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4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.2 A experiência de ser um gestor universitário

4.2.1 Chegada à gestão

Esta categoria é composta pelas seguintes subcategorias: “Tempo e funções desempenhadas”; “Falta de conhecimento”; “Contexto de acesso à gestão”; e, “Especificidades do departamento que influenciam na gestão”.

A primeira subcategoria “Tempo e funções desempenhadas” versa sobre o relato do tempo de exercício na gestão e funções que foram desempenhadas pelos participantes. A partir das falas é possível observar que há uma diversidade entre os participantes, há chefes que assumiram esse mandato com certo tempo de instituição e experiência anteriores, assim como há quem tinha pouquíssimo tempo na UFRN:

Bom [...] eu já tenho alguma experiência de gestão antes da chefia de departamento, então não teve muito segredo. (CHEFIA 4, 2020).

Nesse momento eu estava há menos de um ano na universidade [...]. [Risos] (CHEFIA 7, 2020).

A diversidade no tempo e funções de gestão desempenhadas pelos participantes foi detalhada na fase da caracterização da amostra. Sobre os docentes iniciantes, Tauchen et al. (2016) verificou em seu estudo que muitos assumem a gestão e essa atuação se torna especialmente difícil nesse momento inicial. “A falta de conhecimentos referentes e a própria cobrança, seja pessoal ou social, podem desencadear situações de frustração e stress que afetam o docente no desenvolvimento das outras atividades como o ensino e a

pesquisa.” (TAUCHEN et al. 2016, p. 270). Apesar de não ter sido verificada essa realidade na maioria dos participantes desse estudo, a pesquisa de Santana (2019), também realizada com chefes de departamento da UFRN, verificou a maioria dos chefes de departamento pesquisados possuíam menos de três anos na instituição e passaram a assumir a função de gestão do departamento. Essa realidade é representada pela fala da Chefia 7 (2020) que não possuía muito tempo na instituição ao assumir o cargo.

Ao descrever sobre o contato inicial com a gestão, um ponto bastante citado foi a “Falta de conhecimento”. Nessa subcategoria, ficou claro que os participantes não tiveram uma preparação prévia para o cargo, que desconhecem a competências e atribuições esperadas pela função assumida, e que depois de já estarem no cargo é que se inicia o processo de aprendizagem sobre os aspectos que envolvem a gestão.

Quando eu entrei na chefia não tinha a menor noção do que era ser chefe (CHEFIA 3, 2020).

Então eu também assumi a chefia assim no susto [...] (CHEFIA 5, 2020). [...] você tem que entrar com o barco andando, você tem que se virar [Risos] (CHEFIA 10, 2020).

A necessidade de formação e desenvolvimento é recorrente em vários estudos sobre professores-gestores universitários (ÉSTHER, 2011; KANAN; ZANELLI, 2011; PINTO; MARTINS; FARIA, 2019; REATTO; BRUNSTEIN, 2018; SANTANA, 2019; SANTOS; BRONNEMANN, 2013; SILVA et al., 2013). Conforme a literatura da área, a necessidade de capacitação é verificada em todas as funções de gestão na universidade, envolvendo: coordenadores de curso de graduação, coordenadores de pós-graduação, chefes de departamento, diretores de centro, pró-reitores, reitores, entre outras.

No que se refere à função de Chefia de Departamento, Reatto e Brunstein (2018) reforça que essa preparação se faz necessário, pois se trata de uma categoria sobrecarregada com cobranças e responsabilidade por resultados. Quando não há uma preparação prévia, os chefes desenvolvem suas habilidades por meio de: tentativa e erro; observação, aprendendo com os demais; experiência e trajetória organizacional; iniciativa própria e curiosidade (REATTO; BRUNSTEIN, 2018). Na UFRN, mesmo existindo atividades de capacitação para gestores, o estudo de Santana (2019) verificou 80% dos participantes citam que não há obrigatoriedade de participação em treinamentos. É notória, portanto, a importância da capacitação sobre aspectos específicos da sua atuação como gestor, não só a oferta por parte da instituição, mas também a adesão dos gestores as atividades de capacitação que são disponibilizadas.

A subcategoria “Contexto de acesso à gestão” buscou agrupar os aspectos referentes a o que levou os participantes a assumirem a gestão e como estava o clima de trabalho. Chama a atenção que alguns assumiram em um contexto de conflitos interpessoais, processos administrativos e judiciais, assim como desmembramento de grupos.

Quando eu assumi havia uma questão escancarado de perseguição, muitos processos e acontecendo [...] não tenho envolvimento emocional com nenhum grupo, [...]. Bom, eu vou tentar assumir essa situação (CHEFIA 7, 2020).

Ninguém queria sumir, tendo em vista a situação de conflitos [...] E aí um colega, na época eu achei muito infeliz a colocação dele, sugeriu que eu assumisse [...]. Aí eu não me candidatei, os colegas que escreveram a chapa [Risos]. (CHEFIA 6, 2020).

Essa última fala retrata uma situação que não é rara em algumas funções de gestão. Essa realidade de não querer atuar na gestão também foi descrita na pesquisa realizada por Pinto, Martins e Faria (2019) que apresentaram o seguinte relato feito por um de seus participantes: “ninguém quer ser coordenador de curso e nem chefe de departamento, então é um rodízio mesmo e vai fazendo uma listinha mesmo, você já foi, agora é o outro” (E07

apud PINTO; MARTINS; FARIA, 2019, p. 61).

Muitos chefes antes de contar sobre como vivenciam essa experiência na gestão, sentiram a necessidade de explicar questões significativas presentes no departamento que terminam exercendo influencia na gestão, pediram para contextualizar a realidade do departamento. Essas descrições ajudaram a entender o que posteriormente iria ser exposto. As informações foram agrupadas na subcategoria “Especificidades do departamento que influenciam na gestão”.

A gente trabalha muito aula prática... Então a gente tem uma demanda muito grande, né? De insumos e de equipamento. (CHEFIA 4, 2020). [...] a gente tem bastante técnicos de laboratórios no meu caso. (CHEFIA 6, 2020).

[...] Complexidade se dá também por conta de que reúne [...] áreas, que [...] tem alguma proximidade mas são muito divergente. (CHEFIA 7, 2020).

E tem um foco em pesquisa muito forte. (CHEFIA 8, 2020).

A frequência de aparição das quatro subcategorias citadas encontra-se descrita na tabela 06.

Tabela 06 – Chegada à gestão

Categoria 1 - Chegada à gestão

Subcategorias Frequência

Tempo e Funções desempenhadas 11

Falta de conhecimento 13

Contexto de acesso à gestão 13

Especificidades do departamento que influenciam na gestão 11 Fonte: Elaborada pela autora (2020).