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2. Descrição Material

1.4. T ESTEMUNHO G2 A Códice

1. Identificação, Referências e Conteúdo

1.1 Identificação

Título: Memorias Resuscitadas da antigua Guimarães Autor: Torcato Peixoto de Azevedo

Copista: Desconhecido

Localização: Guimarães, Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento (BSMS), BS 1-4-36; Data de redacção: 1656-1692 (14 de fevereiro)

Data de cópia: 1801(?) – 1845(?) Referência BITAGAP: manid 5308.

82 Se este códice fizesse parte desse fundo provavelmente estaria catalogado nos Índices da biblioteca do

Bispo do Porto D. João de Magalhães e Avelar, ms. 374, 375, 376, 377, 378 e 379 (v. Oliveira 1995:127).

79 O título deste códice surge logo na página 1, onde se inicia o primeiro dos textos preliminares (Prefacção, Ao leitor e Protestação). Volta a ser apresentado como título da obra no topo e centro da coluna de texto da página 8. Por fim, reaparece, embora de forma contraída, ao longo da largura da lombada da encadernação, gravado a dourado em letras capitais (MEMORIAS DA ANTIGUA GUIMARAES) e entre duas linhas também douradas, como se simulasse um rótulo84.

Quanto à datação e local de produção do códice, embora a única informação explícita no códice indique Guimarães, 14 de Fevereiro de 1692 (p.6.: Guimarães 14 de Feverº de 1692), sabemos que esses elementos (tal como o conteúdo da obra) foram copiados de um modelo anterior, visto que eles também estão presentes nos Testemunhos E e P.

1.2. Origem e História

Não havendo nenhuma menção histórica (como um cólofon) que situe o local e data da produção deste livro manuscrito, temos de contar com outros elementos para a sua datação. A BSMS adquiriu o códice em 29 de Abril de 190285, três anos depois da morte de Francisco Martins Sarmento (1833-1899). Os seus carimbos de propriedade (de cor roxa) surgem no recto e verso da guarda [2], e ainda na p. [380] onde termina o índice do códice:

SOCIEDADE MARTINS SARMENTO

Assim, o códice não pode ter sido concretizado depois de 1902 - isto é, quando a BSMS adquiriu o livro. A favor disso estão outras duas marcas de propriedade anteriores às da BSMS (onde hoje se encontra o códice) e que devem suceder-se pela seguinte ordem cronológica: as do Dr. João Vieira Pinto, e as do Reverendo Dr. Pedro Augusto Ferreira (Abade de Miragaia).

O Dr. João Vieira Pinto formou-se em Matemática e Medicina pela Universidade de Coimbra. Foi professor na Academia Real de Marinha e Comércio da Cidade do Porto, que também frequentara como aluno, entre 1830 e a vitória dos liberais, em 1833, e foi professor na Escola Industrial do Porto a partir de 185486. Sobre o modo como adquiriu este volume nada se sabe. Sabe-se apenas que os seus carimbos de propriedades (pretos) são os que surgem mais frequentemente ao longo das páginas do volume, como os exemplos seguintes ilustram: p.1, no cruzamento da margem de cabeça com a de goteira; pp.27, 31, 35, 37, 59, 91 a meio da margem

84 Rótulo, na terminologia codicológica portuguesa, refere-se a uma peça de metal, pergaminho, couro ou

madeira que exibe o título da obra. Na encadernação medieval era colocada no pé da cobertura do segundo plano da encadernação e na encadernação moderna surge na lombada (v. Nascimento e Diogo 1984:100).

85 V. esta informação na descrição externa do códice manid 5308 na respectiva página BITAGAP.

86 Leia-se sobre o percurso de João Vieira Pinto em Pinto (2012:60) que, por sua vez, recorre a documentos

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de goteira e sobre o texto (e rasgados); pp.45, 53, 97 perto do limite direito da coluna de texto, mas sobre o texto; p.137, numa posição semelhante aos das três páginas anteriores, mas mais acima; p.201 no canto superior direito da página, numa zona não escrita. Nesses carimbos lê-se:

EX LIBRIS VIEIRA PINTO

O Reverendo Dr. Pedro Augusto Ferreira (1833-1913) nasceu em Lamego, onde foi seminarista e, mais tarde, presbítero. Em 1856 formou-se em Teologia pela Universidade de Coimbra, foi Abade de Távora em 1861 e Abade de Miragaia a partir de 1864. Proprietário de uma extensa e rica biblioteca, viria a oferecer o seu conteúdo à BPMP (à excepção, claro está, de volumes como o que aqui se descreve) provavelmente antes de 1902 (ano em que a BPMP imprimiu o catálogo deste fundo). Sucessor do conhecido historiador Augusto Pinho Leal (1816- 1884), com quem muito trabalhou em áreas como a Arqueologia, Corografia e História, é já com o estatuto de Abade de Miragaia que terá sido proprietário deste códice, tal como indica o único carimbo de propriedade azul esverdeado que se encontra-se na p. [380]87 do volume:

PEDRO A. FERREIRA ABBADE DE MIRAGAYA/ PORTO

O Reverendo era também amigo de Francisco Martins Sarmento, como prova a correspondência que trocaram ao longo dos anos, sobretudo no final da vida de Martins Sarmento88. Nessa correspondência trocam conhecimentos, dúvidas, informações bibliográficas e fazem referência a uma frequente oferta e empréstimo de livros entre ambos. No entanto, em 1986, três anos antes da sua morte, Martins Sarmento não tinha conhecimento de nenhum outro manuscrito das MRAG além daquele que sabia estar na posse da família Motta Prego89. Dado que não se encontra nenhuma referência a este códice na correspondência acima citada, então é possível considerar que o livro só tenha chegado às mãos do Abade de Miragaia depois da morte de Martins Sarmento (cujo interesse na obra seria certamente evidente para o amigo), a menos

87 Embora se tenha atribuído foliotação (e não paginação) aos constituintes do resguardo do volume, no

caso dos fólios do índice que não estão numerados optou-se por atribuir um número que continua a paginação dos fólios anteriores: pp. [377], [378], [379] e [380].

88 Da correspondência trocada entre Martins Sarmento e o Abade de Miragaia entre 1895 e 1899

sobrevivem apenas alguns autógrafos nos acervos da BPMP e da BSMS, respectivamente. Esta correspondência foi publicada, sem indicação do editor, no vol. LXI da Revista de Guimarães, em 1935.

89 Referindo-se a um problema de leitura do impresso das MRAG, Martins Sarmento afirma: «O único

manuscrito que conheço, pertencente ao meu amigo António Coelho da Motta Prego, e a que recorri para estudar a dificuldade, está incompleto e não chega mesmo ao capítulo em que se trata do nosso texto» (Sarmento 1896:7, nota 1).

81 que tenha sido mencionado e oferecido pelo Abade numa das muitas missivas em falta. É difícil acreditar que entre 1881 (ano em que é fundada a SMS) e 1902 (ano em que o testemunho deu entrada na sua biblioteca) o livro tivesse estado sempre na biblioteca do Abade de Miragaia. Consequentemente, talvez possamos considerar a hipótese de só ter estado sob a sua posse entre 1833 e 1902.

Assim, embora o códice não possa ter sido produzido depois de 1864 (quando pode ter sido adquirido por Pedro Augusto Ferreira sob o título de Abade de Miragaia), talvez seja possível recuar esse limite ante quem. No recto do fólio de guarda [2]90 lê-se a seguinte nota escrita a tinta preta por outra mão:

Imprimio-se este mss: na cidade do Porto na Typografia da Revista 1845.

Entre o primeiro plano da encadernação do códice e o corpo dos seus cadernos encontra- se um pequeno pedaço de cartão solto onde está impresso o seguinte:

Manuscrito original das «Memórias ressuscitadas da Antiga Guimarães», do Padre Torcato de Azevedo.

Não é óbvia a interpretação a dar a estes dados. Se, na nota manuscrita, se interpretar “Imprimio-se este mss” como indicação de que este foi o original de imprensa usado para a edição de 1845, o manuscrito terá naturalmente de ser anterior. Porém não pode descartar-se imediatamente a possibilidade de a nota se limitar a identificar o texto contido no manuscrito com o texto impresso em 1845. Não sabemos que credibilidade merece o desconhecido autor da nota. O mesmo poderá dizer-se do autor do cartão impresso. Como interpretar “Manuscrito original”? Não pode referir-se ao autógrafo das MRAG, porque esse, como vimos, será o códice de Évora. Com isso também concorda Brito (1981:440-441), para quem G2 não poderia ser o original desta obra porque: a) tem uma letra muito cadenciada e sempre igual (argumento que não é necessariamente válido, dado que o que explica a regularidade da letra é o facto de G2 ser uma cópia da obra de Azevedo. Também o códice E apresenta essas mesmas características de regularidade porque é uma cópia, não deixando por isso de ser autógrafa.); e b) tem muito menor extensão do que E (numa diferença que não pode ser explicada apenas pela utilização de abreviaturas e espaço entre linhas de escrita, o que, de acordo com a autora, talvez signifique que o seu texto esteja parcialmente truncado). Está, então, o autor deste cartão equivocado ou quer antes dizer que este manuscrito foi usado como original de imprensa da edição de 1845?

90 Como são fólios não numerados, daqui em diante os fólios do resguardo do volume serão designados por

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Brito (1981) sugere que G2 poderá ser o testemunho base do texto impresso de 1845, não só porque este tem, como G2, uma extensão muito menor do que E e P, mas também porque o uso intensivo de abreviaturas em G2 poderá explicar alguns dos seus erros e gralhas.

A questão decide-se com um estudo estemático, chamando à colação o texto impresso, tal como o que empreendo no capítulo II (v. pp. 217-221) e que confirma que o texto impresso apresenta todas as variantes significativas do subarquétipo α e todas as variantes privativas significativas de G2 – às quais acrescenta os seus próprios erros. Conclui-se, portanto, que o conteúdo da nota e do cartão mencionados (“Imprimio-se este mss” e “Manuscrito original”, respectivamente) fazem referência ao códice G2 como o original de imprensa da edição de 1845.

Na contra-guarda [1] vêem-se, a lápis, além da cota actual, cotas anteriores:

B-2-65 B-S-10-6-146 B.S

1-4-36

Embora se descarte a possibilidade de atribuição a Torcato Peixoto de Azevedo, cuja mão conhecemos (Testemunho E), não há nenhum elemento codicológico que certifique quem tenha sido o responsável pela produção deste códice. O facto de os textos introdutórios (aparentemente equivalentes em E, P e G2), mostrarem aqui discurso na primeira pessoa é apenas um indicativo de que a obra de Azevedo foi copiada. O mesmo vale para a cópia do nome do autor na dedicatória da secção Ao leitor (p.6) e no final da Protestação (p.7):

1) Capelão de Vm.

Torcato Peixoto de Azevedo

2) Torcato Peixoto de Azevedo 1.3. Conteúdo

O códice identifica-se pelas seguintes menções históricas:

Incipit: [p.1] Memorias Resuscitadas da antigua Guimarães. / Prefação / Aquelle tão valerozo, como dyscreto, e grande

Alexandre Magno…

Explicit: [p. 376]…Todas estas fontes estão vezinhas humas das outras e todas seruem a utilidades , e delicias desta

Nobre Villa de guimaraes. / Dinis laus Deo.

O códice é constituído por quatro secções textuais delimitáveis que correspondem primeiro aos textos preliminares e depois à obra propriamente dita, como E e P, subdividida em 142 capítulos91:

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 pp. 1-4: Memorias Resuscitadas da Antiga Guimarães / Prefacção / Aquelle tão valerozo, como dyscreto, e grande

Alexandre Magno…

 pp. 5-6: Ao leitor

pp. 6-7: Protestação.

 pp. 8-376: Memorias Resucitadas da Antigua Guimarães

 pp.[377-380]: Índice92

Este códice contém todas as secções textuais das MRAG e os 142 capítulos em que a obra

se divide nos restantes testemunhos (E e P). Contudo, e como salienta a análise de Brito (1981:443), a comparação entre as dimensões deste códice com as do códice P (e consequentemente com as de E, da mesma extensão que P) permite concluir que G2 tem pelo menos 237344 (cerca de 4746 linhas ou 121 páginas de texto) letras a menos93, o que indica que, qualquer que tenha sido o critério de supressão, esta é uma cópia da obra deliberadamente truncada.

2. Descrição Material

2.1. Encadernação

A encadernação é constituída por brochado, isto é, um tipo de encadernação feita de planos de cartão94 e por uma cobertura de papel de fantasia marmoreado (azul, vermelho, amarelo, preto, e branco). Esta encadernação é aparentemente original e bem conservada, embora se consigam identificar alguns acidentes externos, como um rasgão de cerca de 75 mm de altura ao longo do limite direito do topo da lombada (rasgão que está ao nível da cobertura e do plano de cartão e que deixa a descoberto o corpo dos cadernos e o interior da encadernação).

Os planos têm 220 x 155 mm e a lombada 322 x 34 mm. Aberto o livro a meio, mede-se uma totalidade de cerca de 220 x 342 mm. As peças de cartão que constituem os planos têm uma espessura de cerca de 2 mm.

A cobertura da encadernação é dupla: primeiro os planos e dorso estão cobertos por um papel verde-escuro (acastanhado em algumas zonas, nomeadamente na lombada, graças à abrasão e à passagem do tempo), papel esse que é ligeiramente timbrado com linhas oblíquas. Só

92 Este índice, entre as páginas [377]-[380], está ordenado por número de capítulo, título de capítulo e

página em que esse capítulo se inicia.

93 Estes resultados de Brito são obtidos estimativamente através das dimensões das páginas manuscritas, do

formato da mancha de texto, do número total de fólios, da média de linhas por página e média de letras por linha. Esta minha descrição codicológica de G2 não confirma a estimativa do número médio de linhas por página de Brito (38,25), contando-se entre 40-42 linhas (média de 40,8).

94 Como na descrição de P, utiliza-se o sentido codicológico do termo planos. Contra-plano continua a ser o

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depois são cobertos pelo papel de fantasia, deixando o papel verde apenas visível na lombada e numa tira que se estende para cada um dos planos até cerca de 16 mm de largura.

No exterior da encadernação é ainda possível identificar alguns elementos com função decorativa: o papel verde timbrado da lombada tem gravadas sete linhas douradas distribuídas ao longo da sua altura e que parecem simular visualmente as saliências através das quais os nervos das encadernações medievais se faziam notar ao longo da lombada. Essas linhas decorativas apresentam as seguintes distâncias entre si: a primeira está a 5 mm do limite de cabeça da lombada e a 31 mm da linha seguinte, a segunda, terceira, quarta e quinta têm 36/37 mm de distância entre cada uma, a quinta dista 46 mm da sexta, a sétima dista 16 mm da sexta e 5 mm do limite de pé da lombada da encadernação. Além disto, a lombada tem ainda o título da obra gravado a dourado em letras capitais e entre as duas primeiras linhas douradas, como se também simulasse visualmente um rótulo (v. nota 84, p. 79).

Existe uma etiqueta colada na zona inferior da lombada da encadernação, etiqueta essa muito deteriorada, o que impossibilita a leitura do texto nela escrito. Vêem-se ainda dois elementos que parecem simular tranchefilas de lingueta recta, isto é, que não sobressaem do volume. Esses elementos não correspondem verdadeiramente a nervos independentes da encadernação mas sim apenas a dobras arredondadas num reforço de papel colado na lombada, dobras essas que visualmente geram um efeito semelhante ao das tranchefilas.

O resguardo do códice é constituído por quatro fólios de guarda, dois colados em cada contra-plano (contra-guardas), uma guarda volante no início do volume e outra no final. A guarda e contra-guarda do final do volume estão ambas em branco, mas a contra-guarda [1] tem escritas as cotas (actual e anteriores) do códice, como foi descrito anteriormente, e a guarda [2] tem não só um carimbo da BSMS em cada um dos seus lados, como no seu recto também se lê a já referida nota manuscrita, a lápis, que identifica este manuscrito com a edição de 1845.

As contra-guardas [1] e [4] cobrem em grande parte os restantes elementos da encadernação, mas permitem analisá-la em algumas zonas onde, pela fragilidade do papel que as constitui face à força aplicada pela pele da encadernação, as contra-guardas são de algum modo ligeiramente transparentes ou estão descoladas. Também é possível ver parte do interior da encadernação pela zona deteriorada da lombada, o que permite analisar o processo que deu origem à encadernação. Assim, nota-se que o papel verde da primeira cobertura da encadernação tem dimensões superiores às já apresentadas de cada um dos planos, dando origem a virados nos limites de cabeça, goteira e pé nos contra-planos encadernação. Cada um deles tem as seguintes

85 dimensões aproximadas, em ambos os contra-planos: 10 mm de altura no limite de cabeça do plano da encadernação (e a mesma largura da encadernação) e 21 mm de altura no limite de pé (e a mesma largura da encadernação); os virados dessa primeira cobertura nas margens de goteira da encadernação não se conseguem ver nem decalcar, pelo que não se percebe por quantos milímetros de largura o recorte de papel excedia as dimensões dos planos.

Estes virados também parecem cobrir toda a encadernação de um contra-plano ao outro, o que demonstra como esta primeira cobertura foi colocada não só em torno dos planos da encadernação, mas também do dorso. Na verdade, a lombada da encadernação não é feita de cartão, mas sim formada apenas por este papel verde da primeira cobertura, relativamente grosso, de modo a tornar a lombada resistente, mas maleável o suficiente para se manusear o livro. Além disso, ainda é possível verificar que os virados desta cobertura são feitos primeiro nas margens de cabeça e pé da encadernação e só depois na margem de goteira, visto que é possível ver que o virado da margem de goteira se sobrepõe aos outros.

Em seguida foi colada a segunda cobertura, composta pelo papel de fantasia e por duas peças que são individualmente coladas sobre a cobertura verde em cada um dos planos. Através das transparências das contra-guardas é possível ver que da sua colagem resultam três virados em cada um dos contra-planos da encadernação, tendo primeiro sido feitos os de cabeça e pé e só depois, através de um corte oblíquo no papel de fantasia, um virado no limite de goteira, que se sobrepõe aos outros dois. Contudo, e como os virados de cabeça e de pé não têm a mesma largura do plano, a colagem desta cobertura deixa a descoberto uma faixa verde mais próxima da lombada em cada um dos planos (não impedindo de visualizar os virados da primeira cobertura). Assim sendo, os virados dessa segunda cobertura ultrapassam as dimensões dos planos de forma quase idêntica nos dois contra-planos: o virado de cabeça excede em cerca de 30 mm o limite de cabeça da encadernação, o virado de pé excede em cerca de 34 mm (e ambos têm menos 15 mm de largura do que o plano); o virado de goteira excede em cerca de 40 mm o limite de goteira do plano. Isto faz com que a peça de papel que cobre o primeiro plano da encadernação tenha cerca de 284 x 180 mm.

Esta dupla cobertura parece ter sido fixada aos contra-planos por três meios. O primeiro é, provavelmente, a colagem de cada um dos virados de papel à superfície dos contra-planos. O segundo parece ter sido a utilização de duas tiras de papel ou pele que foram coladas aos virados de goteira de cada um dos contra-planos e à sua superfície de cartão, fixando-os. Essas duas tiras não estão visíveis a não ser em relevo e transparência nas contra-guardas, e por isso é impossível

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verificar de que material são feitas. Contudo, no primeiro contra-plano vê-se o seu relevo aos 60 e 90 mm de altura do contra-plano95 e no segundo contra-plano encontram-se mais a meio do plano de cartão, isto é, a 80 e 130 mm de altura, respectivamente. Por fim, a fixação desta cobertura é feita pela colagem das contra-guardas aos contra-planos, processo que também garante a fixação do corpo dos cadernos à encadernação, pois as contra-guardas [1] e [4] apresentam solidariedade com duas guardas volantes que iniciam e terminam o volume ([2] e [3] respectivamente).

É também pela transparência das contra-guardas que se confirma que o segundo meio de fixação do corpo dos cadernos à encadernação é assegurado por três nervos, que servem de apoio à cosedura dos cadernos do volume à encadernação. O material de que são feitos estes nervos não é discernível apenas porque estão completamente cobertos pelas contra-guardas do volume, mas a forma como estão fixados aos contra-planos através de incisões é visível através de um rasgão entre a guarda [2] e a página 1, e as suas posições são facilmente identificáveis pelo seu relevo. Assim, no primeiro contra-plano, o primeiro nervo está a 48 mm do limite de cabeça e a 61 mm do segundo, enquanto o terceiro está a 56 mm do limite de pé e a 55 mm do segundo nervo. No segundo contra-plano o primeiro nervo está a 45 mm do limite de cabeça e a 62 mm do segundo, enquanto o terceiro está a 58 mm do limite de pé e a 57 mm do segundo.

O corpo dos cadernos parece ser fixado à encadernação não apenas pelos nervos de apoio e pela colagem das contra-guardas, mas ainda por um reforço de papel que foi colado ao longo de toda a superfície da lombada do corpo dos cadernos e da encadernação, e ainda por, pelo menos, duas peças de papel mais espesso96, com cerca de 40 x 25-30 mm, coladas sobre o primeiro reforço referido, no topo e na base da lombada do corpo de cadernos e da encadernação. Verifica- se ainda que as peças de reforço foram fixadas por meio de uma dobra para o interior da