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ANGOLA E OS ESPAÇOS MARÍTIMOS: DELIMITAÇÕES, COMPETÊNCIAS E

No documento Doutoramento (páginas 66-69)

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO-CONCEPTUAL

2. A REALIDADE INTERNACIONAL

2.1. A CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR (CNUDM)

2.1.2. ANGOLA E OS ESPAÇOS MARÍTIMOS: DELIMITAÇÕES, COMPETÊNCIAS E

COMPETÊNCIAS E FRONTEIRAS

Embora o caminho percorrido pelo Direito do Mar tenha sido longo e na sua totalidade desconhecido, sabe-se que foi a «Declaração do Presidente do Chile de 23 de junho de 1947», sobre a delimitação das zonas de proteção de caça e pesca marítimas, que mais destacou a reivindicação dos direitos económicos sobre os espaços marítimos contíguos aos Estados. Como resultado, hoje, a soberania una e indivisível do Estado angolano é exercida sobre a totalidade do território nacional, compreendendo nos termos da Constituição da República, da Lei e do Direito Internacional, a extensão do espaço terrestre, as águas interiores e o mar territorial, bem como o espaço aéreo, o solo e o subsolo, o fundo marinho e os leitos correspondentes, demonstrando desta forma o compromisso do Estado com o Direito internacional e sobretudo com a «Convenção de Montego Bay»65. Semelhantemente, o Estado

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O Estado exerce jurisdição e direitos de soberania em matéria de conservação, exploração e aproveitamento dos recursos naturais, biológicos e não biológicos, na zona contígua, na zona económica exclusiva e na plataforma continental, nos termos da lei e do Direito Internacional. De acordo com o Artigo 164 da CRA, à Assembleia Nacional compete legislar com reserva absoluta a definição dos limites do mar territorial, da zona contígua, da zona económica exclusiva e da plataforma continental.

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exerce soberania e/ou jurisdição material na zona contígua, na ZEE e na plataforma continental (Lei 14/10, Artigo 3).

Neste seguimento e para efeitos do presente trabalho, consideram-se as zonas do espaço marítimo que surgem como mais importantes na abordagem das diferentes temáticas, considerando a distribuição geográfica do território angolano, a saber: as águas territoriais (mar territorial), a zona contígua, a ZEE e a plataforma continental. De acordo com a parte II da CNUDM, entende-se por "Mar Territorial" a zona do mar contígua ao território do Estado costeiro até um limite que não ultrapasse as 12 MN, medidas a partir das linhas base determinadas em conformidade com a «Convenção Montego Bay»66 (Oliveira, 2007, p. 203; Lei 14/10, Artigo 8 e 24). Com isso a soberania total do Estado costeiro estende-se para além do seu território e das suas águas interiores; no caso de Estados que são arquipélagos, incluirá as suas águas arquipelágicas, o mar territorial e o respetivo espaço aéreo sobrejacente ao mar territorial, bem como o leito e o subsolo deste mar.

Por seu turno e de acordo com o artigo 33 da Convenção Montego Bay, a "Zona Contígua" corresponde à área marítima contada a partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial, não podendo estender-se para além das 24 MN; nesta área marítima o Estado costeiro pode tomar todas as medidas de fiscalização necessárias, de forma a evitar as infrações às leis e regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou sanitários no seu território ou no seu mar territorial, ou ainda, reprimir as infrações às leis e regulamentos no seu território ou no seu mar territorial67. Dessa maneira, a zona contígua angolana estende- se a partir do seu mar territorial numa largura de 12 MN (Lei 14/10, Artigo 9 e 31).

Quanto à "Zona Económica Exclusiva", surge como a zona adjacente ao mar territorial e para além deste, até uma distância de 200 MN das linhas de base a partir das quais se mede a largura do mar territorial. De acordo com o artigo 55 da Convenção, na ZEE o Estado costeiro tem direitos de soberania para fins de exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais, vivos e não vivos das águas sobrejacentes ao leito do mar, do leito do mar e seu subsolo, e no que se refere a outras atividades com vista à exploração e aproveitamento da zona para fins económicos, com a produção de energia a

66 A Lei n.º 2130 de 22 de agosto de 1966 promulgou as bases sobre a jurisdição do mar territorial e da zona

contígua e remeteu para diploma especial a definição das linhas de base retas. Na sequência do disposto n.º2 da Base I da Lei n.º 2130, o Decreto n.º 47 771 de 27 de junho de 1967 fixou o limite interior do mar territorial angolano com o traçado de algumas linhas de fecho e de base reta que suplementam as linhas de base normal, tendo sido reiteradas pela Lei 21/92 de 28 de agosto de 1992, e atualmente pela Lei 14/10 de 14 de julho.

67 A zona contígua angolana foi criada pela Lei n.º 2130 que estabeleceu poderes a Angola para exercer na zona

do alto mar contígua ao seu mar territorial, entre outros poderes, o de “prevenir e reprimir as infrações às leis de polícia aduaneira, fiscal, sanitária ou de imigração cometidas no seu território ou no seu mar territorial”.

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partir da água, das correntes e dos ventos; bem como exerce jurisdição nos casos convergentes com as alíneas b) e c) do artigo 56, correspondendo os direitos de soberania exclusivos do Estado costeiro68 (Lei 14/10, Artigo 10 e 36).

Também e de acordo com o artigo 76, a "Plataforma Continental" compreende o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem além do seu mar territorial, em toda a extensão do prolongamento natural do seu território terrestre, até ao bordo exterior da margem continental ou até uma distância de 200 MN das linhas de base a partir das quais se mede a largura do mar territorial, nos casos em que o bordo exterior da margem continental não atinja essa distância (Oliveira, 2007, p. 239; Lei 14/10, Artigo 11 e 47). A linha dos limites exteriores da plataforma continental devem estar assim situadas a uma distância que não exceda as 350 MN da linha base da qual se mede a largura do mar territorial, ou a uma distância que não exceda as 100 MN medidas desde a isóbata dos 2 500 metros de profundidade69. Por último, encontramos o «Alto Mar» cujo regime jurídico é dos menos afetados pela revisão do Direito Internacional Marítimo, mantendo-se até hoje dominado pelo princípio da liberdade dos mares (Ribeiro, 1992, p. 227).

No que toca às fronteiras laterais, encontra-se em curso o processo de delimitação da fronteira lateral norte entre a República de Angola e a República Democrática do Congo (Oliveira, 2007, pp. 212-222; Lei 14/10, Artigo 12), sendo seguramente a que oferece maior complexidade, por estarem envolvidos muitos interesses para o Estado, nomeadamente no que concerne à exploração dos recursos energéticos no mar, ao exercício da soberania nestes espaços e à unidade nacional; especialmente pelo posicionamento do enclave de Cabinda. Por sua vez, a delimitação da fronteira sul do mar territorial, ZEE e plataforma continental de Angola, foi definida através do Tratado de delimitação assinado entre Angola e a Namíbia, a 4

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A Lei 14/10 estabelece a Zona Económica Exclusiva (ZEE) angolana, declarada em 1974, abrangendo uma área de cerca de 518 433 km2 que corresponde a cerca de 40% do território angolano total, sendo que de acordo com o artigo 16 da CRA “os recursos naturais, sólidos, líquidos ou gasosos existentes no solo, subsolo, no mar territorial, na zona económica exclusiva e na plataforma continental sob jurisdição de Angola são propriedade do Estado, que determina as condições para a sua concessão, pesquisa e exploração, nos termos da Constituição, da lei e do Direito Internacional”. Por sua vez os direitos de soberania, que comportam alguns deveres para com Estados terceiros e o direito de jurisdição, encontram-se definidos desde o artigo 57 até ao artigo 75 da Convenção Montego Bay.

69 A plataforma continental de um Estado costeiro não se deve estender além dos limites previstos nos números 4

a 6 do artigo 76 da Convenção, bem como a margem continental que compreende o prolongamento submerso da massa terrestre do Estado costeiro e é constituída pelo leito e subsolo da plataforma continental, pelo talude e pela elevação continentais, não compreende nem os grandes fundos oceânicos, com as suas cristas oceânicas, nem o seu subsolo. Os Estados ribeirinhos têm o direito de reivindicar a extensão da sua plataforma continental até aos limites acima descritos, respeitando sempre os limites, legais, físicos e temporais definidos pela Carta das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, sendo que o Estado costeiro exerce direitos de soberania sobre a plataforma continental para efeitos de exploração e aproveitamento dos seus recursos naturais, entre outros direitos descritos desde o n.º 2 do artigo 77º ao artigo 85º, conforme defende também a Lei 14/10.

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de junho de 200270 (Oliveira, 2007, p. 222; Lei 14/10, Artigo 13). Em suma é neste quadro legal de espaços marítimos, delimitações e competências (vide. Apêndice A2), onde nos próximo anos Angola deverá definir o seu posicionamento como Nação atlântica, num quadro global onde a evolução da «Ordem Mundial» foi desde cedo influenciada pelo posicionamento dos estados, relativamente ao Mar.

2.2. A ORDEM MUNDIAL E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

No documento Doutoramento (páginas 66-69)