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ANÁLISE ESTEMÁTICA

98. e cuidando elle esto, deu lhe o sono (214r) e cuidando elle esto, deu lhe o sono

2.3.3. Variantes adiáforas conjuntivas G1E vs PG

Excluídos os lugares cujas variantes podiam resultar de poligénese (v. lugares 110 e 111, adiante), restam pelo menos 11 lugares cujas variantes adiáforas aproximam os testemunhos G1E e PG2 (porque dificilmente resultariam de poligénese) e, consequentemente, provam a contaminação de E por G1:

110. seis carregas de bõa farinha // quanta poderiam leuar seis camellos (224r//224v) seis carregas de bõa farinha, quanta poderião leuar seis Camellos

seis carregas de boa farinha quanto poderião levar seis camellos 6 carregas de bõa farinha quanto poderião levar 6 camellos 111. uendo esto hum homem que estaua a par della (231v) uendo esto hum Homem que estaua a par della vendo hum homem esto que estava a par della vendo hum homem esto, que estava apos ella

197 Desses 11 lugares, vejam-se primeiro as cinco variantes adiáforas que se seguem:

112. esta regra de são Bento he nossa madre, e no começo he mui aspera e estreita (216v) esta regra de são Bento he nossa madre; e no começo he muy aspera, e estreita esta Regra de s. Bento he nossa madre, e no começo he mais aspera, e estreita esta Regra de s. Bento he nossa Madre, e no comeso he mais aspera, e estreita

113. vendo a dita sua ama, como a moça era de mui pequena idade // e consirando que o ieium era grande pera ella outorgou lhe que a sesta feira ieiuasse (217v//218r)

vendo a dita sua ama, como a moça hera de muy piquena idade, e conciderando, que o Jeiũ hera grande pera ella, outorgou lhe, que a ssesta feitra Jeiũasse

vendo a dita sua ama seu amor, como ha moça hera de muy pequena idade, e conciderando que o jejum hera grande para ella, outorgou lhe que a sesta feira jejuasse

vendo a dita sua Ama seu amor, como a moça era de mui pequena idade, e considerando como o jejum era grande para ella, outorgou lhe que a 6ª feira jejuase

114. nhum dos ditos lauradores non podera mais estar na eira (222v) nenhum dos ditos lauradores, nõ podera mais estar na Eyra nenhum dos ditos lavradores nom poderom estar mais na eyra nenhum dos ditos lavradores non poderom mais estar na eira 115. e confiado da sua merçe (231r)

e confiado de sua merce e confiando de sua merce e confiando de sua merce

116. e mais deseiauam nunqua o uerem que de o auerem de criar come mudo, e os cuitados non se nembrauam como o prometerom de o leuar ao muimento desta santa (234r)

e mais dezejarão nunqua o verem, que de o auerem de criar Como mudo, e os cuitados nom se nembrauão, como o prometerõ de o leuar ao moimento desta sancta

e mais dezejarão nunqua o verẽ qye d’o averem de criar como mudo; e os cuitados nom se nembrarão como o prometerom de o levar ao moimento desta santa

e mais dezejarão nom o aver que de averem asi mudo, e os coitados nom se lembrarão como prometerom de o levar ao moimento da santa

Em todos estes casos é impossível que E tenha a mesma lição de G1 (seja ela a correcção de um erro de Ω, uma variante acidental ou a lição genuína) sem que tenha confrontado o texto do seu antecedente α com o texto de G1.

Em 112, a variante de G1E tem uma forma do indefinido muito que modifica os adjectivos aspera e estreita, utilizados para caracterizar a regra de S. Bento. Por outro lado, PG2 utilizam o advérbio mais para modificar esses adjectivos, conferindo um valor comparativo entre o início e (presume-se) o resto do percurso de aprendizagem na regra de S. Bento.

O lugar 113 ocorre num contexto em que S. Senhorinha pede que sua ama lhe dê autorização para jejuar todas as quartas e sextas-ferias em serviço de Deus. Em G1E lê-se que “vendo a ama que a moça era pequena, deixou-a jejuar apenas à sexta-feira”, estrutura onde a pequenez de Senhorinha é a razão pela qual D. Godina a deixou jejuar apenas um dia da semana. Em PG2 lê-se “vendo a ama o amor da moça (a Deus), (mas) como a moça era pequena deixou-a

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jejuar apenas à sexta-feira”. Neste caso D. Godina reconhece o amor de Senhorinha a Deus e, por ele, concede-lhe parte do seu pedido. Nesta estrutura seu amor é um elemento que motiva a cedência da ama, e a mui pequena idade da moça é a razão pela qual a limita, deixando-a jejuar apenas um dia da semana, e não os dois que lhe havia pedido. Contudo, a lição de G1E é provavelmente a genuína, dado que não haveria qualquer explicação plausível para a omissão de G1. Nesse caso, α teria sido responsável pela adição do segmento seu amor, talvez numa tentativa de esclarecer o texto, adição essa que foi transmitida a P e G2. Consequentemente, a variante de E, que restitui a lição genuína, seria o resultado de uma contaminação com G1, precisamente porque E não concretizaria uma inovação privativa igual à de G1 sem que existisse algum erro no seu antecedente que o motivasse a fazê-la. Nesse caso, embora as variantes de G1E e PG2 sejam adiáforas, seu amor é provavelmente adicionado por α, copiado por P e G2, mas não por E que, por contaminação, escolhe a variante de G1 provavelmente por considerar que essa opção melhorava o texto da sua cópia.

Em 114 as variantes de G1E e PG2 são adiáforas, dado que o verbo pode concordar quer com o indefinido nenhum (em G1E), quer com o complemento determinativo os ditos lavradores (em PG2). Assim, qualquer uma pode ser a lição genuína, e ambas podem ser variantes acidentais (provocadas pelo esquecimento ou acrescento de uma marca de nasalidade), ou variantes intencionais (pois qualquer uma das diferenças de concordância sujeito-verbo poderia motivar a outra variante).

Em 115, G1E têm o particípio passado do verbo “confiar”, enquanto PG2 têm o gerúndio. No entanto, ambos os tempos verbais são compatíveis com a estrutura confiar de. Ademais, é tão plausível que a variante de G1E seja um erro por omissão de uma marca de nasalidade, como que a de PG2 seja uma adição dessa marca numa tentativa de esclarecer um lugar de Ω. Embora se pudesse argumentar que G1E não têm necessariamente uma variante conjuntiva precisamente porque podem apenas ter omitido uma marca de nasalidade <~> (um erro fácil de cometer de forma independente), nem G1 nem E frequentemente utilizam <~> para assinalar a nasalidade das vogais.

Em 116, G1E têm uma forma antiga do verbo lembrar (nembrar) no pretérito imperfeito do indicativo, enquanto PG2 têm o verbo no pretérito perfeito do indicativo. Independentemente da evidente modernização de G2 em lembrarão, as variantes são adiáforas, mas não deixam de separar G1E de PG2.