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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.2 Saúde psíquica e trabalho

2.2.2 Contexto de trabalho

O estudo sobre esse campo do saber teve início diante das demandas do setor industrial que solicitava respostas técnicas para adaptar o homem às condições da indústria. Portanto, inicialmente os estudos se detiveram mais aos atributos pessoais, deixando uma atenção menor aos aspectos do próprio trabalho e do seu entorno. Um dos trabalhos pioneiros na área foi realizado por Elton Mayo que buscou verificar os efeitos da iluminação no desempenho dos trabalhadores. Para além do seu objetivo inicial, foi possível observar a influência dos aspectos sociais e interpessoais no ambiente do trabalho (BORGES et al., 2015).

A relação e influência do contexto de trabalho sobre a saúde psíquica vêm sendo tópico de análise das diversas abordagens que se destinam a compreender esse fenômeno de saúde mental. Entretanto, a descrição desse constructo irá depender do embasamento teórico adotado. O contexto de trabalho é conceituado por Ferreira, Almeida e Guimarães (2013) como envolvendo aspectos da organização do trabalho, processos, relações sociais e condições de trabalho, sendo um espaço material, organizacional e social no qual se realiza o trabalho. O quadro 03 apresenta a caracterização realizada pelos autores:

Quadro 03 – Aspectos que envolvem o contexto de trabalho

CONTEXTO DE PRODUÇÃO DE BENS E SERVIÇOS Condições de trabalho (Elementos estruturais) Relações Socioprofissionais (Elementos interacionais) Organização do trabalho (Elementos prescritos) “Caracterizam a infraestrutura, o apoio institucional e as práticas administrativas. Os elementos que a integram são o ambiente físico, os instrumentos, os equipamentos, a matéria-prima, as informações, os suprimentos e as políticas de gestão de pessoal”. “Caracterizadas pelas relações hierárquicas, interações coletivas com membros da equipe e de outros grupos de trabalho e relações externas com consumidores, fornecedores e outros representantes institucionais”.

“Constitui-se pelos elementos prescritos que expressam as concepções e as práticas de gestão de pessoas e do trabalho, por exemplo, a natureza das tarefas, as regras formais, e o ritmo e a produtividade esperados.”

Fonte: Ferreira, Almeida e Guimarães (2013, p. 567).

O detalhamento da descrição dos elementos que constituem cada uma das dimensões do contexto de trabalho pode ser encontrado no quadro 04, exposto a seguir:

Quadro 04 – Descrição das dimensões do contexto de trabalho

Condições de trabalho

Instrumentos – Ferramentas, máquinas, documentação

Ambiente físico –Sinalização, espaço, temperatura, ar, luz e som Matéria-prima – Objetos materiais, simbólicos e informacionais

Equipamentos – Materiais, aspectos arquitetônicos, aparelhagem, mobiliário Suporte Organizacional – Informações, suprimentos e tecnologias

Políticas de gestão de pessoal – Remuneração, desenvolvimento, benefícios

Relações

socioprofissionais

Relações coletivas – Colegas de equipe e de outras equipes Relações hierárquicas – Chefias imediatas e chefias superiores

Relações externas – Usuários, consumidores e representantes institucionais

(fiscais, fornecedores)

Organização do trabalho

Produtividade esperada – Metas, qualidade, quantidade Divisão do trabalho – Hierarquia, técnica e social

Regras formais – Missão, normas, legislação e procedimentos Regras informais – Ofícios, hábitos e práticas

Ritmos – Prazos e pressões Tempo – Jornadas, pausas e turnos

Controles – Supervisão, fiscalização e disciplina

Fonte: Adaptado Ferreira e Mendes (2003) apud Ferreira, Almeida e Guimarães (2013, p. 568). Já Borges et al. (2015) optam pelo conceito de condições de trabalho e esclarecem que ele envolve uma diversidade de fenômenos, abarcando as circunstâncias em que o trabalho se realiza e afetando a experiência do trabalhador e sua qualidade de vida.

O termo condições de trabalho é utilizado de forma ampla e inespecífica nas diversas ciências humanas. Porém, na Psicologia, esse constructo está atrelado às consequências psicossociais do trabalho (RAMOS; PEIRÓ; RIPOLL, 2002 apud BORGES

et al., 2013). Borges et al. (2013) apresentam alguns conceitos de condições de trabalho de

Quadro 05 - Conceitos sobre condições de trabalho

AUTORES CONCEITO

Tiffin e McCormick (1942/1959)

Faz referência ao contexto do cargo cujas categorias são: iluminação, condições atmosféricas, ruído, música, jornada de trabalho e sua organização.

Muchinsky (1994)

Estressores físicos; aspectos ergométricos, biomecânicos e fisiológicos; fadiga física, mental e laboral; acidentes de trabalho e sua relação com traços pessoais do trabalhador; trabalho em turnos; alcoolismo e abuso de drogas, relacionados com outras áreas da vida do indivíduo.

Prieto (1994)

Envolve o conteúdo, o ambiente de trabalho e os aspectos do emprego e salariais. Aspectos relativos ao emprego, como a regulação do mercado de trabalho, as condições jurídicas de contratação, a estabilidade versus a instabilidade do emprego, a natureza dos postos de trabalho e os critérios de seleção adotados pelas empresas também precisam ser considerados.

Ramos e cols. (2002)

São os fatores físicos, as circunstâncias temporais e as condições sobre as quais os trabalhadores realizam seu trabalho. Contempla seis categorias: condições de emprego, condições ambientais, condições de segurança, características da tarefa, processo de trabalho, e condições sociais ou organizacionais.

Blanch (2003)

Conjunto de circunstâncias em que se desenvolvem as atividades laborais, envolvem a experiência laborativa e a dinâmica das relações de trabalho.

Fonte: Adaptado de Borges et al. (2013).

De acordo com Garrido (2005) apud Alves Filho e Costa (2013), as condições de trabalho envolvem diversas variáveis de uma tarefa concreta bem como o entorno em qual esta se realiza. Contempla os fatores físicos do trabalho; o lugar de trabalho; o tempo; os ritmos de trabalho; o controle e autonomia; o conteúdo do trabalho; os sistemas de incentivo; a informação e participação no trabalho; a igualdade de oportunidades e a violência no lugar de trabalho.

Borges et al. (2015, p. 230) apresentam as grandes categorias que constituem a complexidade das condições de trabalho e detalha os conceitos referentes a cada uma delas no quadro 06.

Quadro 06 – As grandes categorias das condições de trabalho

CATEGORIA CONCEITO

Condições contratuais e jurídicas

Referem-se ao conjunto de aspectos jurídicos (autônomo versus emprego), contratuais, no caso do emprego (formal ou informal), de estabilidade do contrato (instável ou estável) e às modalidades de contrato formal (temporário, por tempo indefinido). Abrange ainda aspectos como o sistema de incentivo (retribuições) e as definições do tempo a ser dedicado ao trabalho.

Condições físicas

São os componentes mais concretos. Referem-se ao entorno das atividades de trabalho no que diz respeito às condições físicas, ao espaço arquitetônico e às instalações, às condições de segurança física e/ou material e às formas em que se lida com o impacto do espaço geográfico e condições climáticas sobre o trabalho.

Processos e características da atividade

Abrange os aspectos que dizem respeito ao conteúdo das atividades de trabalho, à organização e divisão do trabalho, às demandas do posto de trabalho, aos modos de execução das atividades e ao desempenho do trabalhador.

Condições do ambiente sóciogerencial

Diz respeito aos aspectos relacionados às interações interpessoais (sejam horizontais ou verticais), às práticas sociais relativas à gerencia ou a gestão quando se trata do trabalho na forma de emprego (já que as condições de trabalho adquirem uma dimensão organizacional) e às práticas sociais decorrentes da inserção no mercado de trabalho (parcerias, redes de trabalho formais ou informais).

Fonte: Borges et al. (2015, p. 230).

Em seguida, Borges et al. (2015) realizam um aprofundamento através de subcategorias associadas a cada uma dessas categoria, bem como apresenta o referido conceito.

Quadro 07 – Subcategorias das condições de trabalho

CATEGORIA: CONDIÇÕES CONTRATUAIS E JURÍDICAS

Subcategoria Conceito

Regime jurídico Refere-se ao trabalho ou emprego, bem como as condições de contratação nesse último.

Sistema de incentivo A variedade e formas de contrapartidas socioeconômicas oferecidas pelo trabalho realizado.

Tempo

Quantidade de horas dedicadas ao trabalho, a organização dessa quantidade e estabilidade ou não dessa organização.

CATEGORIA: CONDIÇÕES FÍSICAS E MATERIAIS

Subcategoria Conceito

Fatores físicos do trabalho Ambiente físico que o trabalho é desenvolvido. Lugar do trabalho (Espaço físico)

Espaço suficiente para desenvolver a atividade laboral, sua distribuição, configuração e relações que se estabelecem no espaço.

Desenho espacial arquitetônico Espaço, materiais e equipamentos necessários ao desempenho do trabalho.

Condições de segurança

Ameaças a integridade físico-corporal dos trabalhadores, bem como as práticas de prevenção das ameaças e suas consequências.

CATEGORIA: PROCESSOS E CARACTERÍSTICAS DA ATIVIDADE

Subcategoria Conceito

Controle e Autonomia

Controle do trabalhador sobre os modos de execução de suas atividades, bem como sobre o tempo, ritmo e demais condições de trabalho.

Ritmos de trabalho Velocidade, cadência e sequência das atividades. Conteúdo do trabalho Características da atividade

Processo

Formas de organização e distribuição das atividades e encargos de trabalho, aos métodos e técnicas de produção.

Papel social Funções sociais implicadas na realização ou execução das atividades.

CATEGORIA: CONDIÇÕES DO AMBIENTE SÓCIOGERENCIAL

Subcategoria Conceito

Igualdade de oportunidades

Modos acessíveis ao trabalhador para lidar com as oportunidades existentes no mercado de trabalho e como suas atividades o projetam diante da sociedade.

Informação e participação

Acesso a informações e possibilidades de participar e influir nos processos decisórios referentes aos processos e demais condições de trabalho.

Clima organizacional

Características das relações interpessoais do ambiente sociogerencial, sejam essas relações horizontais ou verticais.

Violência no local de trabalho

Aspectos que expõem o trabalhador a situações de agressão (física, moral, e psicossocial) e sofrer discriminações sociais e humilhações.

Essas subcategorias podem ter sentidos distintos por ocupação profissional. Borges

et al. (2013) realizou um estudo com o objetivo de propor um questionário sobre as

condições de trabalho, para tanto desenvolveu um instrumento para operários da construção civil e outro para docentes da educação superior e profissionais de saúde. O quadro 08 detalha os fatores encontrados para docentes e profissionais de saúde para três categorias das condições de trabalho que apresentam fatorabilidade, são elas: condições físicas e materiais, processos e características da atividade e ambiente sociogerencial.

Quadro 08 – Fatores encontrados para docentes e profissionais de saúde

FATORES DEFINIÇÃO

Condições Físicas e Materiais Aspectos

psicobiológicos

Percebe-se exposto a riscos do ambiente físico e material que podem ter impacto na saúde (corporal e psíquica).

Espaço de trabalho

Percebe-se exposto a realizar as atividades dentro de instalações específicas e/ou quanto é necessário ser realizado no campo e no espaço virtual.

Aspectos fisioquímicos

Percebe-se exposto a aspectos do ambiente físico e material do trabalho, como presença de vapores, fumaça e poeira, temperatura e iluminação.

Exigências do esforço físico

Percebe-se exposto a atividades de trabalho de execução mecânica e movimentos repetitivos, com uso de máquinas e equipamentos.

Riscos de acidentes Percebe-se exposto a diferentes riscos de acidentes de pequeno porte, incapacitantes e fatais.

Processos e características da atividade

Espaço de autonomia

Na organização do trabalho, contar com a possibilidade de decidir de forma autônoma pelos métodos, planejamento e ritmo do que se realiza. Espaço de ação.

Complexidade, responsabilidade e rapidez

Quanto se exige do trabalhador execução de tarefas complexas, rapidez, responsabilidade por danos e iniciativa diante do imprevisto.

Organização do tempo Quanto de autonomia se dispõe para organizar o próprio trabalho no tempo, planejar intervalos, folgas e férias.

Estímulo a colaboração

Quanto é possível contar com a colaboração dos pares e colaborar com eles na realização do trabalho.

Condições do ambiente sociogerencial Organização das

atividades

Refere-se à natureza e à distribuição das atividades no ambiente de trabalho. Revela o aspecto da percepção do participante sobre o

exercício da função gerencial organizativa, o que justifica a denominação.

Infraestrutura e pressão

Refere-se a pressões diretas e indiretas (por meio da fragilidade infraestrutural): exposição a situações de falta de equipamentos e material de trabalho e percepção de exigências desproporcionais às condições de infraestrutura.

Oferta de informação de saúde

Diz respeito à percepção dos participantes sobre ações gerenciais de prevenção a acidentes de trabalho e a problemas de saúde ocupacionais, informando o trabalhador sobre os riscos existentes.

Discriminação social

Refere-se a sujeição dos participantes a situações de discriminação baseadas em traços pessoais (idade, altura, cegueira, sexo, etc), fazendo parte da dimensão sobre o qual ambiente sociogerencial alude. Portanto, a percepção do participante quanto ao gerenciamento na organização que minimiza ações discriminatórias.

Participação

Itens referentes à percepção dos participantes sobre as práticas interativas de consulta sobre mudanças na organização do trabalho e de abertura ao diálogo em torno do desempenho no trabalho.

Violência

Itens que aludem a ameaças de violência físicas, agressões verbais, intimidações, perseguições e discriminação sexual. Refere-se, portanto, à amistosidade das relações interpessoais.

Ambiente conflitante

Refere-se a percepção do participante sobre a possibilidade de ser envolvido em conflitos interpessoais e em situações que divergem de seus valores e princípios.

Fonte: Costa, Borges e Barros (2015, p. 46).

Observa-se que os modelos apresentado por Ferreira, Almeida e Guimarães (2013), de Borges et al. (2013) e Borges et al. (2015) possuem aproximações. Apesar de tratarem o fenômeno com nomenclaturas diferentes (contexto de trabalho e condições de trabalho), três categorias apresentadas possuem semelhanças. No presente estudo, optou-se por utilizar como norteador as grandes dimensões apontadas por Ferreira, Almeida e Guimarães (2013) e as descrições das subcategorias detalhadas por estes autores, bem como as apresentadas por Borges et al. (2015) e Borges et al. (2013), que apresentam estudos com docentes universitários. A conexão entre as teorias apresentadas permite uma análise mais ampla dos aspectos que compõe cada uma das grandes categorias e suas subcategorias, conforme o quadro 09.

Quadro 09 – Contexto de trabalho e condições de trabalho

Contexto de trabalho e Condições de trabalho

Ferreira, Almeida e Guimarães (2013)

Condições de trabalho Relações

Socioprofissionais Organização do trabalho Borges et al.

(2015)

Condições físicas Condições do ambiente sóciogerencial

Processos e características da atividade

Subcategorias associadas as dimensões por autores

Borges et al. (2015) Fatores físicos do trabalho Lugar do trabalho (Espaço físico) Desenho espacial arquitetônico Condições de segurança Igualdade de oportunidades Informação e participação Clima organizacional Violência no local de trabalho Controle e Autonomia Ritmos de trabalho Conteúdo do trabalho Processo Papel social Borges et al. (2013) Aspectos psicobiológicos Espaço de trabalho Aspectos fisioquímicos Exigências do esforço físico Riscos de acidentes

Organização das atividades Infraestrutura e pressão Oferta de informação de saúde Discriminação social Participação Violência Ambiente conflitante Espaço de autonomia Complexidade, responsabilidade e rapidez Organização do tempo Estímulo à colaboração Ferreira e Mendes (2003) apud Ferreira, Almeida e Guimarães (2013) Instrumentos Ambiente físico Equipamentos Suporte organizacional Políticas de gestão de pessoas Relações coletivas Relações hierárquicas Relações externas Produtividade esperada Divisão do trabalho Regras formais Regras informais Ritmos Tempo Controles Fonte: Elaborado pela autora (2020).

A exemplificação da relação entre condições de trabalho e saúde psíquica foi observada no estudo de Costa, Borges e Barros (2015) em hospitais universitários. As análises demonstram que a saúde psíquica sofre influência das condições laborais. Observa-se que “há uma tendência de que, quanto mais desfavoráveis as condições de trabalho, mais deteriorada será a saúde psíquica e os afetos com relação ao trabalho, repercutindo novamente no ambiente de trabalho” (COSTA; BORGES; BARROS, 2015, p. 55).

É importante destacar que as condições de trabalho aparecem também como preditor da força motivacional, e os aspectos motivacionais possuem impacto no bem-estar dos trabalhadores (ALVES FILHO; COSTA, 2013). Isso fica evidente no estudo realizado

com profissionais das Unidades Básicas de Saúde, verificou-se que a maioria dos profissionais apresentou força motivacional moderada e em queda, por vivenciarem e perceberem um contexto deteriorado com condições de trabalho desfavoráveis (ALVES FILHO; BORGES, 2014). Nessa pesquisa, Alves Filho e Costa (2013) observaram entre profissionais de saúde um contexto em degradação, devido o falta de materiais, de equipamentos, de profissionais, de capacitação, de equidade, na falta de plano de carreira, cargos e salários justo e adequado, dentre outros. Verificou-se que o ambiente organizacional contribui de forma negativa para a motivação dos profissionais.

Segundo Zanelli (2015), a depender de como o trabalho está organizado e/ou das condições que apresenta podem surgir riscos a saúde dos trabalhadores. O autor esclarece que os riscos psicossociais são circunstâncias imediatas ou mediatas que aumentam a probabilidade de ocorrer eventos indesejáveis ou danos, sejam de natureza física, psicológica ou social revelados por inadequações, mal-estar ou sofrimento. Zanelli (2015, p. 591) destaca que:

a vulnerabilidade aos riscos está relacionada aos contratos de trabalho precarizados, subcontratações, jornadas prolongadas, pressões por produção, metas progressivamente elevadas, incremento de carga mental e emocional, insegurança nos postos de trabalho, trabalho em mercados laborais estáveis e imprevisíveis, recrudescimento da competitividade, menor número de trabalhadores para rotinas de mais trabalho, avaliação de desempenho mais detalhada, compensações reduzidas, carência de apoio social, envelhecimento da população ativa, postergação da idade para a aposentadoria, desequilíbrio entre vida pessoal e de trabalho e outros fatores.

Portanto, as avaliações e intervenções nos riscos psicossociais são capazes de estabelecer ambientes satisfatórios tanto na perspectiva organizacional quanto individual, promovendo atuações saudáveis e produtivas (ZANELLI, 2015). De acordo com Carreteiro (2015), as transformações ocorridas no trabalho trouxeram consigo riscos psicossociais que são traduzidos em estresse, sofrimento no trabalho, fenômenos de assédio moral, burnout e suicídio.

É preciso que a saúde do trabalhador seja pensada de forma preventiva, envolvendo todos os níveis organizacionais (gestores, chefias, subordinados). Para Araujo e Oliveira (2019) é necessário conhecer a que riscos os trabalhadores estão expostos nos contextos de trabalho, esse é o caminho para a promoção da saúde e segurança ocupacional, colaborando para a redução do absenteísmo e readaptação ao trabalho. Os autores destacam resultados publicados pela European Agency for Safety and Health at Work que ao

estudarem os riscos psicossociais em países europeus verificaram problemas na organização do trabalho, como: pressão excessiva, planejamentos sem a presença dos trabalhadores e seus representantes sindicais, gestores autoritários, falta de capacitação com o aumento de absenteísmo e adoecimento nas organizações (AGÊNCIA EUROPÉIA PARA A SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO, 2015 apud ARAUJO; OLIVEIRA, 2019).

Os riscos psicossociais são entendidos como decorrentes dos efeitos negativos da organização do trabalho sobre os estilos de gestão, sofrimento patogênico e danos físicos, psicológicos e sociais, e que provocam o adoecimento do trabalhador e comprometem a qualidade do trabalho (FACAS, 2013, p. 29 apud ARAUJO; OLIVEIRA, 2019, p. 5). É possível verificar, a partir das colocações de Cardoso (2015) que, a complexidade do trabalho engloba as formas de organização, de gestão, o processo de trabalho, suas situações e condições, as relações sociais, o ambiente e uma ampla gama de outros condicionantes. Jacques (2007) explica que a análise da experiência subjetiva do trabalhador é recomendada por autores, clássicos e contemporâneos. Orienta que preciso considerar nos estudos a observação detalhada do trabalho e da vivência do trabalhador. Nessa perspectiva, é importante a realização de pesquisas que identifiquem “as condições, organizações, tecnologias e relações de trabalho que determinam a carga de trabalho física, emocional e psicológica, a partir da vivência e da percepção daquele que suporta tal carga, o trabalhador” (CARDOSO, 2015, p.79).

Nesse sentido, as organizações precisam não só compreender o contexto de trabalho vivenciado pelos sujeitos, como também desenvolver ações que visem à promoção da saúde psíquica e o gerenciamento dos fatores que geram o sofrimento psicológico.