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Elemento de natureza física 2 Elemento de natureza jurídica

3. Elemento de natureza económica

120 Cfr. CCA – cit. 118, p. 17.

121 Cfr. CIMI – O CIMI foi publicado em anexo ao DL n.º 287/2003, de 12 de novembro – cit. 4, pp.

7593-7616.

122

Seguimos a classificação de elementos constitutivos de prédio indicados em ROCHA, António Santos e BRÁS, Eduardo José Martins – Tributação do Património - IMI, IMT e IS (Anotados e Comentados). 2015, p. 25.

123 Em GOMES, Nuno Sá – cit. 82, p. 63, o autor refere-se a este elemento como o “requisito de

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Partindo da decomposição do primeiro elemento - natureza física - chegamos às realidades físicas ou naturais que, encontrando-se nas condições estabelecidas pelo elemento jurídico, bem como pela componente económica, se constituem como prédio e, por conseguinte, serão alvo de tributação em sede de IMI, excluindo-se da sua incidência todas as situações que não se enquadrem no conceito.

Deste modo, para efeitos de IMI, correspondem à noção de “prédio” as seguintes realidades físicas (naturais ou resultantes de obra humana):

“… Toda a fracção de território, abrangendo as águas, plantações, edifícios e construções de qualquer natureza nela incorporados ou assentes, com carácter de permanência…” (art.º 2.º, n.º 1, primeira parte, CIMI)

Conforme fizemos notar supra, uma “coisa” do mundo físico, em particular a terra ou a crosta terrestre, para ser objeto de Direito, pressupõe uma limitação artificial no espaço e a sua individualização concreta e objetiva, ou seja, carece de ser circunscrita artificialmente, de acordo com regras jurídicas, por meio de “lin as reais ou ideais de separação”, de forma a se tornar perfeitamente identificável face às demais124.

Assim, o legislador fiscal estabeleceu como prédio uma “fracção de território”, o que nos remete para as ideias de porção, área, parcela de território ou, nos termos do CC, de

“parte delimitada do solo”, que compreende não só a área da superfície terrestre delimitada

pelas suas extremas ou confrontações, mas também o correspondente espaço aéreo (atente-se à ocupação em altura), bem como o subsolo125.

Com efeito, veja-se o conteúdo do art.º 1344 do CC que, estipulando sobre os limites materiais da propriedade dos imóveis, determina o seguinte:

“1. A propriedade dos imóveis a range o espaço aéreo correspondente à superfície, bem como o subsolo, com tudo o que neles se contém e não esteja desintegrado do domínio por lei ou negócio jurídico.

2. O proprietário não pode, todavia, proibir os actos de terceiro que, pela altura ou profundidade a que t m lugar, não aja interesse em impedir.”

124 Sobre a matéria cfr. MENEZES CORDEIRO, António – cit. 11, pp. 173 e 181-182. 125

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Nesta matéria, Nuno Sá Gomes entende que o texto legal (fiscal) sugere mesmo que, também o espaço aéreo e a superfície subterrânea, isolados do solo, poderão constituir por si só prédios autónomos126.

Com efeito, atente-se ao n.º 4 do art.º 2.º, o qual determina que, para efeitos de IMI, cada fração autónoma de um prédio sujeito ao regime de propriedade horizontal (cfr. art.os 1414.ºss do CC) é tida por si como constituindo um prédio.

A “fracção de território” constitui-se como um prédio, independentemente de nela se encontrarem águas, plantações, edifícios e construções de qualquer natureza nela incorporados ou assentes, sendo certo que, a existirem e, no caso dos edifícios e construções, o seja com caráter de permanência, encontrar-se-ão abrangidas pela “fracção de território” e, desta forma, passam a integrar o conceito de prédio.

No que diz respeito aos edifícios e construções, mesmo que móveis por natureza, o critério da permanência assume relevância, para que se considerem abrangidos pela fração de território. Assim, é a própria lei a estipular que essas realidades assumem o caráter de permanência quando afetos a fins não transitórios (art.º 2.º, nº 2 do CIMI) e a estabelecer a presunção que aquele existe, no caso dos edifícios ou construções se encontrarem assentes no mesmo local por um período superior a um ano (art.º 2.º, n.º 3, CIMI)127.

Da segunda parte do n.º 1 do art.º 2 do CIMI, temos que, também serão prédios:

“… as águas, plantações, edifícios ou construções, nas circunstâncias anteriores [de qualquer natureza nela incorporados ou assentes, com caráter de

permanência”], dotados de autonomia económica em relação ao terreno onde

se encontrem implantados, embora situados numa fracção de território que constitua parte integrante de um património diverso ou não tenha natureza patrimonial.”

Neste caso, a autonomia económica das realidades materiais face à fração territorial é determinante para a sua classificação como prédio, isto é, seguindo a linha da teoria da afetação económica considerada para efeitos de qualificação civil dos prédios como rústicos, a autonomia económica existe se as realidades consideradas apresentarem uma funcionalidade

126

GOMES, Nuno Sá – cit. 82, p. 68.

127 Nos termos do art.º 73 da LGT – cit. 6, “As presunções consagradas nas normas de incidência

tributária admitem sempre prova em contrário.”e, por sua vez, o n.º 1 do art.º 74.º da LGT, determina que “O ónus da prova dos factos constitutivos dos direitos da administração tributária ou dos contribuintes recai sobre quem os invoque.”.

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económica ou um valor económico independente da parcela de território onde se encontrem implantadas.

Do exposto, conclui-se que, quanto ao elemento de natureza física, a noção de prédio fiscal, para efeitos de IMI, abrange realidades que, no Direito civil, apenas são consideradas como coisas imóveis, como é o caso das águas e plantações, mas também que, mesmo as coisas consideradas móveis pela lei civil, poderão constituir um prédio fiscal se houver lugar a determinadas condições, quer de permanência quer de autonomia económica.

Desta forma, o conceito de prédio, em sede de tributação de IMI tem um âmbito mais alargado do que a noção que se possa inferir do CC. Relembre-se que, prédios rústicos e urbanos no Direito civil são apenas coisas imóveis, a par de outras, como as águas e plantações (cfr. art.º 204.º, n.º 1 do CC).

O elemento de natureza jurídica, vem acrescentar às realidades físicas acima enunciadas o requisito de pertença a um património, para que se possa estar em presença de um prédio relevante em termos fiscais.

Assim, para se constituir como prédio para efeitos de IMI, a realidade física há de ter que fazer parte “… do património de uma pessoa singular ou colectiva” ou, no caso das águas, plantações, edifícios ou construções dotados de autonomia económica, mesmo que “situados numa fracção de território que constitua parte integrante de um património diverso

ou não ten a nature a patrimonial.”

Atentas as considerações feitas supra sobre o conceito fiscal de património, temos que, as realidades físicas enunciadas no art.º 2.º do CIMI apenas serão consideradas como prédios se fizerem parte do conjunto de bens e relações jurídicas de uma pessoa (singular ou coletiva), que possam ser objeto de direitos privados e suscetíveis de apropriação individual, isto é, desde que correspondam a coisas particulares e que apresentem valor pecuniário. Estão assim excluídas as coisas do domínio público128.

128 Uma referência à questão dos baldios. Até à entrada em vigor da LEI n.º 72/2014, de 02 de setembro,

que veio alterar a LEI n.º 68/93, de 4 de setembro (Lei dos Baldios), os baldios não poderiam ser tributados em sede de IMI, por lhes faltar o elemento jurídico do conceito de prédio. A referida LEI n.º 72/2014 introduziu na Lei dos Baldios a inscrição matricial desses terrenos, ao aditar o art.º 2.º-B, epigrafado “Inscrição Matricial”, que se passa a transcrever:

“ 1 - Os terrenos que integram os baldios estão sujeitos a inscrição na matriz predial respetiva.

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Quanto à expressão “património diverso”, tal como adverte Nuno Sá Gomes, o seu significado traduz a ideia de que, as águas, plantações, edifícios e construções dotadas de autonomia económica serão por si próprios prédios autonómos, quando se encontrarem situados em património de titular distinto, ou seja, “…patrimónios que não estejam na

titularidade da pessoa singular ou coletiva respetiva.”129, ou serão componentes de prédios,

caso a titularidade daquelas seja coincidente com a da fração do território onde se situam130. O terceiro e último elemento constitutivo da noção de prédio, o de natureza económica, e traduzido na expressão “em circunstâncias normais, ten a valor económico”, diz-nos que as coisas para serem prédios terão ainda que, em condições correntes ou em circunstâncias normais, ser aptas a satisfazer necessidades humanas e, deste modo, revestirem-se de utilidades avaliáveis em dinheiro, independentemente da possibilidade de gerar ou não rendimento131.

A noção de prédio constante do CIMI é, por remissão, também o conceito de prédio para efeitos de IMT (cfr. art.º 1.º, n.º 2 do CIMT) e de IS (cfr. art.º 1.º, n.º 6 do CIS).

2 - A cada terreno individualizado que integra o baldio corresponde um artigo matricial próprio, que deve incluir todos os elementos de conteúdo estabelecidos no artigo 12.º do Código do Imposto Municipal sobre Imóveis, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 287/2003, de 12 de novembro, na redação atual, que se apliquem à especificidade dos terrenos.

3 - Para efeitos do artigo 8.º do Código do Imposto Municipal sobre Imóveis aprovado pelo Decreto-Lei n.º 287/2003, de 12 de novembro, na redação atual, os terrenos de baldio são inscritos em nome do próprio baldio.”

O referido preceito legal, no seu n.º 3, veio ficcionar a propriedade dos terrenos baldios, cujo titular, para efeitos de IMI, passou a ser assim o próprio baldio. A tributação em sede de IMI poderá ser objeto de isenção, caso se verifique a inscrição dos prédios na matriz em nome do baldio e desde que os prédios não sejam explorados por terceiro fora de uma atividade agrícola, silvícola ou silvopastoril (cfr. art.º 59.º, n.º 6, als. a) e b) do ESTATUTO DOS BENEFÍCIOS FISCAIS (EBF), aprovado pelo DL n.º 215/89, de 01 de julho. DR, Série I. N.º 149 (1989.07.01), pp. 2578-2591).

Para mais elementos, cfr. ROCHA, António Santos e BRÁS, José Martins – cit. 122, pp. 28-29 e LEI n.º 68/93, de 4 de setembro, na redação dada pela LEI 72/2014, de 2 de Setembro.

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GOMES, Nuno Sá – cit. 82, p. 79.

Sobre o art.º 2.º do CIMI, designadamente, quanto às coisas móveis por natureza serem consideradas como prédios para efeitos de incidência do tributo, desde que sujeitas às condições indicadas naquela disposição legal (cfr. n.os 2 e 3 do art.º 2.º), pronunciou-se o Tribunal Constitucional no ACÓRDÃO n.º 363/01 de 12 julho de 2001, no âmbito do Processo n.º 667/2000, ainda que tenha sido submetida à sua apreciação o art.º 2 do CCA que, como referimos no texto foi transposto para o atual CIMI. Àquele Tribunal foi colocada designadamente a questão de “… a interpretação do artigo 2.º, n.os 2 e 3, do Código da Contribuição Autárquica, segundo a qual está sujeito ao pagamento de contribuição autárquica o proprietário de uma caravana de campismo que a tem instalada, há mais de um ano, para uso periódico, num terreno (parque de campismo) cujo proprietário se encontra isento dessa mesma contribuição, viola ou não um qualquer princípio de justiça fiscal que integre o regime constitucional do sistema fiscal.”, tendo sido julgada a constitucionalidade das normas.

130 ROCHA, António Santos e BRÁS, José Martins – cit. 122, p. 26. 131

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3.2.1.2.2. Conceito de Prédio Rústico

O conceito de prédio rústico no CIMI (cfr. art.º 3.º) provém da noção constante do CCA, cujo conteúdo foi reproduzido na íntegra, para efeitos de IMI.

Recentemente, havia sido introduzida uma nova redação ao n.º 3 do art.º 3.º, pelo art.º 203.º da Lei n.º 83-C/2013, de 31 de dezembro (Lei de Orçamento do Estado (LOE) para 2014), que alterou a expressão “rendimento agrícola” para “rendimento “agropecuário”, acrescentando ao rendimento de atividade agrícola o rendimento proveniente de atividade pecuária.

A LOE para 2016132, veio alterar de novo a redação do n.º 3 do art.º 3.º, voltando a constar a expressão “rendimentos agrícolas” à qual foi acrescentada ainda a de rendimentos “silvícolas”. Mas, esta LOE trouxe ainda outras alterações ao art.º 3.º, as quais evidenciaremos infra.

Assim, da decomposição do preceito legal, verifica-se que, em termos gerais, integram a definição de prédios rústicos terrenos que não são para construção, situados fora ou no interior de um aglomerado urbano, bem como edifícios e construções situados nesses terrenos e diretamente afetos à produção de rendimentos agrícolas/silvícolas, e, ainda, as águas e as plantações com autonomia económica face ao terreno onde estejam situadas e que integrem um património diferente do património no qual se insere esse mesmo terreno.

Questão essencial para definir um prédio como sendo rústico é a sua situação face a um “aglomerado ur ano”133

, já que poderão considerar-se prédios rústicos terrenos situados dentro ou fora desse mesmo aglomerado, conforme descrito nos n.os 1, 2 e 3, do art.º 3.º, de cujo teor retiramos que, prédios rústicos, para efeitos de IMI, correspondem às seguintes realidades:

A. Os terrenos situados fora de um aglomerado urbano, que não sejam