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Recurso Contra Razões Tribunal do Júri Impossibilidade de Recorrer Pela Segunda Vez Sob o Mesmo Motivo

CONTRA RAZÕES RECURSAIS Autos nº

Apelante: MINISTÉRIO PÚBLICO

Apelado:

Egrégio Tribunal Colenda Câmara,

Versa o presente recurso do segundo inconformismo do Órgão de Acusação Oficial com o veredicto soberano proferido pelo Conselho de Sentença do Tribunal do Júri de ..., com supedâneo nas alíneas “a e d” do inciso III, do artigo 593, do Código de Processo Penal, sob o argumento de ter o Conselho de Sentença proferido decisão “manifestamente contrária as provas dos autos”.

PRELIMINARMENTE

A parte final do § 3º do art. 593, do CPP, veda a interposição de segunda apelação com base no inciso III, alínea “d” (decisão manifestamente contrária à prova dos autos), mesmo que a primeira apelação tenha sido interposta pela parte ex adversa.

A Acusação Estatal e sua nababesca assistência particular interpuseram recurso de Apelação às fls. 775 e 776, (Vol. 04), com fulcro no art. 593, § 3º, “a” e “d” do CPP, por ocasião do primeiro julgamento, do Apelado, pelo Júri de ... Novamente levado a julgamento foi absolvido pelo Conselho de Sentença, tendo o Órgão Ministerial interposto novo recurso apelatório (fls. 1.016) com base nos mesmos dispositivos legais e fundamentos: “decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos”.

Conforme entendimento já sedimentado nos nossos tribunais de teto, notadamente o Supremo Tribunal de Justiça, esse novo inconformismo do apelante, no entanto, justamente por se amparar no referido dispositivo da Lei de Ritos, encontra óbice na regra do artigo 593, parágrafo terceiro, do mesmo Código de Processo Penal. A norma impede a interposição de segunda apelação pelo mesmo motivo. Aqui entendida esta como o recurso interposto com base na mesma hipótese de cabimento, ou seja, na disposição relativa à Decisão do Conselho de Sentença manifestamente contrária à prova dos autos.1

A fundamentação do julgado retro citado reverbera que a norma do artigo 593, parágrafo terceiro, do CPP, ao impedir que a parte se utilize do recurso de apelação para exame do mesmo propósito de anterior apelo interposto, prima pela segurança jurídica, porquanto impede a utilização do expediente recursal como forma de eternizar a lide criminal.

No caso em apreço poder-se-ia, içar o argumento de que embora tenha a parte sucumbente utilizado do mesmo dispositivo legal no recurso original, este aspecto não fora apreciado pelo órgão revisor, porém, o objeto que se pretendia no primeiro apelo: submissão do réu a novo julgamento fora plenamente alcançado tendo sido absolvido novamente pelo Júri.

Este Egrégio Sodalício por sua Primeira Câmara Criminal, já se posicionou em caso análogo na Apelação Criminal Nº 32.657-0/213 (200705200978), de Luziânia.GO. exarando a seguinte Ementa:

“(...) 6. HOMICÍDIO QUALIFICADO. JULGAMENTO CONTRÁRIO À PROVA DOS AUTOS. SEGUNDA APELAÇÃO PELO ‘MESMO MOTIVO’ QUE EQUIVALE A EXPRESSÃO ‘PELO ANULAÇÃO. MESMO FUNDAMENTO’. INVIABILIDADE. Cuidando-se de julgamento pelo Júri, inviável segunda apelação, fundada no ‘mesmo motivo’ (manifesta contrariedade do julgado à prova dos autos), que equivale a expressão ‘pelo mesmo fundamento’, ainda que interposta pela parte ex-adversa. Interpretação do artigo 593 parágrafo terceiro (in fine) do Código de Processo Penal. (...)”APELAÇÃO CONHECIDA E PARCIALMENTE PROVIDA.”2

É no mesmo sentido o entendimento adotado pelos demais tribunais regionais:

Tribunal de Justiça de São Paulo - TJSP.

“JÚRI - Decisão contrária à prova dos autos - Hipótese de segunda apelação pelo mesmo motivo ou fundamento legal - Mérito reapreciado pelos jurados - Pretendida anulação do julgamento sem amparo legal para uma nova anulação em respeito ao princípio da soberania do júri - Recurso parcialmente conhecido e na parte conhecida improvido.”3

Tribunal de Justiça do Distrito Federal - TJDF.

“DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL - Homicídio - Preliminar - Nulidade posterior à pronúncia - Uso de data show - Violação do artigo 475, do CPP - Mérito - Decisão manifestamente contrária à prova dos autos - Segunda apelação pelo mesmo motivo.

Preliminar: o uso na sessão de julgamento de projeção de fotografias dos autos, mediante o sistema denominado data show, não constitui surpresa, prova nova, vedada no artigo 475, do CPP, vez que não se pode ampliar o âmbito do que constitui documento; mérito: ainda que manejado pela parte contrária, o fundamento que ensejou a cassação do veredicto. Decisão manifestamente contrária à prova dos autos -, constitui óbice processual que impede a renovação do recurso pelo mesmo motivo. Rejeitar a preliminar e quanto ao mérito negar provimento, tudo à unanimidade.”4

Tribunal de Justiça do Paraná - TJPR.

“JÚRI - Segunda apelação pelo mesmo motivo - Decisão que se diz manifestamente contrária à prova dos autos - Inadmissibilidade - Inteligência do artigo 593, parágrafo

3º, do Código de Processo Penal - Não conhecimento do recurso. 1. Não cabe segunda apelação por estar a decisão contrária à prova dos autos, qualquer que seja a parte recorrente na primeira oportunidade, porque a expressão contida no artigo 593, parágrafo 3º, do Código de Processo Penal “pelo mesmo motivo” tem também o significado de “pelo mesmo fundamento”.2. Seria ilógico, incongruente e até mesmo absurdo que o acórdão do Tribunal acolhesse a apelação para submeter o réu condenado a novo julgamento, se no primeiro julgamento recursal entendeu que a absolvição fora conferida em decisão manifestamente contrária ao acervo probatório analisado nos autos.5

Desse modo, com o não conhecimento do apelo, fica respeitado o princípio da soberania do Júri, tão constitucional quanto o da isonomia, evitando-se com a aplicação da norma em exame que a sentença proferida pelo Tribunal do Júri seja sempre objeto de ataque pelo mesmo fundamento, causando insegurança jurídica que o processo busca impedir além de vedar a utilização do expediente recursal como forma de eternizar a lide criminal, com inequívoco prejuízo ao status libertatis do cidadão.

Não é muito rememorar que nossas Constituições Federais de 1946 e de 1988 asseguraram ao Tribunal Popular a soberania dos veredictos, extirpando do ordenamento constitucional o vetusto e nefando Tribunal de Apelação, responsável pelo maior erro judiciário de nosso país, que sob a égide do Decreto Lei nº 167 de 05 de Janeiro de 1937, condenou os Irmão Naves quando o Júri de Araguari-MG., já os havia absolvido por duas vezes. Justamente como no presente caso.

Portanto, Excelência deve a presente preliminar ser acatada negando-se conhecimento ao apelo pela violação da norma incrustada na parte final do § 3º do art. 593, do Código de Processo Penal, consagrando a garantia constitucional da soberania dos veredictos proferido pelo Tribunal do Júri, conforme dispõe a alínea “b” do inciso XXXVIII do art. 5º da Carta Cidadã.

DO PREQUESTIONAMENTO

Em eventual manejo de recurso constitucional, em atendimentos às diretrizes de natureza regimentais, notadamente do art. 101, III e 105, III da Constituição Federal, suscita a defesa do Apelado, a título de prequestionamento, o não conhecimento do recurso, em razão do despacho que o recebeu ter negado vigência a Lei Federal, qual seja, o Código de Processo Penal, que na parte final do § 3º do art. 395, proíbe seu exercício pelo mesmo motivo, além de ter dado interpretação divergente atribuído outros tribunais que de forma unânimes rechaçam o prosseguimento do apelo em casos análogos..

1O Apelado foi denunciado pela suposta prática do crime previsto no artigo 121, § 2º, inciso IV (última figura), do Código Penal. Pronunciado, libelado e submetido a julgamento pelo júri por homicídio qualificado pelo uso meio que dificultou ou tornou impossível a defesa da vítima, na modalidade da surpresa.

2No primeiro julgamento o Conselho de Sentença no uso do monopólio constitucional, para julgar os crimes dolosos contra a vida e sob o manto da soberania de seus veredictos, rechaçou as teses acusatórias operando a desclassificação para delito culposo, fora da órbita da competência do Júri.

3Irresignado o Parquet e sua luxuosa assistência, empolgou recurso de apelação visando a anulação do julgamento, sob a pecha de ocorrência de nulidade posterior a pronúncia e decisão manifestamente contrária as provas do autos. Submetido a segundo julgamento pelo Júri, o Apelado foi absolvido tendo o Conselho de Sentença acatado a tese esposada pela defesa técnica da descriminante putativa, prevista no parágrafo primeiro do art. 20, do Código Penal.

4Todo conjunto probatório carreado para os autos, inclusive produzido no decorrer dos julgamentos, em plenário, dá conta de que a vítima era pessoa belicosa e violenta e que por várias vezes havia ameaçado o acusado, caso o mesmo fosse à casa de sua mãe, onde também residia a vítima. Inclusive a vítima já havia agredido com golpes de cabo de revólver o Sr. João _______, (Fls. 765) cunhado do réu, por uma questão irrelevante, e espancado o Sr. _______, na porta do BEG da Avenida ________ no centro da cidade de _________ (fls. 56).

5O fato ocorreu quando o Apelado, ia se retirar da sala da residência de sua mãe e ao aproximar do sofá onde a vítima se encontrava, há mais ou menos um metro e meio de distância, esta fez menção de se levantar, tendo o Réu, receoso de a mesma iria cumprir suas promessas de agressão e imaginando que assim o fazia para cumprir suas ameaças, sacou de uma arma de fogo e disparou em direção às pernas da vítima, saindo do local logo em seguida.

6Exigir a exteriorização inequívoca de uma atitude agressiva e violenta por parte da vítima seria, sepultar o instituto da descriminante putativa, que tem sua sede e essência justamente na má apreciação dos fatos, ou seja, num erro plenamente justificado pelos antecedentes fáticos.

7Consta ainda, dos autos, que o Apelado, através de seu irmão ..., autorizou a tomada de todas e quaisquer providências no sentido de salvar a vida da vítima, tendo custeado com todas despesas hospitalares, inclusive, determinou que a removesse para __________, ou outro local onde pudesse ser melhor atendida pelos médicos, sugestão repelida peremptoriamente pelos familiares da vítima, que não permitiram sua remoção do hospital onde se encontrava.

8 Dizem as testemunhas: Fulano de tal:

“Fls. 17 - QUE, fincando de fato, digo, quando do fato não houve nenhum desentendimento entre os protagonistas, por pequeno que fosse, pois ele não chegaram nem mesmo a conversar, contudo, já uma certa animosidade entre ambos, que vinha aumentando em decorrência de fuxicos de ... e ... , respectivamente, peões de ... e ..., originada em decorrência de uma dívida de ... para ..., sócio de ..., que era o avalista, mas posteriormente conseguiu a transferência do aval para ..., o que gerou um certo rancor entre os dois ( ... e ... ), tornando mais acentuado depois de uma discussão entre seus irmãos ... e ... , esposa de ... , contudo, conforme já disse em linhas atrás, acredita o depoente que os referidos peões foram os que mais influíram para a tragédia finalmente acontecesse; QUE, após a discussão havida entre ... e ..., ... procurou o depoente bastante contrariado com certas coisas ditas por ..., à sua esposa (da vítima), o que não teria ficado bem se estivesse presente, pois ele iria fazer com ele (...) o mesmo que havia feito com seu concunhado ..., ou talvez ainda pior, pois se o ... era tão valente um dos dois tinha que “ir”, oportunidade em que o

depoente a mudar de opinião, inclusive nem iria levar aquelas conversas ao conhecimento de ... para não piorar as coisas, não sabendo contudo precisar se ..., realmente não se inteirou do assunto;” (Grifei).

Em Juízo:

“Fls. 224v. – que, certa vez sua irmã ... discutiu com o acusado porque este teria aconselhado sua mãe a não fazer uma reforma ou construção, fato que irritou ...; que, por isso ... conversou com o depoente que aquela discussão só não deu em nada porque estava ausente que a partir daquela data ... não conversava mais com o acusado; ... que ... lhe pediu que falasse ao acusado que quando voltasse na casa de sua mãe, para pisar mais macio, ou melhor quando fosse para o lado de ...;” (Grifei).

Em Plenário

“Fls. 762 que o relacionamento da vítima com o declarante era muito bom, sendo que nunca tiveram desavenças; além do episódio envolvendo o ..., a vítima tinha um atrito com o ..., inclusive ele tinha pedido ao declarante para dizer para ele (...) para não ir na casa de sua mãe, tudo em razão de uma discussão do acusado com a esposa da vítima;”

Fs. 762 o declarante e o acusado, a pedido de sua mãe (do declarante), foram até a casa do ... e ele (...) disse que se o ... não retirasse a queixa ele mataria o ..., pois na veia dele (...) não corria sangue de barata; tentaram

Fls. 762 que o sofá em que a vítima estava localizava-se na saída obrigatória do recinto para quem fosse sair do ambiente, ou seja, quem fosse sair tinha que passar em frente ao ...; por esse local o acusado entrou também; quando o acusado despediu-se do declarante ele o fez em voz alta, anunciando que iria embora; (… ) o ... saiu, levou uma menina no quarto e voltou;(…) que a vítima estava meio se levantando e estava a mercê do acusado; a vítima era alta e forte; a vítima estava há um metro e meio mais ou menos do acusado;” (Grifei)

Fls. 763 quando deu socorro à vítima o diagnóstico foi de tiros na perna, sem maiores consequências, razão porque ficaram tranquilos; quando saíram do hospital a vítima estava fora de perigo de morte e isso foi dito ao declarante pelo médico, razão porque ficaram absolutamente tranquilos; dias depois infeccionou a perna e generalizou pelo corpo; o declarante estava autorizado pelo acusado para fazer o que fosse preciso para que a vítima fosse tratada com todos os recursos e da melhor maneira possível, inclusive, se necessário, vender gado dele (acusado); quando conversou com o acusado acerca do fato ele disse que não tinha intenção de matar a vítima e que queria apenas imobilizá-la;”

JOSÉ...

“Fls. 56 – QUE, na ocasião dessa agressão, a vítima ... se encontrava armada, e, todos sabem que andava sempre armado; QUE, nesta mesma data ... lhe disse que se fosse preciso mataria o declarante e até ..., pois tinha batido em ..., e que não gostava de preto, preto não era gente, preto era a raça mais atoa que tinha no mundo;” (Grifei)

FERREIRA...

“Fls. 760 que quando sentava naquele sofá ele abaixava, de maneira que para se levantar obrigatoriamente projeta-se os braços para frente, como se tivesse fazendo um abdominal”

JOÃO ...

“Fls. 765 quer acrescentar que a ocorrência não teve seguimento por ameaças da vitima; o declarante foi ao delegado e pediu o arquivamento da queixa por temer as ameaças. (...) no entrevero entre o declarante e a vítima ocorrido por causa do desvio de uma água, o declarante procurou a vítima para resolver a situação e em nenhum momento foi mal educado com a vítima; a vítima disse que resolveria isso com uma bala na cabeça do declarante; o declarante disse que iria procurar um advogado; a vítima foi ao filtro, bebeu um pouco, retornou a água para o copo e jogou o resto no declarante; a vítima pegou um revólver e deu uma coronhada na cabeça do declarante, empunhando-lhe uma arma direcionada para sua cabeça, dizendo para o declarante não prosseguir com aquela ocorrência; a vítima era maior que o declarante; ela era alta e forte.”

MACEDO...

Fls. 262 “Que certa vez se encontrava na casa de Jose ..., irmão do acusado e se recorda que lá apareceu a vítima chamando o acusado (...) para conversar; Que viu os dois conversando, mas não pareceu que estava brigando; Que após a saída da vítima o depoente perguntou ao ... sobre o que a vítima tinham conversado; quando ... lhe disse que a vítima deu o seguinte recado ao acusado “Quando o ... fosse na casa de sua mãe era pra falar baixo e pisar macio” não explicando o motivo e nem as consequências da desobediência; Que não ficou sabendo o motivo que levou a vítima a ter este comportamento; (...) “Que não ouviu falar de nenhum outro crime praticado pela acusado;

Em Plenário

“Fls 764 - que na ocasião em que a vítima havia agredido o ... o declarante estava no BEG, quando chegou o ...; quando saíam dalì o ... montou na moto e a vítima atravessou na frente, dizendo para o ... “vamos acertar agora, preto safado. Eu bato em você, no ..., no seu patrão e em quem achar ruim”; o depoente atravessou na frente e disse para não brigarem; no local havia dois soldados que se aproximaram, ao que a vítima disse para não se chegarem até ela e o ...; alguém puxou a traseira da moto, mas não sabe quem o fez, sendo que o ... foi-se embora; o declarante estava de frente ao ... para evitar que ele agredisse o ...; a vítima estava armada, pois sempre andava armada; quando falou que batia no patrão do ... ele não falou o nome do acusado;” Grifei).

9Os jurados tomaram a decisão mais condizente aos fatos, ao sufragar a tese da legítima defesa putativa na conduta do Réu, haja vista não ser necessário um exercício mental acrobático, para se chegar à conclusão de que uma pessoa que depara com um indivíduo, sabidamente de espírito beligerante e violento, que o houvera ameaçado anteriormente, ao mínimo esboço de aproximação se disponha em assumir uma posição de defesa, mesmo que o ataque não passe de uma falsa impressão, decorrente de um erro plenamente justificável.

10 A versão apresentada pelo réu, e sustentada pela defesa técnica por ocasião do julgamento, está em perfeita sintonia e concordância com todo conjunto de provas produzido nos autos, tanto na fase administrativa quanto judicial, principalmente no Plenário do Júri, não havendo qualquer indicativo de que o Conselho de Sentença tomado a decisão manifestamente contrária as provas dos autos.

11 Decisão manifestamente contrária à prova dos autos é aquela que não encontra qualquer respaldo no processo. Havendo o mínimo de respaldo nas provas apresentadas no processo, não será manifestamente contrária.

“CRIMINAL. HC. JÚRI. DECISÃO ABSOLUTÓRIA. RECURSO MINISTERIAL. PLEITO DE NOVO JULGAMENTO. CONTRARIEDADE À PROVA DOS AUTOS. INOCORRÊNCIA. EXISTÊNCIA DE DUAS VERSÕES A RESPEITO DO CRIME. ORDEM CONCEDIDA.

I. Não se caracteriza como manifestamente contrária à prova dos autos a decisão que, optando por uma das versões trazidas aos autos, não se encontra inteiramente divorciada da prova existente no processo.

II. Ordem concedida para cassar o acórdão proferido pelo e. Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, determinando-se o restabelecimento da decisão proferida pelo Tribunal do Júri.” (Habeas Corpus nº 21503 – PB, 5ª Turma, Rel. Min. GILSON DIPP, j. 12/11/2002, D.J.U. de 03/02/2003, p. 326)

CRIMINAL. RECURSO ESPECIAL. JÚRI. NOVO JULGAMENTO. CONTRARIEDADE À PROVA DOS AUTOS. INOCORRÊNCIA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.

I. Não se caracteriza como manifestamente contrária à prova dos autos a decisão que, optando por uma das versões trazidas aos autos, não se encontra inteiramente divorciada da prova existente no processo.

II. A decisão que anula o julgamento do Tribunal Popular, porque contrário à prova existente no feito, deve fundamentar devidamente tal contrariedade.

III. Recurso conhecido e provido a fim de restabelecer a decisão condenatória proferida contra o recorrido. (RESP 163760 – DF, 5ª Turma, Rel. Min. Gilson Dipp, j. 11/04/2000, D.J.U. de 15/05/2000, p. 00178).

12 Segundo decidiu o Egrégio Tribunal de Justiça do Paraná, em v. aresto relatado pelo Desembargador MÁRIO LOPES:

“Não se pode falar em decisão contrária à prova dos autos se os jurados apreciaram os elementos probantes e firmaram seu convencimento adotando a versão que lhes pareceu mais convincente” (RT 590/405).

“Decisão contrária à prova dos autos. Caracterização de nulidade somente quando for manifesta a contrariedade, ressurgindo de análise não aprofundada dos elementos dos autos. Necessidade de estudo acurado para a conclusão que configura invasão da competência privativa do Tribunal do Júri, cuja soberania dos veredictos é estabelecida no art. 5º, XXXVIII, “c”, da CF” (RT 658/323).

13 Como leciona ARY AZEVEDO FRANCO:

Que se poderá entender por manifesto, por evidente, senão aquilo que se impõe à percepção de todos, que todos vêem necessariamente, e sobre o que não é admissível, em sã consciência, e possibilidade de afirmações díspares?

14 Onde exista, porém, matéria sujeita ao critério da observação pessoal do julgador, dependente, para firmar-se, não da força dominadora da realidade indubitável, mas da apreciação subjetiva de cada um - não se pode cogitar de evidência.

Assim, sempre que o fato se apresente suscetível de ser divisado à luz de critério divergentes, capazes de lhe emprestarem diversa fisionomia moral ou jurídica, qualquer que seja a orientação vencedora, refletida na decisão do Tribunal Popular, não poderá ser havida como manifestamente contrária à prova”6

Para Hermínio Marques Porto:

“o critério atual, que limita impugnações às decisões populares sem amparo em contingente qualquer das provas, merecendo prevalecer decisão dos jurados que encontre amparo em parcela de prova, embora contrastante com versões outras.”7

Mais recentemente, JÚLIO FABBRINI MIRABETE adverte:

“somente é viável a repetição do julgamento, pelo mérito, em que o ‘error in judicando’ é reconhecido somente quando a decisão é arbitrária, porque se dissocia integralmente da prova dos autos, é contrária manifestamente à verdade apurada no processo e representa uma distorção da função judiciária do Conselho de Sentença”8

De fato, em qualquer processo há duas versões sendo apresentadas. Optando o jurado por

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