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O Mapa de Orientação: construção e convenções simbólicas

4 O ESPORTE ORIENTAÇÃO

4.3 O Mapa de Orientação: construção e convenções simbólicas

O mapa de Orientação é resultante de um conjunto de sinais ou códigos com valores e significados previamente convencionados, que devem ser apresentados como códigos não naturais, mas que partem de princípios definidos por convenção de um grupo de pessoas que usa o esporte Orientação, de maneira que os mesmos sejam considerados em seu processo de produção. Portanto, os mapas são produzidos a partir de um conjunto simbólico que serve de referência na mediação entre o mapeador e leitor, e estes com os objetos que serão ou estão representados no papel.

A simbologia usada no mapa de Orientação é convencionada internacionalmente pela IOF, de modo que um mapa construído em um lugar possa ser legível a leitores em outras partes do mundo, mesmo que sejam denominados em idiomas diferentes. Essa preocupação pode ser sintetizada nas palavras de Eric Tobe (2010) quando afirma que ao olharmos para um mapa de Orientação o importante é “se sentir em casa, mesmo quando está longe”. O que muda é o idioma ou a descrição dos símbolos e não os símbolos gráficos presentes nos mapas, que, independentemente do país onde foi confeccionado, há uma referência às convenções e regras estabelecidas.

Porém, tanto as convenções simbólicas como o seu sistema de cores, não são estáticos ou imutáveis. Eles refletem o contexto da cultura e as demandas do grupo social envolvido com essa modalidade esportiva, que vem mudando ao longo dos tempos e estão sujeitas a modificações futuras. A primeira Especificação Internacional de Mapas de Orientação (ANEXO 3), publicada em 1969, surgiu da necessidade de uma padronização para os mapas usados nas competições internacionais, tendo em vista a expansão do esporte em várias partes do mundo e as consequentes demandas dos usuários dos mapas. Naquela especificação continham diretrizes simples sobre como deveriam ser construídos os mapas para que tivessem o maior grau de legibilidade possível em qualquer evento do esporte Orientação.

Nas especificações posteriores, de 1975, 1982, 1990 e 2000 (ANEXO 3) foram feitas algumas modificações complementares em relação à primeira que havia sido publicada em 1969. A atual especificação (Fig. 11), publicada no ano 2000 é mais completa e incluiu as referências para todas as modalidades oficiais (pedestre, ski, mountain bike e trail), organizadas pela IOF.

Figura 11 – Padronização de referência para mapa de Orientação baseada na ISOM 2000. Fonte: CBO, 2010.

Figura 12 - Simbologia do Cartão de descrição do mapa de Orientação Fonte: CBO, 2000.

Figura 13 - Exemplo de um Cartão de descrição simbólica para identificar os pontos de controle. Fonte: IOF, 2012.

A evolução das alterações tem ocorrido no sentido de propor uma maior generalização e ampliação das possibilidades de adequações às variáveis socioculturais dos lugares onde é produzido, sem perder os princípios fundamentais convencionados. Assim como outras formas de linguagem, apesar de um pressuposto de padronização, o mapa de Orientação propõe uma representação espacial dentro dos diferentes contextos socioespaciais que está sendo produzido. Por exemplo, o mapa que representa uma paisagem natural do Cerrado com sua diversidade de relevo, vegetação e hidrografia, é diferente daquele de outras paisagens e reflete suas características próprias, permitindo ao leitor uma interação com o meio onde vive. Da mesma forma, o mapa construído para representar um ambiente de florestas tropicais, manguezais ou uma formação desértica terá uma aparência diferente e refletirá a natureza e a cultura daquele lugar. A variação ocorre em função daquilo que se quer representar, sendo que as representações cartográficas são construídas a partir de escolhas e seleções que o mapeador estabelece diante do meio, mediante sua cultura e valores próprios do lugar onde vive.

Embora sejam construídos pelo mesmo sistema simbólico pré-estabelecido, a seleção e o grau de generalização em relação aos objetos do relevo, hidrografia, fluxos e vegetação representados no mapa, serão influenciados pela natureza e cultura de cada lugar. O mesmo pode acontecer com a interpretação e o sentido que cada leitor atribui às representações contidas no mapa. Um cupim (pequena elevação no terreno – objeto especial do relevo) é representado por um X com a cor marrom e, em qualquer mapa de orientação que houver esse símbolo representará a mesma coisa. Do mesmo modo, uma árvore isolada (árvore destacada dentro da paisagem), é representada por um pequeno círculo na cor verde, em qualquer mapa de Orientação. Independentemente de ser um Pequizeiro do Cerrado ou um Umbuzeiro da Caatinga, em qualquer mapa de Orientação estará representada por um pequeno círculo em verde. O que pode mudar é o sentido atribuído por cada leitor, que interage com a paisagem em função de sua vivência e identidade com o terreno.

O processo de construção dos mapas de Orientação passou por mudanças significativas a partir do momento em que começaram a ser desenhados no computador com o uso do software OCAD, desenvolvido especificamente para construção de mapas de Orientação. O uso desse software trouxe grande contribuição ao desenvolvimento do esporte no Brasil e no mundo, sobretudo em termos de quantidade e qualidade dos mapas produzidos. A ausência de mapas específicos para a Orientação foi, e ainda é um empecilho à expansão do esporte, tendo em vista que os mapas usados eram aqueles produzidos pelas Divisões de Levantamentos do exército e muitos eram reservados ao uso exclusivo dos militares. Com

esse programa ampliou-se a possibilidade dos mapeadores no meio civil e militar de elaborarem mapas de forma muito mais ágil e em muitas áreas que até então não estavam mapeadas. Por outro lado, a qualidade dos mapas de Orientação melhorou de forma significativa, tendo em vista a disponibilidade das especificações técnicas disponíveis no programa. No programa OCAD, a biblioteca de símbolos já está inserida dentro do software e obedece a padronização exigida para os mapas de Orientação, com escalas e percursos colocados automaticamente, exigindo do mapeador apenas a habilidade em termos de escolhas e generalizações daquilo que quer representar.