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C OMUNIDADE PARA O D ESENVOLVIMENTO DA Á FRICA A USTRAL

No documento Doutoramento (páginas 140-143)

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO-CONCEPTUAL

3. A REALIDADE ANGOLANA: UMA ANÁLISE GEOPOLÍTICA E GEOESTRATÉGICA

3.7. ANGOLA NO SISTEMA POLÍTICO INTERNACIONAL

3.7.2. AS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

3.7.2.3. C OMUNIDADE PARA O D ESENVOLVIMENTO DA Á FRICA A USTRAL

A Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral – Southern African Development Community (SADC) – surge como uma organização sub-regional de integração económica dos países da África Austral, originária da antiga SADCC (Southern African

199 Os países africanos precisam de estratégias marítimas e planos operacionais para enfrentar as ameaças, na

medida em que cada região precisa também de pôr em prática uma estratégia que estabelece um quadro para a cooperação interestadual sobre as questões marítimas (Malaquias, 2012, ¶ 15-18).

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Development Coordination Conference) e esta por sua vez dos "Países da Linha da Frente". Foi criada sobretudo para abolir o regime do Apartheid na República da África do Sul (Branco, 1997; Morais, 1998). Nessa altura era viável a eliminação do Apartheid e da opressão colonial nos países colonizados, de forma a melhorar o relacionamento entre os Estados da região tendo em vista o desenvolvimento da região e a eliminação da opressão, exploração e da descriminação racial200.

Com a pacificação das relações na região, a seguir aos acordos de 22 de dezembro de 1988 em Nova Iorque, passaram a existir condições oportunas para a implementação de um novo projeto de integração, no intuíto de permitir a prossecução de alguns objetivos anteriormente delineados, nomeadamente os de caráter económico (Morais, 1998, p. 18). Assim depois da assinatura do Tratado de Windhoek em 1992 (Pinto, 2005, p. 194), a SADC foi fundada por 10 países201, a saber: Angola, Botswana, Lesoto, Malawi, Moçambique, Namíbia, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabué. Dois anos mais tarde a África do Sul aderiu finalmente ao bloco regional da SADC, depois da abolição do Apartheid (Branco, 1997, p. 122).

Mais tarde e para responder às necessidades securitárias no continente, a SADC estabeleceu a 14 de agosto de 2001, no âmbito da Segurança e Defesa, o "Protocolo de Cooperação nas Áreas de Política, Defesa e Segurança", com vista a servir de mecanismo de resposta aos vários desafios políticos e de segurança e defesa na região austral, tendo sido criado o "Comité Inter-Estatal de Defesa e Segurança", que reúne os Ministros de Defesa dos Estados-membros, como órgão de direção deste protocolo202 (Bernardino, 2013, p. 250). No seu seguimento, surge o estabelecimento do «Pacto de Defesa Mútua», em 2003, e a iniciativa de estabelecer a Brigada regional, a nível do African Standby Forces, ou seja a "SADC

200 No seguimento destas necessidades, Keneth Kaunda afirmou que “nós concordámos em boicotar a África do

Sul e a Rodésia quando as Nações Unidas decidiram o boicote à Rodésia. Não poderíamos ter feito se estivéssemos presos à economia” (citado por Branco, 1997, p. 13), o que originou a ideia de uma Conferência de Coordenação da Ajuda para a África Austral, mas que só foi concretizada na reunião de Lusaka, em 1 de abril de 1980, após a independência do Zimbabwe, como uma consolidação do espírito de coesão política, económica e cultural, fundado, em 1979, pelo agrupamento designado Países da Linha da Frente (PLF).

201 Os principais objetivos deixaram de ser políticos, dado que a situação na África do Sul se encontrava

politicamente resolvida, concentrando assim os esforços para as áreas que permitiam um maior desenvolvimento e crescimento económico e a segurança regional. Atualmente, a SADC é constituída por 15 países membros, com funções específicas, ou seja: África do Sul; Angola; Botswana; Lesoto; Malawi; Moçambique; Namíbia; Suazilândia; Zâmbia; Zimbabué; Maurícias; Tanzânia; República Democrática do Congo; Madagáscar e as Ilhas Seychelles. As Seychelles depois de ter saído do bloco em 2004, devido à uma crise financeira, reintegrou em 2008, enquanto o Madagáscar foi suspenso da Organização em 2009, devido a uma crise política.

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Assim, este protocolo estabelece os instrumentos, metodologias e estratégias a utilizar na prevenção, gestão e resolução de conflitos por meios pacíficos, e prevê ainda o estabelecimento de um sistema de alerta. Atualmente, a SADC é uma das organizações sub-regionais com maior sucesso no continente, sendo que a nível das questões de Segurança e Defesa congrega um conjunto de programas e planos de atuação, que visam apoiar o desenvolvimento dos Estados-membros, garantindo a melhoria dos níveis de segurança da região.

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Standby Force Brigade – SADCBRIG", onde Angola tem participado ativamente203 (idem, 2011c, p. 114).

Nestes termos e por forma a revitalizar a arquitetura de paz e segurança a nível da região, foi implementado o "Strategic Indicative Plan for the Organ"204 (SIPO) ou Plano Estratégico Indicativo do Órgão de Cooperação Política, Defesa e Segurança da SADC, em 2004; revitalizado o "Centro de Formação Regional de Manutenção da Paz" (RPTC), em Harare, Zimbabwe, que se encontrava quase desativado após a Dinamarca e outros doadores retirarem o apoio financeiro em 2002; e estabelecido um "Centro de Planeamento" (PLANELM) no secretariado da SADC, em Gaborone. Por sua vez no âmbito da segurança marítima a nível regional da África Austral, a SADC há mais de uma década que tem envidado esforços destinados ao estabelecimento de um regime integrado de segurança e defesa que proteja os seus interesses marítimos, conforme o estabelecido no artigo 5º do Tratado de 1992. Institucionalmente importa ainda sublinhar a existência do "Organ for Politics, Defence and Security", transformado em Órgão de Política Defesa e Segurança Comum (OPDSC) em 2001; do "Interstate Polítics and Diplomacy Committee" (ISPDC); e do "Inter-State Defence and Security Committee" (ISDSC), destinados a prevenção e resolução de conflitos entre Estados (Ferreira, 2001, p. 179).

Deste modo, para além do Protocolo Regional sobre a Pesca (SADC Fisheries Protocol), concluído em 2001 e que vigora desde 2003, o "Protocolo da SADC sobre Transportes, Comunicações e Meteorologia de 1996", em vigor a partir de 1998, determina os objetivos estratégicos marítimos e de cooperação no domínio dos oceanos e das Marinhas, sendo atribuída às Marinhas de Guerra a maior importância no campo de atuação através dos trabalhos desenvolvidos pelo Comité Permanente Marítimo da SADC (Standing Maritime Committee – SMC SADC)205 (Thomashausen, 2008b, pp. 26-27). Comulativamente, a Declaração da SADC sobre a pesca IUU, assinada em 4 de julho de 2008 em Windhoek,

203 Um ano mais tarde, em 2004, foi adotado o «Strategic Indicative Plan for the SADC Organ» (SIPO), que

identifica as principais vulnerabilidades da Organização e na região em termos de Segurança e Defesa, tendo estabelecido dois órgãos que cruzam as comissões inter-estatais de política e diplomacia, isto é: o Interstate

Polítics and Diplomacy Committee, integrando os Ministros dos Negócios Estrangeiros ou das Relações

Exteriores; e o Interstate Defense and Security Committee, onde estão representados os Ministros da Defesa dos Estados-membros.

204 O SIPO é um órgão facilitador da agenda de desenvolvimento da SADC e foi fundado no quadro do Plano

Estratégico Indicativo de Desenvolvimento Regional (RISDP) e tem como objetivo central proporcionar um clima político de segurança pacífico e estável na região (SADC, 2013b). Desde a sua implementação, o SIPO tem definido as metas da Organização no setor da Segurança e Defesa (Barros, 2012b, pp. 7-8).

205 Este Comité foi estabelecido conforme as recomendações aprovadas em março de 1995 em Gabarone,

Bostwana pelo Comité de Defesa e Segurança Inter-Estadual (Inter-State Defence and Security Committee –

ISDSC) O SMC teve a sua primeira reunião em julho de 1995 e tem o estatuto de sub-subcomité do Comité

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visou tomar medidas sobre a pesca ilegal, não declarada e não regulamentada, reafirmando o compromisso dos Estados-menbros desta região para cooperar na regulação e aplicação de leis de pesca (Baker, 2011, p. 49). O Comité tem feito trabalhos importantes incluindo a elaboração de manuais de trabalho para a harmonização das questões de Segurança e Defesa no mar, tais como: procedimentos no âmbito de search and rescue; orientações para a Defesa Multilateral da Legalidade no Mar e em todos os espaços líquidos (SADC Guidelines for Multilateral Law Enforcement at Sea and Large Inland Water Bodies); ou ainda estudos no âmbito das Ciências do Mar206 (Thomashausen, 2008b, pp. 27-28). Neste quadro, a nivel nacional encontra-se em fase de aprovação a legislação relativa ao pacote de Defesa marítima da SADC.

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