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CAPÍTULO IV – METODOLOGIA

4.5. Análise de Dados

Procedermos à verificação da informação mais relevante e considerarmos os aspetos mais significativos, dos dados recolhidos ao longo das entrevistas, suscitou um conjunto de opções que interessa fundamentarmos.

Após a recolha de dados num estudo de investigação, os dados recolhidos apresentam-se como dados brutos, que só terão significado ao serem trabalhados de acordo com uma técnica da análise apropriada. A este propósito Bardin (2011) elucida- nos, ao descrever que “a análise documental tem por objectivo dar forma conveniente e representar de outro modo essa informação, por intermédio de procedimentos de transformação” (p. 47).

4.5.1. Técnica utilizada – Análise de conteúdo

Neste sentido, ao termos em conta toda a informação recolhida através da informação transcrita da opinião dos entrevistados, selecionamos como o procedimento de análise mais adequado, a técnica de análise de conteúdo, baseando-nos na descrição do conteúdo das mensagens ou indicadores que permitam fazer inferências por identificação sistemática e objetiva das caraterísticas específicas das mensagens (Holsti, 1968, citado em Esteves, 2006).

Sousa (2005) apresenta-nos a análise de conteúdo como um conjunto de procedimentos diversos que nos permite analisar um ou mais documentos, com o propósito de depreender o seu conteúdo inerente, profundo, oculto sob o aparente, procurando descobrir conteúdos ocultos e mais penetrantes.

Quivy e Campenhoudt (1998) comungam de ideias similares ao referirem que a análise de conteúdo oferece a possibilidade de tratar de forma metodológica informação que apresente um certo grau de profundidade e de complexidade, como, por exemplo as descrições das entrevistas. Permitindo-nos ainda, “satisfazer harmoniosamente as exigências do rigor metodológico e da profundidade inventiva” (p. 227).

Vala (1986, citado em Pereira & Leitão, 2007b, p. 10) aponta a análise de conteúdo como forma de: “descrever fenómenos, (nível descritivo), descobrir associações entre fenómenos (nível correlacional), descobrir relações de causa efeito entre fenómenos (nível causal)”.

Neste sentido, foram analisados o conteúdo dos discursos das entrevistas, de modo a fazermos inferências sobre as perspetivas dos diretores dos diferentes Agrupamentos de Escolas. Tivemos ainda a intenção de compreender as razões que fundamentam tais perspetivas em determinados contextos educativos e socioculturais.

4.5.2. Várias etapas de análise de conteúdo

Através da revisão da literatura apercebemo-nos que todo o processo de análise de dados envolve várias etapas, como tal o mesmo é inerente à análise de conteúdo, perante tal afirmação, optamos por elencar as etapas desta técnica segundo Bardin (2011), a qual as organiza em três fases que passamos a transcrever.

A primeira fase, designada como a pré-análise, é a etapa em que se organiza o material a ser analisado com o objetivo de “tornar operacionais e sistematizar as ideias iniciais, de maneira a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das operações sucessivas, num plano de análise” (Bardin, 2011, p. 121). Este processo elabora-se por meio de quatro etapas denominadas de: a) leitura flutuante, que se refere ao estabelecimento de contato com os documentos a analisar, ou seja a circunstância em que se começa a conhecer o texto; b) escolha de documentos, que tal como é nomeado, consiste na demarcação de documentos sobre os quais se pode efetuar a análise; c) formulação das hipóteses e dos objetivos, ostentando-se a hipótese como uma afirmação provisória que nos propomos verificar, o objetivo emerge como a finalidade geral a que nos propomos; d) a referenciação dos índices e a elaboração de indicadores, o índice pode ser a alusão expressa de um tema numa determinada mensagem, após a seleção dos índices, são “determinadas operações de recorte do texto em unidades comparáveis de categorização para análise temática e de modalidade de codificação para o registo de dados” (Bardin, 2011, p. 126).

Continuamos a explanar as ideologias da referida autora, aludindo a segunda fase como: a exploração do material, consistindo no tratamento do material ou seja codificação, decomposição ou enumeração, em funções de regras antecipadamente formuladas.

A terceira fase concerne no tratamento dos resultados obtidos e sua interpretação, culminando nas propostas de inferências e interpretações de acordo com os objetivos previstos (Bardin, 2011).

4.5.3. Potencialidades da análise de conteúdo

O domínio de aplicação da análise de conteúdo é hoje uma das principais técnicas utilizadas na investigação das ciências sociais e humanas, apresentando um caráter essencialmente qualitativo, permitindo ilações explicativas e interpretativas.

Sousa (2005), apresenta-nos como uma potencialidade desta técnica, o facto de referir “o estudo de mecanismos que produzem as ocorrências, no seu contexto natural e no momento em que sucedem, procurando compreender a fenomenologia da sua estrutura e funcionamento, sem se estar confinado a quadros teóricos referenciais e a hipóteses pré-definidas” (p. 266).

Também podemos considerar uma potencialidade a caraterística da análise de conteúdo, pelo facto “de se pretender lidar com comunicações frequentemente numerosas e extensas para delas extrair um conhecimento que a simples leitura ou audição acumulativas não permitiria formar” (Esteves, 2006, p. 107).

Continuamos com o pensamento da autora citada, constituindo-se a análise de conteúdo, como uma economia de trabalho, de redução de informação, segundo determinadas regras, ao serviço da sua perceção, para além do que se permitiria alcançar através da apreensão de área das comunicações (Esteves, 2006).

Flick (2005) realça também como potencialidade o facto de ser um método analítico e a formalização do procedimento suscitar categorias que facilitam a comparação entre os diferentes casos.

Quivy e Campenhoudt (1998), de forma similar, ostentam vantagens em todos os métodos de análise de conteúdo, uma vez que o investigador não utiliza os seus próprios princípios ideológicas ou normativas para julgar as dos outros.

Posto isto, poderemos considerar que a informação recolhida através das entrevistas se presta bem a um tratamento, através da análise da enunciação e da análise estrutural, ou seja a aplicação do método de análise de conteúdo.

4.5.4. Construção de categorias

A categorização é a operação através da qual os dados (invocados ou suscitados) são classificados e reduzidos, após terem sido reconhecidos como pertinentes, de forma a reconfigurar o material ao serviço de determinados objetivos de investigação (Esteves,

Bardin (2011, p. 145) apresenta um conceito idêntico ao classificar a categorização como “uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o género (analogia), com os critérios previamente definidos”.

“As categorias constituem um meio de classificar os dados descritivos que recolheu (…), de forma a que o material contido num determinado tópico possa ser fisicamente apartado” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 221).

Vala (1986, citado em Pereira & Leitão, 2007b, p. 18) aborda a categoria de uma forma mais explícita, referindo que

é habitualmente composta por um termo-chave que indica o significado central do conceito que se quer apreender e de outros indicadores que descrevem o campo semântico do conceito. Assim, a inclusão de um segmento do texto numa categoria pressupõe a detecção dos indicadores relativos a essa categoria.

Bardin (2011) alude que a definição do sistema de categorias pode ser feita a

priori ou a posteriori, ou também através da combinação destes dois processos.

Nesta perspetiva e tendo em conta a linha de pensamento de Bardin (2011), o presente estudo de investigação, posicionou-se numa perspetiva exploratória, seguindo um percurso de descoberta. O corpus deste estudo foi constituído pela transcrição das entrevistas efetuadas aos elementos estudados. A construção do sistema categorial realizou-se a priori e a posteriori (Bardin, 2011).