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Valor Patrimonial Tributário dos Prédios Rústicos

Manuel I. S Pinheiro define o cadastro predial geométrico do seguinte modo:

O PATRIMÓNIO E OS IMPOSTOS

B. Prédio Não Arrendado:

2. No caso de prédios omissos (falta de inscrição), presume-se proprietário, usufrutuário ou superficiário quem tenha a posse do prédio à data de 31 de

3.1.2.5. Determinação do Valor Patrimonial Tributário

3.1.2.5.1. Valor Patrimonial Tributário dos Prédios Rústicos

O art.º 17.º do CIMI determina que, “O valor patrimonial tributário dos prédios rústicos corresponde ao produto do seu rendimento fundiário pelo fator 20, arredondado para a dezena de euros imediatamente superior.”.

O conceito legal de rendimento fundiário é dado no art.º 18.º, n.º 1, correspondendo ao saldo de uma conta anual de cultura em que o crédito é representado pelo rendimento bruto e o débito pelos encargos de exploração, constando estes das diversas alíneas do art.º 25.º do CIMI.

O n.º 2 do art.º 18.º estabelece que, no caso de prédios com várias parcelas, o respetivo rendimento fundiário resulta do somatório dos rendimentos (saldos da conta de cultura anual) das parcelas, com os rendimentos das árvores dispersas que possam existir, desde que estas pertençam ao titular do direito ao rendimento do prédio e tenham interesse económico.

A noção de parcela é dada no art.º 19.º e corresponde a uma porção contínua de terreno que se situa num prédio rústico e, em regra, respeita a uma única qualidade e classe de cultura, podendo incluir uma dependência agrícola ou parte dela.

377 Adotar um sistema de avaliação de prédios urbanos que aproximasse o seu valor patrimonial

tributário do valor de mercado correspondia a um dos objetivos da reforma de 2003, como já tivemos ocasião de o referir. Vasco Valdez, em final de 2002, referia que, dos testes por amostragem realizados a um conjunto de prédios, a fim de testar o novo sistema de avaliações introduzido pela reforma, se verificou que, com a aplicação do mesmo, o VPT dos imóveis aproximava-os dos respetivos valores de mercado, em cerca de 80% a 90% (cfr. VALDEZ, Vasco – cit. 351, p. 75). O valor de mercado é entendido, em termos gerais, como o preço que o mercado está disposto a pagar pelo imóvel e, deste modo, difere do valor venal ou de venda, no sentido de que este corresponde a um valor concretizado e aquele a um presumível valor de transação do bem.

Podemos encontrar pensamento crítico ao modelo de determinação do VPT adotado pelo CIMI em LOBO, Carlos Batista – Política de Solos e Tributação do Património Imobiliário, 2006, pp. 3-5, em LOBO, Carlos Batista – cit. 274, pp. 31ss e, ainda, em PARDAL, Sidónio [et al.] – Tributação do Património, Relatório do Subgrupo 3, integrado no Relatório do Grupo para o Estudo da Política Fiscal – Competitividade, Eficiência e Justiça do Sistema Fiscal, 2009, pp. 353-354. Voltaremos a esta questão, sobretudo, na IV Parte do presente trabalho.

378 Para um entendimento crítico sobre a tributação da propriedade rústica segundo o modelo do CIMI,

cfr. MORAIS, Rui Duarte – Do Código da Contribuição Predial ao Código do Imposto Municipal sobre Imóveis. In: 15 Anos da Reforma Fiscal de 1988/1989: Jornadas de Homenagem ao Professor Doutor Pitta e Cunha. Coimbra: Almedina, 2005, pp. 319-322.

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Essa definição transmite a ideia de homogeneidade de exploração379 e, deste modo, um prédio poderá ser constituído por diversas parcelas ou o mesmo prédio constituir uma só parcela de cultura.

Conforme referimos acima, a avaliação dos prédios rústicos é de base cadastral, não cadastral ou direta (Art.º 15.º, n.º 1), cujas regras se referem seguidamente.

3.1.2.5.1.1. Avaliação de Base Cadastral

Este método de avaliação pressupõe o conhecimento das noções básicas indicadas antes (cfr. I Parte, ponto 4.1.), relativas ao cadastro predial. O DL n.º 224/2007, de 31 de maio, ali citado, diploma que aprovou o regime experimental da execução, exploração e acesso à informação cadastral, visando a criação do SINERGIC, estabelece no art.º 52.º que, o respetivo regime é aplicado apenas nas freguesias a designar, aplicando-se no restante território nacional o RCP, aprovado pelo DL n.º 172/95, de 18 de julho.

Por sua vez, este último diploma legal, no n.º 1 do seu art.º 6.º, determina que, o cadastro geométrico relativo aos prédios rústicos mantém-se em vigor até as áreas por ele abrangidas serem objeto da primeira renovação do cadastro.

Atendendo à situação atual do SINERGIC, a avaliação de base cadastral prevista no CIMI aplica-se aos prédios rústicos implantados nos concelhos abrangidos pelo regime do Cadastro Geométrico da Propriedade Rústica ou pelo regime do Cadastro Predial.

Nos termos do art.º 20.º do CIMI, a avaliação de base cadastral é realizada segundo os procedimentos estabelecidos nos art.os 21.º a 30.º do mesmo Código, a realizar sob a superintendência da AT, porém com base nos elementos do cadastro predial a fornecer pela DGT (ex-Instituto Geográfico Português).

Neste sentido, essa avaliação comporta as seguintes operações:

1ª Elaboração dos quadros de qualificação e classificação (Art.º 21.º):

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- Fase em que se procede à enumeração das qualidades culturais com interesse económico (ex. culturas arvenses de sequeiro ou de regadio, vinha, horta, olival, eucaliptal, etc) e, deste modo, objeto de quantificação;

- À definição de classes ou graus de produtividade sensivelmente diferenciados, com base na quantidade (calculada pela média do quinquénio anterior ou de período maior, para as culturas que o exijam) e qualidade de produtos, tendo em conta as condições edafoclimáticas e económicas que condicionem o rendimento; e,

- À escolha de parcelas ou árvores tipo representativas de cada qualidade cultural e classe, para confronto na operação de distribuição (cfr. Art.º 22.º).

A elaboração dos quadros tem por base explorações normais da região de situação dos prédios, isto é, aquelas que sigam os usos da região, bem como a produtividade média dos solos.

Em regra, é feita uma qualificação e classificação para cada freguesia ou grupos de freguesias com caraterísticas semelhantes.

Como exceção, nas freguesias mais extensas e em que as condições agrológicas ou económicas sejam muito diferenciadas far-se-á por zonas delimitadas.

2ª Elaboração dos quadros de tarifas (art.º 23.º):

- Consiste na determinação da tarifa, isto é, dos rendimentos unitários de cada uma das qualidades e classes consideradas na operação anterior, os quais correspondem aos rendimentos fundiários unitários das respetivas parcelas ou árvores tipo.

Para os cálculos das tarifas deverão usar-se como padrão os processos de exploração técnica e economicamente mais generalizados na região considerada e deverá ter-se em conta o rendimento proporcionado pelas qualidades culturais, isto é, se estas proporcionam rendimento temporário, perpétuo ou plurianual.

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As tarifas são calculadas por meio de contas anuais de cultura, nos termos do art.º 24.º, e o seu valor corresponde ao rendimento bruto ao qual são deduzidos os encargos de exploração380.

Os encargos de exploração respeitam às despesas efetivas relacionadas com a atividade de produção agrícola e são determinados nos termos do art.º 25.º, atendendo aos ditames sobre os preços dos fatores de produção previstos no art.º 26.º.

3ª Distribuição Parcelar (art.º 29.º):

- Consiste na medição e determinação, no terreno, da qualidade e classe de cada uma das parcelas e de cada uma das árvores dispersas nelas existentes, por confronto com as parcelas e árvores tipo e de acordo com o respetivo quadro de qualificação e classificação.

- É realizada por um perito avaliador nomeado pela AT, nos termos do art.º 56.º.

- Os terrenos são qualificados e classificados segundo a afetação e graus de produtividade.

- A distribuição obedece a registo, do qual devem constar os elementos enumerados, de forma taxativa, no art.º 30.º.

Os edifícios e construções diretamente afetos à produção de rendimentos agrícolas ou silvícolas381 que se encontrem situados nos prédios rústicos não são alvo de avaliação, por se entender terem um caráter acessório relativamente ao prédio rústico onde estão implantados (art.º 27.º, n.º 1).

Aqueles que, pelo contrário, não se encontrarem afetos a essas atividades serão avaliados de acordo com as regras de avaliação dos prédios urbanos (art.º 27.º, n.º 2), às quais nos referiremos infra..

380 Assim, retirados os valores de todos os fatores produtivos (trabalho, adubos, máquinas etc.)

traduzíveis em capital, sobra um fator produtivo, a TERRA, o capital fundiário.

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A referência à produção de rendimentos silvícolas foi introduzida pelo art.º 161.º, da LOE para 2016 – cit. 132, o que vem de encontro à alteração introduzida por esta mesma lei no conceito de prédio rústico do art.º 3.º do CIMI, cfr. fizemos referência atrás no texto (cfr. I Parte, ponto 3.2.1.2.2.). O art.º 163.º da LOE para 2016 dispõe que as alterações introduzidas quer no art.º 3.º quer no art.º 27.º do CIMI têm natureza interpretativa (cfr. LOE – cit. 132, p. 1096-(49)).

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3.1.2.5.1.2. Avaliação de Base Não Cadastral

Esta avaliação aplica-se aos municípios que não tenham ainda sido sujeitos ao regime do cadastro predial ou do cadastro geométrico, bem como aqueles que, tendo sido objeto de tais regimes se encontrem em zonas de cadastro diferido (Art.º 31.º, n.º 2)382.

As operações de elaboração de quadros de qualificação e classificação, assim como, de tarifas, são feitas nos termos previstos para a avaliação de base cadastral, acima enunciados, às quais se seguem a distribuição parcelar e a medição dos prédios.

Nestas últimas operações, o perito avaliador poderá recorrer aos suportes cartográficos existentes, tendo em vista o incremento da precisão e fiabilidade das medições, assim como, a melhoria da identificação dos prédios (Art.º 31.º, n.º 3).

As operações de avaliação são também objeto de registo, nos termos do art.º 32.º, o qual remete para o registo da avaliação de base cadastral.

3.1.2.5.1.3. Avaliação Direta

Este método de avaliação, previsto nos art.os 33.º e 34.º do CIMI, poderá ser aplicado nos prédios do cadastro geométrico, nos que estão sujeitos ao cadastro predial, bem como nos prédios onde não vigorem aqueles regimes. Porém, nos municípios onde estes últimos vigorem, será de aplicação subsidiária.

A avaliação depende da iniciativa do chefe de finanças da área de localização dos prédios, com base nas declarações prestadas pelos sujeitos passivos (Art.º 33.º, n.º 1 conjugado com o art.º 13.º (Inscrição nas Matrizes), n.os 1, 2 e 5) ou em quaisquer elementos de que disponha (Art.º 33.º, n.º 1 conjugado com o art.º 13.º, n.os 3 e 4).

A Lei nº 53-A/2006, de 29 de dezembro (Lei do Orçamento do Estado para 2007), veio dispensar a avaliação direta dos prédios rústicos quando o VPT não exceda 1.210,00 €383 (Art.º 33.º, n.º 2).

382 Nos termos do DL n.º 224/2007, de 31 de maio (SINERGIC) – cit. 152, p. 3620, o cadastro diferido

corresponde à situação em que se encontram os prédios que, embora abrangidos por uma operação de execução do cadastro, não se encontram caracterizados e identificados (cfr. art.º 6º, al. d)). O RCP – cit. 144, p. 4568, no art.º 17.º, n.º 1, define cadastro diferido como a área não demarcada ou demarcada incorretamente, por ter resultado infrutífera a demarcação dos prédios localizados nas freguesias abrangidas pelas operações de execução do cadastro, pelos respetivos proprietários ou usufrutuários, nos termos do art.º 16.º.

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Nesses casos, o prédio será inscrito na matriz pelo valor patrimonial que vier a ser fixado por despacho do chefe de finanças, devidamente fundamentado, e seguindo as normas do art.º 34.º, ou seja, após medição da área e apuramento do VPT em conformidade com as regras da avaliação de base cadastral.

Do disposto no art.º 33.º, n.º 1, 1ª parte e do art.º 34.º, n.º 1, resulta que, a avaliação direta realiza-se nas seguintes situações:

1ª Aquando da primeira avaliação de um prédio rústico (Art.º 33.º, n.º1); 2ª Aos prédios omissos (Art.º 34.º, n.º1);

3ª Aos prédios onde se verificarem alterações nas culturas que impliquem alteração no VPT (Art.º 34.º, n.º1);

4ª Aos prédios nos quais se constatou existirem erros de área, resultando alteração no seu VPT (Art.º 34.º, n.º 1).

O método comporta as operações a seguir indicadas, nas quais se deverá atender ao regime de avaliação de base cadastral (art.os 21.º a 30.º ex vi art.º 34.º, n.º 3):

1ª - Medição da área do prédio

2ª - Determinação do valor patrimonial tributário

A avaliação direta dos prédios rústicos é da competência de peritos avaliadores permanentes, designados preferencialmente de entre indivíduos com habilitação académica na área agronómica ou em técnicos com habilitação profissional adequada ao exercício das funções, existindo pelo menos um por cada serviço de finanças (Art.º 58.º e 59.º).

A não concordância com o resultado da avaliação direta, por parte do sujeito passivo ou do chefe de finanças, habilita estes sujeitos a requerer ou a promover, respetivamente, uma segunda avaliação direta, no prazo de 30 dias a contar da data de notificação do primeiro, a qual segue os termos do art.º 75.º.

383 Nos termos do n.º 4 do art.º 33.º do CIMI, o valor de referência do n.º 2, será atualizado anualmente

mediante a aplicação do coeficiente de desvalorização da moeda aprovado por portaria do Ministro das Finanças. Atualmente, encontra-se em vigor a PORTARIA n.º 400/2015, de 06 de novembro. DR, 1ª Série. N.º 218 (2015.11.06), p. 9458.

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Esta segunda avaliação é da competência de peritos regionais, os quais constam de listas próprias das direções de finanças, cuja nomeação pertence ao Diretor-geral da AT, sob proposta do diretor de finanças (Art.os 65.º e 66.º).

Do resultado da segunda avaliação cabe impugnação judicial nos termos do Código de Procedimento e de Processo Tributário (CPPT) (Art.º 77.º, n.º1).