• Nenhum resultado encontrado

Alegações Finais por Memorial – Roubo – Falta de Reconhecimento da Vítima

EXMA. SRA. DRA. JUIZA DE DIREITO DA COMARCA DE ...

PROTOCOLO ...

Alegações Finais Por Memorial

..., já qualificado, nos autos da Ação penal em epígrafe, via de seu defensor in fine assinado, permissa máxima vênia, vem perante a conspícua e preclara presença de Vossa Excelência, vem perante a conspícua e preclara presença de Vossa Excelência, tempestivamente, nos termos do artigo 403, do Código de Processo Penal, com a redação que lhe inovou a Lei 11.719/2008, apresentar

ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAL

face aos fatos, razões e fundamentos a seguir expostos:

SÚMULA DOS FATOS

O Órgão Ministerial editou denúncia de fls. ..., em desfavor do Acusado, ora defendente, se propondo em provar durante o persecutio criminis in judicio a autoria do delito previsto no art. 157, do Código Penal, nos seguintes termos in verbis:

“Narra inclusa peça informativa que, no dia ... do ano fluente (...), por volta das ... horas, na ..., próximo ao ..., neste município, o denunciando subtraiu, para si, mediante grave ameaça, com emprego de um revólver, ... (...) pares de ..., no valor aproximado de R$ ... (...), imobilizando, para tanto, as vítimas ... e ...

Verificou-se que a vitima ... encontrava-se em sua residência, onde estavam depositados os ... pares de sapatos, pois que desativado seu estabelecimento comercial, quando apareceu o denunciando interessado em adquirir todo o estoque. Por ser o denunciando pessoa conhecida da vítima ..., com quem negociara anteriormente, esta vendeu-lhe a mercadoria por R$ ... (...).

Encerrada a transação, o denunciando pediu a ... que o acompanhasse até ..., onde pegaria o numerário para pagar-lhe. Este, sem prever a intenção do denunciando, prontificou-se a ir e convidou a vitima ... para acompanhá-los.

Aproximadamente, a .... quilômetros do trevo ..., o denunciando simulou defeito no veículo que conduzia, parando-o. Em seguida, apontou um revólver para as vítimas e determinou que saíssem do veículo e permanecessem no local, empreendendo fuga rumo à Capital deste Estado e levando consigo a mercadoria.

Destarte, está o denunciando incurso as sanções do art. 157, 2°. incisos I (emprego de arma) do Código Penal Pátrio...”.

A denúncia foi recebida, tendo o Réu na ocasião de seu interrogatório negou a autoria do fato nos seguintes termos:

“Que alega que nunca esteve nesta cidade, sendo esta a primeira vez que aqui vem; Que alega que não conhece as vítimas; Que alega que nunca esteve no Trevo ..., na ..., e que nunca saiu do município de ..., onde nasceu e se criou; Que nunca negociou com a vítima ..., dizendo que não a conhece; Que o interrogando é portador da Carteira de Identidade n° ..., expedida em ..., pela ...; Que alega que nunca foi proprietário de um veículo ...; Que desconhece o motivo pelo qual as vítimas e as testemunhas mencionadas na denuncia estão lhe imputando autoria do delito descrito na inicial. (…) Que o interrogado alega que na data do fato mencionado na denuncia não possuía habilitação para conduzir o veículo e nem era proprietário de veículo; Que tomou conhecimento dos fatos mencionados na denuncia há cerca de ... mês, alegando que antes nunca tinha sido procurado pela Polícia pelos fatos já mencionados; Que alega que tomou conhecimento do decreto de prisão preventiva através de seus familiares e que aqui compareceu, mesmo ciente de que poderia ser preso, porque disse que não cometeu o crime e nada tem a temer.”

Durante a instrução criminal foram ouvidas a suposta vítima, mais três testem unhas do rol da denúncia e duas arrolada pela defesa, destacando-se de seus depoimentos o seguinte:

... (vítima?)

“Que o (...) quando ali chegou o acusado em um ... (...) Que no dia dos fatos, o depoente chegou a anotar a placa do carro em que o acusado estava, mas a polícia constatou que a placa era fria; sendo que o depoente também conseguiu anotar o nome do acusado olhando seu carteira de identidade quando ele desceu do veículo tratando-se de ...; Que o depoente na ... foi descrevendo as características do acusado e foi feito o retrato falado do mesmo; Que o depoente embora não possa afirmar com absoluta certeza reconheceu, o acusado nesta data por fotografia consoante cópias constante as fls... dos autos” (Grifei).

Em Juízo:

“que o depoente na data dos fatos, encontrava-se na residência de seu amigo ... (...) quando ali chegou o acusado em um ..., de cor ..., salvo engano, dizendo que estava interessado emcom0prar o restante do estoque de uma loja de sapatos que ... possuía e havia fechado.” (grifei).

...

Na Delegacia:

“QUE, quando foi por volta das ... horas, ... e ... chegaram em casa muito apavorados e comunicando que após o Trevo ... neste município, ... apontou um revólver para eles, fizeram com eles descessem do veiculo” (grifei).

Em Juízo:

“Que ... e ... retornaram a noite à pé, dizendo a depoente que seguiram para ... no veículo ... do acusado, e no trajeto o acusado parou o veículo e disse a eles que havia um defeito na roda, e pediu a eles que descessem e olhassem o defeito, mas quando ... foi entrar novamente no carro, o acusado obrigou ... e ... a descerem...” (grifei).

É indiscutível que o fato imputado ao acusado constitui uma farsa, engendrada pela suposta vítima e sua mãe, em conluio com as duas testemunhas e a polícia civil, basta observar que o delegado endereçou o ofício nº ..., no dia ..., (fls...) ao Diretor do Instituto de Identificação da ..., e, pasme, no mesmo dia, às ... hrs., (fls...), foi expedida a cópia do prontuário requerida, a qual foi objeto de reconhecimento de fls.... Tamanha rapidez, que só seria possível se a Delegacia de ... estivesse on line com o Instituto de Identificação, fato este que na data de hoje não existe.

O referido procedimento policial falacioso, apresenta outras facetas de caráter sui generis, pois vejamos: da data do fato ao relatório que concluiu o inquérito, demandaram apenas .... dias, nenhuma diligência foi realizada no sentido de localizar o “assaltante”, e o que é mais fantástico: o acusado, que é ...., foi reconhecido através de uma fotocópia de sua fotografia, na qual só se vê apenas um tição1 no local do rosto.

Na realidade, o Acusado, foi vítima de um ato indecoroso, obsceno e vergonhoso, arquitetado pela suposta vítima, o que é mais revoltante: com o apoio da própria polícia, que cuidou da formalização do fictício assalto, por motivos até então ignorados.

Por outro lado o Acusado afirmou em seu interrogatório judicial de fls., que nunca esteve em ..., e que desde adolescente se dedica a profissão de marceneiro, jamais possuiu veículo de marca ..., inclusive, na ocasião do suposto crime, não possui habilitação para dirigir, o que foi confirmado pelas testemunhas arroladas na defesa prévia, e documentação acostada aos autos de nº ... de Pedido de Revogação de Prisão Preventiva.

O Ilustre Representante do Ministério Público, em suas alegações finais de fls., fez jus ao papel institucional de atuar como custus legis, pugnando pela improcedência da denúncia, demonstrando elevado senso de justiça e imparcialidade, virtudes que enobrece e dignifica sua gloriosa instituição,

DO DIREITO

“Um culpado punido É exemplo para os delinquentes, Um inocente condenado Preocupação para todo homem de bem.” (La Bruyere)

Consoante o entendimento esposado pela melhor doutrina processual penal, sentença de conteúdo condenatório exige, para sua prolação, a certeza de ter sido cometido um crime e de ser o acusado o seu autor. A menor dúvida a respeito acena para a possibilidade de inocência do réu, de sorte que a Justiça não faria jus a essa denominação se aceitasse, nessas circunstâncias, um édito condenatório, operando com uma margem de risco mínima que seja de condenar quem nada deva2.

Quando se tem presente, salientou Malatesta, que a condenação não pode basear-se senão na certeza da culpabilidade, logo se vê que a credibilidade razoável - também mínima - da inocência, sendo destrutiva da certeza da culpabilidade, deve, necessariamente, conduzir à absolvição. É o ensinamento do mestre peninsular:

“O direito da sociedade só se afirma racionalmente como direito de punir o verdadeiro réu; e para o espírito humano só é verdadeiro o que é certo; por isso, absolvendo em caso de dúvida razoável, presta-se homenagem ao direito do acusado, e não se oprime o da sociedade. A pena que atingisse um inocente perturbaria a tranqüilidade social, mais do que teria abalado o crime particular que se pretendesse punir; porquanto todos se sentiriam na possibilidade de serem, por sua vez, vítimas de um erro judiciário. Lançai na consciência social a dúvida, por pequena que seja, da aberração da pena, e esta não será mais a segurança dos honestos, mas a grande perturbadora daquela mesma tranqüilidade para cujo restabelecimento foi constituída; não será mais a defensora do direito, e sim a força imane que pode, por sua vez, esmagar o direito indébil3

Na mesma trilha é o iluminado ensinamento de Heleno Cláudio Fragoso, que obtempera: a condenação exige certeza e não basta a alta probabilidade, que é apenas um juízo de nossa mente em torno da existência de certa realidade4. Mesmo a íntima convicção do juiz, como

sentimento de certeza, sem o concurso de dados objetivos, não é verdadeira a própria certeza..., mas simples crença, conforme a ponderação de Sabatini, citado pelo mestre Heleno Fragoso.

Assim, a condenação somente será admitida quando o exame sereno da prova conduzir a exclusão de todo motivo para duvidar.

denúncia, não podem, servir de alicerce para eventual decreto condenatório, porque foram realizados ao arrepio das exigências contidas no art. 226 do CPP, principalmente quando é realizado, precariamente, através de fotocópia de uma fotografia.5

O reconhecimento fotográfico procedido na Polícia constitui elemento precário de prova, principalmente, quando os fatos se deram a noite e o meliante agiu com o rosto parcialmente encoberto, de forma que a vítima que mais se aproximou do bandido afirmar, categoricamente, não poder efetuar um reconhecimento seguro da pessoa do réu.

“O reconhecimento fotográfico somente deve ser considerado como forma idônea de prova, quando acompanhada de outros elementos aptos a caracterizar a autoria do delito.6

“PROVA - Reconhecimento de pessoas - Nulidade - Suspeito não colocado ao lado de outros que com ele guardem semelhança - Hipótese em que o reconhecimento em juízo não sana a falta da formalidade - Inteligência do artigo 226 do CPP. As formalidades previstas no artigo 226 do CPP são essenciais à valia do reconhecimento, que, inicialmente, há de ser feito por quem se apresente para a prática do ato, a ser iniciado com a descrição da pessoa a ser reconhecida. Em seguida, o suspeito deve ser colocado ao lado de outros que com ele guardem semelhança, a fim de que se confirme o reconhecimento. A cláusula “se for possível”, constante do inciso II do artigo de regência, consubstancia exceção, diante do princípio da razoabilidade. O vício não fica sanado pela corroboração do reconhecimento em juízo, também efetuado sem as formalidades referidas”.7

“O reconhecimento fotográfico dos acusados produzido na fase de inquérito policial, com a inobservância dos requisitos do artigo 226 do CPP, é meio extremamente precário para embasar decreto condenatório, mormente se inexistirem outros meios de prova juridicamente idônea a ratificar a sentença.”8

É óbvio, que o reconhecimento do acusado não obedeceu a regras estabelecidas na lei processual penal vigente, não podendo servir de amparo e embasamento a decreto condenatório, face de sua indiscutível inidoneidade e ilegalidade formal.

A presunção de honestidade é patrimônio inalienável de todo cidadão de bem, porém, por tudo que dos autos consta é nítida e inarredável a conclusão, de que tanto a suposta vítima como polícia civil, engendraram uma manobra fraudulenta e covarde, imputando ao Acusado a autoria de um crime grave inexistente, que poderia em caso de condenação, destruir-lhe toda sua existência, que sempre foi pautada no trabalho, dedicação à família e respeito ao direito alheio.

EX POSITIS,

espera o Acusado, ..., ora defendente, sejam as presentes alegações de defesa recebidas, vez que tempestivas e próprias, para final, acolhendo parecer ministerial, julgar

improcedente a denúncia, com a consequente absolvição, nos termos da legislação pertinente, pois desta forma Vossa Excelência, estará editando decisório carregado de equidade, restabelecendo o império da Lei, do Direito de Excelsa JUSTIÇA.

Local, data

_________________ OAB

Alegações Finais Por Memorial– Roubo – Insuficiência de Provas

Outline

Documentos relacionados