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Alegações Finais – Violação de Domicilio – Estupro

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ... VARA CRIMINAL DE ...

Protocolo nº ...

Cód. TJ.... – ... - - Alegações Finais

..., já qualificado, nos autos da ação penal que lhe move a justiça pública desta comarca, via de seu advogado in fine assinado, permissa máxima vênia vem perante a conspícua e preclara presença de Vossa Excelência, tempestivamente, nos termos do artigo 403, do CPP inovado pela Lei 11.719/2008, apresentar

ALEGAÇÕES FINAIS

face aos fatos, razões e fundamentos a seguir expostos:

SÚMULA DOS FATOS

A inaugural acusatória de fls..., imputa ao Acusado, a prática dos ilícitos penais previstos nos arts. 150, 213 e 344 do Código Penal.

A Acusação Oficial se propôs a provar durante o persecutio criminis, que o Acusado, constrangeu a suposta vítima a manter atos de libidinagem diversos da conjunção carnal, quais sejam beijos e braços lascivos, em duas ocasiões distintas, nos seguintes termos:

“Consta do incluso inquérito policial (autos n.° ...) que, no período compreendido entre o mês de ... e o mês de ..., o acusado, por algumas vezes, constrangeu a adolescente ..., à época com .... anos de idade, a permitir que praticasse com ela atos libidinosos diversos da conjunção carnal, quais sejam, abraços e beijos lascivos.

“.Consta, ainda, que no dia ..., após entrar astuciosamente na residência da vítima, sem o consentimento da genitora desta, o acusado levou a mesma até um quarto e passou a acaricia-la de forma lasciva, tentando convence-la a manter , com ele, conjunção carnal.” (fls. ...).

E ainda:

passou a proferir ameaças contra a mãe da vítima e sua família , através de recados para vizinhos e telefonemas...”(fls...)

Nas declarações da mãe da suposta vítima extrai-se, que a mesma tinha conhecimento do fato e de quem era seu autor desde ..., quando assim se expressa às fls...:

“QUE, a comunicante esclarece que já desconfiava que o ... estava tentando aproximar da ..., sempre conversando com ela, desde o mês de ..., quando a comunicante mudou o citado apartamento;” (Grifei).

Mais adiante esclarece:

“QUE, a comunicante esclarece que já desconfiava de algo entre o ... e ..., desde quando mudou para o citado apartamento no mês de ..., pois percebia que o ... tinha muitas intimidades com a ..., ficava empurrando e brincando com a ... (tipo assim brincadeiras extrovertidas, empurrões, dava chocolates, balinhas, uma vez deu dinheiro (... Reais), esclarecendo ainda que quando perguntou de onde era os ... reais para ..., a mesma disse que tinha achado o dinheiro, isto o ... tinha mandado ela falar que achou, em outras ocasiões, a comunicante, presenciou o ... jogar beijos para sua filha ..., do pátio do prédio para cima (do seu apartamento), não lembrando a época pois era de tempo a tempo, esclarecendo que no mês de ..., não lembrando o dia exato, em uma reunião que ... fez no apartamento dela, convidando a comunicante, e o ... para uma reunião, para esclarecimento, por volta das ... horas, a comunicante aproveitou a oportunidade para chamar a atenção do ..., que não estava gostando dos fatos.” (Grifei)

Durante a instrução criminal, o Estado-Acusador não se desincumbiu do ônus probandi,

quando os próprios depoimentos da suposta ofendida, foram unânimes em afirmar que o Acusado em nenhum momento tentou manter consigo conjunção carnal ou qualquer espécie de ato libidinoso, quando assim relata:

Na delegacia Fls...:

“passado um pouquinho, o ... pegou em sua mão, normalmente, levando a mesma para o quarto da sua mãe, onde ficaram conversando mais ou menos uns .... minutos, , o qual ficava calado um tempão, e que a declarante ficou com as pernas trêmulas, pois a declarante ficou com muito medo do ..., pois ele ficava olhando demais para a declarante, sem falar nada a ela, e que a declarante disse ainda que , o que o ... fez foi ficar pegando em sua mão, não tentando nada mais com a declarante, nem beijos e nem abraços “ (grifei).

“que, no dia em que o acusado entrou no apartamento, passaram-se uns quarenta minutos dede a chegada dele até a de sua mãe, sendo que nesse meio tempo ele ficava pegando em sua. mão e tentando se aproximar, ao passo que a declarante ficava sempre se afastando dele; que, a mãe da declarante falou que, se ela não chegasse, ele tentaria fazer alguma coisa a mais com a mesma; que, nesse dia ele não chegou a beijar nem a tentar beijar a declarante.” (Grifei).

A versão apresentada pela suposta vítima está em harmonia com os demais depoimentos Ficou também cabalmente demonstrado que o acesso do Acusado ao apartamento foi franqueado pela suposta vítima que como moradora daquele imóvel era detentora do direito de permitir a entrada de qualquer pessoa, pelo que denota não ter havido qualquer violação de domicílio como pretende Acusação Oficial.

Neste ponto, é de se ressaltar que o depoimento da genitora da suposta vítima assim se pronuncia às fls. 09:

“QUE, a comunicante esclarece ainda que antes deixava a chave com a ..., e soube através dela que no dia ..., a ... tinha dado uma cópia da chave do apartamento para o ..., não sabendo a época..” (Grifei).

O Acusado é pessoa trabalhadora, com família regularmente constituída que depende exclusivamente de atividade laborativa, tecnicamente primário, de bons antecedentes e boa conduta social.

DO DIREITO

PRELIMINARMENTE

Conforme o entendimento unânime da doutrina processual, tanto a ação civil como a penal, o direito de se exigir, legitimamente, o provimento jurisdicional, está condicionado ao cumprimento de determinadas condições de ação, que genericamente são: a legitimidade da parte (ad causam), o interesse de agir e a possibilidade jurídica. Especificamente, no processo penal, acrescenta-se outras condições de procedibilidade, dentre as quais figura a representação do ofendido, em determinados crimes, legitimando o Ministério Público para assumir o polo ativo do processo penal.

Assim ensina a festejada doutrinadora Ada Pellegrini Grinover, em sua obra “As Nulidades no Processo Penal”, 2ª Edição, pag. 57:

“Quando faltar uma só que seja das condições da ação ou de procedibilidade, diz-se que o autor é carecedor desta. A consequência é que o juiz, embora exercendo a função jurisdicional, não chegará a apreciar o mérito.

o mais cedo possível e de ofício. Nesse caso, trancará a ação, por ser o autor dela carecedor. Se, no entanto, não o fizer, nem na sentença final (lembrando que não há preclusão, nem mesmo pro judicato, para a reapreciação da matéria), o processo será nulo “ab initio” (art. 564, II, do CPP)”.

A dependência da representação do ofendido ou seu representante legal, para legitimar a atuação do Ministério Público, é abordada com muita propriedade pelo insigne doutrinador

Eugênio Raúl Zaffaroni, nos seguintes termos:

“A ação penal pública condicionada é regida pela regra - para muitos, princípio - da oportunidade. É que razões sobram para que assim procedesse o legislador, pois, muitas vezes, pode ter o ofendido um legítimo interesse em que o fato não ganhe o publicidade, e, nesse caso, o interesse do ofendido se sobrepõe ao estatal, na repressão do ato criminoso. Por tal razão, a lei faz a atuação do Ministério Público ficar na dependência da manifestação do ofendido, mas, uma vez oferecida a denúncia, a representação torna-se irretratável, prosseguindo a ação penal condenatória até o seu final.(grifei)

A representação, em tal situação, possui uma dupla vantagem, pois, enquanto resguarda o interesse privado, permite que, uma vez satisfeita a condição de procedibilidade, por ser pública, apresente-se como mais idônea para se efetivar o processo de repressão do crime”. (in “Manual de Direito Penal Brasileiro, Parte Geral, Ed. 1997 -Pág. 775).

O exercício da ação penal é de natureza pública, consoante dispõe a regra do artigo 100, do Código Penal. Tratando-se, porém, de crime contra os costumes (art. 213 à 221 CP), a ação penal só se procede mediante queixa. Na hipótese do § 1 °, do artigo 225, I, do Código Penal a ação penal será pública mas condicionada à representação de quem de direito, obedecendo ao princípio da conveniência, que é absoluto, e da disponibilidade, que é relativo, posto que ao titular do direito a representação, como condição da ação, lhe é facultado a retratação da delação (art. 25, do CPP e 102 do CP), desde que o faça anteriormente a denúncia.

Embora a representação não exija rigor formalístico, no caso em apreço, com relação ao delito tipificado no art. 213, do CPB, não restou inequívoco o interesse do representante da suposta vítima em ver instaurado o persecutio criminis, com relação a suposta prática do delito do art. 213, do CPB, vez que o Boletim de Ocorrência de fls...., não possui o condão de assumir o papel da representação criminal, porque a delação ali contida diz respeito única e exclusivamente a uma possível violação de domicílio.

A Delegada de Polícia baixou a Portaria de fls...., de forma arbitrária e distorcida da verdade, uma vez que recebeu o Boletim de Ocorrência delatando a prática de uma suposta violação de domicílio, e deu-lhe outra interpretação, inclusive afirmando literalmente “..o qual teria pedido a ... que com ele tivesse relação sexual...”, fato inexistente naquele Boletim, como também não foi apurado durante o contraditório. Logo, o presente feito teve seu nascedouro no terreno decomposto da mente da autoridade policial, que acresceu voluntária e conscientemente uma violação de direito não suscitada e nem requerida pela representante legal da suposta vítima.

Mesmo considerando, o B.O, como uma possível representação, é de convir que, conforme fragmentos dos depoimentos retro alinhados, percebe-se claramente que a presente ação penal deve referir-se exclusivamente aos fatos supostamente ocorridos no dia ..., uma vez que aqueles citados na exordial acusatória que teriam ocorrido em datas pretéritas à reunião realizada no apartamento da testemunha ..., foram alcançados pela preclusão, uma vez que a própria genitora da suposta vítima firma, taxativamente, ter conhecimento dos fatos e sua autoria desde ..., (Fls....) sem contudo exercitar seu direito a representação no prazo legal.

É imperativo legal contido no Art. 28 do Código de Processo Penal, que salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá do direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de ... (...) meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ora, se a genitora da suposta vítima em ... já tinha conhecimento da conduta do Acusado, deveria exercer seu direito de representação dentro daquele lapso temporal, e, não o fez.

Deve, assim, a presente preliminar ser reconhecida, e por força do que dispõe o inciso II, do Art. 564, ser decretada a nulidade processo com relação ao delito tipificado no art. 214 do CPB, pois assim Vossa Excelência editará decisão inspirada nos mais lídimos princípios do direito.

DO MÉRITO

Com referência aos fatos ocorridos em ..., não há como sustentar ter havido qualquer ato libidinoso como pretende a Acusação Oficial, pois a própria vítima é segura em afirmar que

“; que, nesse dia ele não chegou a beijar nem a tentar beijar a declarante.” E ainda a declarante disse ainda que , o que o ... fez foi ficar pegando em sua mão, não tentando nada mais com a declarante, nem beijos e nem abraços.. Considerar os fatos acima descritos como aqueles atos libidinosos, previstos no tipo penal sugerido pela Acusação, suscetíveis de grave apenação, é ferir o bom senso e agredir de forma voraz o princípio da proporcionalidade.

Embora, a conduta atribuída ao Acusado, possa ser censurável do ponto de vista ético, moral ou religioso, é óbvio que ela está fora da órbita da proibição penal, na forma sugerido pelo Ministério Público.

Em conclusão, tem-se que a conduta descrita na denúncia por ocasião dos fatos ocorrido no apartamento da mãe da suposta vítima é penalmente atípica.

Consoante o entendimento esposado pela melhor doutrina processual penal, sentença de conteúdo condenatório exige, para sua prolação, a certeza de ter sido cometido um crime e de ser o acusado o seu autor. A menor dúvida a respeito acena para a possibilidade de inocência do réu, de sorte que a Justiça não faria jus a essa denominação se aceitasse, nessas circunstâncias, um édito condenatório operando com uma margem de risco - mínima que seja - de condenar quem nada deva.

No caso em apreço, as declarações da suposta vítima é no sentido de que o Acusado não praticou nenhum ato de libidinagem consigo, e se encontram em harmonia com as demais provas coligidas, pelo que devem ser acolhidas com a conseqüente absolvição do Acusado.

Deve-se ressaltar, também, que a suposta vítima esclareceu em Juízo que permitia que o Acusado buscasse no colégio e espontaneamente se dava ás possíveis carícias e beijos, e visando

fugir a fiscalização da mãe pedia que lhe deixasse no ponto de ônibus afastado de sua residência. A própria genitora declara que a suposta vítima ardilosamente forneceu uma cópia da chave do apartamento para o Acusado, além do que “... “acoitava” muita coisa que ele fazia” (fls...).

caso já apontadas.

É patente, que a conduta atribuída ao acusado está longe de alcançar a gravidade dos atos elencados no artigo 213 do CPB, pelo que reverteria em notória injustiça, em caso de condenação, que sua reprimenda penal fosse alçada nos parâmetros definidos na norma incriminadora ali inserta: ... (...) a (...) anos de reclusão, o que exige do Ilustre Julgador critérios redobrados e sopesando-se as diretrizes do princípio da proporcionalidade.

Daí, que no caso em apreço, o Princípio da Proporcionalidade deve nortear a conduta do juiz frente ao caso concreto, pois deverá ponderar a gravidade da medida imposta com a finalidade pretendida, sem perder de vista o fumus delicti e o perigo ao normal desenvolvimento do processo. Deverá valorar se esses elementos justificam a gravidade das conseqüências do ato e a estigmatizarão jurídica e social que irá sofrer o acusado.

Com relação a imputação do Acusado ter infringido o suposto delito de violação de domicílio, previsto no artigo 150 do Código Penal, é improcedente, pois como dos autos consta ele adentrou no apartamento da suposta vítima com a anuência desta, que era, moradora daquele imóvel era detentora do direito de permitir a entrada de qualquer pessoa. É indispensável que o agente, ao adentrar na casa alheia, o faça contra a vontade deste e tenha o propósito de cometer o delito fim contra o proprietário.

É assente na jurisprudência dominante, que a violação de domicílio, como crime subsidiário que é, também requisita para sua integração o dolo específico. Se a finalidade do agente não foi a de violar o domicílio, como propósito único da ação, não configura o crime ( RT 432/346).

Assim sendo, se a parte Acusação afirma in tese, que o intuito do Acusado era a prática de crime contra liberdade sexual, a violação de domicílio passou a ser delito-meio pelo que fica absorvido pela conduta proibida de maior relevo em obediência ao princípio major absorbet minorem.

No que pertine a acusação de ter o Réu usado de grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio conra parte ou qualquer pessoa que funcione ou é chamada a intervir em processo judicial ou policial, contida na exordial, não ficou cabalmente demonstrado durante a instrução criminal, razão que exige ser a denúncia ser julgada improcedente neste particular.

Consoante, o entendimento esposado pela melhor doutrina, o referido crime tem como objeto material o emprego de violência ou grave ameaça. A primeira é representada pela vis corporalis, consistente no uso de força física contra a pessoa da vítima, enquanto que a grave ameaça é representada pela vis compulsiva, que é a violência moral, a qual a lei exige que seja de natureza grave, capar de incutir justificável temor, o que não se confunde com a atuação do Acusado que num momento de desespero implorou a vítima que se abstivesse de dar prosseguimento ao persecutio criminis.

A Leitura das transcrições da fitas de áudio de fls..., demonstra nas palavras do Acusado mais um teor de angústia e medo do que ameaças contra os familiares da suposta vítima. Observando-se, ainda, que todas expressões naquele sentido eram instigadas pelos seus interlocutores.

do elemento subjetivo e do objeto material da imputação, por um princípio de Justiça.

O Acusado, ora defendente, conforme declarações de fls..., é pessoa honesta, tecnicamente primário, portador de excelente antecedentes, que em função dos fatos geradores do presente processo se encontra encarcerado, deixando seus filhos menores à margem da miserabilidade, além do que sua esposa encontra-se gravemente enferma, necessitando todos de sua assistência.

EX POSITIS,

Requere a juntada aos autos da inclusa documentação, com fulcro no artigo 231 do Código de Processo Penal, e, espera o Acusado, ora defendente, sejam as presentes alegações recebidas, vez que próprias, e, tempestivas, por tudo o mais que dos autos conste, seja acatada a preliminar suscitada e julgado improcedente a denúncia, nos termos do artigo 386, do mesmo Estatuto, pois desta forma Vossa Excelência, estará, como de costume, editando decisório compatível com os mais elevados ditames do direito e da JUSTIÇA.

Nestes termos Pede deferimento.

Local, data

____________________ OAB

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