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3 MÉTODO

3.3 Coleta de dados

Para a realização da coleta de dados, foi escolhida a técnica de grupo focal que consiste em realizar uma discussão sobre um tópico especial sugerido pelo pesquisador e através da interação grupal ocorre a coleta de dados.

Gondim (2003) explica que, como técnica, o grupo focal assume uma posição intermediária entre a observação participante e a entrevista em profundidade e destaca a diferença de papel de um entrevistador grupal e o moderador de um grupo focal:

O entrevistador grupal exerce um papel mais diretivo no grupo, pois sua relação é, a rigor, didática, ou seja, com cada membro. Ao contrário, o moderador de grupo focal assume uma posição de facilitador do processo de discussão, e sua ênfase está nos processos psicossociais que emergem, ou seja, no jogo de interinfluencias da formação de opiniões sobre um determinado tema. Os entrevistadores de grupo pretendem ouvir a opinião de cada um e comparar suas respostas; sendo assim, o seu nível de análise é o indivíduo no grupo. A unidade de análise do grupo focal, no entanto, é o próprio grupo. Se uma opinião é esboçada, mesmo não sendo compartilhada por todos, para efeito de análise e interpretação dos resultados, ela é referida como do grupo (GONDIM, 2003, p. 151). O intuito da escolha dessa técnica é que a partir da interação grupal se possa entender de forma qualitativa a percepção dos gestores sobre seu contexto de trabalho e a influência dele sobre a saúde psíquica. Desse modo, é possível apreender a realidade vivenciada na gestão através de perguntas norteadoras. “Os grupos focais permitem uma interação grupal que faz com que os participantes discutam e manifestem suas opiniões trazendo à tona uma gama de dados (produzidos pela interação) que revelem pontos de consenso e dissenso, fundamentais para dar resposta às indagações da pesquisa” (ABREU; BALDANZA; GONDIM, 2009, p. 8).

Isso porque na dinâmica do grupo focal, as ideias e colocações feitas durante a discussão são formas de estimular a participação dos outros que terminam expressando seus comentários pessoais. É um método apropriado para averiguar experiências, ideias sobre o que pensam, sentem e como agem os participantes (SCHRÖEDER; KLERING, 2009). Portanto, uma discussão direcionada acerca de um tópico específico, em grupo de seis a doze componentes, com a duração de pelo menos 1 hora e não mais de 2 horas (DUARTE, 2007). A figura 02 representa o caminho percorrido nesse estudo para a coleta de dados.

Figura 02 – O caminho percorrido para a coleta de dados

Fonte: Elaborada pela autora (2020)

O primeiro passo foi a estruturação do roteiro para guiar a condução do grupo focal (Apêndice A), bem como definição das questões que irão disparar o diálogo entre os participantes a fim do atingimento dos objetivos do estudo. Nessa fase, foram definidos também os dados socioprofissionais que seriam importantes de serem coletados junto aos participantes (Apêndice B).

Segundo Gondim (2003), um bom roteiro deve permitir um aprofundamento progressivo e fluidez da discussão para evitar intervenções constantes do moderador. Abreu, Baldanza e Gondim (2009) esclarecem que esse guia é um esboço dos tópicos que serão abordados, garantindo que a discussão contemple os principais itens pertinentes à pesquisa. Ele evita que haja uma fuga do tema em pauta. Quanto a sequência das questões, sugere-se primeiramente questões abertas de resposta rápida, em seguida, questões introdutórias, de apresentação do tópico geral. Em um terceiro momento, questões de transição para questões-chave norteadoras do estudo. Posteriormente, viriam questões- chave, que necessitam de maior atenção, e questões finais, direcionando para a finalização. O encerramento pode ser dar pelo moderador ou com uma palavra final de que cada participante (SCHRÖEDER; KLERING, 2009). Essa sequência serviu como guia para o roteiro.

Após a estruturação da proposta de coleta de dados, o projeto foi submetido a apreciação do Comitê de Ética e Pesquisa da UFRN (CEP- UFRN) no mês de fevereiro. Essa etapa possibilitou serem tomados os cuidados éticos necessários para pesquisas

realizadas com humanos. Dentre eles, a utilização do Termo de Autorização para Gravação de Voz e Registro de Imagens (Apêndice E) e o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE – Apêndice F). Foram também mapeados os possíveis riscos do estudo. A realização da coleta poderia suscitar eventuais desconfortos e possíveis riscos de mobilização de sofrimento relacionado ao trabalho devido às temáticas abordadas. Foi explicado por meio do TCLE que esses riscos seriam minimizados através de técnicas de condução de grupo realizadas pela psicóloga a frente da pesquisa. Entretanto, diante da mobilização de sofrimento no momento da aplicação do grupo focal, ele seria acolhido através da escuta psicológica de forma individual e/ou grupal. Caso houvesse persistência do mal-estar advindo da realização da atividade, seria feito encaminhamento do participante para os serviços de apoio psicossocial e organizacional ofertados aos servidores da instituição.

A etapa seguinte consistiu na realização de um pré-teste. Portanto, antes da aplicação da coleta de dados, foi realizada a validação com dois ex-gestores dessa categoria. Essa verificação teve por objetivo não só validar, mas também coletar possíveis ajustes e melhorias para o roteiro de condução. As entrevistas foram realizadas virtualmente nos dias 15/05/2020 e 18/05/2020, em meio a um período no qual havia orientação para o distanciamento social devido a pandemia do Corona Vírus Disease (COVID-19) que impôs restrições de contato presencial no Brasil. Para tanto, utilizou-se a ferramenta do Google Meet (https://meet.google.com/) que possibilitou uma boa interação e a possibilidade de gravação de imagem e voz. A participação nessa etapa tinha um duplo papel: 1) Descrever um pouco sobre a experiência vivenciada na chefia de departamento através da condução das perguntas do roteiro; 2) Fornecer um feedback se o roteiro estava satisfatório para atingir o objetivo da pesquisa e se haviam sugestões de melhorias. A validação apontou que o roteiro estava satisfatório, havendo apenas uma pequena complementação na terceira questão.

O contexto vivenciado durante a pandemia impactou o estudo que previa a aplicação de um grupo focal presencial com 12 participantes. Entretanto, a modalidade precisou ser adaptada no decorrer da pesquisa e a coleta ocorreu através grupos focais

online sincrônicos em função da impossibilidade de contato social. Nesse sentido, o grupo

foi planejado dentro desse formato virtual e foram definidos procedimentos prévios à realização como a escolha do programa de comunicação a ser utilizado. Foram formados dois grupos de seis participantes mantendo assim o quantitativo inicial.

Na contemporaneidade, o uso de novas tecnologias de comunicação e informação possibilita a interação das pessoas que se encontram distante geograficamente. O uso de grupos focais online possibilitou a realização dessa técnica qualitativa em meio ao cenário de distanciamento social, pois o jogo de interinfluência de grupos na formação de opiniões, bem como a elaboração de conclusões sobre consensos e dissensos acerca de determinados tópico conseguem se manter nessa modalidade (ABREU; BALDANZA; GONDIM, 2009). Abreu, Baldanza e Gondim (2009) esclarecem essa técnica online, que tem origem nas entrevistas grupais presenciais e foi potencializada a partir da difusão das novas tecnologias que possibilitaram sua utilização no meio virtual. A coleta de informações ocorre de forma semelhante ao grupo focal presencial. A grande diferença reside no ambiente de realização que é virtual, portanto não se faz necessária a presença física para que haja interação.

É importante destacar o grupo focal foi composto por gestores de mesmo nível de atuação tendo em vista que, para efetividade do grupo, os membros precisam apresentar certas características em comum que estão associadas à temática central em estudo (TRAD, 2009). De acordo com Trad (2009) os participantes do grupo focal precisam se posicionar diante das temáticas levantadas na discussão e por isso é salutar consultar informantes- chave da instituição que conheçam particularidades do fenômeno estudado e o universo da população a fim de realizar indicações.

Nesse sentido, a etapa seguinte se deu através do contato com a Pró-reitoria de Gestão de Pessoas (PROGESP). Houve a apresentação dos objetivos dessa pesquisa via e-

mail, e foi firmado o apoio para a realização do estudo no que se refere à indicação de

sujeitos a serem participantes. A pró-reitoria realizou uma análise prévia (considerando gestores experientes e recém-chegados, de ambos os sexos, com e sem experiência anterior em outras funções de gestão) e enviou uma lista de chefes de departamento, bem como comunicou a existência do estudo incentivando a participação por e-mail. Essa intermediação foi importante, pois “o convite feito a partir do envio de um e-mail não solicitado costuma gerar uma taxa de participação mais baixa” (BORDINI; SPERB, 2011, p. 440).

O recrutamento dos participantes foi intencional (por conveniência) com o intuito de selecionar pessoas que tivessem em comum determinados aspectos (BORDINI; SPERB, 2011), que no caso desse estudo o critério básico era ser chefe de departamento em exercício na UFRN. Além disso, todos os participantes deveriam ter o conhecimento necessário para o uso das ferramentas de comunicação virtual.

Desse modo, depois da comunicação da PROGESP, houve um contato individual por parte da pesquisadora através de e-mail e/ou telefone a fim formalizar o convite e obter a confirmação da participação. Nesse contato inicial foi apresentado o objetivo da pesquisa, bem como a técnica e modalidade que seria utilizada. Após o aceite, houve o segundo contato quando foram enviados o TCLE e o Termo de Autorização para Gravação de Voz e Registro de Imagens, bem como foram solicitados dados socioprofissionais (Apêndice B). Alguns desses sujeitos não confirmaram a participação, e nesse sentido foram feitos outros contatos com a PROGESP a fim de ter outras indicações, assim como houve uma busca ativa da pesquisadora através do contato institucional dos chefes.

Como nesse período os chefes de departamento estavam realizando home office, muitos tinham limitações de recursos para realizar a impressão e digitalização dos termos assinados. Isso acarretou mudanças no formato de retorno dos termos enviados. A fim de facilitar o retorno do participante, sugeriu-se que concordância e autorização fossem realizadas via aplicativo de WhatsApp, ferramenta bastante utilizada e de agilidade na resposta. Desse modo, após a leitura dos termos os participantes enviavam mensagem de texto pelo aplicativo sinalizando seu posicionamento através das frases: “Estou ciente e concordo em participar da pesquisa” e “Autorizo o uso de minha imagem (vídeo) e minha voz”. Apenas um participante realizou a assinatura digital e retornou por e-mail. Nesse momento foram coletadas as informações de caracterização socioprofissional. Inicialmente esses dados seriam coletadas no encontro presencial, mas no novo cenário optou-se em adianta-las a fim de deixar o momento da discussão apenas em torno das questões críticas da coleta de dados. Esses contatos ocorreram na semana anterior ao encontro. No dia anterior a realização, os participantes receberam um lembrete sobre o grupo focal online. Foi enviado um documento com orientações para o bom funcionamento (Apêndice C) e solicitou-se o envio de possíveis pendências (concordância dos termos ou dados socioprofissionais). No dia do encontro, trinta minutos antes do horário marcado, receberam o link de acesso ao ambiente virtual.

A conveniência, custo reduzido e da rapidez para coletar e registrar são vistas como vantagens do método online. Entretanto, os participantes dos grupos focais online precisam ter familiaridade com as ferramentas. O número de participantes depende da experiência do pesquisador na tentativa de evitar falha no processo. Como problema, no grupo focal online também há ausência dos convidados, pois de desistência que varia de 10% a 50% (GAISER, 1997 apud ABREU; BALDANZA; GONDIM, 2009). Os grupos focais, em geral, tem a participação entre seis a doze pessoas (DUARTE, 2007 apud

BORDINI; SPERB, 2011). Os pesquisadores costumam manter esse número de participantes nos grupos online.

A meta inicial era garantir o quantitativo mínimo de 12 pessoas, para tanto foram sendo realizados contatos até atingir esse quantitativo. Ao todo, foram convidados 18 participantes. Desses, concordaram em participar 13 sujeitos. Porém apenas 12 compareceram – sendo seis participantes em cada grupo. Um dos convidados do primeiro grupo, um desistiu 24 horas antes por um compromisso de trabalho que não estava previsto. Dos demais convites realizados, dois retornaram explicando que já possuíam compromissos agendados e os outros não responderam ao contato por e-mail e/ou telefone institucional. Portanto, nessa pesquisa se manteve o número inicial de 12 participantes. Por ser um encontro virtual, sem a participação de um observador, o quantitativo de seis participações em cada encontro se tornou viável para a condução da pesquisadora. O primeiro grupo foi agendado para o dia 26/05/2020 e o segundo para o dia 28/05/2020.

Esse número é reforçado por Schröeder e Klering (2009). Eles explicam que tanto para os grupos presenciais quanto para os online, devem ser constituídos por 6 a 10 pessoas - em limites extremos, de 4 a 12 participantes. Para os autores, em sessões síncronas a duração é de 90 minutos, não há consenso com relação à quantidade de questões e o número de sessões. Ao analisarem pesquisas que utilizaram grupos online, Bordini e Sperb (2013) verificaram que os participantes são recrutados por conveniência e a devolução dos TCLE ocorre por meios virtuais conforme adotado no presente estudo.

Nos grupos síncronos a participação ocorre em tempo real, de forma simultânea por meio de programas de computador. Nessa pesquisa, optou-se pelo programa Google

Meet (https://meet.google.com/), o mesmo utilizado nas entrevistas de validação pois ele

garante a confidencialidade dos dados e possibilita a gravação de imagem e voz. Além disso, possibilita uma videoconferência, onde os participantes podem se ver simultaneamente, bem como participar através de mensagens do chat. Tanto a gravação quanto as conversas registradas no chat são enviadas para o e-mail da organizadora da sala de reunião automaticamente.

A condução da discussão foi feita pela pesquisadora que se utilizou do roteiro previamente validado. Os grupos focais online síncronos também costumam contar com um roteiro de questões elaborado previamente e não apresentam diferença em relação àquele utilizado nos grupos focais presenciais (BORDINI; SPERB, 2011). De acordo com Abreu, Baldanza e Gondim (2009) o papel do moderador é o de facilitar a interação no grupo, conduzindo a discussão para que o grupo explore ao máximo o assunto abordado. Um

observador também pode auxiliar na interação, ele tem a função de auxiliar o moderador na condução do grupo e tomar nota das principais expressões verbais e principalmente não- verbais, e ficar sempre atento aos equipamentos audiovisuais utilizados. Entretanto, como o presente estudo realizou o registro de imagem, optou-se por não ter esse membro já que essas observações poderiam ser realizadas pela pesquisadora na análise do material gravado.

No dia do encontro, quando o participante clicou no link enviado 30 minutos antes, o programa gerou para a organizadora da sala um pedido de autorização para entrar no ambiente, por meio dessa autorização houve o acesso ao local da reunião. Os participantes foram recepcionados pela pesquisadora no ambiente virtual e consistiu nas boas vindas, agradecimento pela disponibilidade e apresentação da pesquisadora e do estudo a ser realizado. Em seguida, para facilitar a interação, foi solicitada uma breve apresentação pessoal na qual relataram o nome, a chefia que representavam e o tempo na gestão. Após esse momento, foi solicitada a autorização para iniciar a gravação – todos enviaram antecipadamente o termo de autorização para gravação.

Em seguida, a pesquisadora realizou uma transmissão da sua apresentação inicial por meio da exposição de slides do Power Point. Portanto, semelhante ao formato presencial, antes de iniciar a aplicação da técnica, foram apresentados: o objetivo da pesquisa e do encontro; o contrato grupal; o funcionamento dessa atividade em grupo; o papel do moderador; e os principais pontos que iriam ser discutidos. Dentre as orientações para esse momento estão: 1) falar uma pessoa de cada vez; 2) evitar discussões paralelas para que todos possam participar; 3) dizer livremente o que pensa; 4) evitar o domínio da discussão por parte de um dos integrantes; 5) manter a atenção e o discurso na temática em questão (GONDIM, 2002). Além disso, por estarem ocorrendo em um ambiente virtual, houve orientações sobre os recursos tecnológicos que estavam sendo usados como, por exemplo, a alternativa de ativar e desativar o microfone durante a discussão, a possibilidade de utilizar o chat para concordar ou discordar do colega como forma de registro automático. Posteriormente, poderia complementar a fala na discussão.

O contrato grupal enviado antecipadamente no dia anterior e foi apresentado novamente para todos a fim de firmar a concordância grupal com os participantes (Apêndice C). Aconselha-se que o moderador do grupo estabeleça regras de confidencialidade com os participantes antes do início da discussão online, ressaltando a importância de que as informações ali fornecidas não sejam relatadas a terceiros (KRALIK

et al., 2006 apud BORDINI; SPERB, 2011). Nesse sentido, o contrato grupal também veio

a colaborar.

Após essa apresentação inicial, deu-se início a condução do grupo. Foi realizada verbalmente a primeira pergunta e ela ficou registrada no chat. Esse foi um canal de apoio na comunicação durante a condução do grupo. Por exemplo, enquanto um membro falava os demais expressavam por escrito à concordância ou discordância com o que estava sendo exposto, bem como complementava a fala do colega. Quem estava falando percebia a complementação, pois a mensagem de texto aparecia na tela para todos os participantes. Foram realizadas quatro perguntas norteadoras e foi destinado um tempo de 20 minutos de discussão. O procedimento se repetiu em todas as questões, sempre tentando manter o tempo de discussão. Os participantes se sentiram a vontade para comentar, e cada pergunta teve a participação de todos. Nesse momento houve uma rica interação entre os membros com concordâncias, complementações e discordâncias. Procurou-se ser disciplinado com o tema e o tempo de realização que durou aproximadamente 2 horas.

Após a finalização de um dos grupos, foi necessário ficar cerca de 30 minutos com uma das pessoas que participaram, pois o conteúdo abordado foi mobilizador de sentimentos e lembranças negativas vivenciadas no trabalho, como previsto na análise de possíveis riscos da pesquisa. Esse espaço foi importante para conversar sobre aspectos específicos da sua realidade que necessitavam de uma escuta psicológica.

Por fim, é importante destacar que para a condução do grupo focal, moderador deve manter o foco sobre as temáticas selecionadas e interesses do estudo, ao mesmo tempo deve ter habilidade de possibilitar a expressão espontânea dos membros (GONDIM, 2002). Segundo Bordini e Sperb (2011), na execução de um grupo focal online síncrono o moderador segue um guia de entrevista e precisa ter sensibilidade para identificar o momento adequado de anunciar a finalização do encontro. Realizada de maneira satisfatória a coleta dos dados, eles foram submetidos a uma análise que permitiu interpreta-los. Esse processo encontra-se descrito na próxima seção.