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1.6 OS NOVOS IMIGRANTES EUROPEUS NO CONTESTADO

1.6.1 Alemães na História do Contestado

O “Caminho do Sul” ou “Estrada das Tropas”, ligando os campos de Viamão, no Rio Grande do Sul, às feiras de Sorocaba (SP), passando por Rio Negro, estava com tráfego fazia já mais de cinqüenta anos, quando surgiu a idéia de transformar-se a “trilha” em estrada “de verdade”. A idéia da abertura de uma estrada no trecho do antigo caminho, no trecho entre Campo do Tenente e Campo Alto (no alto da Serra do Espigão), remete-nos ao início do Século XIX:

Em 18 de abril de 1807 são registradas em Curitiba “as condições e formalidades com que se deve fazer o caminho do Sertão”. Dentre elas destaca-se a seguinte; “Será muito útil fazerem-se povoações no Sertão que não poderão ser menos de dezoito fogos para poderem fazer frente aos Bugres, sendo a primeira no Curralinho, entrada do mato do sertão, a Segunda na Estiva, a terceira na Ilha, a Quarta nos Curitibanos” (Op. cit. Apud ALMEIDA, 1975, p. 25).

No ano de 1825, o cidadão João da Silva Machado, futuro Barão de Antonina, apresentou ao Presidente da Província de São Paulo o projeto para a construção de um novo trecho na antiga Estrada das Tropas, que chamou de “Estrada da Mata”, plano que foi aprovado pelo Conselho de Governo e a construção foi iniciada em 26 de março de 1826, com o início do “Abarracamento de São Lourenço”, lugar até então chamado “Curralinho”. “[...] Curralinho é o que se chama atualmente “São Lourenço”, arrebalde da cidade de Mafra” (ALMEIDA, 1975, p. 25), sendo que, depois, em 1849, no mesmo local, instalar-se-iam famílias bucovinas.

Tratando da construção da estrada Campo do Tenente-Campo Alto, não se negam as origens rio-negrenses do município catarinense de Mafra, pois que os trabalhadores “estabeleceram-se nas margens do rio São Lourenço, nas proximidades da atual cidade de Mafra, onde construíram o ‘Abarracamento de São Lourenço’ em 1826” (DEQUECH, 1967, p. 6). Este “abarracamento” dispunha-se em 3.658.580,00 m², denominava-se “Capoeiras Reiunas” e continha vinte e cinco lotes rurais.

Eis a semente que germinou fértil à sombra de nossos hervais e pinheiros, que gerou cidades, vilas e povoados ao longo da Estrada da Mata. Famílias de trabalhadores da estrada, se soldados, de tropeiros, escravos e de índios mais dóceis (estes foram raros) estabeleceram-se definitivamente neste vale do Rio Negro, construindo suas primitivas

moradas, já fora do Abarracamento Militar, nos anos de 1827 a 1828. Foram os precursores da colonização. [...].

Em 1828, em um alto, à margem esquerda do rio Negro, na região compreendida entre a atual “Cruz da Praça”, Prefeitura Municipal (antigo cemitério) e o atual grupo Escolar, foi construída uma pequena capela de madeira e neste perímetro, digamos dentro deste triângulo morava o fundador de Rio Negro, na época sargento Mor João da Silva Machado, posteriormente Barão de Antonina.

A região era denominada “Capela da Matta no Caminho do Sul”. Ao encontro desta forma embrionária de Freguesia, chegaram os primeiros colonos alemães do Trier, patrocinados pelo Governo Federal, antes solicitados pelo sargento Mor a 19 de novembro de 1828 junto ao Conselho do Governo da Província de São Paulo. As primeiras famílias aqui chegadas, a 6-2-1829, em número de 20, somavam 60 pessoas, dentre as quais, 23 maiores. A 5-5-1829 vieram mais 17 famílias num total de 79 pessôas, sendo 39 maiores (DEQUECH, 1967, p. 6).

Em Mafra, encontramos registros de muitas famílias germânicas pioneiras, chegadas desde então, diretamente da Europa, como também outras, vindas depois, originárias de outras colônias alemãs, tanto do Paraná como de várias partes do Brasil. Entre 1877 e 1888, chegaram a Rio Negro/Mafra famílias bucovinas, originárias da Baviera e do Böhmerwald. Parte destes imigrantes estabeleceram-se na margem direita do Rio Negro (no Paraná) e parte em terras da margem esquerda, também em São Lourenço, antigo “Curralinho” (hoje Mafra, em Santa Catarina), no mesmo local onde, em 1829, haviam-se instalado os pioneiros.

Em 1881, chegaram a Porto União da Vitória as primeiras vinte e quatro famílias de imigrantes alemães, trazidas diretamente pelo Governo do Paraná. Adiante no tempo, nos vales do Iguaçu e do Timbó, na parte da Região do Contestado que foi anexada a Santa Catarina, entre 1881 e 1885, instalaram-se dezenas de famílias alemãs.

Os contingentes coloniais admitidos no século passado no planalto próximo, ao norte, foram conduzidos pelo Paraná, então com jurisdição efetiva sôbre a região, e resultaram, parte de importação direta dos elementos humanos, principalmente os de etnia eslava, e parte, talvez a maior, procedente de outros agrupamentos e comunidades anteriormente formados, processando-se típico movimento de migração interna. Colônias situadas as margens do Rio Negro expandiram-se, na esquerda, em direção a Lajes e das cabeceiras do Itajaí, conservando-se, todavia, em completo isolamento em relação à comunidade catarinense, até mesmo tempos depois da passagem do território para a jurisdição do Estado. Quando isto aconteceu, em 1917, as colônias já apresentavam um sensível grau de acaboclamento, embora o polonês e outros eslavos, conservassem e difundissem mesmo, pela periferia dos seus núcleos, hábitos e costumes próprios. Já na margem esquerda do Iguaçu, os colonos para lá conduzidos, em 1883, eram oriundos de núcleos e comunidades estabelecidas no litoral catarinense, de etnia, alemã, colonos que foram aliciados por pioneiros da colonização alienígena do planalto próximo. A fonte originária da maioria, senão da totalidade dos elementos, foi a Colônia D. Francisca e pontos derivados da sua expansão, como São Bento e outros (CABRAL, 1971, p. 45).

MAPA 4:

AS PIONEIRAS FRENTES DA MIGRAÇÃO ALEMÃ AO CONTESTADO