculo ao alcance de níveis básicos de capacidade governativa.

Segundo Jarquín (2003), as grandes transformações das tecnologias da informação têm alterado as formas organizacionais, a gestão e os procedimentos do Estado. Mas, não alteraram e, num horizonte previsível, não alterariam as suas responsabilidades básicas. Para isso, segundo o autor, seriam necessárias as condições para uma governabilidade democrática em longo prazo e intervenções eficientes do Estado (JARQUIN, 2003).

Analisando as alterações no Estado, sob o que designa como "modo de desenvolvimento informacional", Castells (1999c, p.48) observa que:

[...] a inovação nas tecnologias da informação criou o potencial para existência de fluxos de informação bidirecional, tornando possível que a sociedade civil controle o Estado sobre princípios democráticos, sem paralisar necessariamente sua efetividade como agência de interesse público.

Reconhece-se, neste debate, a crescente importância que as agendas dos Estados conferem à realidade da economia, da informação e do conhecimento.

O mercado desempenha um papel chave na consolidação da nova economia, mas não é capaz, por si só, de promover os avanços necessários dentro dos padrões de justiça social desejáveis. Sem uma forte política de governo orientada para a equidade, corre-se o risco de aprofundamento dos mecanismos estruturais de diferenciação e desigualdade. Cabe aos governos, mediante cooperação com o mercado e a sociedade civil, implementar políticas voltadas à prevenção da exclusão digital e do conseqüente aprofundamento da desigualdade (CASTELLS, 1999c p. 49).

Neste sentido, a ação dos governos deveria se pautar por alguns eixos centrais, tais como: apoio público à difusão do acesso às novas tecnologias com foco em segmentos sociais mais vulneráveis; regulação do setor, em especial no que se refere a conteúdo, segurança e privacidade; e informações de interesse público e uso exemplar de tecnologia da informação como suporte à evolução tecnológica. Ou seja, definir, claramente, políticas públicas de informação.

O conceito de política de informação começou a ser aplicado na década de 1970 e, segundo Garcia (1980 apud AUN, 2001), designaria “o pressuposto de uma explicitação de

princípios desejáveis e realizáveis para um país em termos de produção, transferência e acesso à informação, considerando-se os seus recursos de informação, sua infra-estrutura e as necessidades de seus usuários”.

Para ele, se por um lado estas políticas expressam uma idealização, por outro, apontam objetivos de atuação e de transformação da realidade numa determinada direção. Entretanto, ao nosso ver, essa concepção exclui do cenário as práticas e ações que podem ser adotadas por governantes para controlar a informação. Por isso, neste trabalho, optamos por seguir a definição proposta por González de Gómez (1997), segundo a qual, política de informação é o “conjunto de práticas/ações encaminhadas à manutenção, reprodução ou mudança e reformulação de um regime de informação no espaço local, regional, nacional ou global de sua manifestação”.