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CAPÍTULO IV – METODOLOGIA

4.3. Instrumento de recolha de dados

Qualquer metodologia só consegue ganhar consistência se tiver a constituí-la instrumentos, técnicas e procedimentos que a suportam e lhe dêem um conteúdo próprio, privilegiámos como instrumento fundamental a entrevista.

4.3.1. A Entrevista

Pretendemos deste modo, um esquema metodológico que servisse os nossos objetivos, ou seja, procuramos perceber quais as caraterísticas fundamentais inerentes ao cargo de desempenho do diretor que pretende uma escola de excelência.

Nesta conjuntura selecionamos a entrevista como a técnica utilizada na recolha de dados desta investigação. Contendo um teor descritivo na linguagem do próprio sujeito, permitindo desta forma que se desenvolvesse de forma intuitiva uma ideia sobre o modo como os entrevistados interpretam certos aspetos (Bogdan & Biklen,1994).

A entrevista possibilita-nos, um contacto direto entre o investigador e os seus interlocutores, permitindo ao investigador retirar informações e elementos de reflexão fundamentais à sua pesquisa (Quivy & Campenhoudt, 1998).

Com a finalidade de explicitarmos a nossa seleção, pretendemos ser mais concisas ao classificarmos as entrevistas segundo a sua forma de operacionalização.

Na ótica de Ghiglione e Matalon, (2001), podemos distinguir três tipos de entrevistas: não diretivas, semidiretivas e diretivas, com o intuito de discriminarmos as caraterísticas das diversas tipologias descritas, iremos apresentar de uma forma sintética algumas das suas particularidades.

A entrevista não diretiva, é caraterizada pela presença de um tema da própria entrevista que introduz a conversa, permitindo ao entrevistado interpretá-lo a partir do seu próprio quadro de referência. Nesta ordem de ideias, o entrevistado expõe as suas conceções, sem existir qualquer limite para as respostas dadas.

A entrevista semidiretiva intitula-se pela presença de um esquema de entrevista, ou seja por exemplo, uma grelha de temas, podendo os mesmos serem abordados de forma aleatória. Neste caso o esquema da entrevista estrutura o indivíduo, quer o queiramos ou não e por consequência impõe-lhe um quadro de referência ao nível de cada ponto abordado.

A entrevista diretiva aproxima-se de um questionário, no qual só apresenta questões abertas. O quadro de referência é definido por categorias estruturantes, devendo o entrevistado responder de forma correta. O método utilizado é comparável ao utilizado por um entrevistador clássico que coloca questões delimitadas por um questionário.

Na conceção de Pereira e Leitão, (2007a), as entrevistas semidiretivas são as mais utilizadas na investigação qualitativa, uma vez que os pontos de vista dos sujeitos são mais facilmente manifestados comparativamente aos restantes tipos de entrevistas.

Outros autores comungam da mesma ideia, defendendo que a entrevista por ser o método mais indicado na metodologia qualitativa apresentando-se como uma técnica que

está sempre associada a um método de análise de conteúdo. Durante as entrevistas trata-se de facto, de fazer aparecer o máximo possível de elementos de informação e de reflexão, que servirão de materiais para a análise sistemática de conteúdo que corresponda, por seu lado, às exigências de explicação, de estabilidade e de intersubjectividade dos processos (Quivy & Campenhoudt, 1998, p.195).

Neste contexto, a nossa opção recaiu na realização de entrevistas de tipo semidiretiva na aceção de Ghiglione e Matalon, (2001), ou semi-estruturadas na definição proposta por Bogdan e Bilken (1994). Com esta escolha pretendemos ainda, recolher dos entrevistados respostas com alguma liberdade, de forma a evitar a perda de informação adicional que poderá ser relevante para esta investigação.

A entrevista semidiretivas garante-nos também complementar o estudo efetuado com uma análise às conceções dos próprios diretores, pois consideramos que existem determinadas caraterísticas do comportamento humano que só podem ser avaliadas através de uma entrevista.

O referido instrumento de análise e em concordância com os autores citados, entendemo-lo como o mais indicado a este tipo de investigação educacional, tendo em vista não colocar demasiada diretividade na sua condução, o que permite liberdade de percurso e nos possibilita fazer enquanto entrevistadores, as necessárias adaptações na duração da mesma e também, uma recolha opinativa dos participantes, ficando assim “com a certeza de se obter dados comparáveis entre os vários sujeitos” (Bogdan & Bilken, 1994, p.135).

Quivy e Campenhoudt (1998) mencionam que o entrevistador embora detenha uma série de perguntas previstas poderá, alterar a sua ordem.

O investigador esforçar-se-á simplesmente por reencaminhar a entrevista para os objectivos cada vez que o entrevistado deles se afastar e por colocar as perguntas às quais o entrevistado não chega por si próprio no momento mais apropriado e de forma tão natural quanto possível (p. 193).

Sousa (2005) refere-nos que, para além do objetivo geral da entrevista, que é a obtenção de informações do entrevistado sobre determinado assunto, pode apontar ainda seis objetivos: averiguações de factos, opiniões, sentimentos, atitudes, decisões e motivações.

Nesta ordem de ideias, valorizamos os processos fundamentais de comunicação e interação humana de modo a proporcionar ao investigador extrair da entrevista elementos ricos e diversificados. Pretendemos assim, recolher dados de opiniões que

alguns aspetos os intervenientes do sistema, o modo como atuam, imaginam e como vivem as suas práticas.

Tratando-se de um processo de investigação e tendo em mente a revisão da literatura, optamos por perfilhar os princípios de ética descritos por Bogdan e Biklen (1994), como proteger a identidade do sujeito, para que a informação não possa causar- -lhe algum tipo de transtorno ou prejuízo; informar o sujeito sobre os objetivos da investigação; respeitar os termos do acordo ajustados até à conclusão do estudo; ser autêntico quando escrever os resultados. Tendo em conta que “a característica mais importante do investigador deve ser a sua devoção e fidelidade aos dados que obtém” (p. 77).

Não descuramos aspetos indispensáveis à preparação da entrevista, utilizamos a seguintes medidas apresentadas por Ghiglione e Matalon (2001), tais como: planificação da entrevista em conformidade com o objetivo apontado; conhecimento prévio com o entrevistado; marcação atempadamente do local, data e hora da entrevista; garantia da não divulgação da entidade entrevistada, caso seja solicitada; autorizações dos dirigentes superiores; conhecimento prévio do campo de estudo e organização do guião com a sequência das perguntas a realizar.

Em síntese, pretendemos reger-nos pelos três princípios orientadores da condução da entrevista ostentada por Estrela (1994), isto é, evitar na medida do possível dirigir a entrevista; não delimitar a temática abordada; elucidar os quadros de referência utilizados pelo entrevistador.

No processo de elaboração do guião da entrevista semiestruturada, tivemos presentes determinantes de caráter metodológico indicadas por diversos autores (Fortin, 2009; Sousa, 2005; Quivy & Campenhoudt, 1998). As perguntas formuladas foram apresentadas com base nos objetivos previamente formulados.

O guião da entrevista foi organizado em seis blocos temáticos: Parte I – Identificação

Esta primeira parte destina-se a uma breve caraterização dos entrevistados, pretendendo conhecer um pouco do seu percurso profissional.

Parte II – Identificar as grandes referências e princípios que orientam a atividade de um diretor

Esta fase consiste em apreendermos perspetivas dos entrevistados sobre o cargo de diretor, comparativamente quanto às suas referências, princípios, não descurando a legislação que rege a sua atividade.

Parte III – Conhecer as competências mais valorizadas para o exercício do cargo de diretor.

Com esta fase pretendemos compreender quais as competências mais valorizadas e as áreas de atuação mais pertinentes na conceção dos sujeitos entrevistados.

Parte IV – Reconhecer os estímulos, apoios e oportunidades para o desenvolvimento da sua atividade.

Nesta fase é nossa intenção identificar os estímulos, apoios e oportunidades que se afloram como pertinentes ao desenvolvimento da sua atividade.

Parte V – Perceber os constrangimentos e dificuldades sentidos no seu desempenho.

O intuito desta fase é indagarmos formas de insatisfação ou de obstáculo que possam impedir um bom desempenho.

Parte VI – Analisar o contributo do diretor na promoção de uma escola de qualidade (excelência).

Nesta última fase pretende-se investigar desafios e preocupações vividas, ao nível da supervisão pedagógica na construção de uma escola de qualidade.

É de referirmos que as questões em termos teóricos, que compõem o guião da entrevista foram sustentadas, nomeadamente no decreto-lei n.º 137/2012 e o despacho normativo n.º 13-A/2012 e a revisão da literatura por nós efetuada (Silva, 2010; Bolívar, 2012; Lima 2011b; Barroso, 2011; Giovanna Barzanó, 2009 & Alarcão, 2000).

Após a sua realização, o guião da entrevista foi submetido a um grupo de peritos no sentido de auscultar opiniões sobre o mesmo. Não tendo sido sugerida nenhuma alteração partimos para a aplicação da entrevista pré-teste, a qual foi aplicada a um diretor com experiência no cargo e a exercer atualmente funções de direção num agrupamento de escolas. Aludimos que o mesmo faz parte do nosso universo de estudo, mas não foi considerado como parte da amostra.

Depois de proceder à sua transcrição, foi efetuada uma reflexão acerca da qualidade do guião da entrevista em conjunto com o grupo de peritos, tendo-se verificado que não havia necessidade de se efetuar alterações, constituindo-se assim, este, como a versão final do guião da entrevista (ver anexo).