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Desaforamento Criminal – Defesa

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE _____.

Desaforamento Criminal Protocolo nº ...

Ilustre Desembargador Relator

Trata-se de pedido de Desaforamento de Julgamento pelo tribunal do Júri, empolgado pela juíza da 4ª Vara Criminal de Anápolis, alegando in summa que o Pronunciado ..., é indivíduo de alta periculosidade, respondendo por dois processos de homicídio “conforme comentários no meio policial de que a sessão do julgamento pelo Júri não se realizaria, já que circulavam boatos de que as testemunhas estavam sendo ameaçadas e provavelmente não compareceriam” (fls. 04).

Alega, também, que durante o julgamento havia uma platéia de aproximadamente 200 pessoas, dentre as quais, 50 supostamente vinculadas a pessoa do pronunciado e que agiam de modo anormal vez que entravam e saíam do plenário constantemente, fato que causou preocupação da magistrada, ora, Representante.

Conforme versão apresentada pela autoridade Representante, no decorrer dos trabalhos um jurado se dirigiu a ela “afirmando categoricamente ter sido ameaçada por gestos por uma pessoa que estava no plenário, e que sendo conhecedor da fama do pronunciado, estava com medo de participar do julgamento”.

Ato seguinte, em sala secreta, na presença dos sujeitos processuais foi indagado aos jurados o seguinte quesito: “Os Senhores se sentem livres para proferir julgamento imparcial acerca dos fatos narrados na denúncia?”. Na verdade, 4 jurados responderam “SIM” e 3 jurados responderam NÃO, sendo que o escore contido na representação não está invertido, embora o erro também tenha sido transcrito na ata de julgamento, por um descuido (?) da Juíza Presidente. Pouco importa, porque uma resposta NÃO já seria suficiente para contaminar o Conselho de Sentença e provocar sua dissolução.

Ocorre, Senhor Desembargador e Colenda Turma, datíssima vênia, que os fatos não se deram da forma narrada na Representação. Nem a defesa, nem o Réu e tampouco a assistência do público contribuiu para o encerramento prematuro da sessão, com quer fazer crer a Magistrada postulante.

De início, em que pese o zelo pela segurança do recinto do júri e dos participantes, o aparato policial montado foi espalhafatoso e assustador, com inúmeros policiais munidos de armas pesadas no interior dentro provocando um clima hostil e intolerável para o membros do Conselho de Sentença, que de regra não estão acostumados com o ambiente forense.

Os trabalhos transcorreram de forma normal, sem incidentes que pudessem comprometer o bom andamento e a continuidade do julgamento, inclusive o MP, em sua primeira sustentação oral, pugnou pela absolvição do Réu em relação a duas tentativas brancas de homicídio, ou seja, o julgamento caminhava para uma decisão favorável ao réu. Não havia interesse da parte da defesa, do réu ou da assistência ameaçar quem quer que seja.

Com relação à alegação de supostas ameaças dirigidas às testemunhas que deporiam em plenário, é despropositada e supositícia, vez que todas as testemunhas arroladas pela Acusação se fizeram presentes na sessão do júri, inclusive, ao serem indagadas sobre eventuais ameaças negaram de forma peremptória e veemente, conforme cópias dos depoimentos em apenso (Doc. ). Em resumo: as supostas ameaças à testemunhas foram fruto de boatos inverídicos ou da imaginação fértil do julgador que presidiu o feito.

Na verdade, ao que tudo indica, existe uma franca e indisfarçável prevenção de ordem negativa da Juíza Presidente para com a pessoa do Réu, pois as medidas de segurança sugeridas e tomadas estão em franca colidência com a realidade dos fatos e provocaram uma imagem distorcida com relação à pessoa do Acusado.

Ao bem da verdade, na sala secreta, o defensor concordaria com a dissolução do Conselho de Sentença, mesmo que a reclamação tivesse partido de apenas um jurado, vez que, neste caso, não se trata de maioria e sim de isenção por parte do Júri como um todo.

O pedido de desaforamento é baseado única e exclusivamente de suposições, boatos, acerca de uma alegada hiper periculosidade do Pronunciado. Que poderia comprometer e colocar em dúvida a imparcialidade dos Jurados.

A dúvida quanto a imparcialidade do Júri, conforme a doutrina mais abalizada deve se sustentar em fatos concretos e que desabonem a conduta dos jurados convocados, por flagrante parcialidade pró ou contra o réu, não sendo suficiente meras conjecturas e suposições de que estariam intimidados pela má fama do réu, o alarido feito pela mídia, ou a presença numerosa do público em plenário.

A jurisprudência hodierna tem proclamado que “a mera alegação de parcialidade dos jurados, desacompanhada de qualquer comprovação idônea e eficaz não basta para justificar o desaforamento”1. Assim, a representação da magistrada de piso não merece vingar, pois seus

argumentos não encontram guarida nos motivos taxativos previstos no art. 427 do CPP, mormente quando a suposta parcialidade do jurado não passa de uma quimérica e artificiosa imaginação da autoridade representante.

É princípio basilar da instituição do Júri garantir ao Réu ser julgado pelos seus pares, como forma de dar amparo a sua eleição de Juízo Natural para apreciar julgar o crimes dolosos contra vida ex vi inciso XXXVIII, do artigo 5º, da Constituição Federal, sendo que a derrogação de sua competência só poderá ocorrer excepcionalmente quando se fizerem presentes, de forma clara e transparente, os motivos exigidos pela lei processual (art. 427, CPP).

O Estado, no exercício da monopólio do jus puniendi e jus persequendi, em matéria criminal, detentor do supremo poder na administração da justiça, jamais poderá se curvar diante de questiúnculas e abrir mão de sua supremacia no comando das relações sociais e interpessoais que porventura possam ocorrer no desempenho de seu dever de prestar a jurisdição a todo e qualquer cidadão, principalmente quando este tem o direito de ser julgado pelos seus pares, nos crimes dolosos contra a vida.

Em conclusão, espera o Pronunciado seja mantido o foro de Anápolis para a realização da sessão de julgamento pelo Tribunal do Júri, por via de consequência indeferido o presente

pedido de desaforamento, como forma de sacramentar o princípio constitucional do juízo natural.

Pelo indeferimento do presente pedido de desaforamento.

Local e data

__________________ OAB

Recurso - Contra Razões - Tribunal do Júri - Impossibilidade de

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