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FATOR ECONÓMICO

No documento Doutoramento (páginas 107-109)

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO-CONCEPTUAL

3. A REALIDADE ANGOLANA: UMA ANÁLISE GEOPOLÍTICA E GEOESTRATÉGICA

3.4. FATOR ECONÓMICO

O ano de 2010 fica marcado na História da economia global como um ano de inflexão da situação económico-financeira desfavorável, após a economia global ter atravessado no período de 2008-2009 uma grave crise financeira com origem nos EUA. Com efeito, em 2009 houve uma contração no PIB agregado na ordem dos 0,7% (Financial Services KPMG, 2011, p. 5). Perante este cenário, os anos de 2010 e 2011 foram anos de recuperação económica, sendo que e de acordo com o relatório «World Economic Outlook», elaborado pelo FMI em de 2011, observou-se um crescimento da economia global na ordem dos 5,1%, graças ao crescimento das economias emergentes.

Angola faz assim parte desse grupo de economias em crescimento acima da média global, surgindo como um dos maiores casos de sucesso dos últimos quatro anos, e posicionando-se acima de países como a China e o Brasil, com um crescimento médio de cerca de 13%, o que a credita como uma economia emergente (FMI, 2013, p. 121). Na atualidade e de acordo com as estimativas feitas pelo Banco Mundial o PIB atual ronda os 114,2 biliões de USD. Em Angola, o ano de 2010 fica marcado pela aprovação da nova Lei do BNA que procura fazer convergir a ação do Banco Central com a nova Constituição da República, através da adoção de um «programa de desenvolvimento estratégico». Neste contexto, o sistema financeiro, encontra-se atualmente estruturado segundo uma dinâmica público-privado, num contexto formado por um Banco Central, bancos comerciais de direito angolano, bancos comerciais privados estrangeiros, sociedades financeiras, bem como instituições de representação e instituições especiais de crédito (BNA, 2010, p. 18).

Esta estrutura deve-se muito ao expressivo crescimento do setor bancário nos últimos anos; à evolução positiva dos principais indicadores macroeconómicos; e às reformas estruturais implementadas pelo Governo, o que levou as principais Agências Internacionais de Rating (Agências de Avaliação de Risco) a reverem em alta o Rating da República, em 2011, com a Moody’s a subir o Rating do país de B1 a Ba3 e a Standard & Poor’s e a Fitch a passarem de B+ para BB- (Financial Services KPMG, 2012, p. 9). Com isso, a economia

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nacional é hoje considerada uma das economias mais fortes e promissoras do continente Africano, muito devido à evolução de todos os indicadores de crescimento macroeconómico, com um crescimento do PIB na ordem dos 8,1% e uma desaceleração da taxa de inflação que pela primeira vez foi inferior aos dois dígitos 9% em 2012 (World Bank, 2013, pp. 1-7), num cenário em que, de acordo com o Relatório da «Economist Intelligence Unit», se vislumbra que a economia angolana poderá ultrapassar a nigeriana e sul-africana até 2016.

Enquanto isso e para 2013, projetou-se um crescimento do PIB nacional na ordem dos 7,1% em termos reais, valor ligeiramente inferior ao ano de 2012, mas superior ao crescimento verificado em de 2011 (BNA, 2012a, p. 15). Este processo de reformas nas políticas macroeconómicas tem sido apoiado pelo programa do FMI, «Stand-By Arrangement (SBA) 2009-12», que visa ajudar o país a atingir a estabilidade macroeconómica, melhorar a situação orçamental, aumentar as suas reservas em divisas, estabilizar a taxa de câmbio da sua moeda e a fazer recuar a inflação (African Economic Outlook, 2013, p. 1). Neste quadro, a constituição da Comissão de Reestruturação e Gestão da Comissão do Mercado de Capitais, em janeiro de 2011 e posteriormente a aprovação de vários diplomas legais, em 30 de janeiro de 2012, representam um passo importante na criação do «Mercado de Capitais», com suporte na Bolsa de Valores e Derivados de Angola (BVDA), o que constitui uma mais-valia para o sistema financeiro nacional e consecutivamente para o financiamento da economia pública, promovendo as capacidades de crédito a nível do mercado nacional e facilitando o processo de atração de investimento estrangeiro. De igual modo, a criação do Fundo Soberano de Angola (FSA) em 2008, atualmente Fundo Soberano de Desenvolvimento Económico de Angola (FSDEA), visou sobretudo a proteção da economia nacional relativamente às vulnerabilidades externas e aos ciclos económicos conturbados (Andrade, 2011, p. 3; Sonangol, 2012b, pp. 29-30).

As metas macroeconómicas da economia nacional, associadas aos ganhos do país na última década, tornaram Angola numa "plataforma de crescimento e de estabilidade económica", merecendo destaque dentro dos «tigres africanos»135; a entrada das «BIG4136» no mercado angolano vem espelhar a maior importância que este mercado emergente vem tendo na economia mundial. Em termos globais a economia angolana é constituída, fundamentalmente, por três setores principais, a saber: “setor primário” (petróleo, agricultura,

135 O gupo dos «Tigres Africanos ou das protopotências africanas» engloba Angola, África do Sul, Nigéria,

Quénia e o Senegal (Almeida, 2011, p. 150).

136 Termo utilizado para se referir às quatro maiores empresas especializadas em auditoria e consultoria do

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pescas e derivados, diamantes e outros minerais); “setor secundário” (industria transformadora, construção e energia); e o “setor terciário” (serviços mercantis, etc.) (BNA, 2011, p. 13); onde surgem como principais catalisadores económicos, o setor da agricultura, setor das pescas, setor energético (Petróleo, Biocombustíveis e Gás natural), setor turístico, setor mineiro e o setor da prestação de serviços (BNA, 2012, p. 21).

Todavia, “existem ainda em Angola alguns setores da atividade económica que são considerados reserva do Estado” (Gonçalves, 2011, p. 85), onde existe uma excessiva intervenção do setor público, atrasando de certo modo a ação dos investidores privados, visto que estas reservas são ainda muito extensas, abrangendo um vasto leque de setores e levando a que a maioria dos projetos de investimento tenha que ser submetida a aprovação central. Tendo em vista a alteração deste cenário, o Executivo comprometeu-se137 “...a reforçar e ajustar as políticas públicas de apoio e incentivo ao crescimento, por forma a dar uma cobertura institucional mais eficaz à valorização dos recursos do país, através da promoção do investimento estrangeiro e nacional...”, num cenário onde se espera que a riqueza em recursos naturais surja como um fator de diferenciação.

No documento Doutoramento (páginas 107-109)