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CAPÍTULO III – NOVOS CAMINHOS DA LIDERANÇA

3. Liderança

3.5. O diretor na legislação atual

O atual modelo de gestão e administração das escolas está preconizado no Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de abril, com a redação que lhe é dada pelo Decreto-Lei n.º 137/2012, de 2 de julho, ostentando uma nova perspetiva de gestão da escola, centrado na figura do diretor.

Declara-se assim um novo ciclo na forma de gestão nas escolas portuguesas, que se expressa, com um diretor como órgão unipessoal, detentor de vastos poderes e eleito pelo conselho geral.

Nesta sequência o diretor é recrutado a partir de concurso público, de entre concorrentes docentes pertencentes ou não à escola, logo que preencham os requisitos dos normativos e que será eleito pelo conselho geral depois de se realizar um procedimento concursal.

O decreto-lei supracitado esclarece-nos, sobre quem poderá ser opositor ao concurso de diretor. Reunindo as condições, todos os docentes de carreira do ensino público ou professores profissionalizados com contrato por tempo indeterminado do ensino particular e cooperativo, com pelo menos cinco anos de serviço, em qualquer uma das situações e qualificação para o exercício das funções de administração e gestão escolar (artigo, 21.º, n.º 3).

Surge-nos um princípio diferenciado relativamente à prática anterior ao admitir- -se, explicitamente, a possibilidade de para a direção de escolas estatais poderem concorrer docentes que exercem funções nos ensinos particular e cooperativo.

Fazendo referência ao n.º 4 do mesmo artigo e seguintes alíneas:

Consideram-se qualificados para o exercício de funções de administração e gestão escolar os docentes que preencham uma das seguintes condições:

a) Sejam detentores de habilitação específica para o efeito, nos termos das alíneas b) e c) do n.º 1 do artigo 56.º do Estatuto da Carreira Docente dos Educadores de Infância e dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário;

b) Possuam experiência correspondente a pelo menos um mandato completo no exercício dos cargos de diretor ou adjunto do diretor, presidente ou vice-presidente do conselho executivo, diretor executivo ou adjunto do diretor executivo; ou membro do conselho diretivo, nos termos dos regimes previstos respetivamente pelo presente Decreto-Lei, pelo Decreto-Lei n.º115-A/98, de 4 de Maio, alterado, por apreciação parlamentar, pela Lei n.º 24/99, de 22 de Abril, no Decreto-Lei n.º 172/91, de 10 de Maio, e no Decreto-Lei n.º 769-A/76, de 23 de Outubro.

c) Possuam experiência de pelo menos três anos como diretor ou diretor pedagógico de estabelecimento do ensino particular e cooperativo.

d) Possuam currículo relevante na área da gestão e administração escolar, como tal considerado, em votação secreta, pela maioria dos membros da comissão prevista no nº 4 do artigo 22.º (DL 137/212, art.º 21, n.º 4).

Ostenta-se assim, “um diretor internamente forte, um executivo que concentra mais poderes e competências, eleito pelo conselho geral na sequência de um procedimento concursal” (Lima, 2011b, p. 77).

Continuando a explanar, a referida legislação, o diretor é considerado, o órgão de administração e gestão do agrupamento de escolas ou escola não agrupada nas áreas pedagógica, cultural, administrativa, financeira e patrimonial (art.º 18).

Sendo coadjuvado por um subdiretor e por um a três adjuntos no exercício das suas funções. O número de adjuntos é determinado pela dimensão dos agrupamentos de escolas, pela sua complexidade e ainda, da sua oferta educativa.

O diretor passa assim, a ser o responsável máximo, por representar publicamente a escola, coordenar todas as atividades e agir hierarquicamente perante o pessoal docente, não docente e os alunos. A sua ação está internamente ligada às dos outros elementos da equipa de direção, visando elaborar e depois concretizar o projeto votado, bem como as decisões tomadas pelo conselho pedagógico e conselho geral (Giovana Barzanò, 2009).

Desta forma, poderemos referir que emergem novas ideologias paradigmáticas em que se verifica uma quebra do princípio da colegialidade e uma maior concentração de competências no diretor.

O projeto de intervenção supramencionado assume-se como uma obrigatividade do diretor de escolas apresentar associadamente à sua candidatura. O mesmo deverá ser elaborado tendo em conta o projeto educativo da escola e tendo como intuito verificar os problemas, definir os objetivos, estratégias e programação de atividades a desenvolver durante o mandato. Assume-se assim, como o documento categórico da descrição das linhas de atuação do diretor de escola.

Relativamente às vastas competências imputadas aos diretor, recaímos novamente no atual regime jurídico supracitado. Assim, foram criadas condições formais para uma alteração profunda nas suas competências, das quais ressalvamos as mais marcantes:

- Submeter à aprovação do conselho geral o projeto educativo elaborado pelo conselho pedagógico;

- Elaborar e submeter à aprovação do conselho geral as alterações dos documentos orientadores da gestão administrativa e pedagógica;

- Aprovar o plano de formação do pessoal docente e não docente;

- Definir o regime de funcionamento no plano da gestão pedagógica, cultural, administrativa, financeira e patrimonial;

- Assegurar e proceder à avaliação do pessoal docente e não docente, nos termos da lei vigente;

- Representar a escola;

- Exercer o seu poder hierárquico em relação ao pessoal docente e não docente e exercer o poder disciplinar em relação aos alunos em consonância com a legislação aplicável.

Dentro desta conjuntura destacamos ainda a sua apetência na designação na nomeação e exoneração do mandato dos coordenadores dos departamentos curriculares e seleção do diretores de turma.

Sintetizando, apesar de esta legislação preconizar uma concentração de poderes na figura do diretor exigindo-lhe o direito de gerir e implementar uma equipa de gestão com pessoas da sua confiança, também lhe imprime a responsabilização dos resultados obtidos e a prestação de contas ao conselho geral e ao ministério da educação, podendo

estes órgãos proceder à sua demissão se as soluções adotadas e os resultados obtidos pelos processos avaliativos não forem conducentes e positivos.

Este preceito está implícito no artigo 35.º desta legislação, quando afere que o diretor e os restantes órgãos de direção e de gestão poderão ser dissolvidos a qualquer momento “na sequência de processo de avaliação externa ou de ação inspetiva que comprovem prejuízo manifesto para o serviço público ou manifesta degradação ou perturbação da gestão”.

Em síntese, poderemos referir que o presente decreto veio determinar mudanças da prática estabelecida pelos modelos anteriores, favorecendo a constituição de lideranças fortes bem como o reforço da autonomia das escolas. No entanto, não se pode transformar este decreto numa simples peripécia administrativa pois, é necessário que a sua implementação envolva um tempo de maturação, que não se compadece com o ritmo e as necessidades do Ministério da Educação. Efetivamente este novo quadro normativo tal como nos refere Afonso (2009), “acompanha e reforça a tendência para alargar a autonomia e a responsabilização do director no quadro conceptual da nova gestão pública” (p. 23). Porém trata-se apenas de uma oportunidade, algumas medidas foram tomadas gerando mudanças de pequena dimensão, numa perspetiva “top-down”, com a convicção ingénua de que o legislado é realmente consubstanciado nas escolas.

Também Lima (2011b) corrobora com esta ideia ao dizer-nos que este despacho normativo “insiste numa concepção instrumental e subordinante de autonomia, numa autonomia de gestão fortemente sobredeterminada e governamentalizada, cujo pivot, em termos internos é o director” (pp. 77-78), em colaboração com o conselho geral, o conselho pedagógico e o conselho administrativo.

Assim, julgamos ser pertinente que para uma autonomia efetiva e tão preconizada neste decreto é fulcral que os diretores façam projetos de liderança à sua medida e que os implementem e transformem num momento significativo de valorização pessoal e profissional de todos os membros da organização escolar.

No entanto e na perspetiva de Lima (2011b)

ao deixar incólume o poder central, o diploma amputa-se das condições mínimas para realizar o princípio da autonomia das escolas que afirma defender, antes o limitando e circunscrevendo a agendas técnico-racionais e de tipo eficientista, isto é, compatibilizando-o com uma situação de generalizada heteronomia (p.78).

Em suma, só quando se criarem condições permanentes de uma efetiva autonomia e forem abolidas as normas burocráticas rígidas, é que se poderá assumir uma nova dimensão do conceito de liderança.