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O tema na legislação infraconstitucional: isenção, alíquota zero, não

5 ANÁLISE DE PRINCÍPIOS APLICADOS AO IPI

5.4 Princípio da não cumulatividade

5.4.3 Isenção, alíquota zero, não tributação e o direito ao aproveitamento do

5.4.3.2 O tema na legislação infraconstitucional: isenção, alíquota zero, não

O Código Tributário Nacional, ao estabelecer a não cumulatividade para o IPI, não menciona a expressão “cobrado”, mas prescreve que a compensação se dará entre o imposto havido na saída do produto com o pago na entrada252; entretanto, vale para essa expressão o que já se discorreu sobre a aludida expressão “cobrado”.

A compatibilização com o texto constitucional que impõe o princípio da não cumulatividade do IPI é o de apenas haver uma operação anterior, já que a exigência da constatação da cobrança e/ou do pagamento do tributo na operação anterior é circunstância

252 Art. 49. O imposto é não-cumulativo, dispondo a lei de forma que o montante devido resulte da diferença

a maior, em determinado período, entre o imposto referente aos produtos saídos do estabelecimento e o pago relativamente aos produtos nele entrados.

Parágrafo único. O saldo verificado, em determinado período, em favor do contribuinte transfere-se para o período ou períodos seguintes.

(BRASIL. Presidência da República. Código Tributário Nacional. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Brasília, 25 out. 1966).

impraticável e que fere a dicção legal, além do que a regra-matriz do direito ao crédito não se vincula à regra-matriz do tributo.

Já tivemos a oportunidade de mencionar que a Lei n°4502/64 é a lei instituidora do IPI e, quanto à não cumulatividade, prescreve que:

Art. 25. A importância a recolher será o montante do imposto relativo aos produtos saídos do estabelecimento, em cada mês, diminuindo do montante do imposto relativo aos produtos nele entrados, no mesmo período, obedecidas as especificações e normas que o regulamento estabelecer.

§ 1° O direito de dedução só é aplicável aos casos em que os produtos entrados se destinem à comercialização, industrialização ou acondicionamento e desde que os mesmos produtos ou os que resultarem do processo industrial sejam tributados na saída do estabelecimento.

O referido dispositivo teve o condão de estabelecer o período de apuração do tributo, que, nada obstante, poderá ser alterado, desde que não afete a não cumulatividade; e o parágrafo primeiro, por sua vez, trouxe o disciplinamento do IPI pelo regime do crédito físico ao permitir o creditamento apenas sobre produtos destinados à comercialização, industrialização ou acondicionamento. O dispositivo também menciona que o direito ao crédito deve se dar se a saída do produto for tributada.

Nesse diapasão, temos a Lei nº 9.779, de 19 de janeiro de 1999, que passou a admitir o creditamento sobre os insumos mesmo quando as saídas forem isentas ou sujeitas à alíquota zero, vejamos o dispositivo:

Art. 11. O saldo credor do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI, acumulado em cada trimestre-calendário, decorrente de aquisição de matéria-prima, produto intermediário e material de embalagem, aplicados na industrialização, inclusive de produto isento ou tributado à alíquota zero, que o contribuinte não puder compensar com o IPI devido na saída de outros produtos, poderá ser utilizado de conformidade com o disposto nos arts. 73 e 74 da Lei no 9.430, de 27 de dezembro de 1996, observadas normas expedidas pela Secretaria da Receita Federal do Ministério da Fazenda.

A Lei nº 9.779/1999 permitiu que houvesse o creditamento sobre a aquisição de insumos destinados à produção de bens isentos e tributos à alíquota zero, não contemplando os não tributados. Além disso, possibilitou que os créditos acumulados pudessem ser compensados com outros tributos federais.

O Superior Tribunal de Justiça provocado a estender o creditamento também sobre os produtos “não tributados”, já decidiu que não há creditamento quando a operação envolver operações com esses produtos:

I - O art. 11 da Lei 9.779/99 prevê duas hipóteses para o creditamento do IPI pago na aquisição de insumos e matérias-primas, na saída de produtos industrializados: a) quando os insumos são utilizados na elaboração de produtos isentos; e b) quando são usados na industrialização de produtos tributados à alíquota zero.

II - Na análise da lei tributária é vedada sua interpretação extensiva, in casu, não tendo a norma legal incluído como hipótese de creditamento de IPI a saída do produto industrializado não-tributado, tem-se indevido o pleito de creditamento da exação.253

O entendimento sobre a referida disposição legal pelos nossos Tribunais Superiores é o de que houve a criação de regra de novo direito ao crédito, devendo produzir seus efeitos a partir de edição; entretanto, não coadunamos com o mesmo.

Perfilhamos entendimento que o art. 11 da lei 9.779/99 não veio instituir regramento novo; a referida lei apenas disciplinou como o contribuinte poderia utilizar seu crédito inscrito em sua conta gráfica, inclusive, quanto às operações de aquisições isentas com saídas tributadas, ou na aquisição tributada com saída isenta.

Não há nela a criação de possibilidades em que se daria o aproveitamento do crédito, já que esse decorre diretamente da norma constitucional. O princípio da não cumulatividade tem por escopo impedir que haja a oneração da produção industrial, permitindo o abatimento, a compensação entre créditos e débitos. Essa sistemática torna o produto menos custoso refletindo numa dinâmica positiva para todo o ciclo produtivo que envolve consequências também positivas para a economia.

Com esse intento, a Constituição fixou a não cumulatividade do IPI sem estabelecer restrições na tomada dos créditos, por certo objetivando tornar a indústria brasileira competitiva com outros mercados, já que o creditamento provoca uma produção menos custosa, de sorte que não caberia ao legislador infraconstitucional criar limitações; contudo, não é isso que ocorre.

253 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.109.232/RS. Relator: Ministro Francisco

A inibição do aproveito de crédito não se coaduna com a diretriz constitucional da não cumulatividade, já que o direito ao crédito se conforma em regra jurídica autônoma, ou seja, o nascimento desse direito depende apenas de ter havido operações anteriores.

5.4.3.3 Síntese do panorama atual de operações submetidas à isenção, alíquota