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MONTANTE DO IMPOSTO PRAZO

4. Apreciação Crítica

A análise que se logrou realizar ao atual sistema fiscal nacional, em sede de tributação sobre o património, bem como o estudo da sua evolução histórica, que procurámos expor na II parte do presente trabalho, permite-nos chegar a algumas conclusões sobre a situação vigente e a apreciá-la de forma crítica.

Neste sentido, concluímos que, a reforma de 2003 não veio alterar a estrutura geral de algumas figuras tributárias antes existentes, modificando tão-só as suas designações e mantendo inclusive os próprios fundamentos para a sua existência468.

Assim, o IMI encontra-se na lógica da anterior contribuição autárquica, tendo o princípio do benefício, como fundamento à tributação, e o IMT corresponde ao antigo imposto de sisa, fundado na capacidade contributiva.

Talvez por esse facto, na exposição de motivos da Proposta de Lei n.º 56/IX apresentada à Assembleia da República469, o Governo tenha procurado esclarecer que, “… a

atual reforma não passa pela mudança pura e simples dos nomes dos impostos ou pela mera transfer ncia de factos tri utários entre impostos…”470

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Contudo, reconhecemos a importância da reforma na atenuação ou eliminação das iniquidades a que tinha conduzido a anterior tributação sobre o património, fruto da generalizada evasão fiscal, sobretudo, em sede de imposto sucessório e de sisa, e em ter colmatado a ausência do Código de Avaliações da CA, que havia ocasionado a oneração excessiva de uma pequena parcela de contribuintes, maxime, os titulares de prédios urbanos com inscrição mais recente na matriz predial.

Na verdade, a introdução de um novo modelo de cálculo do valor tributável dos imóveis constituiu a principal inovação da reforma, tendo procurado incorporar objetividade na determinação da matéria coletável, reduzindo assim ao mínimo a discricionariedade dos avaliadores, a par da atualização dos valores tributários dos prédios já inscritos na matriz, facto que, em rigor, apenas ficou concluído recentemente, com a avaliação geral desenvolvida em 2012.

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No mesmo sentido, PORTO, Manuel – A Reforma da Tributação do Património Imobiliário em Portugal. (janeiro de 2002), pp. 258 e 262-263; MORAIS, Rui Duarte – cit. 378, p. 313; LOBO, Carlos Batista – cit. 377, p. 3; LOBO, Carlos Batista – cit. 274, p. 31.

469 PROPOSTA DE LEI n.º 56/IX – cit. 345. 470

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Porém, apesar das virtudes da reforma, a nossa crítica dirige-se à manutenção da lógica de um sistema de tributação do património que foi criado num contexto económico e social bem distinto do que temos vivido nas últimas décadas.

Relembra-se que, os bens (prédios) sobre os quais incidia a CA eram os mesmos onde incidia a CP da reforma fiscal de 1963-1967, pese embora a matéria tributável fosse distinta, o rendimento nesta última, o valor tributável (valor patrimonial) na primeira, e que, por sua vez, o conceito legal desses bens foi transferido na íntegra para o IMI, cuja matéria tributável passa a ser o VPT. A criação de um imposto patrimonial (CA) e a manutenção do mesmo (IMI), perpétua a incidência sobre uma realidade económica, o património imobiliário, que deixou de ter nos dias de hoje a importância que revelava no passado.

A criação da CA mais não se deveu do que à necessidade de ser mantido o nível de receitas a favor das autarquias locais, o qual se encontrava em risco ante as alterações significativas da conceção do sistema fiscal decorrentes da reforma de 1988-1989. Um propósito que, visando a autonomia financeira das autarquias, tem sem qualquer dúvida uma relevância constitucional, mas que, no nosso entender, poderia ter sido atingido através de outras medidas, como seja por meio do aumento das transferências estaduais, consentâneas com as atribuições legais daquelas entidades, ou com o lançamento de uma derrama sobre o IRS, à semelhança da derrama sobre o IRC.

Pois que, de reforma em reforma, fiscal ou patrimonial, não consta que tenham sido postos em causa os pressupostos originários da tributação patrimonial nem a estrutura das figuras tributárias existentes, nomeadamente, no que toca à sua incidência, nem que se tenha colocado alguma vez a questão de se estar a perpetuar outras situações de injustiça tributária, para além das comummente reconhecidas, o que nos parece particularmente negativo, atendendo à atual redação do art.º 104.º, n.º 3 da CRP, onde se determina que, “… A

tributação do património deve contribuir para a igualdade entre os cidadãos”, norma que

somos levados a concluir carece de concretização no sistema fiscal atual, salvo melhor opinião.

Com efeito, partindo das diferentes conceções de património que apresentámos, concluímos que, em todas elas trespassa a ideia de “conjunto”, de “complexo” ou “acervo” que, poderá ser de bens, sobretudo de um ponto de vista económico, como o será de direitos, de relações jurídicas ou de situações jurídicas, quando visto numa perspetiva jurídica, sendo

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comum às diferentes noções a ideia de valor de troca no comércio ou de suscetibilidade de avaliação pecuniária dos elementos integradores do conjunto.

Hoje em dia, o património deixou de ser constituído preferencialmente por direitos imobiliários e, como referido pela doutrina, quanto mais elevado for o nível de riqueza das pessoas, menor importância têm os bens imóveis.

Neste sentido, verifica-se que, no nosso país, não existe um imposto global e único sobre o património, onde para além das realidades sobre as quais já incide a tributação, se incluam outras manifestações de riqueza patrimonial, tais como, os créditos dos sujeitos, a situação líquida das empresas e as hodiernas formas de aplicação do aforro, como sejam os valores mobiliários, obras de arte, entre outros471.

Uma tentativa de introdução de um imposto geral e anual sobre o património detido ou na titularidade dos sujeitos passivos, de natureza analítica, real e proporcional, ocorreu em Portugal, nos finais da década de noventa do século passado, que, no entanto, não passou disso mesmo, mera tentativa. As críticas que se fizeram sentir e a ausência de vontade política em assumir a introdução de um imposto dessa natureza, impossibilitaram o avanço para essa solução472.

A realidade presente traduz-se na existência de distintos impostos que incidem fundamentalmente sobre o direito de propriedade dos bens imóveis ou direitos parcelares desse direito de propriedade, bem como sobre os atos de aquisição onerosa ou gratuita desses mesmos bens, o que parece demonstrar, no mínimo, algum esquecimento sobre a natureza de bem escasso como o é o património imobiliário e a função social e económica que o mesmo desempenha.

A tributação do património entre nós incide assim sobre direitos específicos, maxime, o direito de propriedade sobre imóveis, que possam existir no património dos sujeitos (singulares e coletivos) e não sobre o complexo de relações ou de situações jurídicas que porventura integrem esse mesmo património, pelo que, este é tributado de forma parcelar e parcial.

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Esta realidade era já mencionada por António de Sousa Franco, em 1999 (cfr. SOUSA FRANCO, António - Apresentação do Projeto de Reforma da Tributação do Património, da Comissão de Reforma da Tributação do Património – cit. 173, pp. 16 e 17, bem como por Henrique Medina Carreira, em 2002 (cfr. MEDINA CARREIRA, H – cit. 53, pp. 51ss).

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Desta forma, pese embora o facto de os impostos sobre o património que vigoram no sistema fiscal nacional incidirem sobre o património imobiliário e mobiliário, a forma como oneram estas duas componentes do património é substancialmente distinta, como se poderá verificar em seguida.

Assim, sobre o património imobiliário, temos os seguintes impostos: 1) Incidente sobre a detenção de imóveis:

a. IMI – Sobre direito de propriedade e figuras parcelares desse direito.

b. IS – Sobre direito de propriedade de prédios urbanos habitacionais, com VPT, calculado nos termos do IMI, igual ou superior a 1.000.000 €.

2) Incidente sobre a transmissão onerosa de imóveis: