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Análise e discussão das atividades sobre legenda e simbologia do mapa de

7 ANÁLISES E DISCUSSÕES DOS DADOS OBTIDOS DURANTE AS

7.3 Análise e discussão das atividades sobre legenda e simbologia do mapa de

maioria das vezes com nossos alunos em sala de aula: ficaram passivos, “só observando”. Depois, quando pedi para observarem as cores e os símbolos, é que começaram a perceber e fazer alguns comentários sobre o que estavam observando. Isso reflete um comportamento comum, em que as ações só ocorrem a partir de algum comando executado, verbalmente ou por meio de uma tarefa escrita numa folha.

Quando foi pedido para observarem e relatarem os aspectos gerais ou as primeiras impressões que os símbolos transmitiam para eles, fizeram uma série de comentários. Alguns disseram que era “enorme diversidade de cores, formas e traços” e ficaram preocupados de como iam memorizar toda aquela folha para poder fazer o mapa depois. Nesse caso, tratei de tranquilizá-los dizendo que não era necessário memorizar todos os símbolos e o mapa de Orientação, e sim, aprender a correlacioná-los com seus objetos correspondentes. Isso seria feito em campo, em contato direto com os objetos. Quanto aos tipos de símbolos, alguns comentaram que era possível perceber uma grande diversidade como as “elevações, numeração, segmento das retas, posições dos símbolos, espaços preenchidos e não preenchidos”. Além disso, alguns professores perceberam que a maioria dos símbolos se restringia a pontos, linhas e áreas, o que coincide com a abordagem da semiologia gráfica descrita por Bertin.

A partir dessa observação pedi para que descrevessem como esses pontos, linhas e áreas eram apresentados na folha. Os professores descreveram que os pontos eram diferentes e variavam “de acordo com tamanho, forma e cor”(P3). Quanto às linhas, disseram que podem ser “retas, curvas, fechadas e abertas” (P6). Outros, ainda colocaram que as linhas podem ser “segmentadas, continuas, descontinuas, tracejadas, duplas, simples, mais grossas e mais finas”. As áreas, segundo alguns professores podem aparecer de vários tipos, com “formas irregulares, vazias e cheias, com círculos duplos, únicos, contínuos e descontínuos, retângulos e triângulos” (P2). Quando questionados sobre o motivo das diferentes formas apresentadas pelos símbolos os professores compreenderam e disseram que “serve também para passar alguma informação”. Houve alguns questionamentos, como o de uma professora que quis saber se “as cores têm alguma relação com o que está representando ou não?”(P3), que foi prontamente ratificado por outro professor que afirmou os pontos, linhas e formas “são de vários tipos porque cada um destes tipos serve para passar informações sobre distância, densidade, orientação”(P1 e P7).

Quanto às cores presentes nos símbolos, um questionamento foi motivador para as discussões sobre a finalidade das cores nos mapas de Orientação. “A cor tem alguma relação com o que está sendo representado?”(P2), perguntou uma professora. Com isso mostrei as

diferentes correspondências que ocorrem com um mesmo símbolo à medida que alteramos sua cor. Para ilustrar essas diferenças mostrei que o X na cor marrom corresponde a um cupinzeiro, na cor azul representa um elemento relacionado à água (caixa d’água, cisterna ou poço), enquanto, na cor preta representa um objeto construído pelo homem.

Todas as observações foram muito importantes e serviram para que os professores começassem a se familiarizar com as noções simbólicas. No entanto, foi a prática de campo que permitiu aos professores, em contato com os objetos reais representados na folha construir um sentido ou resignificar aquilo que havíamos apresentado em sala de aula para eles. Para exemplificar a importância dessa experiência, de comparação da carta com o terreno, houve um debate esclarecedor do quanto o aspecto cultural e conhecimento prévio influencia na construção de sentido para os símbolos representados. Quando pedi para que encontrassem o objeto no terreno equivalente ao X marrom, logo um dos professores indagou “professor o X corresponde ao cupim? Após um breve silêncio, outros disseram que sim e pediram para olharmos na folha novamente. Mas, um dos professores indagou “do qual cupim estamos falando, daquele montinho de terra que tem aqui no Cerrado ou daquele bicho que parece uma formiga cabeçuda? Apesar de não parecer um questionamento e sim uma indagação para sugerir um comentário, discuti sobre a importância conceitual de algumas palavras que possuem mais de um significado. Nesse caso, o símbolo X em marrom, pelas convenções estabelecidas na ISOM (2000), representa aquele “montinho de terra” que para nós aqui na Região do Cerrado é denominado cupinzeiro, e não o cupim animal rasteiro de hábitos noturnos.

As discussões e dúvidas surgidas durante as atividades serviram para esclarecer a função e a importância de uma legenda bem elaborada. Para Bertin (1980) a legenda de um mapa pode ser entendida como a porta ou o “meio indispensável” para entrada no mapa, e esta deve ser elaborada com todos os cuidados para que o leitor possa reconhecer espontaneamente os dados ou fenômenos ali representados. É por meio dela que se faz a relação entre os signos e seus significados distribuídos no corpo do mapa. É a partir do reconhecimento dos significados que se possibilita a construção de novos sentidos para as representações gráficas do cartão de descrição da simbologia no mapa de Orientação. Martinelli (2010) sugere que a legenda seja a última coisa a ser colocada no mapa, pois ela se constitui como uma espécie de síntese daquilo que o mapa está comunicando ao leitor. No entanto, durante o processo de produção do mapa percebeu-se a necessidade da construção da legenda, pelo menos de forma preliminar (em forma de rascunho), concomitante ao desenho do mapa como um todo. Essa necessidade foi constatada no momento em que os professores começaram a representar os

objetos do terreno e sentiam que precisavam classificá-los e registrá-los. Por exemplo, para registrar dois objetos da vegetação observados no terreno, como duas moitas de bambus, houve a necessidade de indicar em algum lugar do mapa (início de uma legenda) o que diferenciava essas moitas de bambus de outras árvores diferentes próximas a elas.