• Nenhum resultado encontrado

sobre o património mobiliário, temos o seguinte imposto: 4) Sobre transmissões gratuitas de bens:

MONTANTE DO IMPOSTO PRAZO

E, sobre o património mobiliário, temos o seguinte imposto: 4) Sobre transmissões gratuitas de bens:

180

a. IS, designadamente:

i. Bens móveis sujeitos a registo, matrícula ou inscrição; ii. Participações sociais;

iii. Valores mobiliários e direitos de crédito associados; iv. Títulos e certificados de dívida pública;

v. Valores monetários

Excecionam-se as transmissões entre cônjuges ou unidos de facto, descendentes e ascendentes, bem como as transmissões a favor de pessoa coletiva sujeita a IRC.

Da enumeração acima, resulta claramente a oneração do património imobiliário em favor do mobiliário, sem esquecer que aquele poderá encontrar-se ainda sujeito a outros tributos, como sejam as taxas urbanísticas ou as contribuições especiais por obras públicas.

Para além da transmissão ocasional de imóveis, onerosa ou gratuita, se encontrar sujeita a tributação, a sua mera detenção obriga ao pagamento de um imposto periódico, calculado com base no valor aproximado ao mercado desses bens, o que não encontra paralelo na detenção de bens patrimoniais móveis, tais como, a titularidade de ativos financeiros ou de participações sociais que, seguramente nos nossos dias, assumem uma importância relativa superior na manifestação de riqueza dos particulares.

Deste modo, no que se refere à contribuição da tributação do património para a arrecadação das receitas necessárias ao financiamento dos encargos públicos, nomeadamente, dos serviços prestados pelas autarquias locais, conclui-se que a mesma se encontra essencialmente suportada pelo património imobiliário dos contribuintes, pondo em causa não só a eficiência da finalidade financeira do sistema, mas também a justiça da repartição dos encargos públicos entre os indivíduos, para além de colocar em crise finalidades de justiça social e, em suma, a promoção do Bem-Estar da coletividade.

Se considerarmos que, parte significativa dos bens imóveis adquiridos ou detidos têm como destino a habitação, em particular, a habitação própria e permanente, um direito com consagração constitucional (cfr. art.º 65.º da CRP), e, como é comum no nosso país, esse direito não é alcançado com a aplicação de rendimentos aforrados ao longo dos anos, mas sim por meio de avultados créditos bancários, esses sim com prazos de amortização de largos

181

anos, concedidos mediante hipotecas sobre os próprios imóveis, percebe-se qual a realidade patrimonial ou a “riqueza” dos contribuintes sobre a qual incide atualmente a tributação do património.

Por outro lado, a reforma de 2003 incidiu preferencial se não totalmente na tributação sobre a propriedade de imóveis urbanos, deixando intacta a tributação dos prédios rústicos, designadamente, em sede de determinação do valor tributável.

Com efeito, na exposição de motivos da citada Proposta de Lei n.º 56/IX é referido que “Nos prédios rústicos continua a considerar-se como base para a tributação o seu

potencial rendimento produtivo, com alterações de menor relevância, sendo a realização de uma reforma mais global diferida para o momento da reestruturação da base cadastral destes prédios.”473

.

Conhecida a situação atual do cadastro predial do país (cfr. I Parte I, em 4.1.), cuja aplicação em todo o território está longe de se encontrar concluída, talvez não seja a melhor das opções reservar para um futuro incerto uma reforma sempre adiada e, enquanto isso, manter-se sem adequada justificação uma situação de subtributação dos imóveis rústicos.

Aliás, com exceção dos trabalhos da Comissão de Estudo para a Tributação da Terra e dos seus Rendimentos, a problemática da avaliação do imobiliário rústico encontra-se praticamente ausente dos estudos técnicos e intocável por parte do legislador e, até se poderá perceber a razão dessa inoperância, dada a situação de abandono a que chegou grande parte da propriedade rústica, desconhecendo-se a quem se deve de facto imputar o encargo do imposto, bem como ao facto da terra, aqui entendida restritamente como solo ou “agro”, corresponder ao fator de produção essencial da atividade agrícola, permanentemente tratada como o “parente pobre” da atividade económica e tida como geradora de parcos rendimentos e, por esse motivo, arredada da riqueza privada que deve contribuir para a cobertura dos custos da satisfação das necessidades públicas.

Tal como a propriedade imobiliária urbana, os prédios rústicos fazem parte do acervo de bens patrimoniais dos contribuintes e, por conseguinte, deverão igualmente contribuir para o erário público, sob pena de discriminação negativa dos proprietários urbanos.

Sobre esta matéria, Rui D. Morais, em 2005, escreveu o seguinte:

473

182

“ O sistema que permanece não é aceitável porquanto, desde logo, é incoerente com uma tributação do património. A avaliação dos prédios rústicos continua dirigida à determinação do rendimento fundiário… Para além da crítica evidente de não haver relação directa necessária entre rendimento e valor do bem, o que mais choca neste sistema é a sua total desadequação à realidade do nosso país… A avaliação dos prédios rústicos parte da consideração do valor terra enquanto factor de produção da agricultura, enquanto base de uma exploração agrícola feita segundo os usos da região… Determinar o valor do rendimento fundiário a partir do preço médio dos produtos e dos encargos avaliados aos preços médios dos últimos cinco anos é o ter um resultado… já desactualizado quando o resultado da avaliação entra em vigor.”474

Em 1996, a Comissão para o Desenvolvimento da Reforma Fiscal, a também designada Comissão Silva Lopes, quanto à caraterização da CA, referia o seguinte:

“A tri utação patrimonial selectiva, do tipo da introduzida pela Contribuição autárquica, não tem justificação cabal num sistema fiscal baseado no princípio da capacidade contributiva. Os bens imóveis constituem apenas um dos elementos constitutivos dos patrimónios e nem sequer, nos dias de hoje, são necessariamente o mais importante, em especial para os titulares de rendimentos dos escalões mais elevados. Não será pois de esperar de tal tributação contributo significativo para a melhoria da qualidade do sistema no seu conjunto, no que respeita à igualdade vertical e à própria igualdade ori ontal.”475

.

Volvidos 20 anos após estas sábias palavras, e perante a análise ao subsistema fiscal do património, conclui-se que muito pouco foi feito para rever esta área da tributação, tendo sido aliás prosseguida pela reforma de 2003, que se encontra vigente, pelo que, somos levados a perfilhar do entendimento de doutos constitucionalistas que, sobre a matéria, mencionam o seguinte:

“Atualmente, a Constituição apenas exige que a tri utação do património contribua para a igualdade entre os cidadãos, o que parece determinar a inconstitucionalidade de reformas desse modelo de tributação que não abranjam a totalidade do património e que, designadamente, descriminem entre património mo iliário e imo iliário.”476

.

474 MORAIS, Rui Duarte – cit. 378, pp. 319-320.

475 LOPES, José da Silva [et al.] – cit. 172, Ponto 2.1., § 5.º, pp. 762-763. 476

183