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Capítulo 4: Inovação e inclusão políticas, práticas e cultura

5.5. A análise documental: dos artefactos aos constructos (o quê, onde e

De acordo com De Ketele e Roegiers (1999), o processo de pesquisa que o investigador tem que empreender para poder inteirar-se da génese do seu objeto de estudo, requer a complementaridade entre várias fontes, de modo a que os dados e a informação pertinente, que deles advêm, se interconectem em correlação dinâmica, singular, transversal e significativa.

Conscientes da legitimidade desta premissa associámos às entrevistas, anteriormente referidas, a análise documental que nos permitiu a partir de registos diversificados, analisar a objetividade, bem como a veracidade dos factos, acontecimentos e marcos históricos para os podermos cruzar com as informações transmitidas pelos nossos entrevistados.

Referindo-se a este indispensável exercício, Hammersley e Atkinson (2005) constatam:

En muchos casos, por lo tanto, los etnógrafos necesitarán tener en cuenta ciertos documentos como parte del campo social que están investigando. Al recomendar que se preste atención a fuentes documentadas, en los lugares sociales apropiados, estamos señalando el lugar histórico en la tradición intelectual de la ciencia de la interpretación social (p. 176).

Os autores supracitados (ibidem), persistindo no seu olhar crítico, a propósito dos atributos que a análise documental, nas suas vertentes “formal” e “informal” podem oferecer, esclarecem:

Existe, por supuesto, una compleja variedad de materiales documentales que son relevantes para el investigador. Éstos incluyen desde los más “informales” hasta los más “formales” o “oficiales” (p.187).

(…) en vez de verlos apenas como fuentes de información (más o menos sesgada), los documentos y estadísticas oficiales deberían tratarse como productos sociales; deben ser analizados, y no empleados meramente como “recursos” (…) (p. 192).

Por conseguinte, alicerçados nos referentes que vimos de apresentar, a nossa análise documental incidirá em notícias e artigos de opinião que tenham sido publicados em jornais e revistas, aos quais associaremos a leitura e referência a normativos, a atas de reuniões, a ofícios, a relatórios de atividades, a programas de governo e a discursos políticos, na medida em que, em diferentes momentos, os mesmos espelharam e foram expressão de opções políticas, de tomadas de decisão, retratando, por isso, a realidade e as práticas veiculadas, em diferentes épocas, no âmbito da Educação Especial, na Madeira.

Finalmente, devemos referir que também teremos em consideração a atribuição de prémios e de menções honoríficas à Educação Especial, dada a relevância que essas manifestações representam na análise do desempenho do organismo em investigação, em termos educativos, sociais e culturais.

5.6. A triangulação de dados: (re)unir (para) interpretar e apurar o sentido

A busca de um olhar holístico, congregador da compreensão, da interpretação e da atribuição de significado aos resultados da pesquisa não pode ser, de modo algum, um processo aleatório ou arbitrário supondo, por isso, o recurso a ferramentas que nos orientem no trabalho de análise.

Esta premissa é tanto mais verdadeira se tivermos em conta a relevância, eivada das mutações dinâmicas e constantes que, paulatinamente, o campo educativo tem vindo a espelhar, nas sociedades contemporâneas.

Pensamos ser a esta metamorfose queSim-Sim (2005) se refere, quando salienta: Há um sentir generalizado de que o século XXI vai exigir, está já a exigir, a todos os indivíduos um nível superior de capacidades e competências que nos permitam pensar criticamente, resolver problemas complexos, procurar, obter e sintetizar informação proveniente de fontes diversificadas, com vista a podermos enfrentar as complexidades com que a vida contemporânea nos confronta (p. 15).

A indispensabilidade de sistematizar a informação apreendida, em diferentes meios e lugares, associa-se à riqueza da variedade de referentes que a triangulação faz sobressair dos dados que o investigador possui. Esta ideia é apresentada e defendida por Hammersley e Atkinson (2005) nestes termos:

En la investigación social, si uno confía en una sola versión de los hechos existe el peligro de que un error que no haya sido detectado en el proceso de recogida de datos tenga como consecuencia un análisis incorrecto. Si, por otro lado, diversos tipos de información llevan a la misma conclusión, uno puede confiar un poco más en las conclusiones (...) con recurso a una triangulación reflexiva(...) (p. 250).

Deste modo, fazendo jus às potencialidades apresentadas por diferentes autores, neste campo, pensamos que o processo de triangulação possui o condão de correlacionar o matizado de dados, captados das várias e distintas fontes, onde se beberam informações, episódios, olhares, opiniões e conhecimento.

Enfatizando esta mesma dimensão Cohen, Manion e Morrison (2007) defendem:

Triangulation may be defined as the use of two or more methods of data collection in the study of some aspect of human behaviour (…) By analogy, triangular techniques in the social sciences attempt to map out, or explain more fully, the richness and complexity of human behaviour by studying it from more than one standpoint (p. 141).

Na nossa opinião, ao valorizar e ao enquadrar esta temática, Fortin (2009) reforça e reorienta o pensamento supracitado, quando advoga:

A triangulação é essencialmente o ponto de articulação dos componentes que fornecem novos conhecimentos relativamente ao mesmo fenómeno. Define-se como o emprego de uma combinação de métodos e perspectivas que permitem tirar conclusões válidas a propósito de um mesmo fenómeno (...) consiste numa colheita de dados junto de diversas fontes de informação (...) a fim de estudar um mesmo fenómeno (pp. 322-323).

Ao transpormos, para o caso em estudo, os conceitos supracitados, quisemos perscrutar e relacionar as informações, os dados e os referentes imanados das diferentes fontes em que nos apoiámos e, imbuídos de expetativa, centrámos o nosso exercício de triangulação de dados de acordo com aquilo que a figura n.º 6 pretende resumir:

Fig. 6: Esquema da triangulação de dados

Devemos salientar que esta ação de triangular os dados também é influenciada pela singularidade do investigador, tornado agente e ator, num processo tão sensível, quanto exigente e complexo, em que a adesão, a identificação e a isenção palpitam e pululam entre a tentação de pessoalizar e o dever de contenção.

Por outro lado, este exercício tem que ser olhado também enquanto motor de desenvolvimento, transformação e singularidade do próprio investigador, dimensão que Guerra (2003) enfatiza, quando declara: “A diferença é consubstancial ao ser humano. Somos únicos, irrepetíveis, em constante evolução (...) a diferença é uma fortuna que enriquece a todos” (p. 200).

Pensamos que é a esta condição da metodologia inerente à investigação qualitativa que Amado (2014) se refere, quando alvitra:

(...) metodologia que me tornaria possível a invasão da dimensão oculta, subjetiva, dos acontecimentos ‘evidentes’ (...) nela tudo se cruza: o objeto da sua atenção é constituído por contextos, comportamentos e significações, e enquanto estratégia acolhe diversas técnicas de recolha e de análise de dados (...) A Investigação Qualitativa exige e torna presente uma visão e uma convicção de cariz filosófico, acerca do que é o homem, a sociedade, a verdade e a ética. Claro que tudo isto não deixa de ser problemático, quando, acima de tudo se pretende produzir um trabalho científico tendo em conta que o principal instrumento dessa pesquisa é a própria pessoa do investigador, que também não deixa de se ir descobrindo e formando a si própria no desenrolar da investigação (pp. 41-42).

Entrevistas

Histórias de Vida

Análise

Concludentemente, alicerçados metodologicamente em tudo quanto apresentámos, no presente capítulo, e munidos de um manancial de dados, provenientes de vozes, narrativas, documentos (cf. anexo n.º 1) e evidências, a que se juntam incessantes e renovadas dúvidas partimos, agora, para aquele que será o derradeiro capítulo deste trabalho, no qual ensaiaremos a nossa capacidade de nele podermos inscrever a harmonia de uma síntese inspirada e proveniente de hipóteses remotas e talhada, a posteriori, nas múltiplas e aprazíveis circunstâncias que, conduzindo-nos até ela, a edificaram.