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1.A EVOLUÇÃO DA PALAVRA MUSEU

1.5. O SÉCULO XXI: O PROGRESSO DOS MUSEUS

Neste início de século XXI discute-se muito o que deverá ser o museu, ou seja, quais as modificações e acréscimos que estas instituições deverão assumir para se revitalizarem frente às demandas da contemporaneidade? De facto, o conceito de museu afasta-se do modelo de templo de objectos consagrados, tornando-se cada vez mais num agente cultural e recreativo. Converte-se assim numa instituição multifuncional que pode servir a comunidade de várias formas e em diversos níveis intelectuais, embora por vezes de forma desajustada.

Actualmente assume-se que ―o museu é uma instituição de carácter permanente, com ou sem personalidade jurídica, sem fins lucrativos, dotada de uma estrutura organizacional que lhe permite: Garantir um destino unitário a um conjunto de ben s

122 culturais e valorizá-los através da investigação, incorporação, inventário, documentação, conservação, interpretação, exposição e divulgação, com objectivos científicos, educacionais e lúdicos; Facultar acesso regular ao público e fomentar a democratização da cultura, a promoção da pessoa e o desenvolvimento da sociedade‖ (Lei nº 47/ 2004, de 9 de Agosto, Artigo 3º).

Esta recente definição vem preencher uma lacuna legislativa de décadas, no que respeita às limitações e individualização dos campos funcionais desta instituição. Fica aqui bem patente que o museu já não se preocupa somente com as suas colecções e respectiva conservação, mas também com o seu público e a exposição das suas manifestações. Deste modo, é função do museu investigar para incorporar, inventariar para documentar, conservar para interpretar e expor para divulgar os testemunhos humanos em interface com o meio, organizados em conjuntos – as colecções. Estas remetem lato sensu para uma realidade mais abrangente: é como se o museu trouxesse os territórios, físicos ou simbólicos, para dentro das suas paredes para projectar, para além delas, percursos e reflexões sobre múltiplos tempos e espaços (Araújo, 2005:126). Todas estas funções – ou funcionalidades – que vinculam as actividades operacionais dos museus são universais e devem ser aplicadas a todos as instituições, embora cada uma possua os seus próprios propósitos ou fins. As finalidades têm que possuir um profundo vínculo com o local, com o particular. Se a política cultural norteia as funções do museu, estas, por sua vez, servirão como um termómetro para detectar os erros e acertos dos propósitos. A finalidade do museu é proporcionar algum tipo de benefício às pessoas e provocar mudanças nas suas vidas, e não ser simplesmente uma casa de custódia para obras de arte ou um centro erudito. Isto implica um constante questionamento das suas funções e propósitos. Estes espaços culturais são, antes de mais, como afirma o director do Museu Het Domein da cidade holandesa de Sittard, ― […] instituições científicas com uma tarefa pública e não vice-versa (ou seja, o museu não é uma instituição pública com tarefa científica) ‖ (Lara, 2005).

Um museu do século XXI, seja criado agora ou não, será aquele que se compromete em despertar a curiosidade científica através da criação de emoções. ―[…] Seduzir o visitante para os mistérios da realidade é a melhor forma de fazer com que ele queira entender a realidade‖ (Lara, 2005). Não se trata apenas de assimilar as novas técnicas e tecnologias, mas de estruturar políticas culturais inovadoras e estimulantes. Este processo de estruturação tem vindo a sofrer profu ndas alterações ao longo dos

123 tempos, criando um novo tipo de museu que é, por vezes, contestado pela própria contradição dos seus termos (novo e museu). Apesar destas críticas, continuam a surgir semanalmente um grande número de museus em todo o mundo, predominando os de arte contemporânea, antropologia e ciências. Este dinamismo, que até pouco tempo atrás não era previsível, traz a premência da revitalização dos museus já existentes, processo que passa pela reestruturação das suas funções, pela reformulação dos seus espaços de acolhimento ao público e expositivo – reformas e ampliações dos edifícios –, e também pela procura de uma nova museografia. Estes novos museus possuem uma visão pragmática e até mercantilista inventada pelos norte-americanos e que por vezes se torna excessiva. Para além de incluir novas manifestações e produções, até então nunca vistas num museu, estes espaços culturais passam também a promover exposições temporárias, conferências, debates, sessões de cinema, entre outras. Estes eventos permitem alcançar novos públicos que se tornam assíduos e que inclusive dão um certo sustento financeiro. Esta renovada atracção dos espaços museológicos deve-se também à sua inserção no mundo da imprensa. Deste modo e como escreve Grossmann, ―o museu já não é mais considerado apenas como mero depósito, mas também como um agente cultural‖ (2001:198). Assim, o museu do século XXI vê-se diante de um dilema: dar prioridade à popularização do seu acervo, a qualquer custo, transformando o museu num showroom ou num shopping center (Grosmann, 2001: 193), ou preservar o carácter ―culto‖ da produção e da própria origem do museu, em prejuízo de sua popularidade?

Há algumas décadas atrás, sobretudo na Europa central, certos académicos começaram a privilegiar uma visão mais ampla e mais teórica da Museologia. Stránský, segundo Andre Gob & Noemie Drouguet desejou fundar uma ―meta-museologia‖ (Gob e Drouguet, 2006), uma teoria da teoria da Museologia que se insere na teoria do conhecimento. O que ele acabou por fundar foi a Museologia como ciência, inserindo-a, finalmente, no conhecimento pós-moderno. Dentro do pensamento de Stránský, o objecto da Museologia não podia mais ser o Museu, mas a ―musealidade‖, que seria uma relação específica do Homem com a Realidade; específica, pois passa pelo Museu que, neste contexto, é apenas o meio e não o fim. Como meio, o Museu não pode ser o objecto de estudo axiológico da Museologia.

Stránský afirma que rompendo com o paradigma do museu instituição, o Museu é detentor de um carácter fenómeno e que ―Museologia‖, ―Museografia‖, ―Teoria dos museus‖ e ―Museístico‖ são termos que reportam ao fenómeno museu. Recorda que a teoria em si não é uma ciência e que a Museologia ainda chega à Pós-Modernidade tendo

124 de lutar por um espaço entre as ciências. O Museu, portanto, chega a esta Pós- Modernidade trazendo consigo a necessidade de uma reflexão sobre o seu carácter fenomenológico (Gob e Drouguet, 2006). Para Stránský, o museu, levando em conta os processos de formação da cultura humana, tem hoje o seu lugar na sociedade e também a sua missão própria. O termo ―Museologia‖ ou ―Teoria de Museu‖ concerne à esfera da actividade de conhecimento específico, orientado em direcção ao fenómeno museu. O autor lembra que é preciso dar conta que o Museu não é mais do que uma forma histórica de objectivação, da relação do Homem com a Realidade, não constituindo uma estrutura única, mas que continuará a sofrer modificações e no futuro será substituído, eventualmente, por uma estrutura inteiramente nova ou, quem sabe, verá a sua definição completamente modificada.