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Manuel I. S Pinheiro define o cadastro predial geométrico do seguinte modo:

8. Avaliação patrimonial

Faz também parte do CGPR a “secção cadastral”, a qual representa em plantas topográfico-cadastrais, sem referências altimétricas, um conjunto de prédios contíguos, inclusos no regime de cadastro geométrico150.

O citado RCP veio alterar a conceção inicial do cadastro predial com fins tributários para o conceito atual de cadastro predial multifuncional e estabelecer a sua conservação em suporte digital, no qual os prédios serão caraterizados pela sua localização administrativa e geográfica, bem como pela configuração geométrica e área (art.os 3.º, 4.º e 5.º do RCP).

Do preâmbulo do DL n.º 172/95, de 18 de julho, retira-se que, à data, existiam cerca de 17 milhões de prédios, rústicos e urbanos, cuja informação se encontrava (e encontra, dizemos nós), dispersa por registos de distintas entidades e que obedecem a fins diversos, sem que haja correlação dos respetivos conteúdos, o que acarreta dificuldades de caracterização dos prédios e o conhecimento de eventuais ónus/encargos sobre os mesmos, quer para a Administração Pública quer para as mais diversas atividades dos particulares.

Com o referido RCP, foi criado um registo único de todos os prédios, também designado por “cadastro de ase”, no qual cada prédio fica identificado por um único número, o NIP (Número de Identificação de Prédio), e onde o mesmo é caraterizado por critérios uniformes.

No § 7.º do preâmbulo do citado diploma legal, refere-se que, “… Com este registo,

que constitui um cadastro de base, articulam-se, de forma expedita… registos telemáticos ou

150 BEIRES, Rodrigo Sarmento de; AMARAL, João Gama e RIBEIRO, Paula – cit. 145, p. 150;

60 sectoriais. O conjunto assim resultante constitui um sistema nacional de cadastro predial.”, o

que trará, sem qualquer dúvida, evidentes vantagens para os cidadãos, na resolução de situações práticas que exijam o contato com diferentes serviços públicos, e um maior grau de eficácia e eficiência da Administração Pública.

Contudo, o CGPR mantém-se em vigor até as respetivas áreas abrangidas serem objeto da primeira renovação do cadastro regido pelas regras do RCP (cfr. art.º 6.º, n.º 1 do DL n.º 172/95, de 18/07).

Após a entrada em vigor do RCP (agosto de 1995), muito pouco se avançou na execução do cadastro predial, cujos trabalhos abrangeram simplesmente cinco concelhos do Norte do país.

Um novo impulso ao processo foi dado pela Resolução do Conselho de Ministros

(RCM) n.º 45/2006, de 4 de maio151, na qual foram aprovadas as linhas orientadoras para a execução, manutenção e exploração da informação cadastral através da criação do Sistema Nacional de Exploração e Gestão de Informação Cadastral (SINERGIC).

O SINERGIC veio a ser criado pelo DL n.º 224/2007, de 31 de maio152 e lançado em regime experimental, em 2007 e 2008. Porém, continuou a desenvolver-se paulatinamente, desconhecendo-se a respetiva data de conclusão, embora se aponte para a necessidade de um prazo não inferior a 15 anos153.

Do preâmbulo do DL n.º 224/2007, de 31 de maio, retira-se que, o SINERGIC não é mais do que um sistema de informação predial único que aglutina, “…. de forma sistemática,

a realidade factual da propriedade imobiliária com o registo predial, as inscrições matriciais e as informações cadastrais.” e do n.º 1 do art.º 4 do articulado do diploma consta a noção

legal de cadastro predial, segundo o paradigma atual, a saber:

“O cadastro predial é um registo administrativo, metódico e atualizado, de aplicação multifuncional, no qual se procede à caracterização e identificação dos prédios existentes em território nacional.”

151

RESOLUÇÃO do Conselho de Ministros (RCM) n.º 45/2006, de 4 de maio. DR, I Série-B. N.º 86, (2006.05.04), pp. 3233-3235.

152 DL n.º 224/2007, de 31 de maio, alterado pelo DL n.º 65/2011, de 16/05, DR, I Série. N.º 105,

(2007.05.31), pp. 3618-3629.

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O SINERGIC visa não só a atualização do CGPR e a execução do cadastro predial para a restante área do território, como, em ambos os casos, abranger quer os prédios rústicos quer os urbanos.

O seu suporte físico será uma plataforma tecnológica sediada na Direção-Geral do Território (DGT) e ligada em rede a todos os utilizadores, públicos e privados, passando a estar permanentemente disponível pela Internet. A DGT assegura a gestão e exploração de todo o sistema e o controlo, designadamente, quanto aos níveis de acesso e intervenção154.

No ano de 2012, o tema regressou à agenda do poder executivo, com a publicação da Resolução do Conselho de Ministros n.º 56/2012, de 31 de maio, pela qual foram aprovadas novas linhas orientadoras e estratégicas para o cadastro, no sentido de reformar o modelo em vigor, e para a gestão rural.

No que concerne ao cadastro, se bem que, os propósitos visados na citada Resolução integrassem objetivos de diplomas legais anteriores, foram definidas orientações concretas para adoção de medidas de “…. centrali ação da informação de natureza cadastral dispersa

pelas diferentes entidades pú licas e privadas…”, bem como “… a criação de uma ase de dados partilhada por todas as entidades públicas que forneçam informação com relevância para a identificação da propriedade…”155, no sentido de reformar o modelo em vigor, tendo em vista alcançar de forma célere a cobertura cadastral nacional156.

Na verdade, a existência de um elevado número de prédios rústicos sem registo predial e a dificuldade em harmonizar os registos da AT e do Instituto dos Registos e do Notariado (IRN) parecem ter sido os principais obstáculos à concretização e operacionalização do SINERGIC157, aos quais também não terá sido alheia a falta de afetação de verbas para suporte aos custos envolvidos.

154

BEIRES, Rodrigo Sarmento de; AMARAL, João Gama e RIBEIRO, Paula – cit. 145, p. 36.

155 RESOLUÇÃO do Conselho de Ministros n.º 56/2012, de 31 de maio – cit. 149, pp. 3421-3422. 156 Relativamente às orientações preconizadas pela RESOLUÇÃO do Conselho de Ministros n.º

56/2012, de 31 de maio, da consulta ao sítio eletrónico da Direção-Geral do Território (DGT), pode ler-se o seguinte: “… a criação do Sistema Nacional de Informação Cadastral (SNIC) corporiza uma nova visão para o setor e um novo modelo de cadastro predial mais ágil e racional e menos oneroso quer nas vertentes de aquisição, atualização e conservação de informação cadastral quer no quadro da gestão, do acesso e da exploração dessa informação, assente na interoperabilidade entre sistemas e numa plataforma colaborativa de partilha de informação entre entidades públicas. A médio e longo prazos o SNIC pretende aumentar a área cadastrada no território nacional e dar um salto qualitativo muito importante nas relações que se estabelecem entre diversas entidades da administração pública e entre estas os cidadãos e os diversos agentes intervenientes no negócio jurídico da propriedade.” [Consult. 2016.02.21].

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Porém, apesar da morosidade envolta no processo, a execução do cadastro predial prossegue pela DGT, com a recolha e tratamento técnico dos dados que caracterizam e identificam cada um dos prédios existentes em território nacional.

Assim, informação dessa entidade reportada a julho de 2015, dá conta de ter sido iniciada a execução do Cadastro Predial, nos anos de 2013 e 2014, nos municípios de Loulé, Oliveira do Hospital, Paredes, Penafiel, São Brás de Alportel, Seia e Tavira, com o seguinte objetivo. “… caraterizar todos os prédios, rústicos e urbanos, identificando os seus limites,

os seus marcos e as suas estremas, bem como os seus proprietários, ou titulares de direitos, e efetuar a associação com os respetivos dados já existentes na Conservatória do Registo Predial e nos Serviços de Finanças.”158.

Em simultâneo, a DGT prossegue a informatização do CGPR iniciado nos finais da década de 90 do século passado.

Compete ao Ministro das Finanças a fixação por despacho publicado no DR a data a partir da qual cada concelho fica submetido ao cadastro predial, para efeitos fiscais (art.º 88.º do CIMI).

Da consulta à página eletrónica oficial da DGT, apurou-se que, segundo informação atualizada em 25 de setembro de 2015, o CGPR vigora em 129 concelhos do País, 118 situados no território continental e 11 nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira159.

A guarda e conservação do cadastro geométrico são da competência da AT, quanto aos elementos de base geométrica e às matrizes que tenha em seu poder, bem como da DGT, entidade também competente para proceder às alterações aos mapas parcelares que sustentam as matrizes (Art.º 95.º do CIMI), devendo para tanto aquela autoridade corresponder-se com a DGT (Art.º 96.º CIMI).

Qualquer modificação que se verifique nos limites dos prédios, oficiosamente ou a requerimento dos interessados, deverá ser comunicada, por meio de verbetes, pela AT à DGT, tendo em vista a atualização dos mapas parcelares (Art.º 97.º e 98.º CIMI), mas também este último organismo deverá remeter ao competente serviço da AT as alterações que detetar, mediante processo que organize e após resolução deste (Art.º 103.º e 104.º do CIMI).

158 Página eletrónica oficial da DGT. [Consult. 2016.02.20].

159 Página eletrónica oficial da DGT. [Consult. 20.02.2016]. Da consulta efetuada, verificou-se ainda

que, fruto da adoção do atual modelo e conceito de cadastro predial, o CGPR “…é apenas alvo de atualização individual dos dados que caracteri am e identificam cada um dos prédios.”.

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Para além do cadastro predial se tratar de um sistema de informação essencial à identificação e localização dos prédios do território nacional, bem como dos titulares de direitos sobre os mesmos, por conseguinte, instrumento imprescindível para um racional ordenamento do território e gestão urbanística, a existência do cadastro predial influencia as operações de avaliação dos prédios rústicos, para efeitos da determinação do respetivo valor patrimonial tributário, nos termos do CIMI, como se verá adiante.

Em conclusão, não podemos deixar de concordar nesta matéria com as palavras de Beires, Amaral e Ribeiro que se reproduzem a seguir:

“… o Cadastro nasceu e há -de servir sempre como base fundamental para a localização e delimitação dos prédios, que permitam uma avaliação equilibrada e justa para efeitos fiscais, para quantificar o seu valor patrimonial, e, correspondentemente, quantificar o imposto predial a pagar todos os anos”160

.

4.2. Matriz Predial

Com o Decreto de 31 de dezembro de 1852, foi determinado o registo dos prédios em cada concelho do País, o qual se chamaria matriz predial161, de cariz simplesmente descritivo e com um objetivo fiscal.

Com o referido diploma, foi introduzida no sistema fiscal a contribuição predial, conforme melhor se fará alusão adiante, cuja arrecadação da receita exigia que se procedesse ao arrolamento dos prédios existentes em cada concelho, com registo da sua designação, do seu rendimento e dos seus “possuidores”162.

No preâmbulo desse diploma, o legislador reconhecia a importância de um “cadastro

topograp ico parcelar” para os fins em vista, mas as vantagens que adviriam para o erário

público com a introdução do referido imposto não se coadunavam com o facto de estarem “…

tão atra ados estes tra al os…”, pelo que, admitindo o facto das matrizes prediais “se não podem su stituir devidamente um cadastro regular e completo…”, sempre “… preenc erão sufficientemente o seu fim…”163.

160 BEIRES, Rodrigo Sarmento de; AMARAL, João Gama e RIBEIRO, Paula – cit. 145, p 36 161 Cfr. art.º 10.ºss do DECRETO de 31 de dezembro de 1852 – cit. 114, p. 902.

162 Cfr. DECRETO de 31 de dezembro de 1852 – cit. 114, pp. 901ss. 163

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No presente, as matrizes prediais são reguladas nos art.os 12.º e 13.º e art.os 78.º a 111.º do CIMI e este Código, no n.º 1 do art.º 12.º, define-as como registos de prédios e enumera exemplificadamente os elementos dos prédios que deverão ser objeto de registo, a saber:

1. Caraterização