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Construir uma tipologia é:

1) estabelecer uma lista de variáveis consideradas pertinentes; 2) mostrar que essas variáveis são caracterizadas por intercorrelações mais ou menos fortes e “estruturadas”, isto é repartidas de maneira não-aleatória; 3) utilizar essas intercorrelações para repartir os objetos observados em tipos ou classes (BOUDON e BOURRICAUD, 1993, p.221).

O perigo dos esquemas classificatórios é a simplificação excessiva, ou seja, embora algumas tipologias possam ser utilizadas em análises limitadas, como comparar organizações em termos de seus índices de rotatividade ou taxas de crescimento, tais classificações, em geral, escolhem somente um parâmetro a ser analisado; por isso, acaba-se conhecendo somente um aspecto da organização e não a sua complexidade (HALL, 2004).

Dessa forma, embora uma tipologia organizacional tenha suas propriedades, ela não deve ser tomada como algo definitivo, visto que uma organização pode possuir características

de mais de um tipo definido. Na realidade, as tipologias têm importante papel quando auxiliam os pesquisadores na análise das organizações, uma vez que permitem uma melhor aproximação com o objeto em estudo.

As tipologias são também indícios de que se tem caminhado em direção a um relativismo. E mesmo adotando diferentes critérios para agrupar as estruturas e organizações, apresentamos aqui algumas das tipologias mais citadas na literatura.

As formas mais comuns são as chamadas tipologias tradicionais ou baseadas no “bom- senso”. Assim, pode-se classificar uma organização a partir da sua orientação econômica, ou seja, ela pode ser classificada como com fins lucrativos ou sem fins lucrativos. Essa é, claramente, uma distinção importante em alguns casos, porém não em outros. É possível ainda classificar uma organização de acordo com o setor em que atua; por exemplo: educacional, agrícola, de saúde e de medicina (HALL, 2004).

Segundo Clegg (1998), no âmbito das configurações organizacionais não se pode deixar de ressaltar a influência pioneira de Max Weber na medida em que colocou a racionalidade como principal aspecto norteador na construção das estruturas sociais. Weber mostra que a burocracia, enquanto tipo-ideal, procura exprimir, de forma estável e duradoura, a cooperação de um grande número de pessoas, cada qual detendo uma função especializada. Para tanto, separa-se a esfera privada e familiar da esfera pública do indivíduo (MOTTA e VASCONCELOS, 2002).

A organização burocrática caracteriza-se por possuir hierarquia de autoridade, divisão do trabalho, participantes tecnicamente competentes, métodos de trabalho, comunicação regulamentada, padronização de processos e das habilidades de trabalho (WEBER, 1999). Apesar de o modelo burocrático se constituir em parâmetro para o estudo das organizações, ele também sofreu várias críticas. Quando alguns pesquisadores começaram a realizar estudos empíricos das organizações, perceberam que, no mundo real, alguns componentes

burocráticos nem sempre apareciam como na teorização de Weber (CLEGG, 1998). De fato, conforme Weber (1999) previa, nenhum sistema conceitual pode reproduzir integralmente o real e a diversidade de um fenômeno particular, visto que os atores sociais, ao interagir, constroem em conjunto os significados compartilhados que constituem uma dada realidade.

O trabalho de Burns e Stalker desenvolveu um modelo organizacional, identificando a forma mecânica, que se aproxima do tipo ideal de burocracia de Weber, e a forma orgânica, com uma estrutura de controle em rede, um ajuste contínuo e redefinição de tarefas, em meio a um contexto de comunicação envolvendo informações e opiniões (HALL, 2004).

Na análise funcionalista de Parsons (1960), uma organização pode ser tipificada quanto à sua função ou meta estabelecida. Esse autor distingue quatro tipos de organização, de acordo com sua contribuição para a sociedade. São estes os tipos: (1) a organização de produção, que fabrica os bens consumidos pela sociedade; (2) a organização orientada para fins políticos, que busca assegurar que a sociedade atinja metas a que atribui valor, gerando e distribuindo poder no âmbito social; (3) a organização integradora, cujos propósitos são os de resolver conflitos, direcionar as motivações para a concretização de expectativas institucionalizadas e assegurar que as partes da sociedade operem juntas; (4) a organização de manutenção de padrões, a qual tenta proporcionar a continuidade da sociedade por meio de atividades educacionais, culturais e expressivas.

Com uma classificação bem similar, Katz e Kahn (1974) enquadram as organizações em quatro classes, conforme a atividade em que se acham empenhadas: (1) organizações produtivas — aquelas que objetivam a criação de riqueza, a manufatura de bens e a prestação de serviços para o público em geral; (2) organizações de manutenção — dedicadas à socialização e à capacitação das pessoas para seus papéis em outras organizações; (3) organizações adaptativas — voltadas à criação, ao desenvolvimento e transmissão de conhecimentos e à geração de informações que respondam às necessidades existentes no

âmbito da sociedade; (4) organizações políticas-administrativas — dedicadas à coordenação e controle de recursos, pessoas e subsistemas.

Embora cada uma desses conjuntos de atividades seja claramente importante para a sociedade, informa pouco sobre as organizações, não diferencia entre as características das próprias organizações, deixa de contemplar as organizações de serviços orientados aos seres humanos e, além disso, podem enquadrar as organizações em mais de uma categoria (HALL, 2004).

Etzioni (1974), por sua vez, usou a obediência como princípio para estabelecer a sua tipologia. Obediência entendida como o modo pelo qual os participantes do escalão operacional de uma organização respondem a seu sistema de autoridade; obediência expressa por meio da natureza do envolvimento dos participantes de nível mais baixo na organização. De acordo com esse modelo, existem três tipos de autoridade: coercitiva, remunerativa e normativa, bem como existem três tipos de obediência — alienatória, instrumental ou calculista e moral. Como resultado, apresenta-se um esquema classificatório com nove tipos possíveis de organização — quadro 1(2):

Tipos de Participação dos Subordinados Tipos de Poder

Alienativa Calculista Moral Coercivo Coercitivo-Alienante Coercitivo-Instrumental Coercitivo-Moral

Calculista Remunerativo-

Alienante

Remunerativo-

Instrumental Remunerativo-Moral

Normativo Normativo-Alienante Normativo-Instrumental Normativo-Moral

Quadro 1(2): Tipologia organizacional de Etzioni (Fonte: Etzioni, 1974, p.41).

Outra tipologia é a proposta por Blau e Scott (1970), que tomaram o principal beneficiário organizacional como base para classificação das organizações em quatro categorias: organizações de benefícios mútuos (onde os próprios membros são os principais beneficiários), empresas privadas (cujos proprietários são os beneficiários), organizações prestadoras de serviço (os clientes são os beneficiários) e organizações comunitárias (onde o

público em geral se beneficia). Hall (2004) alerta que esse tipo de classificação torna difícil isolar um único grupo, explícito, estável e coerente entendido por uma organização; bem como existem algumas organizações, como por exemplo, uma escola, que não são viáveis de serem enquadradas em uma única categoria.

Mintzberg (2003) ressalta que a análise de determinada configuração organizacional deve considerar critérios como o tamanho, a idade, o tipo de ambiente em que a organização atua, o sistema técnico que utiliza, entre outros. Fatores como controles externos à organização, necessidades pessoais de seus membros e a cultura onde a organização está inserida também interferem no delineamento organizacional. Ainda de acordo com o mesmo autor, tanto os parâmetros do design quanto os fatores situacionais devem ser rigorosamente agrupados para a criação de configurações.

Isso posto, Mintzberg (2003) identificou cinco configurações principais, sendo que cada uma delas possui um mecanismo de coordenação diferente dominante: uma parte diferente da organização exerce o papel mais importante e um tipo diferente de descentralização é usado. São estas as configurações: estrutura simples, burocracia mecanizada, burocracia profissional, forma divisionada e adhocracia.

Para Silva (2005), a tipologia de Mintzberg diferencia-se das demais devido à abrangência de seus critérios classificatórios, uma vez que busca identificar um conjunto amplo de variáveis interdependentes, que podem influenciar a configuração da organização, muitas delas consideradas isoladamente nas demais tipologias. É relevante apontar que esta mesma tipologia caracteriza-se por sua unidimensionalidade, na medida em que os tipos estruturais que dela derivam são variações burocráticas.

A seguir, discorre-se mais detalhadamente sobre o modelo de organização multidimensional-reflexivo (OMR) de Alves (2003), o qual teve sua aplicabilidade testada neste estudo, em que se analisa um hospital universitário.

2.2 O modelo de organização multidimensional-reflexivo