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5 ANÁLISE DE PRINCÍPIOS APLICADOS AO IPI

5.1 O sistema jurídico e o subsistema do direito tributário

Seguindo as lições preconizadas por Paulo de Barros Carvalho, temos que “O direito positivo é o complexo de normas jurídicas válidas num dado país”.186 Esse complexo de normas jurídicas em que se perfaz o direito precisa estar ordenado num todo; por isso, reunindo os textos de direito positivo, estes devem formar um todo organizado, um sistema.

Um sistema se caracteriza por manter uma organização de seus elementos unidos a partir de um dado unificador. Fabiana Del Padre Tomé afirma que, “Tomado em seu significado de base, podemos definir sistema como o conjunto de elementos coordenados entre si, aglutinados perante uma referencia determinada.”187

A citada professora, apoiando-se em Lourival Vilanova, nos ensina que haverá sistema onde houver elementos e relações. As normas jurídicas formam um sistema em que se inter-relacionam e, se consideradas em determinado espaço e tempo, formatam o direito positivo.

Paulo de Barros Carvalho ensina:

Se pudermos reunir todos os textos do direito positivo em vigor no Brasil, desde a Constituição Federal até os mais singelos atos infralegais, termos diante de nós um conjunto integrado por elementos que se inter- relacionam, formando um sistema. As unidades desse sistema são as normas jurídicas que se despregam dos textos esse interligam mediante vínculos horizontais (relações de coordenação) e liames verticais (relações de subordinação-hierarquia).188

Vale destacar que as normas jurídicas formam o sistema jurídico, sistema jurídico-normativo; são, conforme menciona Cristiano Carvalho, “o elemento universal do

186 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 34. 187 TOMÉ, Fabiana Del Padre. A prova no direito tributário. 2. ed. São Paulo: Noeses, 2008, p. 37-38. 188 CARVALHO, op. cit., p. 42-43.

sistema jurídico”189 e se relacionam com vínculos de coordenação e subordinação hierárquica sob um princípio unificador, que é a norma fundamental.

O direito positivo tem sua formação num conjunto de normas que se apresenta sob a linguagem prescritiva, as quais, se voltadas para uma determinada sociedade no tempo e no espaço, formam o sistema do direito positivo, que servirá de objeto para o cientista do direito, perfazendo-se em objeto o sistema da Ciência do Direito sob outra camada de linguagem, a descritiva.

O sistema jurídico pode se referir tanto ao sistema do direito posto quanto ao sistema da Ciência do Direito, camadas de linguagem que não se confundem: naquele, há o disciplinamento de condutas intersubjetivas; neste, tem-se a descrição das normas jurídicas de um determinado sistema jurídico.

A formação do sistema do direito positivo se dá pelas normas jurídicas, as quais não se confundem com os textos normativos. A norma jurídica é o resultado obtido a partir da leitura dos textos de lei em nossa mente, vale dizer, é a significação obtida da leitura dos textos normativos. Paulo de Barros Carvalho elucida:

Uma coisa são os enunciados prescritivos, isto é, usados na função pragmática de prescrever condutas; outras, as normas jurídicas, como significações construídas a partir dos textos positivados e estruturados consoante a forma lógica dos juízos condicionais, compostos pela associação de duas ou mais proposições prescritivas.190

Esse elemento formador em que se perfazem as normas jurídicas seria, conforme nos ensina o citado mestre, “o juízo (ou pensamento) que a leitura do texto provoca em nosso espírito”191, destacando que um único texto pode ter várias significações

ou que a significação pode advir de diversos textos de lei.

O sistema do direito positivo está estruturado de forma hierarquizada, tendo todas as normas que o formam como fundamento de validade a Constituição (norma fundamental). Vale dizer, todas as normas derivam da norma fundamental e nela se

189 CARVALHO, Cristiano. Ficções Jurídicas no Direito Tributário. São Paulo: Noeses, 2008, p. 162. 190 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 3. ed. São Paulo: Noeses,

2009, p. 129.

fundamentam formatando uma organização estruturada que tem nela – norma fundamental – seu princípio unificador.

Nesse sentido, Tácio Lacerda Gama menciona haver relação de hierarquia entre normas, que resulta na unicidade do sistema de direito:

Há relação de hierarquia entre as normas, sob o ponto de vista formal, sempre que uma busque fundamento de validade noutra, sendo esta hierarquicamente superior e aquela inferior. Essa conexão de supra-infra- ordenação entre as normas jurídicas é o que possibilita falar na unidade só sistema de direito positivo, por que, em última análise, toda norma deriva da Constituição da República192.

As normas jurídicas prescrevem comportamentos e são compostas por dois elementos que se interligam pelo conectivo do “dever-ser”: hipótese e consequente193. Essa “estrutura condicional da norma revela a forma que o homem encontrou para condicionar seu próprio comportamento.”194

Todas as normas possuem a referida estrutura: uma hipótese que possibilita identificar o acontecimento e um consequente que permite identificar a relação jurídica decorrente do acontecimento previsto na hipótese. Dada essa unicidade de estrutura é que Paulo de Barros Carvalho afirma a homogeneidade lógica das unidades do sistema:

[…] operamos com a premissa da homogeneidade lógica das unidades do sistema. Consoante a qual todas as regras teriam idêntica esquematização formal, quer dizer, em todas as unidades do sistema encontraremos a descrição de um fato “F” que, ocorrido no plano da realidade físico- social, fará nascer uma relação jurídica (S’R S’’) entre dois sujeitos de direito, modalizada com um dos operadores deônticos: obrigatório, proibido ou permitido (O, V ou P).195

As normas tributárias como integrante do ordenamento jurídico também possuem idêntica estrutura e, dada a materialidade específica de suas normas, conformam o sistema tributário nacional.

192 GAMA, Tácio Lacerda. Competência Tributária fundamento para uma teoria da nulidade. São

Paulo: Noeses, 2009, p. 134.

193 Representatividade: H  C (se ocorrer o fato H, então deve ser a relação C).

194 SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Curso de Especialização em Direito Tributário: Estudos Analíticos

em Homenagem a Paulo de Barros Carvalho. São Paulo: Forense, 2005, p. 18.

195 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário – fundamentos jurídicos da incidência. 8. ed. São

A ordem jurídica brasileira se perfaz num sistema de normas, sendo que nesse sistema outros sistemas ou subsistemas se formam aglutinados por algum conceito fundante. Daí o subsistema do direito tributário que condensa normas específicas e essencialmente demarcadas pelo conceito fundante de tributo: são as normas jurídico- tributárias.

Nada obstante divisões realizadas, ainda que para fins meramente didáticos, certo é que não podemos desprezar que o ordenamento jurídico há de ser visto em sua integralidade.

Feitas as considerações sobre o sistema do direito como conjunto de normas dispostas no ordenamento numa estrutura hierarquizada, faz-se necessário analisar a presença dos princípios nele.

Canotilho196 afirma que o sistema jurídico deve ser um sistema aberto constituído de regras e princípios, onde as normas são o gênero das quais a regra e o princípio são espécies.

Paulo de Barros Carvalho utiliza o termo “regra” como sinônimo de “normas”, sendo os princípios regras que fixam critérios objetivos ou podem significar um valor, distinguindo quatro usos para os princípios, sendo nos dois primeiros norma e nos dois últimos critério objetivo:

a) como norma jurídica de posição privilegiada e portadora de valor expressivo;

b) como norma jurídica de posição privilegiada que estipula limites objetivos;

c) como os valores insertos em regras jurídicas de posição privilegiada, mas considerados independentemente das estruturas normativas;

d) como limite objetivo estipulado em regra de forte hierarquia, tomado, porém, sem levar em conta a estrutura da norma.197

O princípio na concepção do professor da PUC e da USP pode expressar-se em termos normativos impregnados de valor ou traçar limites objetivos para atingir certos fins, esses sim, portadores de valores. Seguindo as lições de Paulo de Barros Carvalho, temos

196 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 5. ed. Coimbra:

Almedina, 1992, p. 172.

197 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 3. ed. São Paulo: Noeses,

que os princípios se perfazem em normas jurídicas possuindo a mesma estrutura destas, apresentando-se, contudo, com grande força valorativa. São suas as lições:

[…] “princípios” são “normas jurídicas” carregadas de forte conotação axiológica. É o nome que se dá a regras do direito positivo que introduzem valores relevantes para o sistema, influindo vigorosamente sobre a orientação de setores da ordem jurídica198.

De sorte que os princípios são prescrições de conteúdo intenso que irradiam efeitos por todo o ordenamento jurídico199. Nesse contexto, não podemos deixar de reconhecer que os princípios jurídicos detêm posição privilegiada no sistema jurídico, possuindo intenso grau de juridicidade. Os princípios são mandamentos nucleares de um sistema200, seja enquanto denotam valores objetivos, seja enquanto o próprio valor.

O professor Roque Antonio Carrazza destaca que “os princípios exercem função importantíssima dentro do ordenamento jurídico-positivo, já que orientam, condicionam e iluminam a interpretação das normas jurídicas”.201 São suas as lições:

Com efeito, na análise de qualquer problema jurídico, por mais trivial que seja ou por mais trivial que pareça ser, deve o jurista alçar-se ao altiplano dos princípios constitucionais. Para quê? Para verificar em que sentido, em que direção, os princípios constitucionais apontam. Nenhuma interpretação será havida por jurídica – e, portanto, por boa – se fizer tabula rasa de qualquer princípio constitucional202.

Verificada a importância dos princípios no ordenamento jurídico e como eles se apresentam na formação deste, voltamo-nos ao IPI para análise de princípios aplicados a essa espécie tributária, destacando que no IPI dizem de sua própria essência, fundamentalmente, os princípios da legalidade, da anterioridade, não cumulatividade e da essencialidade. No que tange ao princípio da essencialidade, este será analisado no capítulo seguinte conjuntamente com o tema extrafiscalidade.

198 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 3. ed. São Paulo: Noeses,

2009, p. 257.

199 Apesar de alguns autores estabelecerem diferença entre sistema e ordenamento, posicionamo-nos pelo

uso sem distinção.

200 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2007, p.

932.

201 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 25. ed. São Paulo:

Malheiros, 2008, p. 51.

202 Id. Princípios Constitucionais. XIX Congresso Brasileiro de Direito Tributário, Revista de Direito