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3 MÉTODO

3.4 Análise de dados

As primeiras informações analisadas foram os dados socioprofissionais fornecidos pelos participantes, os quais possuem o intuito de caracterizar a amostra e permitir o leitor conhecer um pouco do percurso desses docentes nas atividades de gestão. Eles foram analisados por meio da estatística descritiva.

Para análise dos dados advindos da discussão do grupo focal, das anotações realizadas no chat do programa Google Meet e das anotações da pesquisadora sobre análise das imagens, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo, segundo a perspectiva de Laurence Bardin que é literatura de referência dessa técnica. Seu uso em pesquisas de Psicologia é bastante expressivo (CASTRO; ABS; SARRIERA, 2011), assim como vem cada vez mais conquistando legitimidade nas pesquisas qualitativas no campo da administração (MOZZATO; GRZYBOVSKI, 2011).

Branco (2014) esclarece que essa técnica de análise surgiu no contexto científico em que discutia modelos metodológicos para pesquisa qualitativa nas Ciências Sociais e Humanas através de um grupo de pesquisadores referendados como Escola de Chicago, os quais buscavam compreender o mundo social por meio de rigor científico e com técnicas qualitativas. Nesse sentido, é possível compreender a vivência do sujeito da pesquisa quando comunicada ao pesquisador.

A sessão do grupo focal foi registrada através da gravação de imagem e voz dos participantes previamente autorizada (Apêndice E). O registro da gravação de áudio foi transcrito na íntegra e posteriormente submetido à técnica de análise de conteúdo. Para auxiliar na transcrição, utilizou-se o recurso de digitação por voz presente no google drive. Esse recurso converte o áudio da gravação de vídeo em texto escrito. Entretanto, não realiza pontuação gramatical e possui dificuldade em captação integral havendo várias omissões ou digitações de palavras erradas por incompreensão ou não reconhecimento da mensagem, além de não captar trechos quando o áudio esteve baixo. Após a utilização da ferramenta, a pesquisadora realizou a audição de todo o material realizando todas as adequações necessárias a fim de retratar com fidedignidade as falas apresentadas.

Mendes e Miskulin (2017) explica que a transcrição não pode ser apenas uma reprodução das gravações, entretanto deve apresentar os tropeços, as frases interrompidas, as prolongadas, os suspiros, as exclamações, as contrariedades. Essas orientações foram seguidas durante a transcrição. Nesse sentido, a gravação da imagem serviu para captar aspectos que vão para além do registro de voz, sendo feito o registro das mensagens não verbais, as fisionomias e os gestos. Essas observações foram anotadas para utilização na análise. Desse modo, houve inicialmente anotações sobre as imagens, em seguida a transcrição do áudio. As mensagens do chat são registradas e salvas pelo próprio programa e posteriormente, foram analisadas e cruzadas com as anotações realizadas no chat com a descrição da discussão.

A análise de conteúdo não tem um alcance apenas descritivo, o seu objetivo é a inferência. A partir dos resultados da análise é possível regressar as causas ou chegar aos efeitos através do que foi comunicado (BARDIN, 2011). Trata-se de um conjunto de técnicas de análise que por meio de procedimentos sistemáticos, indicadores quantitativos ou qualitativos que buscam a inferência de conhecimentos relativos à produção/recepção de mensagens. O critério de enumeração define se a análise é quantitativa ou qualitativa na análise de conteúdo. No primeiro caso, há o princípio de enumeração por frequência. Já no segundo, o princípio de enumeração é a presença/ausência. Em ambos os casos, o método apresenta uma base homogênea, pois considera a evidência de conteúdo como um índice natural, uma evidência necessariamente presente no texto (CASTRO; ABS; SARRIERA, 2011).

Em síntese, “a abordagem quantitativa realiza inferências interpretativas a partir dos resultados de frequência obtidos após a categorização dos dados. Por sua vez, a abordagem qualitativa realiza inferências a partir da presença ou ausência de elementos codificados e categorizados” (GONDIM; BENDASSOLLI, 2014, p.192). Nesse estudo, as inferências foram feitas a partir da presença das unidades de registro, apenas uma presença já possui relevância nessa pesquisa qualitativa. Entretanto, a análise utilizou-se da contagem quantitativa ao verificar a frequência de aparição, pois isso pode relevar o grau de importância da unidade.

Branco (2014) esclarece que, nessa técnica, inicialmente ocorre a organização do material a ser analisado através da escolha dos textos que passarão pela análise. No presente estudo selecionou-se a análise dos registros escritos pelos participantes (Anotações do chat), anotações da observação da pesquisadora sobre as imagens (Análise da gravação de imagem) e transcrição dos registros orais (discussão oriunda do grupo focal). Esse conjunto de documentos compôs o corpus que passou pelo processo de análise de conteúdo e eles encontram-se representados na figura 03.

Figura 03 – Conjunto de materiais utilizados na análise de conteúdo

Fonte: Elaborada pela autora (2020).

O corpus seguiu as seguintes regras: Regra da exaustividade - todas as partes do

corpus serão analisadas sem seletividade; Regra da homogeneidade - os documentos

analisados serão homogêneos, sem singularidade; Regra da pertinência - os documentos selecionados devem ser adequados para responderem aos objetivos do estudo (BARDIN, 2011). Nessa etapa ocorre a formulação de hipóteses, entretanto não é obrigatório ter um guia e algumas análises podem ocorrer “às cegas” e sem ideias pré-concebidas (BARDIN, 2011).

Apesar do presente estudo não apresentar uma hipótese definida, foram formulados objetivos, índices e indicadores para guiar a análise. Essas definições foram orientadas a partir dos objetivos específicos da pesquisa. Na primeira questão, realizou-se análise exploratória “para ver o que há” (BRADIN, 2011, p. 133). A partir da segunda questão, houve um cruzamento da técnica com o perfil teórico que embasa o estudo.

Em seguida, ocorreu a exploração do material organizado através da codificação dos dados. Essa exploração foi feita por questão norteadora, ou seja, juntou-se os dados advindos dois grupos que faziam referência a primeira questão, logo depois os referentes a segunda questão e assim por diante. “A codificação corresponde a uma transformação – efetuada segundo regras precisas – dos dados brutos do texto, transformação esta que, por recorte, agregação e enumeração, permite atingir uma representação do conteúdo ou da sua expressão” (BARDIN, 2011, p.133). De acordo com Bardin (2011), a codificação compreende: o recorte (escolha das unidades); enumeração (escolha das regras de

Transcrição de aúdio da discussão do grupo focal Anotações do chat Anotações sobre as imagens gravadas

contagem); e classificação e agregação (escolha das categorias). Essas etapas permitiram a transformação do texto inicial em categorias.

Inicialmente foram identificadas as unidades de registro. A unidade de registro é a significação codificada e representa a unidade base visando à categorização e a contagem da frequência (BARDIN, 2011). Como regra de enumeração, foi utilizado indicador de presença/ausência e a frequência de aparição que indica a importância da unidade de registro. Nesse estudo optou-se por frases que representam um tema (uma afirmação acerca de um assunto). “O tema é a unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto analisado segundo certos critérios relativos teoria à que serve de guia à leitura.” (BARDIN, 2011, p. 135). O tema é geralmente utilizado como unidade de registro para estudar motivações de opiniões, de atitudes, de valores e de crenças. É utilizado na análise de respostas a questões abertas e apresentadas em reuniões de grupo.

Para Bardin (2011, p. 138), “é necessário fazer a distinção entre a unidade de registro - o que se conta - e a regra de enumeração - o modo de contagem [...]. A importância de uma unidade de registro aumenta com a frequência de aparição”. Já Branco (2014) esclarece que no momento do recorte deve-se definir unidades de registro, podendo analisar a frequência de aparição ou apenas o registro de presença ou ausência. Realiza-se um trabalho de inferência, interpretando o texto de uma forma lógica conforme a codificação.

O passo seguinte foi a categorização. Consiste em “uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e, em seguida, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com critérios previamente definidos” (BARDIN, 2011). Segundo Bardin (2011), essas categorias reúnem unidades de registro que possuem características em comum sob um título genérico, o que irá determinar o agrupamento é a semelhança. Esse processo envolve duas etapas: o inventário (isolar elementos) e a classificação (separar os elementos de forma organizada). Através desse processo é possível uma representação simplificada dos dados brutos. Para garantir a construção de categorias eficientes, foram utilizados critérios como: exclusão mútua; homogeneidade; pertinência; objetividade e fidelidade; produtividade.

Desse modo, houve uma primeira leitura flutuante sobre todo o material. Posteriormente, houve a marcação com cores diferentes das unidades de registro (frases sobre um assunto). Isso representou o inventário. Em seguida se deu a classificação, a separação dos elementos de forma organizada. A partir desse momento foram definidas e nomeadas as categorias e as subcategorias.

No processo de categorização, houve uma consideração a cerca da direção. A direção pode ser favorável ou desfavorável sobre um tema. Isso foi bastante presente na primeira questão e especialmente na segunda. Outro aspecto considerado foi a intensidade, que na terceira questão diferenciou respostas que apresentaram advérbios, adjetivos e atributos qualificativos (Ex: Estressante e muito estressante). Algumas frases eram longas e tratavam de temas diferentes, nesse sentido foram recortadas e agrupadas com seus semelhantes no texto. É importante destacar também que as anotações realizadas pela pesquisadora, a partir da análise das imagens, encontram-se descritas entre colchetes a fim de destacar que são descrições das situações observadas através das imagens coletadas.

A partir desse momento, foram realizadas as inferências e interpretações dos dados a fim de nortear a apresentação dos resultados. A organização da análise perpassou, portanto, por três etapas: pré-análise; exploração do material; e, tratamento dos resultados obtidos e interpretação (BARDIN, 2011). A descrição de cada etapa é sintetizada no quadro 19.

Quadro 19 – Organização da análise

Pré-análise

É a organização propriamente dita. O objetivo é sistematizar as ideias iniciais e montar o plano de análise. Nesse momento, há a escolha dos documentos a serem submetidos à análise, formulação das hipóteses e dos objetivos, bem como elaboração de indicadores.

Envolve os seguintes procedimentos: leitura flutuante; escolha dos documentos; formulação de hipóteses e objetivos; a referenciação dos índices e elaborar indicadores; e, a preparação do material.

Exploração do material

Consiste na aplicação sistemática das decisões tomadas na pré-análise. Será realizada nessa fase a codificação, decomposição ou enumeração de acordo com as regras estipuladas.

Tratamento dos resultados obtidos e interpretação

Nessa fase os dados brutos são tratados de maneira a serem válidos. Os resultados podem ser submetidos a provas estatísticas. Dados podem propor inferências e adiantar interpretações de acordo com os objetivos previstos ou descobertas inesperadas.