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2.BREVE HISTÓRIA DO MUSEU EM PORTUGAL

2.4. ANOS 90 – A CRIAÇÃO DO IPM (INSTITUTO PORTUGUÊS DE MUSEUS)

Em 1991, o Instituto Português de Museus é criado pelo Decreto-Lei nº 278/91 (Diário da República, 1ª Série, 9 de Agosto de 1991). Criava-se pela primeira vez uma instituição governamental para orientar as actividades dos museus. No final da década de 80 e inícios da de 90, observou-se uma fase de mudança na reestruturação de vários organismos governamentais ao nível social, político, económico e cultural. A criação do IPM veio provocar uma ruptura nos conceitos e modelos de museus. Não podemos esquecer que, no contexto internacional, novos conceitos e novos discursos museológicos haviam revolucionado a forma com os museus se relacionavam com a sociedade. Por outro lado, é nos anos 90 que várias universidades portuguesas vão empenhar-se na formação especializada ao nível de pós-graduações e mestrados, criando-se lentamente uma massa crítica que irá contribuir para uma nova perspectiva do percurso museológico português. A partir do século XXI são cada vez mais os jovens recém-licenciados que saem de Portugal e procuram formação na área da museologia, estudos curatoriais ou serviços educativos nas Universidades de Leicester, (Tem o Departamento de Museologia

142 mais antigo a nível mundial), Londres e Barcelona, consideradas referências científicas internacionais.

Relativamente à gestão dos museus portugueses, verifica-se que antes do 25 de Abril de 1974, os recursos económicos eram poucos, mas eram controlados pelo director do museu, que detinha a total responsabilidade, situação que garantia alguma estabilidade. Nos anos oitenta, houve uma fase de investimento do Estado e de algum desafogo económico. A partir da criação do IPM, interventivo e controlador da gestão dos museus, fomentou-se alguma desresponsabilização por parte dos directores, pois muitas áreas passam a ser controladas pelo Instituto.

Importante contributo foi dado pela criação da Rede Portuguesa de Museus (RPM), um sistema organizativo baseado na adesão voluntária, configurado de forma progressiva e que visa a descentralização, a mediação, a qualificação e a cooperação entre museus. A estrutura do projecto da Rede Portuguesa de Museus foi criada na dependência do Instituto Português de Museus pelo Despacho Conjunto n.º 616/2000, de 17 de Maio. As suas actividades. Ao longo deste período, deram corpo às atribuições que lhe foram cometidas naquele despacho, designadamente a definição do modelo de rede, a concepção e a aplicação do regulamento de adesão à RPM, a criação e a execução de programas de apoio técnico e financeiro à qualificação dos museus e a promoção de acções de formação. Com a criação do Instituto dos Museus e da Conservação, a grande parte das competências cometidas à anterior Estrutura de Missão transitaram para a Divisão de Credenciação e Qualificação de Museus, integrada no Departamento de Museus. Os objectivos da RPM são a valorização e a qualificação da realidade museológica nacional; a cooperação institucional e a articulação entre museus; a descentralização de recursos; o planeamento e a racionalização dos investimentos públicos em museus; a difusão da informação relativa aos museus; a promoção do rigor e do profissionalismo das práticas museológicas e das técnicas museográficas; o fomento da articulação entre museus.

Mas, a grande mudança do século XXI do processo museológico português dá-se com a criação da Lei-quadro dos Museus Portugueses – Lei n.º 47/2004, de 19 de Agosto. A sua preparação baseou-se no conhecimento da realidade portuguesa, na experiência recente desenvolvida pelo IPM com a criação da RPM e nas orientações internacionais. Representantes da APOM, do ICOM, da ANMP, directores de museus e docentes universitários participaram na preparação do documento. A Lei é composta por 11 capítulos, que podem ser agrupados em cinco grandes áreas temáticas. No primeiro

143 capítulo, introdutório, são apresentados os princípios, os conceitos e o âmbito dos museus portugueses. Seguem-se três capítulos concernentes ao regime geral dos museus, funções museológicas, recursos humanos e financeiros, instalações, estrutura orgânica e acesso público. Os dois capítulos seguintes são referentes ao património móvel incorporado nos museus e à sua propriedade, seguindo-se um capítulo dedicado à criação de museus, assente em dois pilares fundamentais, o documento fundador e o programa museológico. Encontramos depois dois capítulos relativos ao novo sistema organizativo da realidade museológica, a RPM, e aos procedimentos de credenciação, os quais institucionalizam a RPM. Por fim, o regime de contra-ordenações e as disposições finais, entre as quais está prevista a transição dos museus actualmente integrados na RPM (Artigo 140. Transição dos museus integrados na Rede Portuguesa de Museus 1 — Os museus que actualmente integram a Rede Portuguesa de Museus dispõem de dois anos para se adaptarem ao cumprimento das funções museológicas previstas na presente lei e poderão ser objecto das medidas previstas no nº 2 do artº 117.o 2 — No termo do prazo previsto no número anterior, o museu pode perder a qualidade de museu da Rede Portuguesa de Museus) e a sua aplicação às regiões autónomas. Das grandes linhas orientadoras da nova Lei-Quadro salientamos a introdução de conceitos que ajudarão a clarificar o panorama museológico, designadamente a definição de museu e a introdução do conceito de colecção visitável. A definição dos requisitos exigíveis para a criação deste tipo de instituições, o impulso para a qualificação dos técnicos, o estabelecimento de boas práticas e dos modelos a seguir são outras das consequências da Lei-quadro dos Museus Portugueses.

Destacamos igualmente outros dois pontos fundamentais: O Artigo 9 e o artº 42 da Lei-quadro dos Museus Portugueses que teremos a oportunidade de analisar nos últimos capítulos desta dissertação. O Artº9 sublinha o Dever de investigar 41O Artigo 42 refere-se à Educação 42 Simbolizando uma abertura diferente da prática museológica da modernidade portuguesa, considerando a legislação bastante inovadora no respeitante aos

41 1 — O museu promove e desenvolve actividades científicas, através do estudo e da investigação dos bens culturais nele

incorporados ou incorporáveis. 2 — Cada museu efectua o estudo e a investigação do património cultural afim à sua vocação. 3 — A informação divulgada pelo museu, nomeadamente através de exposições, de edições, da acção educativa e das tecnologias de informação, deve ter fundamentação científica.

42 1 — O museu desenvolve de forma sistemática programas de mediação cultural e actividades educativas que contribuam para o

acesso ao património cultural e às manifestações culturais. 2 — O museu promove a função educativa no respeito pela diversidade cultural tendo em vista a educação permanente, a participação da comunidade, o aumento e a diversificação dos públicos. 3 — Os programas referidos no nº 1 do presente artigo são articulados com as políticas públicas sectoriais respeitantes à família, juventude, apoio às pessoas com deficiência, turismo e combate à exclusão social.

144 museus portugueses, teremos a oportunidade de analisar as dificuldades da execução na prática das componentes destes artigos.

A aposta na investigação preconizada pelo Observatório das Actividades Culturais tem sido fundamental para entendermos o progresso museológico português nas várias vertentes. De acordo com um estudo realizado em 1999 por este Observatório, (Neves, 1999) foram inquiridas todas as unidades museológicas no continente e ilhas sobre a caracterização dos museus em Portugal, num total de 680, tendo respondido 564 (34 das quais estavam ainda em fase de projecto). O último estudo data de 1996 e contou com 382 unidades museológicas. O inquérito foi realizado de acordo com alguns indicadores: a tutela das instituições, o tipo de museu, a localização e o tempo de existência. Observou- se que 60% dos museus eram públicos (Administração Local 58%, Central 37% e Regional 5%) e apenas 36% dependiam unicamente do Ministério da Cultura. 40% dos restantes museus eram privados (Associações 31%, Igreja Católica 19%, Empresas Privadas 14% e Fundações 13%). Relativamente ao tipo de museus, os de arte eram os mais frequentes (22%), seguindo-se os de etnografia (21%) e os genéricos (18% - arte, arqueologia e etnografia). Relativamente à sua localização, havia uma maior concentração na área de Lisboa e Vale do Tejo (36%, o que significa 188 museus) e no Norte (24%). A região com menos museus era os Açores, com 3%. A distribuição por concelhos registava uma concentração de 65% em Lisboa, Porto 25%, Funchal 15%, Coimbra 15%, Sintra 13% e Braga 10%. Verificou-se que 64% dos concelhos não possuíam qualquer tipo de museu (Neves, 1999).

Se o interesse pelos museus e a sua criação e desenvolvimento se acentua na década de 70, as décadas de 80 e 90 registam um aumento significativo da criação de museus, mas também a melhoria significativa com o pessoal técnico superior, reestruturação das exposições permanentes, inauguração de exposições temporárias e itinerantes, organização de serviços educativos, promoção e divulgação de actividades, estudo e inventários das colecções, promoção de catálogos. Os fundos estruturais da Comunidade Europeia terão uma importância significativa, pois permitiram viabilizar finalmente todo um conjunto de intervenções há muito necessárias e desejadas pelos museus. Estes trabalhos realizados ao longo das duas décadas proporcionaram uma franca melhoria nas condições de trabalho, na conservação e restauro das colecções, na

145 adaptação dos espaços expositivos e no atendimento ao público.

A mudança é notória também no discurso museológico e num novo entendimento de como atrair públicos. Como tal, as exposições temporárias serão um veículo deste novo chamamento. Em 1999, 43% dos 530 museus organizaram pelo menos uma exposição temporária produzida pelo museu; 22% organizaram pelo menos uma exposição temporária não produzida pelo museu; 16% organizaram a sua própria exposição temporária e também uma exposição não produzida pelo museu; 48% apresentaram pelo menos uma exposição temporária, produzida ou não pelo próprio museu. Relativamente às iniciativas de marketing e publicidade, 40% dos museus referiram que tinham realizado acções nos últimos dois anos. Em 2000, 44% dos museus referiu possuir serviço educativo.

Num estudo realizado pelo Observatório das Actividades Culturais (Neves, 2006) sobre a evolução das unidades museológicas entre 2000 e 2005 verifica-se que, efectivamente, a situação se modificou substancialmente face ao último estudo aludido. Se em 2000 havia 728 unidades museológicas abertas ao público, em 2005 esse número aumentou para 1018. Observe-se que o maior número é referente à abertura permanente ou sazonal, que foi de 513 museus em 2000 e passou para 622 em 2005. Dá-se um anúncio público de projectos e de intenções de criação de museus, verificando-se que é a Administração Local que explica uma parte substancial da possibilidade da criação do museu. A maior concentração continua a efectuar-se no Litoral Norte e Centro e a menor no Alentejo. 58 Concelhos passarão a ter pelo menos um museu. Só em cinco concelhos é que não se verifica esta situação. Em 2000 encerraram 78 museus; em 2005, o número de museus encerrados ao público passou para 98, uma taxa de variação de 25,6% devendo- se tal situação a vários factores: mau estado das infra-estruturas, desaparecimento da tutela, processo de reorganização do sector dos museus por parte da tutela. O crescimento observado é de 16%, mas esse aumento não acompanha sempre os critérios e requisitos mínimos exigidos relativamente às funções museológicas definidas na Lei-quadro dos Museus Portugueses, no que concerne à tipologia e às condições de funcionamento. O inquérito anual do Instituto Nacional de Estatística revelou que em 2002, quase metade das 591 unidades museológicas, 48%, afirmaram possuir serviços educativos. Cerca de dois terços dos museus dependentes da administração central possuem serviços educativos (Camacho, 2007: 29). Na dependência autárquica, a percentagem é de 45%. A região de Lisboa e Vale do Tejo tem a parcela mais elevada de museus com serviços educativos (57%), seguindo-se a região Norte, com 50%. Nas regiões autónomas, o

146 destaque vai para a Madeira, com 71%. Verifica-se ainda que os museus abertos antes dos anos 70 são os que têm maioritariamente serviços educativos. A década de noventa é, sem dúvida, uma fase exponencial desta área, observando-se 46% dos museus com serviços educativos.

Continua a verificar-se um elevado peso das tutelas públicas, tendo a administração local a percentagem mais significativa, destacando-se as Câmaras Municipais, bem como a realidade emergente das Empresas Municipais). A Administração Central tem vindo a perder o seu peso relativo - o Ministério da Cultura tem, porém, a tutela mais significativa. Na tipologia destacam-se os museus de arte, etnografia e antropologia, especializados e mistos, e pluridisciplinares. Verifica-se uma quebra nos museus de Ciências Naturais e de História Natural. A Região de Lisboa e Vale do Tejo tem o maior número de unidades museológicas, mas o seu peso tem vindo a descer; na região norte verifica-se uma situação inversa. Na Madeira, também se observa um desenvolvimento assinalável. Em 2005 houve uma diminuição no número de concelhos sem museu. 72% dos concelhos têm pelo menos um museu (em 2000 era só 63%). Nas regiões autónomas só se verifica esta situação no arquipélago da Madeira. O estudo revela ainda que os museus estão em expansão, mas com características muito heterogéneas, quer com critérios de exigência, quer com dificuldades na aplicação desses mesmos critérios.

Em 2006, no final do primeiro semestre, comparando com igual período do ano anterior, o IPM registou um crescimento no número de visitantes nos museus seus dependentes de cerca de 25%. O IPM referiu no seu Boletim que as causas deste aumento de visitantes se deviam à programação das exposições, ao sucesso das actividades do Dia Internacional dos Museus e a ofertas diversificadas de actividades educativas.

Em Janeiro de 2010 é apresentado, o Planeamento Estratégico dos Museus para o século pelo IPMC, que contém os fundamentos metodológicos e conceptuais do sistema, a saber: 1. Articulação do documento com as linhas orientadoras do programa de Governo. 2. Inovação e criatividade no respeito pela tradição institucional do IMC. 3. Planeamento tendo em conta a participação, a avaliação, a eficácia e a coerência. 4. Calendarização e monitorização das medidas planeadas, com divulgação dos relatórios anuais. Refere como eixos estratégicos de intervenção: 1. Reenquadramento do sistema de gestão dos museus tutelados pelo MC/IMC. 2. Inovação de modelos de funcionamento nos museus e palácios

147 do MC/IMC. 3. Gestão? de proximidade com os representantes e associações profissionais dos sectores da Cultura, das Universidades, da Museologia e da Conservação e Restauro, com os municípios, as regiões autónomas, outras entidades públicas, as dioceses, as misericórdias, as fundações e outros agentes. 4. Consolidação e crescimento sustentado da Rede Portuguesa de Museus. 5. Política coerente e integrada de preservação, estudo, documentação e comunicação das colecções de bens materiais, móveis e imóveis, sob a sua tutela e do património imaterial. 6.Qualificação profissional e formação académica e científica dos recursos humanos do IMC.