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2 MARCO TEÓRICO

2.3 REGIME DE INFORMAÇÃO

Desenvolvido por Frohmann (1995), a partir de Foucault, o conceito de regime de informação foi reformulado e classificado como categoria analítica por González de Gómez (2002). Segundo o teórico inglês, um regime de informação é:

[...] um sistema ou rede mais ou menos estável no qual a informação flui através de determinado canal, gerada por específicos produtores, via estruturas específicas, para consumidores ou usuários específicos. Rádio e TV, distribuidores de filmes, publicações acadêmicas, bibliotecas, todos são nós de rede de informação ou elementos de um específico regime de informação (FROHMANN, 1995, p. 46).

Para desenvolver o conceito na sociedade contemporânea, Frohmann (1995, p. 41-50) classificou como infovia (information superhighway ou infobahn) a infra-estrutura onde se projeta um regime de informação na atualidade. Nesse sentido, a descrição de regime de informação implicaria mapear um processo resultante de conflitos entre grupos sociais, interesses e discursos.

Para González de Gómez (2002, p 27-40), o conceito desenvolvido por Frohmann (1995) aponta a necessidade de revisão das categorias de análise e dos procedimentos metodológicos com que se estudam as novas figuras das redes e dos processos de informação, em grande escala, em função da heterogeneidade e das formas prévias de vinculação social e discursiva, bem como pela constituição de novos espaços sociais de práticas e interações comunicacionais.

Nesse contexto, o conceito de regime de informação, segundo González de Gómez (2002):

[...] designaria um modo de produção informacional dominante em uma forma social, conforme o qual serão definidos sujeitos, instituições, regras, autoridades informacionais, os meios e os recursos preferenciais de informação, os padrões de excelência e os arranjos organizacionais de seu processamento seletivo, seus dispositivos de preservação e distribuição (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2002, p. 34)

Trata-se de uma adaptação do conceito desenvolvido por Frohmann (1995), mas que preserva a concepção híbrida que o autor confere à sua definição. Para esta autora, um regime de informação é reconhecido por suas linhas de forças dominantes, porque ele estabelece formas próprias de autoridades. Assim sendo, quando o regime de informação muda, modificam-se também as figuras, o seu alcance e a sua jurisdição. Na sociedade pós-

industrial, segundo ela, o regime de informação caracteriza e condiciona todos os outros regimes sociais, econômicos, culturais, das comunidades e do Estado. “Nesse sentido, a centralidade da comunicação e da informação produziria a maior dispersão das questões políticas da informação, perpassadas e interceptadas por todas as outras políticas [...]” (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2003, p. 61).

Ainda na concepção desta autora, um regime de informação não tem a mesma configuração de um sistema de informação ou de um sistema de sistemas:

[...] está configurado, em cada caso, por plexos de relações plurais (TV, jornais, conversas informais, Internet, etc.), interorganizacionais (empresa, universidade, domicílios, associações, etc.) e intersociais (atores comunitários, coletivos, profissionais, agências governamentais, entre outros) (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2002, p. 34).

Apesar da reformulação feita por Gonzalez de Gómez (2002), neste estudo optamos por adotar como referencial teórico o conceito de regime de informação a partir da sua origem, ou seja, do que foi proposto por Frohmann (1995) que nos parece mais apropriado para o foco deste trabalho. Para este autor, um regime de informação é um conjunto de redes pelas quais fluem informações, geradas por específicos produtores para a sociedade de forma geral. Um regime de informação, portanto, na nossa visão, é o conjunto de recursos, canais, atores e mensagens que possibilitam, agregam, segmentam ou dispersam os fluxos de informação sobre questões de interesse de um determinado agrupamento social.

O conceito, até onde foi desenvolvido por Frohmann (1995) e Gonzalez de Gómez (2002), abrange outras categorias, mas para efeito deste estudo, vamos nos ater a rede constituída de informação - rádio, TV, jornal, Internet e publicidade (como meio) - e a rede formada pelas instituições do campo político – Executivo, Legislativo e Judiciário e seus órgãos de apoio -, por onde fluem informações para a sociedade, uma vez que elas são mais adequadas à natureza dos dados de análise.

Para examinar esse contexto político, no qual a produção e o intercâmbio de informação e de seu conteúdo simbólico estão inseridos, adotamos o conceito de campos de

interação, desenvolvido por Bourdieu (2005, p. 65) e utilizado e aplicado, com pertinência,

por Thompson (1998).

Segundo este autor, os indivíduos situam-se em diferentes posições dentro de campos sociais, dependendo do tipo e da quantidade de recursos disponíveis para eles. Em alguns casos, estas posições, quando institucionalizadas, adquirem uma certa estabilidade, tornando- se parte de um conjunto relativamente estável de regras, recursos e relações sociais.

As instituições, afirma Thompson, podem ser vistas como determinados conjuntos de regras, recursos e relações com certo grau de durabilidade no tempo e alguma extensão no espaço, e que se mantêm unidas com o propósito de alcançar alguns objetivos globais.

As instituições definem a configuração dos campos de interação pré-existentes e, ao mesmo tempo, criam novas posições dentro deles, bem como novos conjuntos de trajetórias de vida para os indivíduos que os ocupam (THOMPSON, 1998, p. 21).

Para Thompson (1998), a posição que um indivíduo ocupa dentro de um campo ou instituição é estritamente vinculada ao poder que possui. No exercício do poder, os indivíduos empregam os recursos que lhes são disponíveis, ou seja, os meios que lhes possibilitam alcançar seus objetivos e interesses. Ao acumular recursos dos mais diversos tipos, os indivíduos podem aumentar o poder. Há, portanto, segundo o teórico, recursos acumulados pessoalmente e recursos acumulados dentro das organizações institucionais, que são as bases importantes para o exercício do poder.

Indivíduos que ocupam posições dominantes dentro de grandes instituições podem dispor de vastos recursos que os tornam capazes de tomar decisões e perseguir objetivos que têm conseqüências de longo alcance (THOMPSON, 1998, p. 21).

Nesse sentido, como campo informativo, o Estado moderno constitui-se também numa das maiores e mais importantes fontes de informação. Seu funcionamento, segundo Jardim (1999, p. 29), relaciona-se diretamente com a sua ação produtora, receptora, ordenadora e disseminadora de informação. Por isso, nesse estudo abordaremos também a análise da produção, tratamento e disseminação da informação governamental e do modus operandi de divulgação, transparência/opacidade dos gastos públicos, relacionados às duas redes examinadas, com ênfase no Governo do Estado da Bahia, sob o comando do grupo político em questão.