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Imposto do Selo (IS), na parte que incide sobre atos translativos de bens (da Tabela Geral do IS) e sobre a detenção de imóveis de

Manuel I. S Pinheiro define o cadastro predial geométrico do seguinte modo:

O PATRIMÓNIO E OS IMPOSTOS

3. Imposto do Selo (IS), na parte que incide sobre atos translativos de bens (da Tabela Geral do IS) e sobre a detenção de imóveis de

elevado valor.

Conforme já tivemos ocasião de mencionar, os dois primeiros tributos, IMI e IMT, foram criados pela reforma da tributação do património operada pelo DL n.º 287/2003, de 12

180 A LEI n.º 22-A/2007, de 29 de junho, relativa à tributação automóvel e que aprovou o Código do

Imposto Sobre Veículos e o Código do Imposto Único de Circulação, foi publicada no DR, Série I, 1.º Suplemento. N.º 124 (2007.06.29), pp. 4164-(2) a 4164-(30) e tem sido objeto de alterações várias desde então.

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de novembro181, diploma que procedeu à aprovação do Código do IMI (CIMI)182, do Código do IMT (CIMT)183e alterou o Código do IS (CIS)184, bem como outra legislação tributária, por força da aprovação dos dois primeiros códigos.

Face ao anteriormente referido, o nosso sistema de tributação do património é de natureza parcelar, contrariamente aos impostos sobre o rendimento e consumo que assumem um cariz unitário, e, também em oposição a estes tributos, não tem um caráter universal, já que incide, na sua generalidade, apenas sobre uma parte do património das pessoas, isto é, aquele que se encontra materializado em imóveis, rústicos e urbanos, com a única exceção da incidência sobre transmissões gratuitas – por morte e doação – que poderão abranger operações sobre bens mobiliários185.

Por outro lado, a tributação incide sobre os imóveis em dois momentos distintos, a saber, no momento de aquisição dos bens e, por conseguinte, aquando da sua transação e entrada no património dos sujeitos adquirentes (impostos dinâmicos, caso do IMT e IS), e, ao longo do período em que esses bens imóveis se mantêm no património do seu titular, ainda que através da mera posse (impostos estáticos, caso do IMI e do IS sobre imóveis urbanos de elevado valor186).

Por sua vez, a tributação dinâmica, abarca duas formas diferentes de aquisição dos imóveis, isto é, a via onerosa (caso do IMT) e a título gratuito, seja por doação ou sucessão por morte (IS sobre as transmissões gratuitas ou onerosas de imóveis), em moldes a que nos referiremos mais à frente.

Desta forma, enquanto os impostos estáticos apresentam uma natureza periódica, anual, os impostos dinâmicos traduzem uma tributação de incidência ocasional.

Enquanto o IS se constitui como um imposto estadual, quanto ao destino da respetiva receita, logo no art.º 1.º do CIMI, determina-se que, o IMI constitui receita dos municípios

181 DL n.º 287/2003, de 12 de novembro – cit. 4. 182 O CIMI – cit. 121, pp. 7593-7616.

183 O CIMT foi publicado em anexo ao DL n.º 287/2003, de 12 de novembro – cit. 4, pp. 7616-7628. 184

O CIS foi republicado em anexo ao DL n.º 287/2003, de 12 de novembro – cit. 4, pp. 7628-7647.

185 FREITAS, Rosa – Impacto da Lei da Reforma da Tributação do Património na Esfera das Pessoas

Singulares. (dezembro 2004), p. 23; PIRES, José Maria Fernandes – Os Impostos sobre o Património. In: Lições de Fiscalidade. Coordenadores João Ricardo Catarino e Vasco Branco Guimarães. 2014. vol. 1 - Princípios Gerais e Fiscalidade Interna, cap. 10, pp.372-374; SOUSA FRANCO, António – cit. 173, p. 17.

186 Encontra-se sujeito ao IS, na vertente da tributação estática, a propriedade, usufruto ou direito de

superfície de prédios urbanos, cujo valor patrimonial tributário constante da matriz, nos termos do CIMI, seja igual ou superior a € 1.000.000 (Verba 28. da Tabela Geral (TG) do IS), situação a que voltaremos mais adiante no texto.

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onde se situam os prédios sobre os quais o mesmo incide e a própria denominação deste tributo aponta nesse sentido, aliás como também ocorre com o IMT.

Por sua vez, a al. a) do art.º 14.º, epigrafado “Receitas Municipais”, da Lei n.º 73/2013, de 3 de setembro, a qual estabelece o atual Regime Financeiro das Autarquias Locais e Entidades Intermunicipais (RFALEI)187, estipula que, constitui receita dos municípios “… o produto da co rança do imposto municipal so re imóveis (IMI), sem

prejuízo do disposto na alínea a) do n.º 1 do artigo 23.º…”

O citado art.º 23.º do RFALEI, cujo conteúdo respeita às receitas das freguesias, estabelece na al. a) do n.º 1 que constituem receita dessas entidades “… O produto da receita

do IMI sobre prédios rústicos e uma participação no valor de 1% da receita do IMI sobre prédios ur anos.”, com efeitos a partir de 01 de janeiro de 2014.

A receita do IMT não constava entre as receitas municipais previstas no art.º 14.º do RFALEI. No entanto, o n.º 1 do art.º 81.º da Lei n.º 73/2013, estabelecia que, a al. a) do n.º 1 do art.º 10.º da Lei n.º 2/2007188, preceito que regulava as receitas municipais neste último diploma, quanto ao IMT, mantinha-se em vigor até ao dia 31 de dezembro de 2018, ou seja, este imposto manter-se-ia até essa data como receita municipal.

A LOE para 2016, alterou o art.º 14.º do RFALEI, tendo aditado uma nova alínea (atual al. b)) com a seguinte redação “O produto da co rança do imposto municipal so re as

transmissões onerosas de imóveis (IMT);”, pelo que, não restam dúvidas que a receita deste

tributo se destina às autarquias locais189.

2.Relevância nos Estados da UE e OCDE 2.1. Alguns dados Estatísticos

187 LEI n.º 73/2013, de 3 de setembro - REGIME FINANCEIRO DAS AUTARQUIAS LOCAIS E

DAS ENTIDADES INTERMUNICIPAIS (RFALEI). DR, 1.ª Serie. N.º 169, de 2013-09-03, pp. 5499 – 5519. A referida lei entrou em vigor em 01 de janeiro de 2014 (cfr. art.º 92.º), revogando a anterior LEI n.º 2/2007, de 15 de janeiro (cfr. art.º 91.º).

188 LEI n.º 2/2007 de 15 de janeiro, aprovou a LEI DAS FINANÇAS LOCAIS, revogando a LEI n.º

42/98, de 6 de agosto. D.R., I Série. N.º 10, de 15 de janeiro, pp. 320-335. Atualmente, encontra-se revogada.

189 Cfr. art.º 192.º da LEI n.º 7-A/2016, de 30 de março (LOE para 2016) – cit. 132, pp. 1096(2)-

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Na última publicação anual da OCDE (2015)190, relativa à análise comparativa da informação fiscal dos Estados-Membros desta organização, com referência aos anos compreendidos entre1965 e 2014, apurou-se que, nesse período a parcela dos impostos sobre o património (taxes on property) no cômputo das receitas fiscais totais desses estados caiu em média de 8% para 6%191.

Por outro lado, em 2013, existiam apenas quatro Estados-Membros cuja proporção dos impostos sobre o património nas receitas totais se encontrava acima de 10%, a saber, Canadá (10,4%), Coreia (10,3%), Reino Unido (12,3%) e Estados Unidos da América (11,3%)192.

A partir dos dados constantes da referida publicação, elaborámos a tabela I (v. Anexo I), na qual se procura transmitir a importância da receita fiscal cobrada a título de impostos sobre o património nos Estados-Membros da UE, que são simultaneamente Estados-Membros da OCDE, quer em proporção do Produto Interno Bruto (PIB) quer em relação às receitas fiscais totais arrecadadas em cada um desses Estados.

Optou-se por reproduzir, para efeitos comparativos, os elementos referentes aos anos de 1965, 2000, 2007 e 2013, pelas razões a seguir indicadas: - ano de 1965, por se tratar do ano inicial da análise da própria OCDE e por em Portugal se encontrar então em vigor a CP; - ano de 2000, por já vigorar no nosso país a CA; - ano de 2007, por já vigorar o atual IMI; - ano de 2013, por ser o ano com informação mais recente, no próprio estudo da OCDE.

Os dados indicados na tabela demonstram que, atualmente, nos países ali indicados, os impostos sobre o património não representam um valor superior a 12,3% das receitas fiscais totais. Podemos mesmo dizer que, em alguns países, o produto da cobrança destes impostos é inferior a 2% das receitas totais, onde revelam ter uma função, praticamente, residual no financiamento dos encargos públicos.

Para além do Reino Unido, a cuja situação já aludimos, pode verificar-se que, os países cujos impostos sobre o património representam mais de 6,2% das receitas totais correspondem à França, com 8,4% em 2013, percentagem que tem vindo a aumentar desde 1965; à Grécia, que após ter vindo a reduzir essa percentagem de 1965 até 2007, voltou a subir em 2013 (para 7,6%), ao que não terá sido alheia a situação de crise económica e financeira que assolou o país, nestes últimos anos; a Bélgica, que duplicou a percentagem

190 Cfr. OECD - Revenue Statistics 2015 – cit. 177. 191 OECD - Revenue Statistics 2015 – cit. 177, p. 30. 192

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entre 1965 (3,7%) e 2013 (7,8%); o Luxemburgo, que tem tido uma percentagem acima de 6% desde 1965 e que, em 2000, atingiu 10,6%, decrescendo nos anos seguintes; a Irlanda que, apesar de manter uma percentagem de 7,1%, reduziu para metade face à representatividade destes impostos em 1965, de 15,1%; a Espanha que manteve uma representatividade deste tipo de impostos sempre acima dos 6% e que atingiu 8% em 2007; e a Itália, que tem mantido percentagens variáveis entre 7,2%, em 1965, para 4%, em 2000 e 2007, e de 6.2%, em 2013.

Em todos os restantes Estados, no ano de 2013, os impostos sobre o património representaram menos de 4,5% das receitas fiscais totais. Destes últimos Estados, salienta-se a situação da Dinamarca onde, em 1965, esses impostos representavam 8,1% e que, em 2013, já representavam apenas 3.9%, assim como, o caso da Alemanha, cujos impostos representavam 5,8%, em 1965, cifrando-se em 2013 em 2,5% e, finalmente, a situação da Áustria que, de 4.0% em 1965, apresenta 1,7% em 2013.

No que concerne aos dados da OCDE relativos a Portugal, reproduzimo-los na tabela II (v. Anexo I).

Em 1965, os impostos sobre o património representavam 5,0% das receitas totais de impostos no nosso país. Nesse ano, estava em vigor a CP, imposto que incidia sobre os rendimentos prediais (reais ou presuntivos). Antes da criação da CA, em 1988/1989, essa representatividade havia baixado para 0,3% (1980), subindo para 1.1%, em plena vigência daquele imposto (ano de 2000).

A mais elevada representatividade destes impostos nas receitas totais (4,1%), verificou-se em 2007, já com o IMI e IMT em vigor e, por conseguinte, já com atualização de matrizes prediais e avaliações segundo o novo modelo de determinação do valor patrimonial tributário, embora tenha vindo a decrescer desde então, cifrando-se em 2013 em 3,3%. Contudo, cremos que, os valores deste último ano não refletiram totalmente o efeito da avaliação geral desenvolvida em 2012, uma vez que esta ainda se prolongou pelos primeiros meses de 2013.

Com efeito, a informação disponibilizada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), indica que, no ano de 2013, a receita do IMI aumentou 8,6% “… refletindo so retudo o efeito

77 da avaliação geral de prédios ur anos.”193

, “… retomando a variação positiva interrompida

em 2012, ano em que diminuiu 0,2%... A importância relativa deste imposto [no cômputo dos

impostos indiretos] continua, assim, a aumentar, representando em 2013 5,7%, mais 0,5 p.p.

do que no ano anterior.”194 .

3. Os Impostos sobre o Património no Sistema Fiscal Nacional