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Arbitragem em Blocos Econômicos

No documento Ana Luiza Barreto de Andrade Fernandes Nery (páginas 135-139)

CAPÍTULO I – A NATUREZA JURISDICIONAL DA ARBITRAGEM E A

II.5 Arbitragem de matérias sensíveis

II.5.1 Arbitragem na Administração Pública

II.5.1.1 Arbitragem em Blocos Econômicos

Ao estabelecer regras para criar um processo de integração econômica regional, os Estados estimulam o investimento do capital estrangeiro em seus territórios, proporcionando a geração de empregos e a circulação de riquezas.

É o que se passa com os blocos econômicos de Estados localizados em determinadas regiões. O respeito às normas, que promove segurança jurídica nas relações, deriva da vontade dos Estados-parte: para que não fiquem estagnados e tenham expressividade em suas relações de troca, os blocos econômicos devem escolher os mecanismos de solução de controvérsia considerando sua realidade comercial. A arbitragem é uma dessas formas de resolução de litígios.

São aspectos essenciais da arbitragem, aplicáveis aos Blocos Econômicos a possibilidade de prover e implementar a liberdade da escolha-veto dos árbitros pelas parte e a obrigatoriedade do cumprimento das sentenças arbitrais.296

De acordo com o MCCA 26, constituído por Nicarágua, Guatemala, Honduras, El Salvador, Belize, Panamá e Costa Rica, o sistema de solução de conflitos se inicia pela negociação direta, seguida da fase de conciliação, e, por fim, se necessário, a constituição de tribunais arbitrais ad hoc.297

296 Jorge FONTOURA. As demandas arbitrais na solução de controvérsias em blocos econômicos, in: Eduardo Oliveira LEITE (coord), Grandes temas da atualidade - mediação, arbitragem e conciliação,

v. 7, Rio de Janeiro: Forense, 2008, pp. 205-217.

297 Assim é redigido o artigo 26 do Tratado fundacional do MCCA:

"Artículo XXVI. Los Estados signatarios convienen en resolver fraternalmente dentro del espíritu de este Tratado, y por medio del Consejo Ejecutivo o del Consejo Económico Centroamericano en su caso, las diferencias que surgieren sobre la interpretación o aplicación de cualquiera de sus cláusulas. Si no pudieren ponerse de acuerdo, solucionarán la controversia por arbitraje. Para integrar el tribunal arbitral cada una de las Partes contratantes propondrá a la Secretaría General de la Organización de los Estados Centroamericanos los nombres de tres magistrados de sus respectivas Cortes Supremas de Justicia. De la lista total de candidatos, el Secretario General de la Organización de Estados Centroamericanos y los representantes gubernamentales ante ese organismo escogerán, por sorteo, a un árbitro por cada Parte contratante, debiendo ser cada uno de ellos de diferente nacionalidad. El laudo del tribunal arbitral será pronunciado con los votos concurrentes de, por lo menos, tres miembros, y causará efectos de cosa juzgada para todas las

A CARICOM, formada por Antígua e Barbuda, Barbados, Belize, Dominica, Granada, Guiana, Haiti, Jamaica, Montserrat, Santa Lucia, São Cristovão, São Vicente e Ilhas Granadinas, Suriname e Trinidad e Tobago, tendo como associados Anguilla, Turks and Caicos e Ilhas Virgens Britânicas, tem como procecedimento para a resolução de disputas a conciliação pelo Conselho de Ministros, seguida da instituição de arbitragem ad hoc, se for o caso, nos termos dos arftigos 11 e 12 do anexo do Tratado de Chaguaramas.298

O bloco econômico de que o Brasil faz parte, ao lado da Argentina, Paraguai e Uruguai - MERCOSUL, firmou o Protocolo de Olivos, que dispõe sobre a solução de controvérsias sobre os Estados-parte: no seu artigo 9º, estabelece ideia sui generis de tribunal arbitral ad hoc, por comportar outros institutos que não puramente os da arbitragem.299

Partes contratantes por lo que hace a cualquier punto que se resuelva relativo a interpretación o aplicación de las cláusulas de este Tratado."

298 Confira-se a redação dos artigos 11 e 12 do anexo ao Tratado de Chaguaramas: "ARTICLE 11
DISPUTES PROCEDURE WITHIN THE COMMON MARKET 



1. If any Member State considers that any benefit conferred upon it by this Annex or any objective of the Common Market is being or may be frustrated and if no satisfactory settlement is reached between the Member States concerned any of those Member States may refer the matter to the Council. 



2. The Council shall promptly, make arrangements for examining the matter. Such arrangements may include a reference to a Tribunal constituted in accordance with Article 12 of this Annex.The Council shall refer the matter at the request of any Member State concerned to the Tribunal. Member States shall furnish all information which may be required by the Tribunal or the Council in order that the facts may be established and the issue determined. 



(...)

ARTICLE 12REFERENCE TO TRIBUNAL 



1. The establishment and composition of the Tribunal referred to in Article11 of this Annex shall be governed by the following provisions of this Article. 



2. For the purposes of establishing an ad hoc tribunal referred to in Article 11 of this Annex, a list of arbitrators consisting of qualified jurists shall be drawn up and maintained by the Secretary-General. To this end, every Member State shall be invited to nominate two persons, and thenames of the persons so nominated shall constitute the list. The term of an arbitrator, including that of any arbitrator nominated to fill a vacancy, shall be five years and may be renewed."

299 Assim é redigido o artigo 9 do Protocolo de Olivos: "Artigo 9 - Início da Etapa Arbitral

1. Quando não tiver sido possível solucionar a controvérsia mediante a aplicação dos procedimentos referidos nos Capítulos IV e V, qualquer dos Estados partes na controvérsia poderá comunicar à Secretaria Administrativa do MERCOSUL sua decisão de recorrer ao procedimento arbitral estabelecido no presente Capítulo.

México, Estados Unidos e Canadá integram o NAFTA e o capítulo XX do Tratado de Livre Comércio, pelo qual se criou o bloco econômico, prevê a conciliação, a mediação e a arbitragem como formas de resolução de controvérsias.300

A copiosa utilização da arbitragem em solução de controvérsias intrablocos é reveladora da eficiência e do contingente sucesso histórico do instituto.

2. A Secretaria Administrativa do MERCOSUL notificará, de imediato, a comunicação ao outro ou aos outros Estados envolvidos na controvérsia e ao Grupo Mercado Comum.

3. A Secretaria Administrativa do MERCOSUL se encarregará das gestões administrativas que lhe sejam requeridas para a tramitação dos procedimentos."

300 Assim é redigido o artigo 2008 do Tratado de Livre Comércio:

"Artículo 2008: Solicitud de integración de un panel arbitral

1.Cuando la Comisión se haya reunido conforme a lo establecido en el Artículo 2007(4) y el asunto no se hubiere resuelto dentro de:

(a) los 30 días posteriores a la reunión;

(b) los 30 días siguientes a aquel en que la Comisión se haya reunido para tratar el asunto más reciente que le haya sido sometido, cuando se hayan acumulado varios procedimientos conforme al Artículo 2007(6); o

(c) cualquier otro período semejante que las Partes consultantes acuerden, cualquiera de éstas podrá solicitar por escrito el establecimiento de un pánel arbitral. La Parte solicitante entregará la solicitud a su sección del Secretariado y a las otras Partes.

2.A la entrega de la solicitud, la Comisión establecerá un panel arbitral.

3.Cuando una tercera Parte considere que tiene interés sustancial en el asunto, tendrá derecho a participar como Parte reclamante mediante entrega de su intención de intervenir a su sección del Secretariado y a las Partes contendientes. La notificación se entregará tan pronto sea posible, pero en ningún caso después de siete días a partir de la fecha en que una de las Partes haya entregado la solicitud de establecimiento del panel.

4.Si una tercera Parte no se decide a intervenir como Parte reclamante conforme al párrafo 3, a partir de ese momento generalmente se abstendrá de iniciar o continuar:

(a) un procedimiento de solución de controversias conforme a este Tratado; o

(b) un procedimiento de solución de controversias ante el GATT, invocando causales sustancialmente equivalentes a las que dicha Parte pudiera invocar de conformidad con este Tratado, respecto del mismo asunto, en ausencia de un cambio significativo en las circunstancias económicas o comerciales.

5.A menos que las Partes contendientes acuerden otra cosa, el panel se integrará y desempeñará sus funciones en concordancia con las disposiciones de este capítulo".

Contudo, as formas empregadas nem sempre correspondem à realidade ontológica da arbitragem, quando se está diante de árbitros impostos ou direcionados, ou, ainda, diante de decisões arbitrais passiveis de negociação ou não compulsórias. 301

Em verdade, o direito internacional da integração econômica encontra-se em desenvolvimento, para que sejam superadas as formas simples de cooperação econômica para estimular o progresso conjunto de nações de uma mesma região.302

Nesse processo, a arbitragem surge como uma das ferramentas de acesso à justiça passíveis de utilização para proporcionar segurança jurídica, propiciando ambiente para que haja investimentos aos Estados- parte, e, assim, desenvolvimento econômico e prosperidade para o bloco de nações.

Importante ressaltar que a arbitragem envolvendo blocos econômicos nào deixa de ser espécie de arbitragem com a participação da administração pública, uma vez que o Estado, a Federação é que será parte de um conflito arbitral em blocos econômicos.

No caso do Brasil, na hipótese de instituição de arbitragem em que o Mercosul fosse parte, com fundamento no artigo 9.º do Protocolo de Olivos, seria a Advocacia Geral da União a instituição que representaria a União, o que ressalta a possibilidade de participação da Administração Pública na arbitragem, permitida antes mesmo do advento da Lei 13.129/2015, que deu nova redação ao LArb 1.º para autorizar expressamente a utilização deste mecanismo de solução de conflitos também para a Administração Pública.

301 Jorge Fontoura. As demandas arbitrais na solução de controvérsias em blocos econômicos, in: Eduardo Oliveira Leite (coord), Grandes temas da atualidade - mediação, arbitragem e conciliação, v. 7, Rio de Janeiro: Forense, 2008, pp. 205-217.

302 Selma F. LEMES. MERCOSUL e NAFTA - acordos de proteção e promoção de investimentos. A solução de controvérsia por arbitragem, in: José Maria ROSSANI GARCEZ (coord), A arbitragem na era da globalização, v. 7, Rio de Janeiro: Forense, 1997, pp. 215-253.

No documento Ana Luiza Barreto de Andrade Fernandes Nery (páginas 135-139)