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poder político e econômico que, historicamente, marcaram o Brasil (PANG, 1979, p 19).

3.15 O PERCENTUAL ELEITORAL

3.16.1 O Oficialismo Federal e o Executivo Estadual

No âmbito do governo federal, a aliança de ACM com o oficialismo, conforme referimos no início deste capítulo, sempre foi parte integrante da sua estratégia política para se manter no poder. Desde o início da sua trajetória política, sempre esteve ligado às lideranças que governavam o país. Primeiro, aproximou-se de Juscelino Kubitschek. Afastou- se de Jânio Quadros e João Goulart por absoluta falta de espaço. Com os governos militares, conquistou notoriedade regional e nacional, além de obter recursos para obras na Bahia e indicar nomes para ocupar os cargos federais no estado.

Com a redemocratização do país, quem esperava vê-lo fora do cenário político errou nas previsões. Foi convidado para ocupar o Ministério das Comunicações de Tancredo Neves e mantido por José Sarney, transformando-se na eminência parda do governo. Apoiou Fernando Collor, embora o candidato do seu partido, o PFL, fosse Aureliano Chaves, e continuou preenchendo com seus apadrinhados os cargos federais e conseguindo verbas para suas ações e do seu grupo político no estado.

Um breve interregno, no governo Itamar Franco, afastou-o da intimidade palaciana. Mas voltou à condição de prócere na gestão de Fernando Henrique Cardoso, cuja aliança do seu partido, o PFL, foi costurada pelo filho Luís Eduardo Magalhães. As rusgas com FHC começaram tão logo seus interesses não puderam ser atendidos de pronto, como foi o caso da intervenção e posterior liquidação extra-judicial do Bando Econômico. Rompeu com o presidente já no final do segundo governo e depois da morte do filho político.

Nas eleições de 2002, apoiou formalmente Ciro Gomes, mas prevendo a inevitável vitória do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, tentou passar a impressão de que o apoiava informalmente. No segundo turno disputado por Lula e o candidato do PSDB José Serra, declarou em diversas ocasiões que liberaria seus comandados para votar no candidato que quisessem e que daria seu voto a Lula, conforme o registrado pelos jornais da época. Nos primeiros meses do governo Lula, declarou o seu apoio crítico ao petista. Nessa ocasião, ACM ainda precisava da ajuda do Planalto para arquivar o processo das escutas clandestinas (grampos) na Bahia, do qual era o principal suspeito. Mas tão logo se livrou da ação, iniciou uma série de bombardeios verbais contra o governo. Coincidentemente, no mesmo instante, os cargos federais no estado começaram a ser ocupados por indicação do PT e da base aliada deste partido.

Na campanha municipal de 2004, esperneou a cada vez que os ministros de Lula vinham a Salvador inaugurar obras. Reclamava e “denunciava” a ajuda do Planalto ao candidato do PT no pleito, Nelson Pelegrino. No jogo ambíguo patrocinado pela direção nacional do PT, ACM conseguiu desestabilizar a candidatura de Pelegrino, sobretudo por ocasião do jantar do presidente da República com alguns senadores, promovido na casa do então ministro José Dirceu a pretexto do governo conseguir ampliar a sua base de sustentação no Congresso Nacional. Os principais jornais de circulação nacional, como a Folha de São

Paulo e O Estado de São Paulo, reportam no dia 13 de setembro de 2004, que os principais

aliados do governo no Senado e articuladores do encontro eram ACM e Roseana Sarney. No alvorecer das primeiras denúncias de corrupção contra o governo Lula, mais precisamente no caso Waldomiro Diniz, ACM saiu em defesa de José Dirceu, referindo-se a este como “um homem íntegro”, conforme revela reportagem do jornal A Tarde, de 2 de março de 2004. Segundo a matéria, ACM manifestou-se contrário à postura do senador Almeida Lima (PDT-SE), pela fragilidade da denúncia contra o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, no plenário do Senado. Ele criticou o senador por ter acionado um "alarme falso" sobre o caso Waldomiro Diniz e o possível envolvimento do ministro. “José Dirceu é um homem íntegro. Defendo-o porque já fui administrador público e sei que as pessoas não podem ser punidas por atos de subordinados”, afirmou na ocasião, acrescentando que o fato só serviu para fortalecer a imagem do ministro José Dirceu. “Se eu pudesse eu erguia uma estátua para o senador Lima, pois ele foi o primeiro a defender Dirceu”, ironizou ACM. Entretanto, tão logo as denúncias de Roberto Jéferson passaram a permear o noticiário dos jornais, rádios e televisões do país, ACM foi mudando o discurso, principalmente depois que José Dirceu deixou o governo, em junho de 2005.

3.16.2 O Legislativo

O Poder Legislativo é, sem dúvida, a instituição que melhor define o regime democrático. É no parlamento que se dá a base da atividade política regular, em que acontece o jogo político propriamente dito, seja entre Executivo e Legislativo ou entre governo e oposição. É também o lugar por onde transitam os grupos de pressão na defesa de interesses políticos, econômicos, sociais, religiosos, entre outros (GOMES, 2004, p. 92). Enquanto o Executivo tem o poder de administrar os recursos públicos, é o Legislativo que tem o poder

de deliberar sobre a aplicação desses recursos. Apesar da supremacia e do fascínio que o Executivo exerce no conjunto dos poderes republicanos, o Legislativo tem-se constituído, ao longo dos últimos anos, no Brasil, numa instância de resistência ao arbítrio e promotora de transformações no sistema político e de desenvolvimento econômico e social, como observa Sampaio (1992).

Em situação de competição pelo poder político, Gomes (2004) refere que existem três modos principais de acordo com as forças em disputa. O primeiro se dá quando uma das partes acumula tanta força que pode retirar todo o poder do outro. Trata-se, segundo este autor, do domínio, que é a maneira mais eficiente para a implementação de projetos e programas por parte do grupo dominante, porque não existe resistência às suas pretensões. Essa forma, porém, não é aceita pelas regras do jogo democrático, porque alija, do centro de decisão, a autorização conferida pelos eleitores ao parlamentar.

O segundo modo é o do convencimento discursivo, como observa Gomes (2004), que segundo ele, consiste em um conjunto de rituais, em que as pretensões convertem-se em palavras, que se apresentam como argumentos para, então, confrontar-se em discussões que são controladas pelas regras do jogo democrático através dos argumentos expostos pelos outros participantes. O pressuposto é de que o acordo se dê pelo convencimento (GOMES, 2004, p. 96).

O terceiro modo, de acordo com o mesmo autor, estabelece-se entre a ilegitimidade do domínio e a inconveniência da argumentação para os grupos políticos dominantes. Pode ser praticado sozinho ou em combinação com a segunda forma, sempre de acordo com a conveniência. Gomes denomina esse modo de negociação. Usualmente, para os governos que, pelo ordenamento jurídico, dependem da decisão política parlamentar, o modo de entendimento dá-se pela negociação, seja para obter uma maioria estável, seja para conquistar o controle para uma demanda específica. Esse controle pode se dar de diversas maneiras. A mais recorrente delas é a oferta de participação no poder de Estado controlado pelo governo, através da oferta de cargos e verba pública, em troca do apoio na produção da decisão / deliberação parlamentar, a exemplo do que acontece no Brasil após a redemocratização. (GOMES, 2004, p.97).

Na Bahia, porém, o princípio da separação e autonomia dos três poderes é controverso e bastante peculiar. Com suas atribuições parcialmente suprimidas durante a ditadura militar, o parlamento baiano, nos últimos 36 anos, sempre esteve à reboque do Executivo. O momento de maior independência e autonomia ocorreu na 11o Legislatura, entre 1987-1991, nos governos Waldir Pires e Nilo Coelho. Dos 63 deputados, mais de dois terços foram eleitos

pela coligação liderada pelo PMDB e continuaram apoiando o governo até 1989, quando Pires renunciou para disputar a vice-presidência da república na chapa encabeçada por Ulysses Guimarães. Apesar de contar com a maioria parlamentar, o Legislativo teve espaço para negociar com o Executivo, aspectos importantes de projetos e programas governamentais.

Nas eleições de 1990, o primeiro pleito direto disputado por ACM, o processo de apoio verificado na eleição anterior inverteu-se. A adesão à candidatura do PFL foi maciça e ACM, como nas suas duas gestões anteriores, governou com folgada maioria parlamentar. Embora o processo de redemocratização do país já estivesse consolidado, ACM manteve o mesmo tipo de relação que prevaleceu nos seus governos anteriores, ou seja, o apoio político deu-se através do domínio, da corrupção, das ameaças e intimidações. Com a oposição em minoria, ACM nunca precisou negociar apoio a projetos e programas do Executivo. A prática de ignorar, solenemente, as oposições prosseguiu nos governos Paulo Souto, César Borges e nos dois mandatos-tampão, quando Antonio Imbassahy, em 1994, e Otto Alencar, em 2002, assumiram o governo do estado.

O tipo de relação institucional que ACM pretendia manter com o Legislativo ficou claro logo nos primeiros dias de governo. Assim que assumiu, o novo governador suspendeu um procedimento que havia sido implantado na gestão de Waldir Pires para o acompanhamento e fiscalização dos gastos públicos pelo Legislativo, que consistia na entrega de uma senha de acesso aos sistemas financeiros do estado. Desde então, os deputados estaduais passaram a não dispor desse instrumento para fiscalização dos gastos e da aplicação dos recursos do estado. No início de 2003, no segundo governo Paulo Souto, os deputados de oposição recorreram à Justiça para garantir o direito à senha. Mesmo com o mérito da causa julgada a seu favor, os deputados não conseguiram obter a senha de acesso. No final de 2005, depois de diversas desculpas, o presidente da Assembléia disponibilizou para todos os 63 deputados um único terminal de acesso, mas não entregou a senha de acesso.

A estratégia de controle político do Legislativo abrange também o Tribunal de Contas do Estado (TCE) e do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), órgãos vinculados ao Poder Legislativo, que tem entre as suas atribuições, conferida pelas constituições Federal (1988) e Estadual (1989), o papel de auxiliar a Assembléia Legislativa no exercício do controle externo das contas públicas. No Brasil, apenas seis estados possuem um Tribunal de Contas dos Municípios. A Bahia é um deles.

De acordo com a Constituição Estadual, dos sete conselheiros de cada Tribunal, dois são indicados diretamente pelo governador do estado e cinco pela maioria da Assembléia

Legislativa, acompanhando os requisitos previstos na Constituição Federal: brasileiro com mais de 35 e menos de 65 anos; idoneidade moral e reputação ilibada; notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos, financeiros ou de administração pública; mais de 10 anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional que enseja os conhecimentos acima mencionados. Esses critérios, no entanto, não se constituem em impedimento para a nomeação de conselheiros na Bahia.

Da atual composição do TCE somente dois conselheiros não foram indicados pelo grupo carlista: Filemon Matos, nomeado no governo Waldir Pires, em 1988, e França Teixeira, indicado no governo Nilo Coelho, em 1989. Os demais conselheiros são: Antonio Honorato Neto (ex-integrante do grupo liderado pelo ex-senador Luís Viana Filho, passou a seguir a orientação de ACM após a morte do líder do grupo, foi nomeado em 2000), Manoel Castro (ex-prefeito biônico de Salvador, ex-deputado federal integrante da bancada carlista, foi nomeado em 2000), Pedro Lino (ex-secretário de Governo nas gestões Paulo Souto e César Borges, foi nomeado em 1999, mas atualmente está rompido com o líder do grupo), Ridalva Figueiredo (ex-secretária do Trabalho e Ação Social, foi nomeada em 2001) e Ursicino Queiroz (ex-deputado, integrante do grupo, foi nomeado em 2001).

Já na composição atual do TCM não há um só conselheiro nomeado por outro grupo político. O presidente Raimundo Moreira ocupou diversos cargos nas administrações carlistas; Paulo Maracajá, ex-deputado, integrante da bancada carlista; Francisco Neto, ex- secretário de Segurança Pública no terceiro governo de ACM; José Alfredo Rocha Dias, funcionário de carreira do TCM, é irmão da ex-secretária de Saúde de Salvador, Aldely Rocha; Paolo Marconi, jornalista, ex-coordenador da Assessoria Geral de Comunicação (Agecom) no terceiro governo de ACM e ex-diretor do Instituto de Radiodifusão da Bahia (Irdeb) no governo Paulo Souto; Fernando Vita, jornalista, ex-coordenador da Agecom de Paulo Souto e ex-diretor do Irdeb no governo de ACM; Otto Alencar, ex-vice-governador de César Borges, assumiu mandato-tampão, substituindo Borges em 2002, antes de ser nomeado conselheiro do TCM.

A formação de um bloco carlista dentro dos tribunais tem gerado bons frutos ao grupo, pois o máximo que acontece na fiscalização das contas públicas do estado e dos municípios administrados pelos partidos da base aliada ao carlismo são advertências em decorrências de trâmites burocráticos, embora relatórios polêmicos das contas dos últimos anos tenham sido denunciados pela imprensa, como a apreciação das contas 2001 e 2004, relatadas respectivamente por Filemon Matos e Pedro Lino, como vimos anteriormente.

O privilégio de ser empossado no TCE ou no TCM, entretanto, não é uma prática recente. Muito antes da composição atual dos dois tribunais, outros integrantes do grupo já vinham trabalhando no controle das contas públicas. A ocupação começou a ser vista como imprescindível ao projeto de dominação e hegemonia política do grupo no primeiro governo de ACM, quando os próprios conselheiros do TCE denunciaram uma série de irregularidades verificadas nas contas públicas, a exemplo das obras de construção do Centro Administrativo da Bahia (CAB). Desde então, as indicações para os dois tribunais passaram a ter também como pré-requisito a fidelidade às orientações do líder ACM.

Nos últimos 36 anos, todos os conselheiros do TCE, especialmente, e do TCM são considerados carlistas ortodoxos. A única exceção, afora as duas já mencionadas, é do conselheiro José Borba Pedreira Lapa, nomeado por Waldir Pires para o TCE, em 1987, e aposentado em 1994. Na galeria de ex-conselheiros do TCE figuram Adhemar Bento Gomes (carlista de primeira hora, era conhecido pela sua fidelidade canina ao líder do grupo, foi nomeado por ACM, em 1981); Renan Baleeiro (ex-prefeito de Salvador, nomeado, em 1983, por João Durval Carneiro, quando este ainda seguia orientação de ACM); Faustino Lima (ex- deputado, também nomeado por João Durval, em 1986); Eliel Martins (ex-deputado estadual pelo PFL, nomeado em 1994 e falecido em 2000); Bernardo Spector (ex-secretário de ACM, também conhecido pela fidelidade ao líder, foi nomeado em 1980 e aposentado em 1999); Joaquim Batista Neves (ex-deputado, foi nomeado por Roberto Santos em 1976 e faleceu em 1988); Horácio Matos Júnior (nomeado por João Durval, em 1985, aposentou-se em 1986); Augusto Mathias da Silva (ex-deputado carlista, nomeado em 1984, aposentou-se em 1985); Orlando Spínola (ex-deputado nomeado por ACM em 1982, aposentou-se no mesmo ano); Kleber Pacheco (ex-secretário de Educação e de Comunicação, foi nomeado por ACM em 1981 e aposentado em 1982); Heitor Dias (ex-prefeito de Salvador, foi nomeado por ACM em 1979 e aposentado em 1980) e Menandro Minhaim (ex-vice-governador de ACM, foi nomeado em 1983 e aposentou-se em 1987).