• Nenhum resultado encontrado

3. Conceitos de Imóvel 1 Conceito Civil

3.2. Conceito de Imóvel para efeitos de IM

3.2.1. Conceitos de Prédios

3.2.1.1. Conceitos no Direito Civil

O CC não nos dá uma noção de prédio97 mas, como resulta da enumeração do art.º 204.º, este constitui-se como uma das figuras de maior relevância entre as coisas imóveis, a par das águas98.

O termo prédio é utilizado em outras disposições do CC, nomeadamente, no Livro III - Direito das Coisas, em sede de “servidões prediais” (Título VI – Art.os 1543.ºss), sem que aí se proceda à sua definição.

Com efeito, no art.º 204.º, n.º 1, do CC, prédio vem associado às designações de

prédios rústicos e urbanos, entre a enumeração de coisas imóveis, e, o n.º 2 do mesmo

preceito dá as definições de prédio rústico e de prédio urbano99.

96

Conforme referia TEIXEIRA RIBEIRO, qualquer imposto incide sobre certos bens que constituirão a sua matéria coletável, sendo a definição desta o primeiro quesito a identificar para se estruturar o sistema tributário (TEIXEIRA RIBEIRO, J. J. – cit. 48, pp. 293 e 294).

97 A palavra prédio provém do vocábulo latino praedium, cujo sinónimo se encontra no termo

“propriedade” (cfr. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa. 2001,vol. 2, p. 2937).

98 MENEZES CORDEIRO, António – cit. 11, p.173; OLIVEIRA ASCENSÃO, José de -Cit. 87, p. 994. 99 O termo urbano tem origem no vocábulo latino urbãnus e, em sentido linguístico, significa o que é

36

Apesar da inexistência da definição, pode afirmar-se que, prédio é uma coisa, em sentido jurídico e, como tal, autónoma e útil, no comércio, suscetível de apropriação privada e, ainda, imóvel, ou seja, incapaz de se deslocar, sem que resulte prejuízo para a sua subsistência100.

Já um prédio rústico corresponde a “… uma parte delimitada do solo e as construções

nele existentes que não ten am autonomia económica” e prédio urbano será “… qualquer edifício incorporado no solo, com os terrenos que l e sirvam de logradouro.” (cfr. art.º 204.º,

n.º 2, CC).

Teremos então que, da distinção entre prédios rústicos e urbanos, prédio há de ainda corresponder às coisas corpóreas imóveis seguintes:

- A uma parte delimitada do solo;

- A construções101 existentes no solo, desde que não tenham autonomia económica;

- A qualquer edifício102 incorporado no solo;

- A terrenos que sirvam de logradouro103 aos edifícios referidos em 3; - Às partes integrantes das coisas referidas nos n.os 1 a 4.

A enumeração supra indicada, demonstra que, para efeitos civis, uma definição de

prédio e, sobretudo, a distinção entre prédio rústico e urbano, há de reunir uma realidade

antinomia à palavra “rústico” (cfr. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa – cit. 97, p. 3682).

O termo rústico tem a sua origem no latim, no termo rusticus e que se refere ao “campo”, “que é próprio do campo”, “rural” (cfr. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa – cit. 97, p. 3292).

O significado semântico da expressão prédio rústico é o de “propriedade, com tudo o que lhe é inerente, utili ada para fins rurais” e o de prédio urbano é, também, o de “propriedade, com tudo o que l e é inerente, solo, a itação, garagem…, destinada à a itação, comércio ou indústria” (cfr. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa – cit. 97, p. 2937).

100

GOMES, Nuno Sá. – cit. 82, p. 36.

101 O sentido literal de construção encontra-se, designadamente, nas expressões seguintes: “aquilo que

se edificou”, “aquilo que se construiu” ou “aquilo que se está a construir” e, ainda, “o ra construída”. (cfr. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa. 2001,vol. 1, p. 940). Tal significado pressupõe assim atividade humana.

102 O sentido literal do termo edifício corresponde à “construção em alvenaria, betão, ou outro

material, de caráter permanente, em geral limitada por paredes e teto, que serve de habitação ou constitui um espaço comercial, industrial, administrativo, religioso, cultural…”, (cfr. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa – cit. 101, pp. 1329-1330).

103 Entre os significados de logradouro encontram-se as seguintes referências: “ O que é ou pode ser

go ado, fruído ou logrado por alguém” e “Espaço contíguo ou anexo a uma casa e que serve para diversos fins.” (cfr. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa – cit. 97, pp. 2295).

37

física exterior ao homem, como será o caso do solo, mas também realidades resultantes de feitos humanos, como sejam as construções e os edifícios.

Mas, mesmo quanto à realidade física - solo, a lei estipula que, prédio corresponde apenas a uma parte delimitada deste e não a todo o solo, o que acaba por pressupor também a intervenção humana, nessa demarcação104.

Assim, Menezes Cordeiro, partindo da análise do art.º 204.º, n.º 2, do CC, refere o seguinte: “O prédio pressupõe uma delimitação artificial, feita pelo homem, de acordo com

regras jurídicas, através de lin as reais ou ideais de separação.”e, nesse sentido, vem a definir prédio como “… uma parcela de solo, com ou sem construções, as quais, a existirem, se incluem no próprio conceito de prédio.”105

.

Outro aspeto relevante para a definição de prédio prende-se com o recurso ao critério da “autonomia económica”, sobretudo, para destrinçar a natureza rústica ou urbana do prédio com construções.

Na doutrina nacional, existem diversas teorias que procuram resolver a distinção com recurso a diferentes critérios106, embora aquela que tem sido mais defendida, mesmo entre a jurisprudência, seja a teoria da afetação económica107. Para esta teoria, em cada caso concreto, terá que se verificar se as construções existentes se encontram subordinadas à finalidade económica do solo, sendo então consideradas como prédio rústico, ou se, pelo contrário, o terreno é destinado a um melhor aproveitamento de um edifício nele erigido,

104 GOMES, Nuno Sá – cit. 82, p. 39, referindo-se ao art.º 2088 do CC de 1867, refere que, essa

demarcação não é necessariamente exata, bastando para a identificação do prédio, no plano da superfície, o conhecimento das respetivas confrontações e extremas, ou seja, que a porção de solo esteja inscrita por certas linhas real ou idealmente traçadas no terreno. Esta mesma ideia é transmitida por MENEZES CORDEIRO, António – cit. 11, p. 181. Nos planos de profundidade e altura a considerar para a delimitação de prédio, este último autor, remete para o conteúdo do art.º 1344.º, do atual CC, que, respeitando ao direito de propriedade, no seu n.º 1, estabelece o seguinte: “A propriedade dos imóveis a range o espaço aéreo correspondente à superfície, bem como o subsolo, com tudo o que neles se contém e não esteja desintegrado do domínio por lei ou por negócio jurídico.”.

105

MENEZES CORDEIRO, António - cit. 11, p. 173.

106 MENEZES CORDEIRO, António - cit. 11, pp. 174-175, indica quatro teorias, a saber, a teoria do

valor; a teoria da afetação económica, a teoria do fracionamento e a teoria da consideração social, esta última apresentada pelo próprio autor, embora no presente tenha deixado de a defender. Para o autor, a “… dogmática dos prédios é, hoje, eminentemente técnico-jurídica.”.

107 MENEZES LEITÃO, Luís M. T. de – cit. 81, p. 67. Não reconhecendo praticabilidade à Teoria da

Afetação Económica, sobretudo, no tempo atual, cfr. MENEZES CORDEIRO, António - cit. 11, pp. 175-176, que, no entanto, não deixa de referir que, o art.º 204.º, n.º 2 do CC encontra-se na linha da teoria da afetação económica.

38

encontrando-se por isso subordinado à funcionalidade deste e, como tal, será tido como

urbano108.

Conforme resulta do anteriormente exposto, inexistindo uma noção de prédio na lei civil, a delimitação do conceito através da distinção legal entre prédios rústicos e urbanos denota alguma dificuldade, nomeadamente pelo facto do legislador ter recorrido a conceitos indeterminados109 para definir o que é rústico e o que é urbano, o que só poderá ser solucionado pela interpretação jurídica, perante cada caso concreto110.

Pese embora o referido, o teor das normas a que aludimos não deixa de se constituir como base jurídica para o regime de outros ramos do Direito civil e, por via destes, para outras áreas do Direito chamadas a disciplinar objetos de direitos ou de relações jurídicas. Porém, tal não aconteceu com o Direito Fiscal111.

3.2.1.2. Conceitos no CIMI 3.2.1.2.1. Conceito de Prédio

Conforme refere Nuno Sá Gomes, as primeiras noções legais de prédio rústico e

prédio urbano surgiram na legislação fiscal e o mesmo se passou com a definição de prédio,

as quais foram pela primeira vez consagradas no Código da Contribuição Predial (CCP), razão pela qual considera que, a influência do Direito civil nesta matéria no Direito fiscal se

108 No mesmo sentido, GOMES, Nuno Sá – cit. 82, pp. 46-50, alude ao critério da “estrutura física”,

como critério básico de referência em que assenta a noção implícita de prédio no CC, corrigido pelo “critério da autonomia ou dependência económica”, nas situações dos prédios que designa por “naturalmente mistos”. O critério da “estrutura física” surge ainda para aquele autor, como um critério nuclear para a dstinção entre prédios rústicos e urbanos, neste caso, corrigido pela consideração de que fazem parte dos primeiros as construções e dos segundos os terrenos que não tenham autonomia económica.

109

É o caso dos conceitos de “construção”, de “edifício” e de “logradouro” que não são definidos na lei civil. Neste caso, como entendido por PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA (Apud MENEZES CORDEIRO, António – cit. 11, p. 182), sem a definição da própria lei, entende-se que esta remete para a conceção comum daqueles termos.

110 MENEZES CORDEIRO, António - cit. 11, pp. 176-177.

111 MENEZES CORDEIRO, António - cit.11,p. 57. Em sede de Direito fiscal, salienta-se que, nos

termos da LGT, conforme estipula o art.º 2.º, a aplicação da legislação civil às relações jurídico-tributárias é complementar à própria LGT, às demais leis tributárias e de processo tributário, bem como à lei de processo administrativo e demais legislação administrativa. Assim, nos termos daquele preceito, “De acordo com a natureza das matérias, às relações jurídico-tributárias aplicam-se, sucessivamente:... d) O Código Civil e o Código de Processo Civil.” Por sua vez o art.º 11.º da LGT, quanto à interpretação das normais fiscais prescreve no seu n.º 2, o seguinte: “Sempre que, nas normas fiscais, se empreguem termos próprios de outros ramos de direito, devem os mesmos ser interpretados no mesmo sentido daquele que aí têm, salvo se outro decorrer directamente da lei.”. No caso da matéria em análise, conforme resultará do texto, a interpretação das normas do CIMI, deverão atender ao sentido conferido às diferentes noções de prédio que decorre da própria lei tributária (cfr. LGT – cit. 6).

39

encontra muito atenuada, falando antes da “interpenetração de influ ncias” que possa ter existido entre ambos112.

Na vigência da contribuição predial de 1963, Nuno Sá Gomes advertia para o facto de não existir um conceito de prédio uniforme e de validade geral para todo o sistema fiscal113, e o mesmo entendemos acontecer no presente, pois, apesar do sistema tributário atual ser manifestamente distinto do então em vigor, encontra-se ainda na legislação tributária, nomeadamente, em sede de impostos sobre o rendimento, um conceito de prédio diferente da noção dada pelo CIMI.

Por outro lado, acrescenta-se, quando se analisam, de um ponto de vista histórico, os conceitos fiscais de prédio, de prédio rústico e de prédio urbano, nos tributos que antecederam o IMI, verifica-se que, os mesmos não assumiram sempre o mesmo sentido, tendo evoluído a fim de abrangerem na sua base de incidência novas realidades a tributar, em consequência do próprio desenvolvimento social, embora se denote a manutenção de algumas ideias nucleares, ao longo do tempo.

Desta forma, antes de se proceder a uma análise mais detalhada dos referidos conceitos no atual IMI, far-se-á uma breve alusão histórica às definições legais que antecederam este imposto.

O Decreto de 31 de dezembro de 1852114, sobre o qual nos voltaremos a deter, embora não tenha dado uma noção de prédio, no seu art.º 17.º, estabelecia-o como “… a hypotheca

especial da contribuição predial que sobre elle recae.”, ou seja, era a atribuição legal e

funcional à realidade prédio, ao estipular que o mesmo se constituía como garantia (especial) do Estado, preferencial sobre outros credores, pelo incumprimento da obrigação tributária por parte do contribuinte.

O CCP de 1913, retoma aquela mesma disposição no art.º 2, porém, apresenta uma definição de prédios urbanos, rústicos e mistos no art.º 4.º, § 1.º, al.s a), b) e c), respetivamente115.

112 GOMES, Nuno Sá – cit. 82, pp. 55-56. 113

GOMES, Nuno Sá – cit. 82, pp. 51-52.

114 DECRETO de 31 de dezembro de 1852, da Secretaria d’Estado – 1ª Repartição. Diário do Governo.

N.º 2 (1853-01-03), pp. 901-904.

115 CÓDIGO DA CONTRIBUIÇÃO PREDIAL (CCP), Imprensa Nacional, 1913, pp. 5-6. No mesmo

40

Com efeito, nos termos daquele preceito, os prédios eram considerados: