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Alegações Finais por Memorial– Favorecimento a Prostituição

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ... VARA CRIMINAL DE ...

Protocolo...

Alegações Finais Por Memorial

..., qualificada nos autos, via de seu procurador, (m.j.), vem a presença de Vossa Excelência, com fulcro do artigo 403, do Código de Processo Penal, com redação dada pela Lei nº 11.719, de 20.06.2008 apresentar, no prazo legal, ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAL, nos seguintes termos:

DOS FATOS

A Acusada, foi denunciada como incursa nas penas do artigo 228, do Código Penal, com redação dada pela Lei nº 12.015, de 07.08.2009 - DOU 10.08.2009 sob acusação de induzir e atrair a pretensa vítima à prostituição, pelo fato de ter sido surpreendida, no interior do Motel ..., no dia ..., na companhia da mesma, e do co-réu ...

Conforme, depoimento, de fls.376, da testemunha ..., (doc...), a acusada, foi vítima de uma ação policial, ardilosa, preparada, ILÍCITA e ilegal, vez que sua autuação em flagrante foi precedida de ajuste da vítima, que se encontrava coagida por um comissário de nome ..., que atua no Setor Palmares no posto do “Juizado de Menores”, e os agentes policiais da Infância e juventude. Diz a testemunha:

“que sua amiga conhecida como ..., lhe contou que uma pessoa chamada ..., do Juizado de Menores do Setor ..., havia armado um flagrante para o acusado ... e que o mesmo a ameaçara dizendo que se ela não mantivesse relação sexual com o ..., este iria contar para sua mãe que a menor saía com esse senhor; que ... não manteve relações sexuais com o ...; que não sabe de onde ... tirou essa ideia e nem se o mesmo conhecia ou não o ...; que não sabe de nenhuma pessoa que tenha sido convidada por ... , para sair com homens;” (GRIFEI)

A versão de que o flagrante foi preparado ardilosamente, pelos policiais, encontra respaldo, também, no depoimento da testemunha ..., em apenso, (doc. ...), assim como a suposta vítima realizava programas espontaneamente:

“que conhece o ..., que este é um agente do Juizado de Menores do Setor; que o mesmo disse para ... marcar um encontro como ..., pois ia armar o flagrante que também o ... ainda tentou agarrar a ... que ... agarrou a ... dizendo que se a mesma não cedesse ia contar alguma coisa para a mãe dela” (grifei)

A própria mãe da suposta vítima Sra. ..., (doc...), reconhece e declara que sua filha jamais foi induzida ou atraída a prostituição pela Acusada, em seu depoimento, incluso, com as seguintes palavras:

“Que sua filha lhe contou depois que havia ido ao motel com o médico porque o ... morador do setor tinha combinado com a mesma para pegá-lo em flagrante que não sabe porque o ... queria o flagrante; que não sabe porque sua filha resolveu ir...”

Incontestável que se tratou de um “flagrante preparado”, e não “esperado, portanto nulo como instrumento legal de coerção da liberdade pessoal.

O auto de Prisão em Flagrante, além de preparado, o que vale dizer nulo e ilícito, não obedeceu as prescrições legais, uma vez que o crime atribuído a Acusada, é do rol daqueles que exigem a representação do ofendido ou seu representante legal para legitimar a ação da autoridade policial, conforme o próprio Órgão Ministerial o admitiu em sua cota, nos autos em apenso, de pedido de relaxamento de prisão em flagrante, nos seguintes termos:

“Na verdade, o objetivo principal da prisão em , flagrante é a segurança da culpabilidade do acusado, entretanto, no presente feito, tratando-se de crime que se apura mediante ação penal privada, a prisão só perdura quando a pessoa interessada manifesta a vontade de ser processado o autor do crime, mas tal manifestação deve ocorrer no prazo de vinte e quatro horas, o que não ocorreu. Sendo assim somos pelo relaxamento da prisão em , flagrante ora requerido.”

É, pois, notório que a sustentação da pretensão Acusatória, se baseia única e exclusivamente em provas extrajudiciais, obtidas ilicitamente pelas autoridades policiais durante a fase inquistorial.

A denúncia, referindo-se as declarações de outras menores, na promotoria da infância e juventude, acostadas as fls. ..., afirmou:

“Além da vítima ..., os denunciados ... e ... ainda induziram outras menores à prostituição atraindo-as com oferta de R$ ... por cada programa, menores estas constantes nas declarações, anexadas ao inquérito.”

As menores apontadas na denúncia são: ... (fls. ...); ... (fls. ...); ... (fls. ...); e ... , (fls. ...), que ouvidas perante a ilustre juíza da comarca de ..., em deprecata da comarcas de ..., nos autos nº ..., conforme documentação, em apenso, (doc. .... ) negaram peremptoriamente e de forma unânime a veracidade das referidas declarações, assim se pronunciaram:

1) ...: “...que nunca teve intimidade e nunca conversou com ... que; que não sabe de nenhuma pessoa que tenha sido convidada por ... , para sair com homens;” 2) ...: “...conhece ... apenas de vista não pode dar informações sobre o comportamento e vida passada dela; que nunca soube que ela tivesse praticado ato desabonador e nunca soube que ela tivesse intermediado menores para o acusado;” 3) ...: “que não sabe se ... fazia programas; que a mesma nunca lhe propôs fazer programa;”

4) ...: “Que ... nunca a convidou para sair com pessoa alguma”

Nenhuma das testemunhas arroladas na denúncia, afirmou ter a Acusada, induzido ou atraído, a vítima à prostituição, corrompido ou tentado corrompe-la, inclusive, a mesma já é casada civilmente com o irmão da Acusada: ..., desde ..., conforme cópia da certidão de casamento em apenso. (doc....)

DO DIREITO

No caso em apreço, a Acusada, foi vítima de uma prisão engendrada artificiosamente pela polícia, que de maneira ilegal e ilícita, forçou a suposta vítima a provocar uma situação, supostamente flagrancial, geradora do presente feito, obtendo prova por meio ilícito, inadmissível no processo, conforme garantia constitucional estampada no artigo 5º, LVI, de nossa Constituição Federal e Art. 157, do Código de Processo Penal, com redação dada pela Lei nº 11.690, de 09.06.2008 - DOU 10.06.2008, em juízo, sob o crivo do contraditório nada de positivo conseguiu, a Acusação, no sentido de provar o alegado na denúncia, a não ser os depoimentos contraditórios dos policiais, que efetuaram a diligência, que por si só, não tem a força para amparar uma possível decisão condenatória.

Ressalte-se, também, que após sua prisão, a Acusada, foi objeto do sensacionalismo e execração pública por parte da mídia selvagem, e principalmente, do Ministério Público da Infância e Juventude que a transformou num monstro execrável, violando o seu direito de respeito a sua dignidade e integridade moral e a preservação de sua imagem de cidadã, que embora pobre e miserável: é humana, como também expôs de forma irresponsável a imagem das menores cujos direitos e prerrogativas tinha o dever de zelar.

A denúncia, imputou, ter a acusada infringido, o seguinte dispositivo penal: Código Penal:

Art. 228 - Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone: (“Caput” com redação dada pela Lei nº 12.015, de 07.08.2009 - DOU 10.08.2009)

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

A conduta da Acusada não se enquadra no tipo penal acima descrito, pois a suposta vítima, a acompanhou por livre e espontânea vontade, sem qualquer ato que pudesse designar induzimento ou atração, como bem esclarece a testemunha ...; além do que, a condição de prostituta da vítima, que é elemento sine qua non, não restou demonstrado nos autos, muito pelo contrário, ela afirma ter perdido a virgindade com seu namorado, com o qual se casou

civilmente (doc.), comportamento incompatível com a de uma prostituta.

É corrente o entendimento de que o crime só se consuma quando o agente preenche todos os elementos de composição de um tipo penal, e, o objeto jurídico tutelado é atingido, ou como conceitua Anibal Bruno:

“É a fase última do atuar do criminoso. É o momento em que o agente realiza em todos os seus termos o tipo legal da figura delituosa, e em que o bem jurídico penalmente protegido sofreu a lesão efetiva ou a ameaça que se exprime no núcleo do tipo. É em face do tipo legal do crime que se pode concluir se o atuar do agente alcançou a fase de consumação” (in “Direito Penal, Parte Geral, 4ª ed., tomo. II, pág. 254, 1984).

O Crime previsto, no artigo 228, do Estatuto Substantivo Penal, é crime instantâneo - sua consumação é constatada em um só instante, e se exaure num só momento; é também crime material – que só se aperfeiçoa com a positivação do resultado previsto no tipo legal, sendo portanto, por conseqüência, crime de dano – que só se considera consumado com a lesão efetiva do bem jurídico tutelado. Portanto, se não ficou provado a realização da conduta típica e se o resultado prostituição não ocorreu, obviamente, não se pode falar em conduta criminosa ou típica, ou de crime consumado.

Poder-se-ia, ad argumentandum, afirmar que o caso caracteriza-se em crime impossível, pois a polícia, sob coação, obrigou a suposta vítima a provocar uma situação de flagrante delito, e, impediu uma possível consumação delitual por ineficácia absoluta do meio ou absoluta impropriedade do objeto., consoante disposto no artigo 17 do CPB.

Na forma típica, induzir ou atrair alguém a prostituição, haveria a acusação de demonstrar durante a instrução criminal, qual foi a atividade ou conduta da Acusada que comprovasse ter induzido alguém, quer dizer: (incutido, instigado, incitado, persuadido, arrastado, etc.), ou

atraído que é: (puxado, prendido, seduzido, etc.), à prostituição, pois o ônus da prova da existência do fato, da autoria, como também do elemento subjetivo, compete ao órgão acusador, pois em favor do réu vige o princípio constitucional da presunção de inocência. Logo, sendo a prova acusatória frágil, e controvertida, impõe-se a absolvição da acusada, conforme entendimento jurisprudencial dominante:

“A prova da acusação para ter conseqüência jurídica, deve conduzir a certeza da criminalidade (RF 69/604).

“A sentença condenatória há de se apoiar em prova inequívoca de autoria.” (TJRJ – Ap. Crim. Nº 57.925/72 – 2ª C. – Rel. Des. Wellington Pimentel).

Restou à acusação única e exclusivamente a palavra da suposta vítima (hoje cunhada da ré), de que ..., teria aliciado, também, as menores ..., o que foi prontamente desmentido pela primeira, em seu depoimento prestado perante a ilustre juíza de ... as fls. ...

Embora a Jurisprudência tem atribuído relevante valor probante nas declarações da ofendida, nos crimes contra a liberdade sexual. nossos Tribunais Superiores, de forma uníssona firmaram o entendimento, de que isoladas e sem harmonia com o conjunto probatório, por si só,

não são suficientes para amparar ou alicerçar decreto condenatório, como se vê nos arestos a seguir expostos

“Embora verdadeiro o argumento de que a palavra da vítima, em crimes contra os costumes, tem relevância especial, não deve, contudo, ser recebida sem reservas, quando outros elementos probatórios se apresentam em conflito com suas declarações” (TJSP - AC - Rel. Adalberto Spagnoulo - RTJSP 59/404).

“As vacilações da ofendida em caso de estupro deitam a perder a prova, já que, em tema de crimes contra os costumes, fundamental é a sua palavra”(TJSP - AC - Rel. Dirceu de Mello - RT 566/308);

No caso em apreço, as declarações das supostas vítimas não se harmonizam, com os demais elementos probatórios dos autos,, sendo pois contaminados pela contraditoriedade e inverossimilhança, não comportando, credibilidade suficiente para amparar decreto condenatório.

A Acusada, é pessoa humilde, simples e pobre, tecnicamente primária, possui bons antecedentes, embora responda a outras duas ações penais, o que não podem ser consideradas em seu prejuízo por força do princípio constitucional da presunção de não culpabilidade, como é o entendimento dominante de nossa jurisprudência

“Não devem ser considerados como maus antecedentes, prejudicando o réu

Processos em curso (TACrimSP, RvCrim 124.212, JTACrimSP, 78:14; STF, HC 68.641, 1ª Turma, rel. Min. Celso de Mello, RT, 690:390; STJ, RHC 2.702, 6ª Turma, DJU, 28 jun. 1993, p. 12901; STF, HC 68.742, 1ª Turma, RT, 698:448 e 453, voto do Min. Celso de MelloHC 70.993, 1ª Turma, DJU, 2 dez. 1994, p. 33198).” ( in “Código Penal Anotado, pág. 140, Damásio E. de Jesus).

EX POSITIS,

Espera, a Acusada, sejam as presentes Alegações Finais por Memorial recebidas, com a juntada aos autos da inclusa documentação (doc. 1/9), julgando-se improcedente a denúncia de fls..., e decretando em consequência, sua absolvição, pois desta forma Vossa Excelência, como de costume, estará editando decisão compatível com os mais elevados ditames da JUSTIÇA.

Local, data

___________________ OAB

Alegações Finais por Memorial – Homicídio Pedido de Absolvição

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