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D A SEGURANÇA À DEFESA : A D OUTRINA A NGOLANA

No documento Doutoramento (páginas 51-54)

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO-CONCEPTUAL

1. INTRODUÇÃO DE CONCEITOS

1.1. CONCEITOS OPERACIONAIS

1.1.2. CONCEITOS DE SEGURANÇA E DEFESA NACIONAL

1.1.2.2. D A SEGURANÇA À DEFESA : A D OUTRINA A NGOLANA

No atual contexto da conjuntura internacional e muito embora a defesa do território e da soberania continuem a constituir interesses vitais da Nação e objetivos-chave da «Política

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Tendo em conta também ao aumento dos riscos e ameaças, o Estado angolano desenvolveu um conceito mais alargado de Segurança Nacional, bem como alargou o espetro das medidas que visam a obtenção e conservação da segurança que circunscrevem a Defesa Nacional (Vide. Diretiva Presidencial sobre a Reedificação das FAA, datado de 30 de julho de 2007). A Defesa Nacional deve assim garantir a salvaguarda e a segurança da comunidade politicamente organizada, bem como a proteção dos seus bens e do património nacional; garantir a liberdade de ação dos órgãos de soberania, o regular funcionamento das Instituições democráticas e a possibilidade de realização das tarefas fundamentais do Estado; contribuir para o desenvolvimento das capacidades morais e materiais da comunidade internacional, de modo que possa prevenir ou reagir pelos meios adequados a qualquer agressão ou ameaça externa; assegurar a manutenção ou o restabelecimento da paz em condições que correspondam aos interesses nacionais (Fernandes & Borges, 2005, p. 30).

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de Defesa» de qualquer Estado, os conceitos de Segurança e de Defesa Nacional tiveram de evoluir para uma visão mais abrangente como resultado da complexidade, instabilidade e insegurança da conjuntura internacional, considerando um maior espaço para a cooperação e para o diálogo a nível interno e de âmbito externo. Assim e à semelhança de outros Estados, verifica-se em Angola uma maior abrangência referente aos pilares das componentes da Segurança e Defesa Nacional, graças também à maior "civilinização" dos elementos que se encontram na base destes fatores, ultrapassando atualmente a dimensão da Segurança e Defesa Militar ao englobar as esferas económica, social, cultural, entre outros campos essenciais, quanto à implementação do sentimento de segurança de qualquer Estado (Vaz, 2002).

Paralelamente a esta alteração, foi introduzida uma reformulação conceptual na doutrina nacional no que toca à definição de Segurança e Defesa, visando evitar uma sobreposição entre os dois conceitos e demarcando sobretudo os espaços de intervenção das FAA e os da Polícia Nacional de Angola (PNA). Neste sentido, os principais diplomas que definem a Segurança e Defesa Nacional, com vista a prossecução do Interesse Nacional, o normal funcionamento das Instituições do Estado, o exercício dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos e o respeito pela legalidade democrática, encontram-se presentes nos seguintes documentos: a Constituição da República de Angola (2010), a Lei de Segurança Nacional (2002) (futuramente Lei de Bases da Segurança Nacional (LBSN) (2012)), o Conceito Estratégico de Defesa Nacional (2003) a Lei de Defesa Nacional e das Forças Armadas (LDNFA) (1993) e futuramente a Lei de Preservação de Segurança de Estado (LPSE) (2012). No que se refere à Segurança Nacional, esta consiste:

“Na garantia da salvaguarda daindependência e da soberania nacionais e da integridade territorial, do Estadodemocrático de direito, da liberdade e da defesa do território contra quaisquerameaças e riscos, assim como a realização da cooperação para odesenvolvimento nacional e a contribuição para a paz e segurança internacionais” (n.º 2 do Artigo 202 da CRA).

O conceito de Segurança Nacional angolano estabelece as orientações e as prioridades fundamentais da política global (Política de Defesa) adotada pelo Estado para a consecução dos objetivos de segurança, pelo que a salvaguarda dos interesses nacionais faz parte dos Princípios Estruturantes da Segurança Nacional, que são assegurados pela Política de Segurança Nacional, através do Sistema de Segurança Nacional (SSN). Portanto, a Segurança Nacional é a “garantia necessária e indispensável para a Nação angolana, de que os seus objetivos fundamentais sejam alcançados e preservados, em face da capacidade do Poder

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Nacional de superar ameaças e vulnerabilidades” (PL/LBSN, 2012), assegurando o normal funcionamento das Instituições democráticas, o regular do exercício dos direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos e o respeito pela legalidade democrática (Lei 12/02, n.º1 Artigo 1), em todo o espaço sujeito aos poderes de jurisdição do Estado angolano.

Por sua vez com base o artigo 2.º da LDNFA (1993), a «Defesa Nacional consiste num instrumento mais vasto no âmbito da Segurança Nacional, desenvolvido pelo Estado com a participação dos cidadãos, tendo por objetivo garantir a salvaguarda do País, da ordem constitucional, da independência nacional, da unidade nacional, da integridade territorial, dos Órgãos e Instituições do Estado e da população contra ameaças e vulnerabilidades e a realização de missões de interesse público». Deste modo a Defesa Nacional tem principalmente o objetivo:

“De garantir a defesa da soberania e da independência nacional, da integridade territorial e dos poderes constitucionais e através destes, da lei e da ordem pública, bem como o assegurar da liberdade e segurança da população contra agressões e outro tipo de ameaças (externas e internas), bem como o desenvolvimento de missões de interesse público” (n.º 1 do Artigo 206 da CRA).

Nesta ordem, a prossecução destes objetivos de Defesa Nacional só é possível através da materialização da «Política de Defesa Nacional», que utiliza o Sistema de Defesa Nacional como instrumento de atuação. De referir que, de um modo geral, se verifica que a abordagem aos conceitos de Segurança e Defesa Nacional com base na doutrina nacional se centra mais nas tarefas e nos objetivos do Estado, no âmbito da Segurança e Defesa, e menos na conceptualização de per si. Assim de acordo com o artigo 21 da CRA, a Segurança e Defesa Nacional constituem tarefas fundamentais do Estado angolano, pelo que devem, na prática, ser delimitados pelos interesses nacionais, enquanto fins últimos de sobrevivência do Estado, devendo as suas premissas serem extensíveis aos seus vários campos de atuação e abrangendo de uma forma integrada todos os recursos nacionais disponíveis. Apresentados os conceitos gerais de Segurança e Defesa Nacional e as suas respetivas delimitações, que no todo devem refletir a importância do sentimento de estabilidade nacional perante a conjuntura internacional, entendida como soberania legal internacional, na qual a Força continua a ser o grande pilar de sustentação do sentimento de segurança dos Estados e da segurança humana, importará realçar esse entendimento no domínio marítimo, nomeadamente pela importância que o Mar adquiriu na economia atual, fortemente globalizada.

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No documento Doutoramento (páginas 51-54)