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2. Descrição Material

1.5. ANÁLISE DAS MARCAS DE ÁGUA

A recolha e identificação das marcas de água dos códices descritos109 foi feita com dificuldade, não só por não serem totalmente discerníveis nos fólios escritos destes códices, mas também pela falta de condições para levar a cabo o decalque. Comparou-se os frágeis resultados obtidos com os apresentados em três obras de referência: Briquet (1907), Melo (1926) e Santos (2015)110. Em nenhum destes catálogos se encontram marcas de água exactamente iguais às recolhidas destes códices, pelo que a proposta de identificação deve considerar-se aproximativa.

Todas as marcas de água recolhidas são marcas de água de efeito claro, isto é, marcas que são mais claras do que a restante superfície do papel e que resultam «do alto-relevo da filigrana na superfície da teia da forma [do papel], onde, no momento da formação da folha, se acumulavam menos fibras, criando-se assim uma área de maior transparência por onde passa mais luz»(Santos 2015: 107). Estas marcas de água são as mais antigas, tendo sido utilizadas entre os séculos XIII e XVII, por oposição às marcas de água de efeito escuro que surgem no século XVIII.

109 V. Anexo A, pp. 380-398.

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1.5.1. Testemunho G1

Em Melo (1926) as marcas de água compostas por uma elipse e por um trevo (ou trifólio) e um coração/flor nas suas extremidades datam de entre 1551 e 1650 e têm quase sempre uma provável origem em França (Angoulême). Já a marca de água composta por uma coroa é uma variante que o autor data de entre 1494 e 1500, com origem no Norte de França. Dessas marcas de água seleccionaram-se aquelas cujas características mais se aproximavam das recolhidas no códice em análise e conclui-se que as sete marcas de água recolhidas das Lembranças teriam de se dividir em, pelo menos, dois conjuntos diferentes: as dos ff.2 (a mesma na contra-guarda [1]), 21, 211, 223 e 230 (compostas por uma elipse com as extremidades preenchidas), e a marca recolhida do f.3 (composta por uma coroa). A terceira marca de água recolhida do f.213 deste códice não corresponde a nenhuma variante de Melo (1926), com a ajuda da qual possa ser identificada.

O primeiro grupo pareceu estar de acordo com grande parte da descrição da marca de água 114 de Melo (1926), uma marca composta por uma elipse cujo campo está preenchido por um C, encimada por um trifólio, e em cuja parte inferior existe um coração. Melo situa esta marca num papel que teria sido produzido em Angoulême entre 1601-1650. Assim sendo, embora as formas difiram ligeiramente (por exemplo, a marca do f.223 tem um F à esquerda e um L/I à direita), as marcas de água dos ff.2, 21, 211, 223 e 230 parecem apontar para a possibilidade de o papel desses fólios ter sido importado de França (e até talvez do mesmo moinho, visto que apresentam mais ou menos sempre a mesma a distância entre pontusais e a mesma distância ocupada por 20 vergaturas (entre 22 a 25 mm)). Esse papel teria sido produzido entre 1601-1650, o que torna a proposta compatível com o limite post quem para a produção deste códice – 1620.

Além disso, esta proposta é igualmente aceitável por comparação com as marcas de água apresentadas por Santos (2015). De facto, com semelhanças face ao primeiro conjunto de marcas recolhidas do códice G1 das Lembranças, há que mencionar as marcas com nº de inventário MJ 68 (de um ms. datado de 1593), MJ 146 (de um ms. datado de 1460) e MJ 17 a (de um ms. datado de 1337) porque todas apresentam pelo menos um dos elementos presentes nessas marcas de água com elipse recolhidas de G1: a primeira corresponde precisamente a uma elipse mais um trevo, a segunda a um trevo e a terceira a uma flor (talvez uma tulipa), ambas com desenhos relativamente parecidos com os das marcas deste códice. Dado que a marca MJ 68 é realmente a mais próxima das recolhidas por decalque do códice G1, à identificação proposta através das referências de Melo (1926) pode apenas ser acrescentado que, de acordo com o trabalho desta autora, estas marcas de água de G1 categorizar-se-iam da seguinte forma na classificação de

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GIMA111: Classe – figuras geométricas; Subclasse – elipse; Subgrupo – elipse com trevo, coração/túlipa. Esta classificação permite apenas assumir que o papel dos ff.2, 21, 211, 223 e 230 de G1 possa ter sido produzido pelo menos entre 1593 e 1620.

Já quanto à marca de água recolhida do f.3, composta por uma coroa, a origem e datação do papel em que se encontra é um pouco mais incerta. Seguindo Melo (1926), admite-se que esta marca de água se assemelha à marca 9 catalogada pelo autor, isto é, a uma variante de coroa de um papel possivelmente produzido entre 1494 e 1500 e importado do Norte de França. Além disso, das amostras apresentadas por Santos (2015) serve destacar a marca de água com o nº de inventário MJ 1532a, recolhida de um manuscrito datado de 1630. Esta marca de referência distingue-se pela seguinte classificação de GIMA: Classe – insígnia de cargo, cetro, joia; Subclasse – coroa; Subgrupo – coroa sem arcos. As marcas deste subgrupo têm entre 23 a 30 mm de altura por 34 a 42 mm de largura e encontram-se em manuscritos do final do século XVI ou do início do século XVII. Assim, é apenas possível propor que esta segunda marca de água de G1 identifique um papel importado de França, produzido num intervalo de tempo necessariamente anterior ao limite post quem da produção do códice em causa – 1620 -, provavelmente entre o final do século XV e o início do século XVII.

A respeito desta segunda marca de água de G1 convém também esclarecer que não tem grandes semelhanças com muitas das marcas disponibilizadas por Briquet (1907). Contudo, talvez se possa incluí-la no conjunto dominado pelo motivo que o autor designa por Couronne à trois fleurons (pointes ou perles) et deux demi. Embora este motivo seja aparentemente frequente em marcas de água das mais variadas regiões e datas, note-se que a marca que pareceu mais próxima da recolhida do f.3 de G1 é a marca nº 4842, identificada num manuscrito de Luzerna datado de 1564. No entanto, há que ter em conta que esta marca apresenta ligeiras diferenças de forma para a de G1 e que se encontra dividida em duas metades por um pontusal. O pouco rigor da recolha concretizada e as diferenças ainda relevantes entre esta marca de G1 e a de Briquet (1907) não permitem utilizá-la com certeza na datação e localização do papel de f.3.

111 A classificação e sistematização utilizadas pela autora são as aplicadas no projecto GIMA (Gabinete de

Investigação de Marcas de Água), apresentado na referida obra e desenvolvido no âmbito do Centro de Estudos da História de Papel criado pela Associação Portuguesa dos Técnicos das Indústrias de Celulose e Papel (TECNICELPA). Essa classificação é importada da International Association of Paper Historians (IPH), como desde logo a autora explicita (Santos 2015:67-69). Devido à impossibilidade de estabelecer uma correspondência directa entre as marcas de água recolhidas e as expostas por Santos (2015), nem sempre a classificação atribuída está de acordo com a tabela proposta pela autora.

99 Por fim, e visto que em Melo (1926) não se encontra qualquer registo de uma marca de água semelhante à recolhida do f.213 de G1, apenas o confronto com as marcas apresentadas por Santos (2015) permite imaginar o que a delicadeza do desenho obtido por decalque não permitia dizer com segurança. De facto, apesar de parecer um monograma composto pelas letras <t> e <s>, a comparação com a marca com nº de inventário MJ 130 (recolhida de um ms. datado de 1433) torna possível considerar que a marca recolhida de G1 seja, na realidade, composta por um punhal seguido da letra <s>. Esta marca de referência classifica-se em GIMA da seguinte forma: Classe – defesa e armas; Subclasse – punhal; Subgrupo – punhal (no geral), sendo que tem 52 mm de altura por 19 mm de largura. Contudo, visto que o fólio onde surge esta marca de água não parece ser de uma composição necessariamente distinta dos restantes fólios de G1, então esta referência serve apenas para reavaliar a constituição da marca, mas não para discorrer sobre a datação e origem do papel desse fólio (provavelmente produzido entre o final do século XVI e o início do XVII).

1.5.2. Testemunho E

No caso do códice E, começou-se por verificar em Melo (1926) que todas as marcas de água compostas por três circunferências datavam de entre 1601 e 1750, e que tinham origem em Itália. Já as marcas de água com uma elipse sob uma coroa e suportada por dois dragões são apresentadas pelo autor como variantes de um papel proveniente de França (Angoulême) e produzido entre 1601 e 1800. Dessas marcas de água seleccionaram-se aquelas cujas características mais se aproximavam das recolhidas do códice em análise (utilizando como critério dominante o número de elementos no interior das circunferências), e conclui-se que as sete marcas de água recolhidas deste testemunho das MRAG teriam de se dividir em, pelo menos, dois conjuntos diferentes: as marcas dos ff.guarda [3] e [4] (compostas por três circunferências), e o conjunto das restantes cinco marcas recolhidas dos ff.17, 20, 286, 288 e 295 (compostas por uma elipse e duas circunferências).

O primeiro grupo pareceu estar de acordo com grande parte da descrição da marca de água 129 de Melo (1926), marca composta por três circunferências tangentes dispostas verticalmente sob uma coroa e que o autor situa em papel de origem italiana, produzido entre 1651 e 1700. Esta hipótese está de acordo com a informação apresentada por Briquet (1907), segundo o qual todas as marcas de água compostas por três círculos têm origem italiana (embora tenham sido adaptadas em variantes Francesas e Espanholas a partir do século XVIII), surgindo pela primeira vez entre os finais do século XIV e a primeira metade do século XV e podendo ser

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encontradas até 1728 e ilustradas em muitíssimas variantes produzidas ao longo do tempo112. Assim sendo, as marcas de água presentes nos fólios de guarda [3] e [4] parecem apontar para a possibilidade de o papel destes fólios ter sido importado de Itália (embora não necessariamente do mesmo moinho, já que as formas das suas marcas diferem, assim como diferem as distâncias entre pontusais e as distâncias ocupadas por 20 vergaturas). De acordo com a mesma hipótese, o papel desses fólios teria sido produzido entre 1651 e 1692 (o que é compatível com o limite post quem da composição deste códice – 1692).

Além disso, esta proposta está também de acordo com as informações apresentadas por Santos (2015) quanto às marcas de água do seu catálogo semelhantes às recolhidas de E. De acordo com o trabalho desta autora, estas marcas categorizar-se-iam da seguinte forma: Classe – figuras geométricas; Subclasse – circunferência; Subgrupo – três circunferências tangentes. Em todas as marcas deste sub-grupo pelo menos as duas circunferências posteriores estão preenchidas por algum desenho e/ou por monogramas; todas apresentam uma figura variável no topo da primeira circunferência (uma cruz, uma coroa, etc.); todas têm dimensões compreendidas entre 78 e 92 mm de altura e 22 e 25 mm de largura; e, por fim, todas são recolhidas de manuscritos datados da primeira metade do século XVIII. Neste aspecto, todas são semelhantes ao primeiro conjunto de marcas recolhidas do códice E das MRAG. Em particular mencione-se as marcas com nº de inventário MJ 431 d1 (de um ms. datado de 1714) e MJ 436 a (de um ms. datado de 1733) como referência desta comparação porque ambas, e tal como as marcas de água compostas por três circunferências de E, têm a primeira circunferência cortada por um traço convexo face ao topo da marca de água e que pode representar o que Santos (2015) inclui na seguinte categorização: Classe – céu, terra, água; Subclasse – lua; Subgrupo – quarto crescente. Esta marca surge num papel datável pelo menos de 1540, com nº de inventário MP 1.

Já quanto às restantes cinco marcas de água recolhidas – todas elas inegavelmente constituídas por uma elipse (onde está inscrita uma cruz) e duas circunferências –, a origem e datação do papel em que se encontram é ainda menos segura, visto que os outros dois elementos que parecem comuns a todas (um elemento sobre a elipse, e dois do seu lado esquerdo e direito) são muito pouco discerníveis ao longo dos fólios do códice e, consequentemente, nos desenhos obtidos por decalque. Admite-se que estas marcas de água se assemelham às marcas 118 e 132 catalogadas por Melo (1926), isto é, marcas compostas por uma elipse suportada por dois leões, que tem no campo uma cruz alta sob coroa e na parte inferior duas circunferências tangentes

101 (preenchidas ou não por outros elementos), datáveis de entre 1601 e 1700 e que o autor supõe pertencerem a um papel com origem francesa (Angoulême). Contudo, as amostras apresentadas por Santos (2015) demonstram a muito maior proximidade das marcas de água de E com aquelas que se encontram no papel italiano designado «Papel de Génova». Todas as marcas de referência desse conjunto apresentadas por Santos (2015) encaixam na seguinte classificação de GIMA: Classe – heráldica, escudos, marcas de canteiro ou de comércio; Subclasse – escudo, brasão; Subgrupo – escudo (brasão) identificado: países, cidades e famílias, Escudo de Génova113. Além disso, todas têm dimensões entre 47 e 123 mm de altura por 40 e 88 mm de largura, e todas se detectam em manuscritos do final do século XVII ou do século XVIII.

De acordo com isto, a par da sistematicidade que o papel destes fólios apresenta na distância ocupada por 20 vergaturas (sempre entre 18 e 19 mm) e na distância entre pontusais (sempre 17 mm), e a par da posição da marca de água face aos pontusais (nestes exemplos recolhidos de E a marca encontra-se sobre um pontusal e entre outros dois) talvez seja possível estabelecer a hipótese de que as cinco marcas de água recolhidas dos fólios ff.17, 20, 286, 288 e 295 se assemelham às que a colecção TECNICELPA cataloga com os seguintes números de inventário: MJ 110 b (de um ms. de 1799), MJ 1430 (de um ms. de 1683), MJ 431 z (de um ms. de 1714) ou MJ 1424 (de um ms. de 1684). Posto isto, é possível identificar este segundo grupo de marcas de água de E como pertencentes a um papel italiano114, produzido num intervalo de tempo necessariamente anterior ao limite post quem da produção do códice em causa – 1692, provavelmente no século XVII ou até antes, dado que nessa altura «todo o papel exportado pelos genoveses para Portugal e Espanha (…) era marcado com contramarca de canto para além da contramarca principal» (Santos 2015:89-91), mas isso não é visível nos fólios do códice E.

1.5.3. Testemunho P

Do códice P foram recolhidas três marcas de água distintas: a marca da guarda volante [3] (igual às da guarda [4], [7] e [9] do mesmo códice) composta por um brasão, a marca do f.203 (igual às dos ff.196, 198, 200, 201 e 206) composta pelas maiúsculas A e P separadas por um dos pontusais e, por fim, a marca da guarda volante [6] (aparentemente igual às marcas de água que

113 Vejam-se as marcas de água catalogadas por Santos (2015:116-122).

114 A designação «papel de Génova», como explica Santos, não implica necessariamente que tivesse sido

produzido nessa cidade. Diz a autora que: «(…) sob a designação “Papel de Génova” era incorporado papel de outras regiões da Itália, como a Lombardia, Veneza, Toscana, Fabriano, Bolonha, dado que, praticamente todo o papel italiano era exportado através do Mediterrâneo pelo porto de Génova» (Santos 2015:89).

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se observam nos ff.1, 4, 6, 8, 9, 12, 13, 15, 17 e 20 e à dos ff.197, 199, 202, 205, 207 e 208), composta pelo que parece ser uma águia de duas cabeças sob uma coroa.

Comece-se pelo caso do brasão do fólio de guarda [3]. Em Melo (1926) encontrou-se apenas uma marca de água composta por um brasão relativamente parecido com o que se encontra em P: marca 139, descrita como um brasão de armas com elmo e timbre, escudo partido em pala, com um lobo no primeiro quartel e com campo liso no segundo quartel. Esta marca de referência parece ter sido considerada pelo autor como uma variante de brasão datável de 1651- 1700 e de origem italiana. Assim sendo, e apesar das formas diferirem, a marca de água recolhida de [3] parece apontar para que o papel desta guarda tenha sido importado de Itália e produzido numa data compatível com o limite post quem da composição deste códice – final do século XVIII (aproximadamente por volta de 1787).

Esta proposta é igualmente aceitável pela colação dessa marca de água com as marcas apresentadas por Santos (2015). De facto, semelhante a esta marca do testemunho P das MRAG sobretudo pelo seu formato rectangular, há que mencionar pelo menos a marca com nº de inventário MJ 467 a (de um ms. datado de 1807). Esta é uma marca que, de acordo com o trabalho da autora, permite categorizar a da guarda [3] da seguinte forma: Classe – heráldica, escudos, marcas de canteiro ou de comércio; Subclasse – escudo, brasão; Subgrupo – escudo (brasão) não identificado. Certo é que esta classificação só permite considerar que o papel das guardas [3], [4], [7] e [9] de P possa ter sido produzido pelo menos entre 1651 e 1807.

Já a segunda marca recolhida de P – a marca do f.203, composta pelas letras A e P – parece facultar um pouco mais de informações quanto à possível origem e datação do papel em que se encontra. Admite-se que esta marca de água se assemelha à marca 155 catalogada por Melo (1926), isto é, a uma variante de flor-de-lis datável de 1701-1750, de um papel importado do Norte de França. Embora a sua datação seja compatível com a datação do códice P, esta é uma marca cujo motivo dominante é o da flor-de-lis onde se observam, na parte inferior, as letras A.P. Contudo, existe pelo menos uma amostra de Santos (2015) que torna difícil a utilização da referência de Melo (1926) sem pelo menos colocar em causa a origem do papel destes fólios – trata-se da marca de água catalogada pela autora com o nº de inventário MJ 944, recolhida de um manuscrito datado de 1812 e cuja contramarca é precisamente um monograma composto por AP. Esta marca de referência encaixa na seguinte classificação de GIMA: Classe – heráldica, escudos, marcas de canteiro ou de comércio; Subclasse – escudo, brasão; Subgrupo – escudo (brasão) identificado: países, cidades e famílias. Escudo Português. As marcas deste subgrupo têm entre 86

103 a 206 mm de altura por 72 a 145 mm de largura, e encontram-se em manuscritos do final do século XVIII ou do início do século XIX. Posto isto, veja-se como Santos (2015) identifica a contramarca AP como uma marca de água «portuguesa» mas de fabrico italiano. Diz a autora que este era um papel produzido por António Pollera, cuja família, oriunda de Génova, estaria estabelecida na região de Luca no século XVIII e onde detinham várias unidades papeleiras. Esta contramarca é frequentemente utilizada junto de marcas que representam as armas de Portugal. Assim sendo, e dado que a marca dos ff.203, 196, 198, 200, 201 e 206 não é uma contramarca nem um monograma, é apenas possível considerar que possa identificar um papel possivelmente importado de Itália e produzido necessariamente antes do final do século XVIII (provavelmente entre o final desse século e o início do século XIX).

Por fim, veja-se a terceira marca de água recolhida do fólio de guarda [6] e aparentemente dominante no corpo dos fólios de P. Em Melo (1926) a única marca de água minimamente semelhante à recolhida desta guarda é a 158, descrita pelo autor como composta por uma circunferência encimada por uma águia, tendo no campo e em cruz as letras SMSAS e um monograma constituído por CP. Esta é uma marca que Melo localiza num papel datável de 1701- 1750 e produzido em Itália, o que parece estar não só de acordo com a janela temporal em que o códice terá sido composto, mas também com a tão frequente importação de papel italiano para Portugal pelo menos até meados do século XIX.

O confronto desta marca de água com as marcas apresentadas por Santos (2015), embora não acrescente muita informação a respeito da origem do papel deste códice, parece disponibilizar informações relativamente mais seguras a respeito da sua datação do que as recolhidas por Melo (1926). Veja-se a marca com nº de inventário MJ 349 b de Santos (2015), recolhida de um manuscrito datado de 1814. Esta marca de referência permite categorizar esta terceira marca de água de P de acordo com a classificação GIMA que se segue: Classe – aves; Subclasse – águia; Subgrupo – águia de duas cabeças. Embora a marca de Santos (2015) tenha dimensões relativamente maiores do que a obtida por decalque do fólio de guarda volante [6] (MJ 349 b tem 121 mm de altura por 93 mm de largura), a verdade é que os motivos utilizados e o tipo de estrutura permitem considerar que o papel dos ff.[6], 1, 4, 6, 8, 9, 12, 13, 15, 17, 20, 197, 199, 202, 205, 207 e 208 talvez date do final do século XVIII ou inícios do século XIX.

Também a favor desta proposta de datação é o facto de ser possível seleccionar duas marcas de água relativamente semelhantes à da guarda [6] em Briquet (1907): nº 262 e 265. Estas incluem-se num conjunto dominado pelo motivo que Briquet designa por Aigle à deux têtes,

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Signes sur la poitrine: armoiries ou croix, fleurs, corne ou monts, ambas recolhidas de um papel com origem Alemã (de Sayn e Waldbach, respectivamente) e aparentemente datável do final do século XVI. No entanto, ao contrário da marca de água com águia de duas cabeças de P, esta tem traços ligeiramente diferentes que tornam as informações de Briquet menos fiáveis na datação do papel deste códice (por exemplo, ao contrário de todas as marcas de referência mencionadas, as cabeças da águia em P estão viradas para dentro). Além disso, e embora a Alemanha não tenha sido o ponto de importação a que Portugal mais recorreu, tendo em conta que o plágio de marcas