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O ESPAÇO MARÍTIMO

No documento Doutoramento (páginas 103-105)

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO-CONCEPTUAL

3. A REALIDADE ANGOLANA: UMA ANÁLISE GEOPOLÍTICA E GEOESTRATÉGICA

3.2. O FATOR FÍSICO

3.2.2. O ESPAÇO MARÍTIMO

Antes de qualquer abordagem das temáticas subjacentes a esta parte do presente trabalho, entendeu-se sublinhar a ilustre frase do General Abel Cabral Couto, quando disse que “importa saber o que se conhece do mar, para saber se ele merece a devoção da Nação”130

, porque para se empreender esforços e recursos ilimitados, como o mar exige, deve-se ter a plena consciência da sua relevância para a prossecução dos interesses e objetivos nacionais. Com efeito e ao longo do tempo, as sucessivas arbitrariedades nos traçados das fronteiras marítimas sempre demonstraram a importância estratégica das orlas marítimas, quer em termos económicos como em termos de segurança e defesa territorial, pelo que costumam representar o melhor exemplo de fronteiras naturais, pelo seu caráter de delimitação, divisão e intransponibilidade (Marchueta, 2002, p. 22).

Angola é banhada em toda sua fronteira oeste pelo Oceano Atlântico, numa linha costeira de cerca de 1 650 km de extensão, com um mar territorial que vai até as 12 MN e uma ZEE que vai até as 200 MN, numa área de cerca de 540 390,95 km2, estando limitada a norte pelo paralelo 5º S e a sul pelo paralelo 17º 10’ S (MINUA, 2006, p. 1). A plataforma continental

Hinterland e os países com geografia favorável (2000, pp. 145-159). O problema de Angola reside no facto da

capital ser periférica e estar excêntrica à totalidade do país, o que não favorece a unidade nacional.

129 No que toca a construção dos portos de Luanda e de Lobito, existe um dado interessante, relacionado com o

alinhamento em termos de latitudes com dois portos importantíssimos na outra margem do oceano, ou seja, no Brasil (porto do Recife e porto da Baia, respetivamente).

130 Durante o I Congresso Nacional de Segurança e Defesa, com o tema, «Para uma Estratégia de Segurança

Nacional», entre 24 e 25 de julho de 2010, Armando Dias Correia fez referência as palavras de Abel Cabral Couto.

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interior131 é larga a norte, com limites entre as 40 e 50 MN de Cabinda até Lobito; do Lobito ao sul do Namibe torna-se mais estreita, com menos de 20 MN. Nas áreas do norte e centro o talude continental tem limites de 120 – 140 MN, e menos de 60 MN a Sul (MINUA, 2006, p. 63). Por sua vez, a profundidade marítima na orla marítima angolana tem uma variação mínima média entre os 3 aos 5 metros de profundidade, enquanto as profundidades na zona do talude continental atingem os 5 000 – 5 500 metros nas zonas Centro e Sul (MINUA, 2006, p. 63).

Portanto, o mar angolano apresenta-se na maior parte da sua extensão comoespelhado e calmo, com velocidades médias dos ventos que rondam os 0,3 m/s e correntes marítimas que ao longo da costa raramente atingem um nó e com uma ondulação suave; para além de ser navegável durante todo ano e permitir o trânsito submarino, visto que a partir das 5 MN da costa as profundidades rondam os 100 metros. A localização geográfica do país permite que o seu mar seja próspero em biodiversidade, especialmente pelo cruzamento de duas correntes marítimas importantes, a «Corrente Fria de Benguela» e a «Corrente Quente da Guiné», fazendo com que o país albergue um rico ecossistema de mangais, funcionando como a base do ciclo de vida e um habitat para a sua flora e fauna132 (FAO, 2011, p. 108).

Assim e assumindo como «fio condutor» o enunciado das teses que veem no mar a principal força de preservação e manutenção do poder, o «enquadramento geopolítico de Angola» como Estado ribeirinho assume algumas particularidades, sobretudo por se situar numa região do Atlântico muito rica em recursos naturais e de considerável importância no contexto geopolítico e geoestratégico regional, apresentando a «6.ª maior ZEE do Atlântico Sul» e sendo detentor de potencialidades de vária ordem. Dentre essas potencialidades, sublinha-se: a centralidade no contexto da África Subsariana, pertencendo simultaneamente a duas sub-regiões africanas (África Central e Austral); a abundância em termos de recursos hídricos, sendo um dos, senão o, mais privilegiado na África Austral; as riquezas no seu mar e plataforma continental, surgindo como principal produtor de petróleo a sul do Equador; a excelente localização dos seus portos principais a nível do Atlântico Sul, com excelentes

131 Atualmente encontra-se em curso um projeto que visa a extensão da plataforma continental para além das 200

MN, tendo sido criada uma comissão interministerial, de forma a elaborar uma proposta que deverá ser submetida à Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC).

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O ecossistema da Corrente Fria de Benguela é subdividido em duas áreas, uma considerada a zona Norte do ecossistema e outra correspondente a zona Sul, sendo a sua separação tecnicamente situada ao largo de Lüderitz, cerca de 300 quilómetros ao norte da fronteira entre a Namíbia e África do Sul, no sentido em que normalmente quando se fala sobre a zona Norte refere-se à Angola e a Namíbia, uma vez que a zona Sul corresponde a África do Sul.

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portos de águas profundas, servidos de várias ligações logísticas (rodoviárias e ferroviárias), rivalizando apenas com a Namíbia; a vantagem geoestratégica dos corredores transversais, noeadamente a do «Corredor de Benguela», no quadro do abastecimento dos países encravados da África Austral. Todos estes fatores se bem valorizados, podem funcionar como um catalisador do desenvolvimento dos países da região austral, sendo já considerado como um "pulmão" da África Austral; em que se soma a privilegiada posição geográfica, o que lhe permite controlar os acessos da RDC e da Zâmbia ao Oceano Atlântico. Procurando traçar um esboço geopolítico de Angola, enquanto Estado ribeirinho, enunciam-se as suas particularidades geopolíticas:

1. Faz parte do «Rimland africano» de Nicholas Spykman133;

2. Faz parte do Mapa geoestratégico do «Trade Dependent Maritime World» de Saul Cohen;

3. Possui a maior parte das caraterísticas que Alfred Mahan considerava fundamentais para o desenvolvimento de um Poder Marítimo;

4. Projeta-se inequivocamente para o Atlântico Sul;

5. Faz parte do triângulo estratégico lusófono do Atlântico Sul (Brasil – Angola – São Tomé e Príncipe;

6. Pertence à região do Golfo da Guiné, uma região estrategicamente rica em recursos naturais, designadamente de recursos fósseis, importantes para as "grandes potências mundiais";

7. Estabelece relações amigáveis com as maiores potências mundiais, nomeadamente, os EUA, a China, a Rússia, o Brasil, a Alemanha, a França, o Reino Unido, a India, e outros Estados;

8. Tem potencial, como Estado ribeirinho, para desenvolver um Poder Marítimo Regional;

No documento Doutoramento (páginas 103-105)