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2 O IPI E A SUA(S) REGRA(S) MATRIZ(ES) DE INCIDÊNCIA

3.5 CRITÉRIO QUANTITATIVO

3.5.2 Alíquota

As alíquotas do IPI estão discriminadas na denominada Tabela de Incidência do IPI, conhecida como “TIPI”. A tabela estabelece uma classificação fiscal dos produtos com a respectiva alíquota a ser aplicada. Atualmente, a TIPI consta do Decreto nº 7.660 de 23 de dezembro de 2011, cuja vigência se iniciou em 01.01.2012.

O crescente comércio entre os países fez surgir a necessidade de haver uma codificação dos produtos, seja para questões estatísticas ou tributárias. Nesse sentido, adveio a Convenção Internacional de Bruxelas, da qual o Brasil é signatário, onde se estabeleceu o Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias (SH), tornando-se a base da Nomenclatura Brasileira de Mercadorias-NBC, bem como orientando a construção da TIPI, que teve vigência até dezembro de 1996.

Com a assinatura pelo Brasil do Tratado de Assunção, que deu origem ao Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), criou-se a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM). Assim, a partir de 01 de janeiro de 1995, a TIPI passou a ter como base a referida NCM, que também se perfaz e tem como fonte o Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias (SH).

O Decreto nº 7.660/2011 aprovou a TIPI, que estabelece uma classificação de mercadorias com base na NCM, bem como traz regramento de como interpretar a referida tabela. No Brasil, a Secretaria da Receita é o órgão responsável pelo enquadramento das mercadorias, bem como a interpretação dessa classificação.

151 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª região. Apelação Cível 2003.71.12.002280-6. Relator:

Leandro Paulsen. Julgamento: 13 dez. 2006. Órgão julgador: Segunda Turma. Publicação: D.E. 28 fev. 2007.

Os produtos estão classificados na TIPI por Seções, Capítulos, subcapítulos, posições, subposições, itens e subitens. A alíquota a ser aplicada sobre os produtos industrializados, seja para os que derem saída dos estabelecimentos industriais em decorrência de um negócio jurídico, seja para os importados, será, então, uma porcentagem fixada na TIPI.

Analisando ainda a TIPI, podemos verificar que o enquadramento de uma mercadoria pode se dar como produto não tributado (NT), isento, com alíquota zero ou com alíquota positiva. Nesse contexto, a tabela prescreve os produtos que sofreram a incidência do IPI, fixando o respectivo percentual incidente.

A tabela se perfaz como parte integrante da regra-matriz do IPI, posto que afeta o critério material da hipótese e concorre com a composição do quantum devido, ao estipular a grandeza percentual em que se conjuga a base de cálculo.

A TIPI, portanto, traz a alíquota que o contribuinte deve aplicar sobre cada produto. Destarte, é preciso que o contribuinte proceda a classificação fiscal do seu produto sempre buscando a mais específica em detrimento da mais genérica.

Paulo de Barros Carvalho, analisando a TIPI, assevera que a tabela de incidência do IPI criou realidade própria, na medida em que adotou a classificação do SH, mas procedeu ao ajustes necessários à nossa política tributária interna:

Cada código denota um conjunto de mercadorias e, idealmente, cada mercadoria tem um código ao qual se subsume. Algumas, mesmo semelhantes, exigem e recebem códigos distintos.

O Sistema Harmonizado, tal qual aprovado na Convenção Internacional, opera com seis dígitos, correspondendo a posições e subposições de mercadorias, mas a NBM/SH (TIPI/TAB) sobrepõe-se àquele sistema para acrescentar-lhe matriz de subespécies, mediante a particularização de itens e de subitens.

[…]

A adição dos códigos item/subitem demonstra bem esse esforço do legislador em promover um processo de adaptação que, introduzindo subclasses adicionais, aprofundou a conotação das subposições originais,

depositando naquelas subclasses os valores inerentes às particularidades do nosso ordenamento152.

Os ajustes da tabela à realidade brasileira é imperativo constitucional em decorrência do princípio da essencialidade, já que a alíquota deve ser fixada observando as diretrizes do referido princípio, ou seja, deve necessariamente ser seletiva conforme a essencialidade do produto, estabelecendo uma diferenciação de alíquotas a partir da imprescindibilidade do produto aos indivíduos e à sociedade.

Nesse sentido, pode também utilizar o método comparativo entre os produtos de modo que seja agravada para menos ou para mais, a depender do produto ser supérfluo ou essencial para as necessidades dos indivíduos e da sociedade, sendo a equação inversamente proporcional. Representativamente teremos:

Produtos de primeira necessidade - ↓ Alíquotas Produtos supérfluos ou suntuários - ↑alíquotas

A classificação fiscal dos produtos, nesse quadro, mostra-se absolutamente importante, já que resultará na incidência ou não sobre determinado produto, bem como na alíquota a ser aplicada.

Por isso, o citado mestre, Paulo de Barros Carvalho, enaltece a sua importância, na medida em que acaba por atuar no “critério material da hipótese normativa, precisando o complemento do verbo, sobre completar o critério quantitativo da consequência, ao atribuir a percentagem correspondente ao bem tributado”153.

Como parte integrante da regra-matriz da incidência do IPI, a compreensão, portanto, da TIPI é questão que merece atenção e cautela, essencialmente porque o enquadramento fiscal, que, num primeiro momento, poderia se mostrar tarefa fácil, não é.

A TIPI é extremamente minuciosa na discriminação dos produtos. Suas características, na forma como elencados, podem vir a suscitar dúvidas efetivas no

152 CARVALHO, Paulo de Barros. IPI - Comentários sobre as regras gerais de interpretação da tabela

NBM/SH (TIPI/TAB). Revista Dialética de Direito Tributário, São Paulo: Dialética, v. 2, n. 12, 1996, p. 57.

enquadramento dos produtos tributáveis. Não é incomum que as empresas necessitem realizar consultas ao Fisco e até mesmo requisitar laudos de profissionais sobre a especificação técnica do produto para que se proceda ao referido enquadramento.

Vale mencionar, por fim, que o IPI é calculado por fora. Ou seja, sobre o valor da operação registrada, aplicando-se a alíquota do produto para calculá-lo, de modo que o valor do IPI constante na nota fiscal não se conjuga ao valor da mercadoria, ele é lançado em destaque, separadamente do valor da mercadoria.