• Nenhum resultado encontrado

1.A EVOLUÇÃO DAS TEORIAS NA EDUCAÇÃO ARTÍSTICA

1.7. O PAPEL DE ELLIOT EISNER, AS CONCEPÇÕES DO ENSINO DE ARTE

Elliot Eisner propõe a divisão das concepções do ensino de arte em Contextualist e

Essencialist, fundamentos analisados na obra Educating Artistic Vision (1972). A partir de

considerações filosóficas encontradas no sistema educativo americano, inspiradas em Lipman, (1922-2010), professor americano que insatisfeito com o sistema educacional norte-americano da década de 60 denominado pelo mesmo de paradigma padrão da

53 prática normal (que consistia na transmissão, pelo professor, dos conteúdos aos alunos, cabendo a estes apenas a absorção de um conhecimento inflexível e inequívoco), elabora um programa de ensino de filosofia que possa suprir principalmente as dificuldades dos seus alunos, relativas à capacidade de ler, interpretar, inferir e ter espírito crítico (Lipman, 1995) refere a importância de defender a arte como uma disciplina tão importante como as outras do curriculum educativo (Eisner, 2003).

Por corrente contextualist, Eisner entende que se deve utilizar a arte como um meio para atingir objectivos instrumentais não directamente ligados à arte, mas sim, num contexto psicológico ligados às necessidades dos alunos e num contexto social, à comunidade. Considera que na perspectiva Essencialist, a arte educa enquanto arte e traz benefícios ao estudante específicos da arte: ―Contextualist justifications argue the role of

art education by first determining the needs of the child, the community or the nation. Art Education is seen as a means of meeting those needs, whether they be needs directly related to art or not. Essencialist justifications argue the place of art in schools by analyzing the specific and unique character of art itself and by pointing out that it has unique contribution to make and should not be subverter to other ends‖ (Eisner, 1972). Contudo,

não é claro que contribuições trazem a arte ao desenvolvimento do estudante enquanto indivíduo. A proposta de Eisner não engloba a diversidade existente nas concepções do ensino da arte, nem explicita como o autor chegou a esta classificação.

Na obra The arts and the creation of mind (2003), Eisner refere que, o mais importante em qualquer campo de actuação é as forças sociais que criam condições para que determinados objectivos sejam adequados a certos momentos. A importância dada a certas áreas do ensino altera-se do ponto de vista político e educacional de acordo com os períodos sócio-históricos. O ensino da Educação Artística como disciplina, proposto por Eisner, procura desenvolver nos alunos condições que lhes permitiram adquirir competências consideradas necessárias para uma performance de qualidade em arte. Como tal, os alunos precisam desenvolver formas evoluídas de pensamento (Eisner, 2003: 26). Esta perspectiva de ensino visa desenvolver nos alunos as competências destes criarem e perceberem a arte, entender os contextos histórico-culturais em que as obras se inserem e assimilarem as questões filosóficas inerentes à estética.

Eisner defende a utilização da Arte como promotora do entendimento da ―Cultura Visual‖, permitindo que os estudantes sejam capazes de descodificar os valores e ideias

54 ocultas, tanto nas designadas culturas populares, como nas de elite. Aprender a ler as imagens presentes numa imagem é uma forma do indivíduo estar atento à sua comunidade, aos seus direitos e às obrigações como indivíduo social. A leitura de imagens pode facultar a leitura, a capacidade de utilizar a arte como um meio de entendimento de valores e das condições de vida dos seres humanos, de espaços geográficos diversos do seu. Esta perspectiva, permeada pelo contexto social da arte, permite empregá-la como meio para compreender e desvendar os diversos códigos sociais e culturais, promovendo uma interpretação de significados.

Também Mason (2001: 12) refere que o ensino da arte deve contemplar diversos códigos culturais na sua apresentação, promovendo a aceitação e o entendimento da diversidade cultural através do ensino. A diversificação cultural do curriculum da educação arte pode detectar o ―europocentrismo‖ ou o ―norte americocentrismo‖, pondo em debate os princípios estéticos universais (Mason, 2001). A ―melhor arte‖ é aquela que resulta da expressão pessoal, podendo-se incluir as artes populares, as novas tecnologias, o folclore. Sem esquecer o global, Mason continua a atribuir importância ao local. Observa-se, assim, uma clara oposição às propostas e convicções do DBAE. Mason refere que a educação artística pós-moderna favorece as abordagens contextualistas, de fronteiras de cultura e interdisciplinar para o estudo da arte, traz questões internas, assim como externas para a discussão da qualidade artística e não considera a forma como único conteúdo da arte (Mason, 2001: 13). Mas enquanto, na proposta DBAE é exigido ao aluno uma performance de qualidade, na Cultura Visual, o processo crítico que envolve a produção artística é mais valorizado.

Eisner defende a arte como solução criativa de problemas, uma ferramenta criativa. Citando os princípios da Bauhaus, escola criada na Alemanha entre 1919 e 1930 que propunha uma linha de pensamento e em que preparava os alunos para que se tornassem solucionadores de problemas, sendo as qualidades estéticas dos produtos amplamente valorizadas. A proposta da Bauhaus abonava a criatividade do aluno, possuindo cânones estéticos próprios.

A quarta perspectiva de Eisner relativo à educação artística é a auto expressão criativa. Articulada por Viktor Lowenfed e Herbert Read, propõe o desenvolvimento da educação artística através da auto-expressão criativa do aluno. Na perspectiva de Eisner, Viktor Lowenfed e Herbert Read conceberam propostas mais abertas face ao regim e

55 opressor da segunda guerra mundial e acreditaram que as formas de expressão não são possíveis de ensinar e a tentativa de se tentar oferecer técnicas ou padrões de ensino produzem inibições e frustrações à capacidade criativa, fundamentações que partiram da influência teórica de Jung e Freud (Eisner, 2003: 33). Acreditam que os impulsos criativos encontram-se no inconsciente e é dever do professor, especialmente do da educação artística, estimular o seu desenvolvimento, mas sem interferir no seu processo natural, numa função de guiar e inspirar o aluno. Lowenfeld, na sua obra Creative and Mental

Growth (1947), via a arte como um meio para se compreender o desenvolvimento

individual nas suas diferentes fases e como o desenvolvimento da consciência estética e criadora do indivíduo.

Comparativamente ao estudo da Bauhaus, em que a abordagem está focalizada na solução de problemas práticos através da utilização de vários materiais, a auto-expressão criativa do aluno encoraja-o a esculpir e a pintar, procurando extrair expressões criativas em cada experiência pessoal, incluindo as suas fantasias infantis. É dada pouca importância ao contexto histórico da arte e o papel do professor é mínimo. Mas como refere Eisner, (2003: 33), nas duas perspectivas, o objectivo fundamental é o desenvolvimento da criança mais de dentro para fora do que ao contrário.

Eisner utiliza a arte como um meio para desenvolver as habilidades e atitudes necessárias no mercado de trabalho. Através da melhoria da escola, esta pode fortalecer a competitividade e o mercado de trabalho. Nos Estados Unidos da América, esta concepção é muito forte. Acreditando que a arte estimula a criatividade e desenvolve a iniciativa, estimula a imaginação, auxiliando os jovens a trabalharem em grupo.

Enfatiza as consequências cognitivas da arte ao acreditar que contribui para o desenvolvimento de complexas formas do pensamento. Segundo, Eisner, as escolas devem preparar os indivíduos para mais do que uma actividade durante a vida, a presença de um programa que adopte a flexibilidade, promove a tolerância. A forma como observamos o mundo é em grande medida influenciado pela cultura, crenças de cada um e pela individualidade, uma forma subjectiva de apreender o que nos rodeia. Através da representação podemos tornar concretas as ideias ou imagens do que produzimos através das nossas experiências. A representação, de acordo com Eisner, é um acontecimento cognitivo que se dá através da gravação, da edição, da comunicação e da surpresa. A inscrição é a forma de gravar uma ideia ou imagem observada que é sempre diferente da

56 que foi vivenciada em algo durável e concreto. Através da edição observamos mais detalhadamente os pormenores, uma forma também de eliminarmos as falhas. A comunicação transforma a consciência numa forma pública. A surpresa é a recompensa do trabalho criativo; através desta, uma pessoa pode surpreender-se com algo feito por ela própria e que é irrepetível. A comunicação propicia diálogo entre os indivíduos, configurando uma relação simbiótica. A educação deve promover estas relações para que possamos desenvolver habilidades distintas e complementares às nossas. Mas os programas devem permitir que o aluno desenvolva um espírito crítico em relação ao seu trabalho, ao processo criativo do seu trabalho e encorajá-lo a articular as suas produções com os seus julgamentos de arte.

A arte é uma forma de melhorar as competências académicas. Esta versão relaciona-se com o facto da justificação do ensino da arte pela sua contribuição para as outras disciplinas ditas básicas (em Portugal, a Língua Portuguesa e a Matemática). Para Eisner, a preocupação tem sido tão focada em melhorar a performance académica dos alunos que se perdeu a razão, caindo-se no erro, desde os anos 80, de ver a arte como um bote salva-vidas. A postura crítica de Eisner revela-se nas questões que coloca sobre este tipo de ensino: Será que um campo do conhecimento pode fazer uma contribuição mais importante através da procura que outros campos do saber deveriam atingir autonomamente? Será possível obter dados que provem os efeitos da arte no desenvolvimento das outras disciplinas? Se a pesquisa mostra que os objectivos de um campo de saber estão desactualizados e os seus fundamentos são pouco sólidos será que não deve ser criada uma mudança de melhoria?

Eisner concebe o curriculum em arte como componente integrante de outras artes e de outras disciplinas. O conceito de ―integrated arts‖ é comummente utilizado como um meio de aperfeiçoar a experiência educacional do estudante. A arte pode ser usufruída como um meio de apreender um acontecimento histórico ou cultural. A arte, a música, o guarda-roupa, a literatura, a história poderão contribuir para a percepção daquela época. Por outro lado, a arte pode ser também um meio de auxiliar os alunos a identificarem as semelhanças e as diferenças entre as diferentes formas de arte. Uma outra abordagem é a possibilidade de uma ideia ser explorada além do trabalho artístico e em parceria com outras formas artísticas. A associação da arte a outras disciplinas como forma de solução de um problema pode criar novas soluções. Em certas expressões artísticas, o teatro, por exemplo, a música, a cenografia, a literatura, as novas tecnologias podem trabalhar e m

57 parceria. A arte integrada surge então associada a outros conceitos como a pluridisciplinariedade, interdisciplinariedade ou transdisciplinariedade.