• Nenhum resultado encontrado

OS PARCEIROS INTERNACIONAIS

No documento Doutoramento (páginas 129-131)

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO-CONCEPTUAL

3. A REALIDADE ANGOLANA: UMA ANÁLISE GEOPOLÍTICA E GEOESTRATÉGICA

3.7. ANGOLA NO SISTEMA POLÍTICO INTERNACIONAL

3.7.1. OS PARCEIROS INTERNACIONAIS

A noção de «Aldeia Global» derivada da ideia de globalização, como produto dos avanços da Era da informação, fez emergir um novo padrão de interação a nível das relações internacionais, marcado por uma maior interdependência dos atores internacionais. Mais tarde, com o término da Guerra Fria, a conjuntura internacional altera-se, essencialmente no aspeto "geoestratégico dos recursos naturais no mundo", passando as grandes potências mundiais a prestar mais atenção no controlo dos recursos naturais estratégicos, como forma de preservar o poder efetivo na «Nova Ordem». Neste novo padrão de interação a Geoeconomia181 ganhou mais espaço, uma vez que foram rompidas as fronteiras nacionais e se estabeleceram uma relação de interdependência económica com raízes muito profundas, consolidando a chamada economia global; e determinando as consecutivas alianças de cooperação entre os países do Primeiro Mundo e os países do Terceiro Mundo182.

Deste modo, o aumento da produção de petróleo e as necessidades internacionais dos países mais desenvolvidos assegurarem recursos energéticos de que dependem, tem alterado a posição de Angola no mercado e nos negócios internacionais, fazendo com que esta esteja cada vez mais ativa nas ORA e assuma frequentemente novos acordos bilaterais nos diferentes setores da politica internacional. Nesta perspetiva e considerando os laços históricos, Angola estabelece relações económicas privilegiadas com Portugal e com o Brasil, num primeiro patamar, nomeadamente ao nível da CPLP; o que tem representado relações essenciais para o desenvolvimento económico e para a afirmação nacional na senda internacional, mormente por esses países fazerem parte de dois grandes "focos estratégicos para o Estado angolano".

Neste contexto, considera-se que a relação com Portugal é estratégica para Angola, pois surge como um mercado de investimento essencial para o país, servindo como via de

181

A Geoeconomia, como o nome indica, examina as interações entre o homo economicus e o espaço ou seja, o peso dos fatores espaciais na produção e nas trocas humanas, a utilização do espaço pelo homem, para o deslocamento das suas atividades económicas (Defarges, 2012, p. 133).

182 Este contexto tem propiciado a aceleração da interdependência que conduz a uma evidente erosão da

130

entrada para outros mercados mundiais, nomeadamente no maior sistema financeiro e mercado de capitais; o que tem permitido a expansão da economia nacional183. Paralelamente Portugal, para além de incrementar a entrada de know-how e de avançadas tecnologias, surge como o quarto maior investidor estrangeiro184 em Angola, porquanto e excluídos os setores petrolífero e diamantífero, os portugueses fazem parte dos principais investidores no mercado local, com uma cadeia empresarial com mais de 200 empresas, onde sobressaem os setores da banca e da construção civil (Gonçalves, 2011, p. 79). O segundo foco centra-se na relação com o Brasil, que vem permitir uma maior consolidação das relações Sul-Sul e fortalecer a «Lusofonia»; representando um vetor essencial no panorama internacional, dado a sua importância como potência do Hemisfério e do Atlântico do Sul e que integra o "clube" das potências emergentes. Nesta perspetiva, o Brasil aparece como um dos maiores parceiros de Angola no setor industrial, alimentar, agrícola, entre outros setores essenciais para o desenvolvimento económico do país, tendo sido o primeiro país a aceitar o Estado angolano logo a seguir à Independência.

Assumindo crescente importância e dimensão geoestratégica reconhecida ao continente Africano, também aumentou o interesse das grandes potências mundiais (República Popular da China, EUA, UE, Índia, Japão, etc.) em estabelecer relações de cooperação com os países africanos, especialmente com Angola (Jover, Pinto, Marchand, 2012, pp. 12-15). Surge assim a relação mantida atualmente entre o Estado angolano e a República Popular da China, fomentada pela cedência das linhas de crédito185 da última ao Governo angolano a partir do ano de 2003, no quadro do «Consenso de Pequim» em convergência com a política de expansão "Going Out policy" da China. Esta aproximação deu um outro rumo às relações historicamente mantidas entre os dois países, e fez com que a China se tornasse no principal parceiro para o "desenvolvimento económico e a reconstrução de Angola" (Pavia, 2011, pp. 9-17). Por sua vez, a China com o seu crescimento exponencial e consecutivamente com o aumento da sua dependência em termos de recursos naturais,

183 Tal como para muitos portugueses, Angola é vista como o «oásis dos negócios» ou como muitos apelidam «o

el dourado»; para os Angolanos, Portugal é um mercado importante para investir, com vista a maior expansão da

economia nacional (Gonçalves, 2011, p. 74).

184 Continua a ser atual o facto de que Angola considera “...de grande importância a intervenção da cooperação

portuguesa em todas as áreas que possam significar diversificação da estrutura produtiva nacional e constituição de núcleos de modernização da atividade económica” (Mingas, 1992, p. 49).

185 A ajuda chinesa surge depois do FMI se ter negado em oferecer o apoio financeiro a Angola, devido a não

concretização, em 2002, das reformas exigidas ao país pela instituição, que consagrava uma reforma no setor petrolífero, pelo maior rigor no controlo das receitas e pela maior transparência (Ganesan, 2004, p. 2). Esta exigência surge da prática comum das instituições do sistema de Bretton Woods que exigem que os países em vias de desenvolvimento aceitem as reformas neoliberais, tipificadas pelo «Consenso de Washington», para se habilitarem à empréstimos do FMI ou do Banco Mundial (Smith, 2011, p. 42).

131

derivada também pelo elevado consumo energético, faz de Angola um "inimigo improvável" para a China, sendo atualmente um dos seus principais fornecedores de petróleo (idem, p. 15). Nesta ótica, o relacionamento económico e comercial entre os dois países têm sido pautados, por um lado pela obtenção de créditos e investimento sem condicionalidades políticas por Angola, e por outro lado pelo acesso aos recursos minerais angolanos pela China, evidenciando a importância estratégica desta relação bilateral entre os dois Estados186.

Nestas relações também os EUA, que só vieram a reconhecer Angola em 1993 após as primeiras eleições multipartidárias, surgem atualmente como um parceiro estratégico de Angola com negócios avaliados acima dos 18 mil milhões de USD, o que faz com que cerca de 9% a 11% do petróleo dos EUA seja proveniente de Angola, estando a mesma no centro da Estratégia Energética dos EUA. Acrescenta-se o facto de que atualmente as atenções começam a incidir mais nos países do Golfo da Guiné, o que tem ditado o aprofundamento nas relações entre os dois países. De igual modo, o País estabelece relações amigáveis com outros Estados, onde se destacam países europeus (Alemanha, França, Noruega, Espanha, Itália, Reino Unido, etc.); países africanos (África do sul, Namíbia, Moçambique, Senegal, etc.); países asiáticos (Coreia do Sul, Índia, Emiratos Árabes Unidos, etc.); bem como com outras OI (UE, ONU, FDA, OMI, OPEP, etc.). Numa síntese do explanado, verifica-se que este leque de aproximações na cena internacional não pode deixar de representar um ganho para um Estado ribeirinho como Angola, sobretudo porque se considera que neste momento se exige uma avaliação das potencialidades estratégicas para o futuro de uma economia que precisa criar novos fatores de atratividade, com processos de mudança adaptados ao novo contexto global e parceiros políticos e económicos do Estado vão servir de catalisadores para este novo patamar de modernização onde, tudo indica, que o mar se encontrará no centro de um cenário dominado pelas OI.

No documento Doutoramento (páginas 129-131)