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CONCEITOS AUXILIARES

No documento Doutoramento (páginas 60-63)

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO-CONCEPTUAL

1. INTRODUÇÃO DE CONCEITOS

1.2. CONCEITOS AUXILIARES

Em Ciência Política o conceito de "Interesse Nacional é um tema que sempre provoca algum debate, pois nele poderão ser detetados alguns atributos que muitas vezes não são essenciais para a sua constituição, mesmo que considerados por alguns autores. Na verdade, o conceito de "Interesse Nacional" depende efetivamente da situação e do contexto em si; daí a sua definição resultar de decisões políticas conjunturais, correspondendo o conjunto de valores que são vitais para o Estado. Por conseguinte e conforme defendeu Jorge Carvalho, o Interesse Nacional “varia no tempo e no espaço” (Carvalho, 2009, p. 2), assumindo particular complexidade para países em que a dimensão dos interesses é elevada, relativamente aos recursos disponíveis51.

Os interesses nacionais de um Estado estão relacionados com os valores primordiais que este pretende proteger, estando os mesmos interligados com as perspetivas e objetivos vitais de uma Nação e surgindo como as interpretações particulares do Interesse Nacional em face de situações concretas. Embora não exista um conceito definitivo sobre Interesse Nacional, visto que com a proliferação dos atores nas relações internacionais existem diferentes correntes no que toca ao conceito. Neste particular, considera-se adequada a definição defendida por Henriques, Rodrigues, Cunha e Reis (2000, p. 337), pela sua simplicidade e abrangência, o qual defende que o Interesse Nacional surge como o “conjunto de interesses que visam defender a identidade cultural e que são promovidos mediante a capacidade governamental de gerir e negociar objetivos nacionais prioritários nos domínios da política interna e do relacionamento externo”. Nesta perspetiva as alteraçoes decorrentes da Nova Ordem Mundial, ainda em definição, fizeram com que a própria noção de Interesse

51 O conceito de Interesse Nacional apesar de tender para o que é importante, primordial e distintivo do Estado,

varia no tempo e no espaço. De acordo com alguns autores, encontra-se sempre associado ao poder político, fazendo com que muitas vezes seja visto como o quarto elemento fundamental da estrutura do Estado (povo, território, poder político e Interesse Nacional), que na visão de Fukuyama sedimentada pelas ideias de alguns especialistas nesta matéria, surge como um quarto elemento na concertação da estrutura do Estado, encontrando- se fortemente ligado ao nacionalismo e sendo uma das essências da ação política (1999, pp. 260-268).

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Nacional52 se tornasse cada vez menos redutível ao territorio nacional, implicando uma maior abrangência no seu significado graças aos fenómenos de integração, cooperação e da globalização, de que o Estado é parte integrante e interessada (Marchueta, 2002, p. 41).

Na atualidade os interesses nacionais conhecem novas extensões, tendo uma projeção de caráter transnacional e englobando outros conceitos53, conforme admite Almeida Tomé, quando defende que o Interesse Nacional do Estado visa “...a preservação da sua própria existência e na garantia de permanente controlo e domínio sobre o seu destino e quanto ao cumprimento dos objetivos nacionais...” (2011, p. 80). Neste quadro, com o auxílio das suas fronteiras políticas, de segurança e económicas, o Estado estabelece e concretiza o Interesse Nacional como uma razão do Estado, com a politica a definir a sua forma de orientação e atuação, aos níveis interno e externo, com vista a garantir a prossecução dos objetivos vitais da Nação, onde se destaca a segurança e defesa, o desenvolvimento económico e o prestígio internacional (Marchueta, 2002, p. 41). Diante disso, os interesses nacionais de Angola determinam a sua estratégia de defesa do sistema multilateral na Ordem Mundial e o seu estatuto como membro da Organização das Nações Unidas (ONU), União Africana (UA), Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS), Comunidade para o desenvolvimento da África Austral (SADC), Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC), Comissão do Golfo da Guiné (CGG), Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).

Por seu turno a "Soberania" como conceito base, surge de Jean Bodin (1576), que considerava ser “o poder supremo sobre cidadãos e súbditos, sem limite de lei” (Fernandes & Borges, 2005, p. 26). Mais tarde, com o Tratado de Westphalia54 assinado em Münster em 1648, no seguimento de um conjunto de acordos bilaterais celebrados entre os príncipes europeus, é quase sempre considerado, no âmbito do estudo das relações internacionais, como

52 A definição da prossecução do Interesse Nacional ou geral relaciona-se diretamente com as noções de

segurança, justiça e de bem-estar económico e social da população, como objetivos últimos ou teleológicos do Estado, determinantes da equidade social e da satisfação das necessidades da sociedade (Ribeiro, 2009, p. 48).

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Paralelamente ao conceito de Interesse Nacional aparecem, quase sempre, associados o conceito de aspirações

nacionais (que definem aquilo que um Estado pretende ser, a nível interno e externo), o conceito de objetivos nacionais (que de uma forma mais clara, expressa as metas que o Estado quer atingir). Por sua vez, os objetivos

nacionais podem ser definidos de acordo com o seu grau de importância ou hierarquia (vitais, importantes, primários e secundários), de acordo com o prazo de consecução (últimos, longínquos, intermédios e atuais) quanto ao grau de permanência (permanentes e conjunturais; variáveis ou atuais); e por último quanto ao âmbito (gerais e setoriais). Deste modo considera-se por vezes que, por objetivos vitais, «se morre», por objetivos importantes, «se combate»; e, por objetivos secundários, «se negoceia» (Couto, 1988, pp. 65-66).

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Assim, em 1648, a Paz de Vestefália encerrou a Guerra dos 30 Anos, muitas vezes considerada a última das grandes guerras de religião e a primeira das guerras dos Estados modernos, estabelecendo o Estado territorial soberano como forma dominante de organização internacional, em oposição ao sistema feudal anteiror (Nye Jr., 2002, p. 3). Deste modo, a Ordem Vestefaliana serve como referência simbólica das relações internacionais até aos dias de hoje, relativamente aos direitos e deveres dos Estados.

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o início de uma nova fase na qual se consagra o conceito de Estado nacional de base territorial alargada, protegido por uma fronteira e dotado de soberania (Nye Jr., 2002, p. 186; Santos, 1997, p. 120); em contraste com o anterior modelo de Estado. Todavia, devido às constantes transformações na conjuntura internacional, o conceito de soberania tem vindo a evoluir, sendo esta evolução associada também às alterações na própria estrutura do Estado ao longo dos anos, sobretudo porque se verifica uma considerável diferença entre a estrutura do Estado Clássico, que teve a sua origem após as Revoluções Americana e Francesa e a do Estado Contemporâneo, que vigora atualmente no contexto político internacional.

Nesta ótica e de acordo com Pascal Boniface, citado por Matos, o conceito de soberania admite dois significados: “é ao mesmo tempo, o princípio fundador de toda a sociedade política e aquele da independência estatal absoluta” (2006, p. 58). Este conceito, apresenta-se hoje com um duplo sentido, político e jurídico, com alguma subjetividade comparativamente às suas primeiras conceções, sobretudo porque atualmente nem mesmo as potências mais fortes dispõem de soberania absoluta (Fernandes & Borges, 2005, p. 33), o que levou Adriano Moreira a advogar que “o tempo deste milénio em que entramos é de soberanias funcionais ou cooperativas, em que as transferências de competências para órgãos supranacionais, de várias espécies, se tornaram um imperativo”55

(Moreira, 2008, p. 313). O autor apoia-se no facto de, nos últimos anos, terem sido muitos os ataques à soberania dos Estados encobertos pelo "direito de ingerência humanitária", associados às restrições económicas, às ameaças globais e aos fluxos transnacionais financeiros, demográficos e culturais que os Estados controlam cada vez menos; o que tem contribuído para a crise do Estado soberano e alterado completamente o conceito de soberania (Fernandes & Borges, 2005, pp. 26-28).Dessa forma, ainda que a soberania dos Estados continue a não admitir o reconhecimento de qualquer autoridade externa como superior à sua, por o conceito de soberania se encontrar relacionado apenas com o território, atualmente já abrange todos os espaços sob completa jurisdição dos Estados, ou seja, os espaços terrestre, aéreo e marítimo, admitindo em paralelo novas modificações no seu âmbito. Consequentemente e tal como foi a Convenção de Paris de 1919 que pela primeira vez fez a menção do espaço atmosférico como espaço de soberania, a Convenção de Montego Bay, de 1982, surge como o principal e mais importante Edifício Jurídico Internacional sobre os mares e oceanos.

55 Por sua vez, a expansão das fronteiras provocada pela maior integração dos espaços verificada a nível mundial

fez cair em «desuso» o conceito de território e consecutivamente de soberania, anteriormente defendidos na esfera internacional, dado que um Estado era tido como Estado soberano quando tinha o seu território completamente controlado, não admitindo invasões, consideradas o sinónimo de falta de soberania.

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