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e por lhe non pedir o seu Jrmão, que tinha preso, e loguo outorgou lhe a igreia, que lhe pedia, e demais soltou lhe o

ANÁLISE ESTEMÁTICA

90. e por lhe non pedir o seu Jrmão, que tinha preso, e loguo outorgou lhe a igreia, que lhe pedia, e demais soltou lhe o

Jrmão que tinha preso, e demais deu lhe hum couto muito bom (233r)

e por lhe nõ pedir o seu Jrmão, que tinha prezo, e demais deu lhe hũ couto muy bó e por lhe nom pedir o seu irmão que tinha prezo e demais deu lhe hum couto muy bom E por lhe nom pedir a seu Irmão que tinha prezo, e demais deo lhe hum couto muito bom

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Em 87 não é fácil explicar a lição de G1 como derivada de um arquétipo que conteria lição igual à de EPG2. Uma hipótese seria considerar a existência de uma intrincada e pouco provável série de erros acidentais. Imaginemos, por exemplo, um salto do mesmo ao mesmo na primeira conjunção copulativa e, levando o copista a copiar o sintagma leixou lhe tres igrejas de que ouuesse, seguido de um salto do mesmo ao mesmo em ouuesse, agora voltando atrás no texto do modelo copiado. Este segundo erro explicaria a ordem de palavras de G1, a repetição do sintagma enquanto en este mundo uiuesse (ausente nos restantes manuscritos), e ainda a ausência do sintagma o tal que EPG2 apresentam. Porém, se se tratou de um processo mecânico, isso não explica porque foi omitido o segmento e leixou lhe tres Jgrejas de que ouuesse o tal mantimento, que se seguia no antecedente17. Haveria que considerar que, logo depois de cometidos os dois erros, o copista de G1 teria retomado a cópia no lugar em que os restantes manuscritos iniciavam este lugar crítico e que agiu de uma das seguintes formas: a) apercebeu-se do erro cometido, mas optou por não o corrigir, continuando a cópia e acrescentando apenas o que lhe faltava (e onde fosse folguar), já que o sentido do texto não se alteraria; b) não se apercebeu do erro e voltou a cometer um salto do mesmo ao mesmo na segunda conjunção copulativa e (e onde fosse folguar), e um quarto salto na terceira conjunção, de modo a seguir o texto do modelo, tal como E, P e G2 (e dezia).

Outra explicação para o comportamento erróneo de G1 poderia ser a seguinte. O copista teria saltado o segmento e onde fosse folgar, não tanto em resultado de um salto do mesmo ao mesmo (que teria de ancorar-se na conjunção copulativa, elemento de memorização demasiado frágil e que dificilmente constituiria, só por si, uma unidade de cópia) mas, levado por alguma outra circunstância condicionante que hoje dificilmente poderemos conhecer. Continuando a cópia, resolveu substituir o sintético o tal por uma repetição da fórmula antecedente na frase, por razões que também não serão fáceis de explicar. Apercebendo-se então de que suprimira por erro um segmento de texto, acrescenta-o agora (e onde fosse folguar) antes de prosseguir a cópia.

Nenhuma destas explicações consegue obter plausibilidade suficiente para ser aceite. Ambas implicam uma série demasiado complexa de erros e soluções e não permite compreender o comportamento do copista. Então vejamos se a derivação da lição de EPG2 de uma lição genuína igual a G1 explica mais simplesmente e coerentemente os dados da colação.

17 O resultado deveria ser: leixaria a sua filha onde ouuese mantimento enquanto neste mundo uiuesse, e leixou lhe tres Jgrejas de que ouuesse mantimento enquanto neste mundo uiuesse, e onde fosse folgar, e leixou lhe tres Jgrejas de que ouuesse o tal mantimento; e dezia.

185 A lição de EPG2 é evidentemente conjuntiva e classificá-la como errónea implica postular a dependência de um antecedente comum aos três testemunhos (α), no qual o enunciado resultaria de um comportamento simples do copista. Começa por cometer um salto do mesmo ao mesmo em ouuese mantimento enquanto en este mundo viuese, o que leva à omissão de todo o segmento intermédio, e leixou lhe tres igreias de que, e ao avanço no texto para e onde fosse folgar. Apercebendo-se imediatamente do erro cometido, o copista volta atrás a repor o elemento que suprimira. Continua sintetizando o elemento seguinte, que era evidentemente repetitivo (o tal por enquanto en este mundo uiuesse), e prossegue saltando por cima do elemento que, por erro, tinha antecipado. Temos assim, um copista que comete um erro, age imediatamente para saná-lo, e prossegue agindo de forma coerentemente económica, evitando repetir-se.

Como a melhor solução, em estemática, é sempre aquela que postula o menor número de operações para explicar os dados, e uma explicação simples e coerente é preferível a uma complexa e que deixa factos por explicar, deduz-se que a lição de EPG2 deve ser considerada um erro conjuntivo que postula a sua dependência de um antecedente comum, α.

Já os restantes três lugares são relativamente mais simples, sendo que em 88, 89 e 90 se cometem saltos do mesmo ao mesmo ancorados nas palavras eira, santa e preso, respectivamente. Em 88, a lacuna, que não provocou agramaticalidade pela redundância do segmento omitido, faz com que a variante de EPG2 perca o sentido introduzido em G1 pela locução subordinada consecutiva per guisa que (equivalente a “de tal forma que”). A adição de um segmento de texto redundante exactamente no contexto de um salto do mesmo ao mesmo parece mais difícil de explicar, pelo que a variante de G1 deve ser considerada a lição genuína e a dos restantes testemunhos um erro transmitido por α.

Em 89 o copista de α parece ter cometido a omissão de EPG2, mas apercebeu-se logo de que faltava uma oração subordinante, a qual repõe (lhe nom lembrou). Porém, já não havia cabimento para repor todo o segmento suprimido, tanto mais que ele pode ser considerado redundante e, portanto, dispensável segundo os critérios simplificadores de α. A simples omissão em ordem a estes critérios, sem que tivesse havido erro, é também uma possibilidade. A reprodução da lição do antecedente por E e P e a inovação pouco hábil de G2 estão também de acordo com os perfis destes copistas. Já a adição de elementos redundantes por G1 é de excluir e, consequentemente, o lugar 89 prova a existência de α.

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2.2.1.3. Variantes adiáforas G1 vs EPG2

Diz Blecua (2001) que quando duas variantes são verdadeiramente adiáforas «una de las dos traiga la lección original o la correcta, porque de no hacerlo, el error será igualmente del 100 por 100» (Blecua 2001:88-89). Assim, se uma delas tem de não ser a lição genuína da tradição, mas é impossível ter a certeza de qual, então é evidente que algumas variantes adiáforas podem, ainda assim, ter algum peso estemático. Nesse sentido, há três lugares variantes que, sem permitirem a imediata classificação da lição conjuntiva de EPG2 como errónea ou não genuína, ainda merecem ser discutidas:

91. tornou sse pera saa terra (229r) tornou sse pera sua caza tornou se para sua terra, e caza tornou para sua casa