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Expectativas dos professores participantes em relação à experiência e suas

6 SABERES E CAMINHOS QUE CONSTITUÍRAM O ESPORTE

6.2 Expectativas dos professores participantes em relação à experiência e suas

De início os professores esperavam que fôssemos realizar as aulas dentro de uma sala resolvendo exercícios sobre escalas, fusos horários e coordenadas geográficas, como relata um professor “Professor o senhor não vai ensinar escala para nós aqui na sala, não? (P2)”. Percebi, posteriormente, que os professores mostraram uma compreensão em relação às atividades desenvolvidas durante o curso. A maioria entendeu a proposta e se motivou com a perspectiva de experimentar uma forma alternativa de aprender e ensinar Cartografia a seus alunos.

Quanto às perspectivas e motivações em participar dos encontros ficou evidente a busca por melhoria em suas qualificações para atuarem em sala de aula e a aspiração por progressão na carreira profissional. A maioria dos participantes respondeu que a principal motivação para participar do curso foi o desejo de aprendizagem e melhoria em suas práticas pedagógicas com seus alunos. Esta pode ser percebida nos relatos de alguns professores, como por exemplo, um deles enfatizou o desejo em participar de uma experiência concreta de situações de ensino e aprendizagem de conteúdos que fazem parte do seu cotidiano escolar, com a expectativa de aplicá-los em sua prática de sala de aula.

Os conteúdos que mais cativam os alunos são aqueles que envolvem prática. Foi pensando nisso, na possibilidade de aprender novas metodologias, que vim fazer o curso. Espero poder aplicar estas aprendizagens na prática docente da universidade também. (P10)

Ou ainda, como descreve outra professora que, além de apontar a expectativa em agregar novos conhecimentos focados em sua prática, apresenta um problema relacionado à pouca ênfase que se dá aos conteúdos da Cartografia escolar em relação ao tempo necessário para se trabalhar com seus alunos.

Procuro neste curso aulas que me permita acrescentar aos meus alunos maiores e melhores aprendizados. A aplicabilidade na prática é o meu maior foco, pois, a área de Cartografia é muito pincelada nas escolas e isso acarreta perdas aos alunos. A Cartografia é para mim uma área que me desperta curiosidades e vontade de explorar o conteúdo, porém esbarra nas dificuldades acentuadas dos alunos. (P1)

Outro professor reconhece a precariedade ou problemas em seu processo de formação, e vê no curso a oportunidade de buscar inovações e melhorias didáticas para usar em seu contexto escolar.

As minhas experiências com a cartografia e até mesmo com a geografia foram meio traumáticas, até mesmo pela qualidade dos professores que tive ao longo dos meus anos de escolaridade. Percebo que as metodologias ainda adotadas em sala de aula são bastante arcaicas e necessitam de inovação urgente, até mesmo para recuperar a credibilidade da geografia no cenário educacional. As minhas expectativas em relação ao curso são as melhores, espero que ele possa contribuir para uma melhor formação profissional e que diante dele eu consiga transmitir aos meus alunos uma geografia diferenciada. (P11)

Além da expectativa de sanar algumas dificuldades relacionadas à suas práticas, outros disseram, concomitantemente, que a possibilidade de progressão na carreira profissional também os motivaram, e muito, como pode ser percebido no relato da professora ao afirmar que “quando fiquei sabendo do curso, vi que era a oportunidade para que eu possa superar as dificuldades e ter a possibilidade de progressão na carreira profissional.” (P6)

Como pode ser visto nos relatos, essa busca de novos aprendizados foi a tônica dos discursos dos professores, inclusive com a compreensão de que o aprendizado deve ser constante em suas vidas. Isso ficou explícito no relato de uma professora, demonstrando a pressão que sofremos para dominarmos o maior número de informações no menor tempo possível “somos mutáveis e penso que quando acordo, já estou sem muitas informações; eu durmo, os acontecimentos não” (P3), como se esse domínio fosse a solução para os problemas em termos de conteúdo e metodologias a serem aplicadas. Ao observar seu relato a seguir, percebe-se a importância que ela atribui ao processo de aperfeiçoamento que pode ser proporcionado pelas atividades do curso.

Todo tempo é tempo de repensar, aprender, modificar condutas, buscar novos caminhos, acumular e/ou adquirir novos conhecimentos, estabelecer novos conceitos, conhecer pessoas, reforçar valores. Isso justifica minha participação no curso com a finalidade de repensar minha prática pedagógica, com a certeza de criar novos métodos, ter mais praticidade no ato de repassar o conteúdo e na espera de ter comigo alunos que saibam ler,

rever, ver, observar tornando-se apto a refletir sobre o papel que ele desempenha e desempenhará de acordo com a construção do seu conhecimento. (P3)

Contrastando um pouco com essa preocupação em obter o máximo de informações possíveis, o discurso de uma das professoras é muito lúcido ao mostrar que não basta apenas informações ou a quantidade de conhecimentos adquiridos, é preciso a qualidade do aprendizado e como este se aplica na solução de problemas do cotidiano.

Vale insistir que essa preparação não exige maior quantidade de ensino (ou de conteúdos), mas sim melhor qualidade de aprendizagem. Selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e informações representados de diferentes formas, para tomar decisões e enfrentar situações-problema. (P7)

Além das expectativas, alguns professores relataram suas dificuldades e problemas enfrentados em seu cotidiano escolar. O relato a seguir de um dos professores aponta o problema do pouco tempo dedicado a atividades práticas durante a formação inicial e reconhece o atual contexto de mudanças na sociedade, o que tem se refletido em sala de aula e que vem exigindo, com isso, criatividade e novas ações para acompanhar essas transformações.

Em minha formação acadêmica, licenciatura e bacharelado em Geografia, tive a oportunidade de aprender com bons professores, mas com pouco tempo prático e assim tenho grandes expectativas neste curso de cartografia. Observo que na prática docente o conteúdo da geografia cartográfica vem ganhando importância especial, frente à globalização acentuada. Isso cobra nova didática e nova metodologia de ensino e aprendizagem. (P4)

Da mesma forma, outro professor aponta falhas em seu processo de formação e deduz que isso compromete a educação como um todo, não apenas o ensino da Cartografia. “Percebo que, dentro de um conjunto de questões, há uma grande falha em nossa formação. Fato que compromete nossa prática pedagógica e o alcance dos objetivos da educação como um todo.” (P9)

Outros apontaram dificuldades específicas em termos de domínio de conteúdos relacionados à Cartografia, como exemplifica esse professor: “Tenho algumas dificuldades em escala, coordenadas, mas me esforço ao máximo. Espero poder trabalhar com meus alunos o que aprender no curso”. (P8). Ou ainda, como relata o professor a seguir demonstrando grande problema conceitual em relação ao domínio dos conteúdos de Cartografia e perspectiva de que o curso possa resolver seus problemas relacionados a essa temática.

No conteúdo de geografia eu tenho um bom domínio na geopolítica, porém sou péssimo em cartografia, porém esse ano está sendo uma experiência nova, pois comecei a trabalhar com os alunos dos 6º anos, onde deve ser trabalhado o conteúdo de cartografia com os alunos, assim estou me esforçando para poder transmitir com compromisso o conteúdo. Contudo, o curso vai contribuir muito para eu entender mais sobre a cartografia e poder transmitir esse conhecimento para os meus alunos. (P12)

Além dos relatos escritos, muitos se manifestaram verbalmente, fazendo comentários relacionados ao ensino de Cartografia e Geografia e dialogando sobre seus trabalhos na rede municipal de ensino em que atuam. Houve muitos depoimentos sobre suas práticas docentes, anseios e dilemas envolvendo temas sobre os conteúdos de Geografia e Cartografia, além de aspectos relacionados à gestão escolar e infraestrutura disponível nas escolas onde trabalham. Os depoimentos, fruto desse diálogo, se juntaram ao rol de dados que serviram de base para compreendermos um pouco mais de suas expectativas e de seus problemas apontados.

Quando questionado sobre o porquê dos alunos apresentarem dificuldades na aprendizagem da cartografia escolar, as explicações são diversas, envolvem questões relacionadas ao tempo de aula dedicado ao ensino desta matéria, como demonstrado na narrativa de um dos participantes: “o que observo é que em geral as exigências quanto ao tempo e a necessidade de “vencer” os conteúdos limitam ou impedem um trabalho mais apropriado com a Cartografia.” (P9)

Outros apontam a ausência de “base” que deveria ser construída nos anos das séries iniciais: “a base para o entendimento da cartografia deve ser construída em fases anteriores. Agora não dá para corrigir em um ou dois anos” (P3). E, ainda, as dificuldades relacionadas a outras disciplinas como a matemática foram relatadas como: “o problema é que os alunos não dominam as questões que envolvem matemática” (P4), reconhecendo a clara inter-relação dos conteúdos, especialmente aqueles relacionados a noções de escala cartográfica que envolvem conhecimentos próprios da Cartografia e se relacionam aos raciocínios próprios da matemática.

Por outro lado, houve aqueles que reconheceram que “muitas das vezes o problema é o despreparo do professor para lidar com o tema da Cartografia” (P3) e também o depoimento anterior (P12), que mostra a relação entre o problema de ensino e o problema da aprendizagem.

Uma consideração relevante diz respeito à relação entre a faixa etária de alguns professores, seu processo de formação e o tempo de experiência docente. Alguns apresentam pouca experiência, considerando as faixas etárias mais elevadas. Tentando compreender essa

relação, tendo em vista a análise de suas motivações na participação do curso e as lacunas no processo de formação, foi observado que alguns professores não quiseram ou não conseguiram começar a dar aulas de Geografia logo após sua formação inicial. Para alguns docentes, um dos fatores que contribuíram para isso foi o fato de se sentirem inseguros, e terem carências e dificuldades em relação ao domínio de alguns conceitos, uma vez que não vivenciaram na prática e que para assumir uma sala de aula precisavam ser revisitados, como pode ser percebido no relato de um dos professores participantes do curso:

Depois que eu me formei não tive muita coragem de encarar uma turma de alunos, ainda não me achava preparada para trabalhar todo o conteúdo de Geografia. Daí, quando eu estava desempregada surgiu uma oportunidade e resolvi arriscar. Até agora, acho que está dando certo. (P5).

Percebe-se, que além da preocupação com a falta de domínio dos conteúdos relativos ao ensino de Geografia, que provocam insegurança, havia ainda uma forte preocupação com os aspectos relacionados ao domínio de sala e aos relacionamentos com os alunos.

Sobre esse processo de formação Gatti (2009) salienta que os professores desenvolvem sua profissionalidade tanto pela sua formação no ensino básico quanto na graduação, como nas suas experiências com a prática docente, pelos relacionamentos interpares e com o contexto das redes de ensino. A autora aponta que esse desenvolvimento profissional

parece, nos tempos atuais, configurar-se com condições que vão além das competências operativas e técnicas, aspecto muito enfatizado nos últimos anos, para configurar-se como uma integração de modos de agir e pensar, implicando num saber que inclui a mobilização de conhecimentos e métodos de trabalho, como também a mobilização de intenções, valores individuais e grupais, da cultura da escola; inclui confrontar ideias, crenças, práticas, rotinas, objetivos e papéis, no contexto do agir cotidiano, com seus alunos, colegas, gestores, na busca de melhor formar as crianças e jovens, e a si mesmos (GATTI, 2009. p.96).

Portanto, esses métodos de ensino precisam ser constantemente aprimorados e vivenciados, e o fato de se ficar durante um intervalo de tempo longe das práticas profissionais e não experienciá-las, pode ter contribuído para lacunas e deficiências em relação ao domínio conceitual e metodológico de alguns conceitos da Cartografia Escolar.

A leitura das perspectivas dos professores em relação ao curso serviu para nortear as atividades que organizamos relacionadas ao esporte Orientação e suas possibilidades de adaptação metodológica ao ensino da Cartografia Escolar nas escolas.

Mesmo conseguindo realizar todos os encontros previstos, houve algumas mudanças em nosso planejamento. Em função dos deslocamentos até o local onde realizamos as atividades (área urbana e rural), houve desencontros e conflitos que tive que intermediar para resolvê-los. Atrasos em relação aos horários combinados, ausências de alguns professores participantes, problemas pessoais e/ou profissionais. Isso já era esperado, tendo em vista a experiência que temos tido em realizar este tipo de atividades com alunos. Porém, foi possível contornar os problemas e não comprometer os principais objetivos das atividades.