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CAPÍTULO I A Avaliação do Desempenho Docente

1.5. A Avaliação do Desempenho Docente em Portugal

1.5.5. Ano de 2012: O Início do Terceiro Ciclo de ADD

Já no decorrer do ano letivo 2011/2012, em fevereiro, foi anunciado um novo ECD60, através da publicação do Decreto-Lei n.º 41/2012, de 21 de fevereiro, tendo em conta as orientações consagradas no “Programa do XIX Governo Constitucional”, designadamente no que respeita “à efetivação de um ambiente de estabilidade e de confiança nas escolas, à desburocratização dos métodos de trabalho e à avaliação das práticas e dos processos”, advogando que a estabilidade e dignificação da profissão docente implicam a necessidade de uma “reforma do modelo” de ADD, visando simplificar o processo, promovendo um “regime exigente, rigoroso, autónomo e de responsabilidade” (Preâmbulo).

Este normativo define as grandes linhas de orientação que devem reger este novo regime de avaliação e propõe uma ADD assente na “simplicidade, na desburocratização dos processos e na sua utilidade, tendo em vista a revitalização cultural das escolas e uma maior responsabilidade profissional”. Pretende-se, assim, um modelo que se direcione para a melhoria dos resultados escolares e da aprendizagem dos alunos e para a diminuição do abandono escolar, devendo valorizar-se a atividade letiva e criando condições para que as escolas e os docentes se centrem no essencial da sua atividade: “o ensino”. Pretende-se, igualmente, incentivar o desenvolvimento profissional, reconhecer e premiar o mérito e as

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O Decreto-Lei n.º 41/2012, constituiu a 11.ª alteração ao Estatuto da Carreira dos Educadores de Infância e dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário.

boas práticas, como condições essenciais da dignificação da profissão docente e da promoção da motivação dos professores (cf. Preâmbulo do Decreto-Lei n.º 41/2012).

No sentido de estabelecer os princípios que devem presidir ao “novo regime” de ADD, é publicado o Decreto Regulamentar n.º 26/2012 de 21 de fevereiro de 2012.

Revisitando os normativos instituídos nos ciclos avaliativos anteriores, consideramos que uma das principais novidades reside na natureza da avaliação, que passa a deter uma componente externa e outra interna. A sua vertente avaliativa de “natureza externa” tem o intuito de minimizar os conflitos entre avaliadores e avaliados, segundo o normativo. Esta regulação da avaliação com uma natureza externa apenas se aplica aos docentes em período probatório, aqueles que estão no 2.º e 4.º escalões da carreira ou sempre que se requeira a atribuição da menção de Excelente.

A avaliação externa centra-se no acompanhamento da dimensão científica e pedagógica do docente e realiza-se através da observação de aulas. Esta observação de aulas corresponde a um período de 180 minutos, distribuídos por pelo menos dois momentos, num dos dois últimos anos escolares anteriores ao fim de cada ciclo de avaliação. Para este efeito, é constituída uma bolsa de avaliadores externos, com formação em avaliação do desempenho ou supervisão pedagógica, formada por docentes de todos os grupos de recrutamento. A avaliação interna é feita pelo coordenador do departamento curricular ou por outro docente por ele designado.

Neste ciclo avaliativo, a observação de aulas assume novamente um carácter facultativo: apenas se afigura obrigatória para os docentes no Período Probatório, para os docentes integrados no segundo e quarto escalão, para a obtenção da menção de Excelente, ou para os docentes de carreira que tenham sido avaliados com a menção de Insuficiente (art. 18º).

Outra das novidades é a periodicidade da ADD, deixando esta de se concretizar em ciclos de dois anos para passar a ter a duração do período correspondente à permanência nos diferentes escalões da carreira docente (art.º 5).

Neste ciclo avaliativo, deixa de existir a CCAD, passando a existir uma “secção de avaliação de desempenho docente do conselho pedagógico” (S.A.D.D.). Este normativo consagra, ainda, “um regime especial” de avaliação para os docentes posicionados nos 8.º, 9.º e 10 escalões da carreira docente, ou que exerçam as funções de subdiretor, adjunto, assessor da direção, coordenador de departamento curricular e o avaliador por este

designado. Estabelecem-se regras para que os docentes não sejam prejudicados para efeitos de progressão na carreira, “pelo resultado das avaliações obtidas” nos modelos avaliativos precedentes (cf. Decreto Regulamentar n.º 26/2012).

Este diploma deixa também de fazer referência ao CCAP, assim como aos “Padrões de Desempenho Docente”61. Estes Padrões de Desempenho instituídos no ciclo avaliativo anterior (2009/2011) e consignados no Despacho n.º 16034/2010, constituíram “um documento orientador” nacional, para a afirmação de um “dispositivo de avaliação justo e confiável e que contribuísse efetivamente para o desenvolvimento profissional de todos os docentes envolvidos”. Neste “novo regime” de ADD, tal não foi acautelado, facto que pode ser constrangedor para o processo de ADD e para os professores, tal como adverte o Relatório da OCDE(Santiago et al., 2012).

No Quadro 10, procedemos a uma análise detalhada das diferentes vertentes deste normativo (cf. Decreto Regulamentar n.º 26/2012, de 21 de fevereiro).

Quadro 10

Análise do Decreto Regulamentar n.º 26/2012, de 21 de fevereiro

Decreto Regulamentar n.º 26/2012, de 21 de fevereiro

Dimensões da avaliação

(art.º 4º)

Científica e pedagógica

Participação na escola e relação com a comunidade escolar Formação contínua e desenvolvimento profissional

Periodicidade e Requisito

Temporal (art.º 5º)

Docentes integrados na carreira:

- Ciclos coincidentes com os escalões, desde que tenham prestado serviço docente efetivo em metade desse período;

- Concluído no final do ano escolar anterior ao fim do ciclo

Docentes contratados:

- Limite mínimo de 180 dias de serviço letivo, independentemente do n.º de contratos envolvidos; - No ano escolar 2011/2012 serão avaliados através de procedimento simplificado a adotar pelo respetivo Agrupamento/Escola não Agrupada;

Período Probatório:

- Ano escolar coincidente com esse período.

Elementos de referência

(art.º 6º)

▪ Objetivos e metas fixadas no projeto educativo do agrupamento de escolas ou da escola não agrupada;

▪ Os parâmetros estabelecidos para cada uma das dimensões aprovados pelo Conselho Pedagógico; ▪ Os parâmetros estabelecidos a nível nacional para avaliação externa serão fixados pelo Ministério da Educação e da Ciência.

Natureza da avaliação

(art.º 7º)

▪ Componente interna - efetuada pelo agrupamento de escolas ou escola não agrupada e é realizada em todos os

escalões.

▪ Componente externa- centra-se na dimensão científica-pedagógica e realiza-se através da observação de aulas por avaliadores externos (n.º 2, art.º18)

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Instituídos pelo Despacho n.º 16034/2010 estes Padrões de Desempenho pretendiam constituir um elemento de referência e orientador da ação dos docentes de modo a “estimular a respectiva auto-reflexão, para articular a avaliação do seu desempenho e para catalisar um debate construtivo e enriquecedor sobre a profissionalidade docente” (Preâmbulo).

Quadro 10 (cont.)

Análise do Decreto Regulamentar n.º 26/2012, de 21 de fevereiro

Intervenientes

(arts.º 8º, 9º,10º,11º,12º ,

13º e 14º)

▪ Presidente do Conselho Geral ▪ Diretor

▪ Conselho Pedagógico

▪ Secção de Avaliação do Desempenho Docente do Conselho Pedagógico (S.A.D.D.), constituída por: diretor, que preside e 4 elementos, eleitos entre os membros do CP;

▪ Os avaliados

▪ Os avaliadores externos e internos;

Avaliadores

(arts.º 13º e 14º)

→Avaliador externo:

- Professor do mesmo grupo de recrutamento;

- Integrado em escalão igual ou superior ao do avaliado;

- Ser detentor de formação especializada em avaliação do desempenho ou supervisão

pedagógica (SP) ou deter experiência profissional em SP;

- Integra uma bolsa de avaliadores, constituída por docentes de todos os grupos de recrutamento; → Avaliador interno:

- É o coordenador do departamento curricular ou quem este designar;

- Deve ser professor do mesmo grupo disciplinar;

- Estar integrado em escalão igual ou superior ao do avaliado;

- Ser detentor de formação especializada em avaliação do desempenho ou SP ou deter experiência profissional em SP;

- Compete-lhe a avaliação do desenvolvimento das atividades realizadas pelos avaliados nas 3 dimensões com os elementos:

• Projeto docente;

• Documento de registo e avaliação, aprovado pelo C.P;

• Relatório de autoavaliação.

Instrumentos de registo

▪ Elaborados pela S.A.D.D e aprovados pelo Conselho Pedagógico.

Documentos do processo de avaliação

(art.º 16º)

▪ Projeto docente;

▪ Documento de registo e avaliação aprovado pelo CP;

▪ Relatório de autoavaliação e o respetivo parecer elaborado pelo avaliador.

Projeto docente

(art.º 17º)

▪ Tem por referência as metas e objetivos traçados no Projeto Educativo e enuncia a contribuição do docente para a sua concretização;

▪ Documento anual, elaborado em função do serviço distribuído, com um máximo de 2 páginas; ▪ A apreciação do projeto docente pelo avaliador, é comunicada por escrito ao avaliado; ▪ É opcional, sendo substituído pelas metas e objetivos do PE.

Observação de aulas

(art.º 18º)

▪ Facultativa;

▪ Não há lugar a observação de aulas para docentes contratados. ▪ Obrigatória:

• Docentes em Período Probatório;

• Professores integrados no 2.º e 4.º que se encontram na transição para o 3º e 5º escalão da carreira docente;

Condição necessária para atribuição de excelente, em qualquer escalão, deve ser

requerida ao diretor até ao final do 1.º período do ano escolar anterior ao da sua realização;

Docentes integrados na carreira que obtenham a menção de Insuficiente; ▪ Feita pelos avaliadores externos;

▪ Corresponde a um período de 180 minutos, distribuído no mínimo, por 2 momentos distintos; ▪ Realizada num dos 2 últimos anos escolares anteriores ao fim de cada ciclo avaliativo dos docentes integrados na carreira;

▪Para os docentes no 5.ºescalão, é realizada no último ano escolar anterior ao fim de cada ciclo

avaliativo;

Relatório de autoavaliação

(art.º 19º)

▪ Documento de reflexão sobre a atividade desenvolvida incidindo sobre os seguintes elementos:

•A prática letiva;

•As atividades promovidas;

•A análise dos resultados obtidos;

•O contributo para os objetivos e metas fixados no Projeto Educativo do Agrupamento de Escolas ou da Escola não Agrupada;

•Formação realizada e o seu contributo para a melhoria da ação educativa. ▪ Relatório anual;

Quadro 10 (cont.)

Análise do Decreto Regulamentar n.º 26/2012, de 21 de fevereiro

▪ A não entrega do relatório, implica a não contagem do tempo de serviço do ano escolar em causa, para efeitos de progressão na carreira.

Resultados do processo de

avaliação

(art.º 20º)

▪ Expresso numa escala graduada de 1 a 10 valores, convertidos em menções qualitativas de:

Excelente - se cumulativamente a classificação for igual ou superior ao percentil 95, não

inferior a 9 e com aulas observadas;

Muito Bom- se cumulativamente a classificação for igual ou superior ao percentil 75, não inferior a 8 e não for atribuída a menção de Excelente;

Bom - se cumulativamente a classificação for igual ou superior ao percentil 6,5 e não for

atribuída a menção de Muito Bom ou Excelente;

Regular - se a classificação for igual ou superior a 5 e inferior a 6,5;

Insuficiente- se a classificação for inferior a 5.

As duas menções superiores (Excelente e Muito Bom estão sujeitas a percentis máximas na sua atribuição a estabelecer, tendo por referência os resultados obtidos pelo agrupamento/escola, na respetiva avaliação externa (Despacho a publicar);

As menções de Muito Bom ou Excelente dependem do cumprimento de 95% da componente letiva distribuída no decurso do ciclo de avaliação;

Avaliação Final

(art.º 21º)

Corresponde ao resultado da média ponderada das pontuações obtidas nas 3 dimensões:

▪ 60% para a dimensão científica e pedagógica (havendo lugar a observação de aulas, a avaliação externa representa 70% );

▪ 20% para a dimensão participação na escola e relação com a comunidade; ▪ 20% para a dimensão formação contínua e desenvolvimento profissional; ▪ A avaliação final é comunicada por escrito ao avaliado.

Critérios de Desempate

(art.º 22º)

▪ Classificação da dimensão científica e pedagógica;

▪ Classificação da dimensão participação na escola e relação com a comunidade; ▪ Classificação da dimensão formação contínua e formação profissional;

▪ Graduação Profissional;

▪ Tempo de serviço em funções públicas.

Efeitos da avaliação

final

(art.º 23º)

▪ Atribuição de Excelente→ bonificação de 1 ano na progressão na carreira docente, a usufruir no escalão seguinte;

▪ Muito Bom→ bonificação de 6 meses na progressão, a usufruir no escalão seguinte;

▪ Excelente e Muito Bom, no 4.º e 6.º escalões permite a progressão ao escalão seguinte sem existência de vagas;

▪ Bom→ o tempo de serviço revela para progressão na carreira;

→ Determina no período probatório a conversão da nomeação provisória em definitiva em lugar do quadro;

▪ Regular→ determina que o período de tempo só seja contado para progressão na carreira após a conclusão, com sucesso, do Plano de Formação com duração de um ano proposto pelo avaliador ou avaliadores e aprovado em CP;

▪ Insuficiente→ determina a não contagem do período de tempo para progressão na carreira docente e determina o reinício do ciclo avaliativo;

→ A obrigatoriedade de conclusão, com sucesso, do Plano de Formação, de 1 ano, com observação de aulas, proposto pelo avaliador ou avaliadores e aprovado em C.P.

▪ Duas menções de Insuficiente consecutivas:

→Docentes integrados na carreira- instauração de processo;

→Docentes contratados- impossibilidade de serem admitidos a concurso durante 3 anos escolares.

Reclamação

(art.º 24º)

▪ No prazo de 10 dias úteis após a notificação da classificação final (ao diretor ou à S.A.D.D., consoante o caso).

Recurso

(art.º 25º)

▪ Apresentado ao Presidente do Conselho Geral (C.G.), o prazo de 10 dias úteis após a notificação da decisão da reclamação;

▪ Proposta da decisão compete a 3 árbitros, docentes com homologação do presidente do C.G.: - Um indicado pelo avaliado;

- Outro indicado pelo Diretor ou S.A.D.D., consoante o caso;

- Outro escolhido pelos anteriores ou , na falta de acordo, pelo presidente do C.G. (que não sendo docente será substituído por docente eleito entre os membros deste órgão).

Quadro 10 (cont.)

Análise do Decreto Regulamentar n.º 26/2012, de 21 de fevereiro

Procedimento Especial de

avaliação

(art.º 27º)

▪Abrange os seguintes docentes:

Posicionados no 8.º escalão com classificação de Satisfaz antes da entrada em vigor do DL n.º 15/2007, de 19 de janeiro e Bom de acordo com o Decreto Regulamentar n.º 26/2012;

Posicionados nos 9.º e 10.º escalões;

Que exerçam funções de subdiretor, adjunto, assessor da direção, coordenador de departamento e o avaliador por este designado;

▪ Estes docentes entregam um Relatório de autoavaliação no final do ano escolar anterior ao do fim do ciclo avaliativo, a não entrega implica a não contagem do tempo para progressão na carreira; ▪ Os docentes integrados no 10.º escalão, entregam o Relatório, quadrienalmente;

- Máximo de 6 páginas, sem anexos;

- Avaliado pelo Diretor após parecer da S.A.D.D.;

- A classificação final do Relatório é a média aritmética simples das pontuações obtidas na

dimensão participação na escola e formação contínua.

- Os docentes que reúnam os requisitos para aposentação, durante o ciclo avaliativo, podem

solicitar a dispensa da ADD.

Disposições Transitórias

(art.º 30º)

▪ No final do 1º ciclo de avaliação, estabelecido neste normativo, cada docente pode optar para efeitos de progressão na carreira, pela classificação mais favorável que obteve num dos 3 últimos

ciclos avaliativos;

▪A classificação obtida na Observação de Aulas, podem ser recuperadas pelos docentes dos 2.º e 4.º escalões ou para menção de Excelente, em qualquer escalão, no primeiro ciclo avaliativo regulado por este diploma.

▪ O ano escolar 2011/2012, destina-se à conceção e implementação do instrumento de registo e avaliação e à formação dos avaliadores internos e externos, não havendo lugar a observação de

aulas;

▪ Neste ano escolar, os docentes em regime de contrato a termo, são avaliados através de procedimentos simplificados a adotar pelo Agrupamento/ Escola, onde exerça funções, relevando os elementos avaliativos dos contratos anteriores, celebrados no mesmo ano.

Assim, o ano letivo de 2011/2012 foi considerado o ano de transição para este regime de ADD, destinado à conceção e implementação dos instrumentos de registo e avaliação necessários à aplicação do “novo modelo”62 e à formação dos avaliadores internos e externos, não havendo por isso lugar à observação de aulas.

No que diz respeito às questões de supervisão, as alterações legislativas preconizadas em matéria da ADD e do ECD desde 2007, associadas ao Regime de Autonomia e Gestão das Escolas (Decreto-Lei n.º 75/2008), acabam por colocar ênfase nas atividades e funções supervisivas ao nível das estruturas de gestão e do desenvolvimento profissional dos docentes. Por conseguinte, a SP surge envolta num novo enquadramento e prisma de análise que importa compreender, sendo a temática alvo do capítulo seguinte.

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