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C OMISSÃO DO G OLFO DA G UINÉ

No documento Doutoramento (páginas 145-147)

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO-CONCEPTUAL

3. A REALIDADE ANGOLANA: UMA ANÁLISE GEOPOLÍTICA E GEOESTRATÉGICA

3.7. ANGOLA NO SISTEMA POLÍTICO INTERNACIONAL

3.7.2. AS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

3.7.2.5. C OMISSÃO DO G OLFO DA G UINÉ

A Comissão do Golfo da Guiné, formalmente instituída em 26 de agosto de 2006 no Gabão (Libreville) e criada como órgão autónomo em 1999, engloba Estados de duas sub- regiões africanas211, a CEEAC e a CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) situados na margem sudoeste do continente Africano. Esta comissão foi criada com o propósito de desenvolver uma cooperação estratégica comum alargada entre os Estados-membros no âmbito da segurança regional, nomeadamente na vertente marítima, uma vez que a segurança marítima constitui uma das principais vulnerabilidades da região (Almeida & Bernardino, 2013, p. 44). Com a sede situada em Angola, a região do Golfo da

210 Em 2012 a IMO realizou exercícios de apoio e cooperação técnica no Gana, Liberia, Gâmbia e na Serra Leoa.

Por sua vez, em 2013 graças ao apoio da Noruega conseguiu estender essa iniciativa com a República do Congo, a Costa do Marfim, a RDC, a Guiné Equatorial, Senegal e com o Gabão. Deste modo, a IMO espera que no futuro possa englobar mais países neste projeto, dentre os quais Angola.

211 Na verdade a região do Golfo da Guiné engloba países da África Ocidental e Central, designadamente,

Angola, Benin, Camarões, República Centro Africano, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Guiné Equatorial, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Libéria, Nigéria, República do Congo, São Tomé e Príncipe, Senegal, Serra Leoa e Togo.

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Guiné tem uma superfície marítima com uma área total de cerca de 1 224 912, 9 km2, que se estende em cerca de 3.307 km, partindo da fronteira de Angola com a Namíbia ao Sul (lat. 17° 28' 27" S longitude 11° 45' 09''E) até à fronteira entre os Camarões e a Nigéria (lat. 04° 43' 15" N longitude 08° 31' 41''E).

Após os incidentes de 11 de setembro, devido às repercussões destes acontecimentos no Médio Oriente, a região do Golfo da Guiné reforçou a sua importância graças às suas reservas de gás natural e petróleo de boa qualidade no offshore, com vias de comunicação marítimas em oceano aberto e a uma distância com menos 14.000 km relativamente ao Golfo Pérsico. A região ganhou então preferência dos principais consumidores de crude a nível mundial (EUA, China, India, etc.), porquanto passou também a ser uma zona mais concorrida para a criminalidade marítima (Iheme, 2008, p. 1). Em vista disso e mais do que a segurança marítima, localmente encarada como essencial, o valor estratégico dos recursos desta região, como fonte de aprovisionamento de recursos energéticos para as grandes potências, representa uma das principais razões para a criação do tratado da CGG em 2001, na consciência de que se torna cada vez mais necessário proteger os recursos contra eventuais ameaças (Gilpin, 2007).

Assim sendo e de forma a garantir o eficaz controlo e vigilância dos espaços da região, a zona de operação marítima foi dividida em quatro subzonas: A, B, C e D. Angola encontra-se localizada nas zonas A e B, pelo que é responsável pela coordenação das operações de vigilância, controlo dos espaços marítimos e pela coordenação das missões de Search and Rescue (SAR) na Zona A212, o que também demonstra a importância que esta região tem para o Estado angolano, principalmente devido ao seu potencial em termos de recursos naturais213 e à sua importância geoestratégica na consolidação da segurança e estabilidade continental. No entanto, constata-se ainda alguma falta de coordenação e comprometimento com a segurança marítima regional dos Estados-membros, originando uma

212 Em fevereiro de 2009 realizou-se em Brazzaville a reunião do Concelho de Ministros da CEEAC, na qual a

segurança do Golfo da Guiné, de entre outros assuntos, fazia parte da agenda de trabalhos, pelo que durante esta reunião foi aprovada a estratégia de segurança dos interesses vitais dos países do Golfo da Guiné e da CEEAC, sobretudo devido a maior dimensão que o fenómeno da pirataria ganhou nos últimos anos na subzona D desta região, fazendo com que fosse assinado, em 5 de maio do mesmo ano na cidade de Yaoundé, um Acordo Técnico entre a CEEAC e as Repúblicas dos Camarões, Guiné Equatorial e de São Tomé e Príncipe, sobre a ativação do plano de vigilância para a segurança marítima do Golfo da Guiné. Em seguida realizaram-se as primeiras operações conjunta com navios da Guiné Equatorial e dos Camarões (Mendes, 2009).

213 Num Relatório oficial do Gabinete de Estado norte-americano vinha expresso que “...o petróleo da África

Ocidental é de grande qualidade, é facilmente acedido em offshore e está bem posicionado para abastecer o mercado norte-americano...”, reconhecendo o potencial da região do GG no que toca aos recursos naturais (Barros, 2003, p. 5).

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lacuna no exercício da autoridade214 desses países nos seus espaços nacionais e constituíndo um contradição teórica, pelo valor geoestratégico do mar para as suas economias (Chatham House, 2012, p. 15).

Apesar de tudo, Angola tem sido assim um propulsionador deste projeto, exortando os outros membros a um maior compromisso para as causas da organização, sobretudo no que toca às ameaças oriundas do mar, visto que a nível regional ainda existe um longo caminho por percorrer para a construção de um «pensamento político» e de instrumentos jurídicos eficazes e claros ligados à segurança marítima (Nascimento, 2011, pp. 109-111). Neste espírito e mais recentemente, em 29 de Novembero de 2012, os países da CGG assinaram em Luanda a Declaração de Paz e Segurança da região do Golfo da Guiné (Chatham House, 2013, p. 5).

Desde a 12ª Sessão Ordinária da Assembleia Geral de Ministros da OMAOC, realizada em Luanda entre 23 a 30 outubro de 2003 (assinatura do MoU de criação da Guarda costeira OMAOC), que se verifica um aumento da coordenação e da partilha de informação e de experiencias a nível das Marinhas locais, bem como algumas ações conjuntas de patrulha, com objetivo primordial de assegurar uma vigilância comum no Golfo da Guiné, através do estabelecimento de procedimentos operacionais e de métodos de vigilância e de intervenção comuns, onde a resolução pacífica de conflitos fronteiriços é um elemento chave. Por isso e no atinente à afirmação de Angola no contexto regional do Golfo da Guiné, parece que com a forte capacidade de projeção externa de Angola, o país a médio prazo poderá substituir a Nigéria enquanto interlocutor com as grandes potências mundiais, tornando-se no líder da região (Nascimento, 2011, p. 102), especialmente agora que assumiu a presidência da OMAOC para o próximo mandato (começado em 2013).

No documento Doutoramento (páginas 145-147)